domingo, 10 de agosto de 2025

CONTO: A LINHA MÁGICA - WILLIAM J. BENNETT - COM GABARITO

 Conto: A linha mágica

           William J. Bennett

        Era uma vez uma viúva que tinha um filho chamado Pedro. O menino era forte e são, mas não gostava de ir à escola e passava o tempo todo sonhando acordado.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6F6ue8xuoM_yPaIInl8BLYn9hkFveJnjEBay3-0nPLIDBpxzSC-UYFOBH9j9hV-nqAI7denieQxybZkSGq2EPO3HPxFMqIxaXKjF453loOSASxJ-fzCBT-28ThcUyut-C1FrVucg9Zkk2d3f_6j-_ROrYx1JjNiipGSc4hi5FPHic7xvMiIvLKVT6Gkw/s320/a-linha-magica.jpg

        — Pedro, com o que você está sonhando a uma hora dessas? — perguntava-lhe a professora. Estava pensando no que serei quando crescer — respondia ele.

        — Seja paciente. Há muito tempo para pensar nisso. Depois de crescido, nem tudo é divertimento, sabe? — dizia ela.

        Mas Pedro tinha dificuldades para apreciar qualquer coisa que estivesse fazendo no momento, e ansiava sempre pela próxima. No inverno, ansiava pelo retorno do verão; e no verão, sonhava com passeios de esqui e trenó, e com as fogueiras acesas durante o inverno. Na escola, ansiava pelo fim do dia, quando poderia voltar para casa; e nas noites de domingo, suspirava dizendo: “Ah, se as férias chegassem logo!”. O que mais o entretinha era brincar com a amiga Lise. Era companheira tão boa quanto qualquer menino, e a ansiedade de Pedro não a afetava, ela não se ofendia. “Quando crescer, vou casar-me com ela”, dizia Pedro consigo mesmo.

        Costumava perder-se em caminhadas pela floresta, sonhando com o futuro. Às vezes, deitava-se ao sol sobre o chão macio, com as mãos postas sob a cabeça, e ficava olhando o céu através das copas altas das árvores. Uma tarde quente, quando estava quase caindo no sono, ouviu alguém chamando por ele. Abriu os olhos e sentou-se. Viu uma mulher idosa em pé à sua frente. Ela trazia na mão uma bola prateada, da qual pendia uma linha de seda dourada.

        — Olhe o que tenho aqui, Pedro — disse ela, oferecendo-lhe o objeto.

        — O que é isso? — perguntou, curioso, tocando a fina linha dourada.

        — É a linha da sua vida — retrucou a mulher. — Não toque nela e o tempo passará normalmente. Mas se desejar que o tempo ande mais rápido, basta dar um leve puxão na linha e uma hora passará como se fosse um segundo. Mas devo avisá-lo: uma vez que a linha tenha sido puxada, não poderá ser colocada de volta dentro da bola. Ela desaparecerá como uma nuvem de fumaça. A bola é sua. Mas se aceitar meu presente, não conte para ninguém; senão, morrerá no mesmo dia. Agora diga, quer ficar com ela?

        Pedro tomou-lhe das mãos o presente, satisfeito. Era exatamente o que queria. Examinou-a. Era leve e sólida, feita de uma peça só. Havia apenas um furo de onde saía a linha brilhante. O menino colocou-a no bolso e foi correndo para casa. Lá chegando, depois de certificar-se da ausência da mãe, examinou-a outra vez. A linha parecia sair lentamente de dentro da bola, tão devagar que era difícil perceber o movimento a olho nu. Sentiu vontade de dar-lhe um rápido puxão, mas não teve coragem. Ainda não.

