História: O Príncipe Maquiavel – cap. XXV – Fragmento
DE QUANTO PODE A FORTUNA NAS COISAS
HUMANAS E DE QUE MODO SE LHE DEVA RESISTIR
Não ignoro que muitos têm tido e têm a
opinião de que as coisas do mundo sejam governadas pela fortuna e por Deus, de
forma que os homens, com sua prudência, não podem modificar nem evitar de forma
alguma; por isso poder-se-ia pensar não convir insistir muito nas coisas, mas
deixar-se governar pela sorte. Esta opinião tornou-se mais aceita nos nossos
tempos pela grande modificação das coisas que foi vista e que se observa todos
os dias, independente de qualquer conjetura humana. Pensando nisso algumas vezes,
em parte inclinei-me em favor dessa opinião.
Contudo, para que o nosso livre
arbítrio não seja extinto, julgo poder ser verdade que a sorte seja o árbitro
da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou
quase. Comparo-a a um desses rios torrenciais que, quando se encolerizam,
alagam as planícies, destroem as árvores e os edifícios, carregam terra de um
lugar para outro; todos fogem diante dele, tudo cede ao seu ímpeto, sem poder
opor-se em qualquer parte. E, se bem assim ocorra, isso não impedia que os
homens, quando a época era de calma, tomassem providências com anteparos e
diques, de modo que, crescendo depois, ou as águas corressem por um canal, ou o
seu ímpeto não fosse tão desenfreado nem tão danoso.
[...].
Nicolau Maquiavel. O
príncipe (tradução Márcio Plugliese). Curitiba: Hemus, 2002, p. 169.
Fonte: Linguagem em
Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São
Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 110-111.
Entendendo a história:
01
– Qual a principal tese defendida por Maquiavel nesse fragmento?
A principal tese
é que a fortuna, ou seja, o acaso e as circunstâncias externas, exercem um
papel significativo nas vidas dos homens e nos acontecimentos históricos. No
entanto, Maquiavel argumenta que a ação humana, representada pela virtude,
também desempenha um papel fundamental, permitindo que os indivíduos
influenciem os eventos e minimizem os impactos da fortuna.
02
– Qual a comparação utilizada por Maquiavel para ilustrar a relação entre a
fortuna e a ação humana?
Maquiavel compara
a fortuna a um rio torrencial. Assim como um rio inunda as planícies e destrói
tudo em seu caminho, a fortuna pode causar grandes mudanças e transtornos. No
entanto, os homens podem construir diques e canais para controlar o fluxo das
águas, assim como podem tomar medidas para mitigar os efeitos da fortuna.
03
– Qual a importância da virtude na visão de Maquiavel?
A virtude, para
Maquiavel, representa a capacidade do indivíduo de agir com prudência, coragem
e sagacidade. É através da virtude que o príncipe pode tomar decisões
acertadas, antecipar os acontecimentos e aproveitar as oportunidades que a
fortuna lhe oferece. A virtude permite que o indivíduo não seja apenas um mero
espectador dos eventos, mas um agente ativo na construção de seu próprio
destino.
04
– Como a ideia de livre arbítrio se relaciona com a influência da fortuna?
Maquiavel
reconhece a influência da fortuna, mas não a considera determinante. Ele
acredita que os seres humanos possuem livre arbítrio, ou seja, a capacidade de
escolher suas ações. A virtude permite que os indivíduos exerçam esse livre
arbítrio de forma a moldar os acontecimentos e superar os obstáculos impostos pela
fortuna.
05
– Qual a implicação prática das ideias de Maquiavel para os governantes?
Para Maquiavel,
os governantes devem ser virtuosos, ou seja, capazes de tomar decisões
estratégicas e adaptar-se às circunstâncias. Ao mesmo tempo, eles devem estar
preparados para lidar com os imprevistos e as mudanças que a fortuna pode
trazer. A combinação de virtude e adaptabilidade é essencial para que um
governante possa manter o poder e garantir a estabilidade do Estado.
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