quarta-feira, 6 de novembro de 2024

CRÔNICA: DE REPENTE - EUNICE JACQUES - COM GABARITO

 Crônica: De repente

              Eunice Jacques

        Vejo o menino cor-de-chocolate, pés descalços, perninhas magras, brincando distraído com uma lata de óleo. E, nem sei por quê, de repente me lembro do outro Menino que a gente ocidental acredita ter sido loiro e de olhos azuis. Penso que o Menino estará de aniversário em poucos dias e continuo a pensar nisso, mesmo sabendo que os homens alteraram o calendário e fixaram uma data que coincidisse com festas pagãs que deveriam ser banidas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhLxTypRwnvA_qutc-Zji4iiLK_79lxstWPaNTTIBM4tNzk3VdI5OApyyf9idqc-kWvOpEVFpTkkQuRzhRWvHLljXazqLtgIVzZ6pOA9NzQp7gsVDlOGG4GWiKh0jA_03p7hRZ3GF5NLo_mmbFyhrP9eiJygZi3xDUxIXC6RPkjEgXRuV2o8oIc5M6GBQ/s250/DESCAL%C3%87O.jpg


        De repente, me invade a sensação de ser Papai Noel e finjo estar vestida de vermelho e ter gorda barriga apertada em casaco de cetim e algodão. E de um saco feito de pedaços de pano, imagino tirar um pacote enfeitado de luzes e sinos para presentear o menino de chocolate. Depois, também tão de repente, volto a pensar no Menino que dos reis recebeu incenso e mirra, aconchegado em seu tosco berço. Diz o Livro que havia uma estrela enorme a indicar o caminho à manjedoura.

        De repente, me escuto a pedir a estrela. Eu, ansiando por doar, me surpreendo pedindo. Quero um céu profundo e luminoso nesta noite, para que nos acalente de paz. E que vaga-lumes imitem nas ruas o brilho dos astros. E que se escutem risos, e que se sinta pelo ar a ternura que o mundo teima em esconder. E que brote de muitos lábios, uma prece intensa pela  vida  e  pelos  seus mistérios, e que os seres, todos eles, de repente, fiquem impregnados de esperanças. Eu vi um menino cor-de-chocolate, que me fez lembrar do Outro, que os homens desenharam louro e com olhos claros como bolitas vivazes. E, de repente, imaginei a minha árvore de verdes grimpas feita de enfeites de chocolate e de doces de azulanil.

        E, então, me ouvi cantando uma canção de ninar aos dois meninos, tão próximos entre a distância de séculos. Mas, em seguida, notei surpresa que a minha voz era menina: de repente, cantávamos nós, as três crianças.

Eunice Jacques. Zero Hora, s.d. (adaptação).

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 164.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal reflexão proposta pela autora na crônica?

      A crônica nos convida a refletir sobre a universalidade da infância, da esperança e da busca por um mundo mais justo e solidário, transcendendo as diferenças culturais e religiosas.

02 – Qual a importância da imagem do menino cor-de-chocolate?

      A imagem do menino cor-de-chocolate serve como ponto de partida para a reflexão da autora sobre a representação da criança na cultura ocidental, contrastando com a imagem tradicional do Menino Jesus. Essa imagem também simboliza a diversidade e a riqueza cultural da humanidade.

03 – Como a autora conecta o Natal cristão com outras tradições?

      A autora estabelece uma conexão entre o Natal cristão e outras tradições ao mencionar as festas pagãs e os reis magos. Essa conexão evidencia a universalidade da celebração do nascimento e da renovação.

04 – Qual o papel da natureza na crônica?

      A natureza, representada pela estrela, pelos vaga-lumes e pela árvore de Natal, simboliza a beleza, a esperança e a renovação. Ela serve como um pano de fundo para as reflexões da autora sobre a condição humana.

05 – Qual o significado da mudança de perspectiva da autora ao longo da crônica?

      A mudança de perspectiva da autora, que se vê ora como Papai Noel, ora como uma criança cantando, revela a natureza fluida da memória e da imaginação. Essa mudança também permite uma aproximação mais íntima com as personagens e com o tema da crônica.

06 – Qual a importância da repetição da palavra "de repente" no texto?

       A repetição da palavra "de repente" enfatiza a natureza espontânea e inesperada dos pensamentos e sentimentos da autora. Ela cria um ritmo e uma atmosfera de surpresa e encantamento.

07 – Qual a mensagem final da crônica?

      A mensagem final da crônica é uma mensagem de esperança e união. A autora convida o leitor a celebrar a vida, a cultivar a solidariedade e a acreditar em um futuro melhor para todos. A imagem das crianças cantando juntas simboliza a união e a fraternidade entre os seres humanos.

 

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