Poema: Soneto da loucura
Carlos Drummond de Andrade
A minha casa pobre é rica de
quimera
e se vou sem destino a trovejar
espantos,
meu nome há de romper as mais
nevoentas eras
tal qual Pentapolim, o rei dos
Garamantas.
Rola em minha cabeça o tropel de
batalhas
jamais vistas no chão ou no mar
ou no inferno.
Se da escura cozinha escapa o
cheiro de alho,
o que nele recolho é o olor da
glória eterna.
Donzelas a salvar, há milhares
na Terra
e eu parto e meu rocim, corisco,
espada, grito,
torto endireitando, herói de
seda e ferro,
E não durmo, abrasado, e janto
apenas nuvens,
na férvida obsessão de que enfim
a bendita
Idade de Ouro e Sol baixe lá nas
alturas.
Carlos Drummond de Andrade. In: As impurezas do branco. www.carlosdrummond.com.br/ Rio de Janeiro: Record.
Fonte: Linguagem em
Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São
Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 85.
Entendendo o poema:
01
– Qual a principal característica da casa do eu lírico?
A casa do eu
lírico, apesar de ser "pobre", é rica em "quimera", ou
seja, em sonhos, fantasias e idealizações. Essa riqueza interior contrasta com
a pobreza material, mostrando a força da imaginação e do espírito aventureiro
do poeta.
02
– Qual a ambição do eu lírico em relação ao seu nome?
O eu lírico
almeja que seu nome transcende o tempo, "rompendo as mais nevoentas
eras". Ele se compara a Pentapolim, um rei lendário, buscando deixar uma
marca duradoura na história, mesmo que através de suas loucuras e aventuras.
03
– Que tipo de batalhas o eu lírico travava em sua mente?
As batalhas
travadas na mente do eu lírico são épicas e grandiosas, "jamais vistas no
chão ou no mar ou no inferno". Elas representam os conflitos internos, os
sonhos e as aspirações que o atormentam e motivam.
04
– Qual o significado do cheiro de alho na cozinha e como ele é interpretado
pelo eu lírico?
O cheiro de alho,
um aroma simples e cotidiano, é transformado pelo eu lírico em um símbolo da
"glória eterna". Essa transmutação revela sua capacidade de encontrar
significado e beleza em coisas comuns, elevando-as a um plano superior.
05
– Qual a obsessão que domina o eu lírico e qual o seu objetivo final?
O eu lírico é dominado pela
obsessão de encontrar a "Idade de Ouro", um período mítico de
perfeição e felicidade. Ele busca incessantemente por esse ideal,
alimentando-se de sonhos e aventuras, mesmo que isso o leve a uma existência
solitária e insone.
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