Poesia: Romance II ou Do Ouro Incansável
Cecília Meireles
Mil BATEIAS vão rodando
sobre córregos escuros;
a terra vai sendo aberta
por intermináveis sulcos;
infinitas galerias
penetram morros profundos.
De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho . . .
É tão claro! — e turva tudo:
honra, amor e pensamento.
Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades.
Pelos córregos, definham
negros a rodar bateias.
Morre-se de febre e fome
sobre a riqueza da terra:
uns querem metais luzentes,
outros, as redradas pedras.
Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo.
Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
— mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.
Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.
Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.
Cecilia Meireles. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1974.
Fonte: Português – José
De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora
Scipione. p. 288.
Entendendo a poesia:
01
– Qual a principal atividade descrita no poema e quais são suas consequências?
A atividade
principal descrita é a mineração do ouro. Suas consequências são diversas e
abrangentes, indo desde a transformação da paisagem (com a abertura de minas e
galerias) até a transformação da sociedade, com o surgimento de desigualdades
sociais, crimes e conflitos. O ouro, inicialmente visto como algo valioso e
desejável, acaba por corromper e destruir.
02
– Como o ouro é retratado no poema? Quais são seus poderes e suas perversões?
O ouro é retratado como uma
força ambígua. De um lado, é visto como um metal precioso, capaz de trazer
riqueza, poder e prestígio. De outro, é apresentado como a raiz de todos os
males, corruptendo aqueles que o buscam e causando sofrimento e morte. O ouro é
capaz de transformar a natureza, a sociedade e até mesmo a alma humana.
03
– Quais são os diferentes grupos sociais retratados no poema e como eles são
afetados pela busca pelo ouro?
O poema retrata
diversos grupos sociais, como os mineradores, os proprietários de terras, os
contrabandistas, os reis e o povo em geral. Todos são afetados pela busca pelo
ouro, cada um à sua maneira. Os mineradores sofrem com as condições de
trabalho, as doenças e a morte. Os proprietários de terras se enriquecem, mas
vivem em constante disputa por mais poder. Os contrabandistas exploram a
situação caótica para obter lucros. Os reis exigem cada vez mais tributos,
enquanto o povo sofre com a miséria, a opressão e a violência.
04
– Qual a relação entre o ouro e a natureza no poema?
A relação entre o
ouro e a natureza é marcada pela destruição. A busca pelo ouro leva à
exploração desenfreada dos recursos naturais, causando danos irreversíveis ao
meio ambiente. As minas e as galerias destroem a paisagem, enquanto a
contaminação dos rios e do solo afeta a vida de todos os seres vivos.
05
– Que sentimentos e emoções são transmitidos pelo poema?
O poema transmite
uma ampla gama de sentimentos e emoções, como a ambição, a cobiça, a inveja, o
ódio, a tristeza, a angústia e a desesperança. A busca pelo ouro é retratada
como uma força destrutiva que corrompe os corações dos homens e leva à ruína da
sociedade.
06
– Qual a crítica social presente no poema?
A crítica social
presente no poema é direcionada à sociedade colonial, marcada pelas
desigualdades sociais, pela exploração, pela violência e pela corrupção. A
busca pelo ouro é utilizada como metáfora para denunciar os excessos e os
vícios daquela época.
07
– Qual o papel da linguagem poética na construção do sentido do poema?
A linguagem
poética desempenha um papel fundamental na construção do sentido do poema. As
metáforas, as comparações, a musicalidade dos versos e a escolha cuidadosa das
palavras contribuem para criar uma atmosfera densa e carregada de significado.
A linguagem poética permite que o leitor visualize as cenas descritas, sinta as
emoções dos personagens e compreenda a complexidade da temática abordada.
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