quarta-feira, 13 de novembro de 2024

POESIA: ROMANCE II OU DO OURO INCANSÁVEL - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poesia: Romance II ou Do Ouro Incansável

             Cecília Meireles

Mil BATEIAS vão rodando
sobre córregos escuros;
a terra vai sendo aberta
por intermináveis sulcos;
infinitas galerias
penetram morros profundos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzArYc3xGdTp-fqBCI9GdV51N18ibAdZDqCNF6QOVV8yGbQiSzkpq5nben-RC1dhL7RIRk3xkhJmKD_pslBJg6aybjVjIC2H_S_JNGvvsfoZgN2T7ZSZGBz6-LmYqETHeoKk34M4DexGP5GhGl-Kuuz9wHWNPNQgrL4eVkDHTsATPTdtPXqFX6awKRLG4/s1600/FLOR.jpg


De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho . . .
É tão claro! — e turva tudo:
honra, amor e pensamento.

Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades.

Pelos córregos, definham
negros a rodar bateias.
Morre-se de febre e fome
sobre a riqueza da terra:
uns querem metais luzentes,
outros, as redradas pedras.

Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo.

Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
— mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.

Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.

Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.

Cecilia Meireles. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 288.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a principal atividade descrita no poema e quais são suas consequências?

      A atividade principal descrita é a mineração do ouro. Suas consequências são diversas e abrangentes, indo desde a transformação da paisagem (com a abertura de minas e galerias) até a transformação da sociedade, com o surgimento de desigualdades sociais, crimes e conflitos. O ouro, inicialmente visto como algo valioso e desejável, acaba por corromper e destruir.

02 – Como o ouro é retratado no poema? Quais são seus poderes e suas perversões?

      O ouro é retratado como uma força ambígua. De um lado, é visto como um metal precioso, capaz de trazer riqueza, poder e prestígio. De outro, é apresentado como a raiz de todos os males, corruptendo aqueles que o buscam e causando sofrimento e morte. O ouro é capaz de transformar a natureza, a sociedade e até mesmo a alma humana.

03 – Quais são os diferentes grupos sociais retratados no poema e como eles são afetados pela busca pelo ouro?

      O poema retrata diversos grupos sociais, como os mineradores, os proprietários de terras, os contrabandistas, os reis e o povo em geral. Todos são afetados pela busca pelo ouro, cada um à sua maneira. Os mineradores sofrem com as condições de trabalho, as doenças e a morte. Os proprietários de terras se enriquecem, mas vivem em constante disputa por mais poder. Os contrabandistas exploram a situação caótica para obter lucros. Os reis exigem cada vez mais tributos, enquanto o povo sofre com a miséria, a opressão e a violência.

04 – Qual a relação entre o ouro e a natureza no poema?

      A relação entre o ouro e a natureza é marcada pela destruição. A busca pelo ouro leva à exploração desenfreada dos recursos naturais, causando danos irreversíveis ao meio ambiente. As minas e as galerias destroem a paisagem, enquanto a contaminação dos rios e do solo afeta a vida de todos os seres vivos.

05 – Que sentimentos e emoções são transmitidos pelo poema?

      O poema transmite uma ampla gama de sentimentos e emoções, como a ambição, a cobiça, a inveja, o ódio, a tristeza, a angústia e a desesperança. A busca pelo ouro é retratada como uma força destrutiva que corrompe os corações dos homens e leva à ruína da sociedade.

06 – Qual a crítica social presente no poema?

      A crítica social presente no poema é direcionada à sociedade colonial, marcada pelas desigualdades sociais, pela exploração, pela violência e pela corrupção. A busca pelo ouro é utilizada como metáfora para denunciar os excessos e os vícios daquela época.

07 – Qual o papel da linguagem poética na construção do sentido do poema?

      A linguagem poética desempenha um papel fundamental na construção do sentido do poema. As metáforas, as comparações, a musicalidade dos versos e a escolha cuidadosa das palavras contribuem para criar uma atmosfera densa e carregada de significado. A linguagem poética permite que o leitor visualize as cenas descritas, sinta as emoções dos personagens e compreenda a complexidade da temática abordada.

 

 

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