        No dia seguinte na escola, Pedro imaginava o que fazer com sua linha mágica. A professora o repreendeu por não se concentrar nos deveres. “Se ao menos”, pensou ele, “já fosse a hora de ir para casa!” Tateou a bola prateada no bolso. Se desse apenas um pequeno puxão, logo o dia chegaria ao fim. Cuidadosamente, pegou a linha e puxou. De repente, a professora mandou que todos arrumassem suas coisas e fossem embora, organizadamente. Pedro ficou maravilhado. Correu sem parar até chegar em casa. Como a vida seria fácil agora! Todos seus problemas haviam terminado. Dali em diante, passou a puxar a linha, só um pouco, todos os dias.

        Entretanto, logo apercebeu-se que era tolice puxar a linha apenas um pouco todos os dias. Se desse um puxão mais forte, o período escolar estaria concluído de uma vez. Ora, poderia aprender uma profissão e casar-se com Lise. Naquela noite, então, deu um forte puxão na linha, e acordou na manhã seguinte como aprendiz de um carpinteiro da cidade. Pedro adorou sua nova vida, subindo em telhados e andaimes, erguendo e colocando a marteladas enormes vigas que ainda exalavam o perfume da floresta. Mas às vezes, quando o dia do pagamento demorava a chegar, dava um pequeno puxão na linha e logo a semana terminava, já era a noite de sexta-feira e ele tinha dinheiro no bolso.

        Lise também mudara-se para a cidade e morava com a tia, que lhe ensinava os afazeres do lar. Pedro começou a ficar impaciente acerca do dia em que se casariam. Era difícil viver tão perto e tão longe dela, ao mesmo tempo. Perguntou-lhe, então, quando poderiam se casar.

        No próximo ano — disse ela. — Eu já terei aprendido a ser uma boa esposa. Pedro tocou com os dedos a bola prateada no bolso.

        — Ora, o tempo vai passar bem rápido — disse, com muita certeza.

        Naquela noite, não conseguiu dormir. Passou o tempo todo agitado, virando de um lado para outro na cama. Tirou a bola mágica que estava debaixo do travesseiro. Hesitou um instante; logo a impaciência o dominou, e ele puxou a linha dourada. Pela manhã, descobriu que o ano já havia passado e que Lise concordara afinal com o casamento. Pedro sentiu-se realmente feliz.

        Mas antes que o casamento pudesse realizar-se, recebeu uma carta com aspecto de documento oficial. Abriu-a, trêmulo, e leu a notícia de que deveria apresentar-se ao quartel do exército na semana seguinte para servir por dois anos. Mostrou-a, desesperado, para Lise.

        — Ora — disse ela —, não há o que temer, basta-nos esperar. Mas o tempo passará rápido, você vai ver. Há tanto o que preparar para nossa vida a dois!

        Pedro sorriu com galhardia, mas sabia que dois anos durariam uma eternidade para passar. Quando já se acostumara à vida no quartel, entretanto, começou a achar que não era tão ruim assim. Gostava de estar com os outros rapazes, e as tarefas não eram tão árduas a princípio. Lembrou-se da mulher aconselhando-o a usar a linha mágica com sabedoria e evitou usá-la por algum tempo. Mas logo tornou a sentir-se irrequieto. A vida no exército o entediava com tarefas de rotina e rígida disciplina. Começou a puxar a linha para acelerar o andamento da semana a fim de que chegasse logo o domingo, ou o dia da sua folga. E assim se passaram os dois anos, como se fosse um sonho.

        Terminado o serviço militar, Pedro decidiu não mais puxar a linha, exceto por uma necessidade absoluta. Afinal, era a melhor época da sua vida, conforme todos lhe diziam. Não queria que acabasse tão rápido assim. Mas ele deu um ou dois pequenos puxões na linha, só para antecipar um pouco o dia do casamento. Tinha muita vontade de contar para Lise seu segredo; mas sabia que, se contasse, morreria.

        No dia do casamento, todos estavam felizes, inclusive Pedro. Ele mal podia esperar para mostrar-lhe a casa que construíra para ela. Durante a festa, lançou um rápido olhar para a mãe. Percebeu, pela primeira vez, que o cabelo dela estava ficando grisalho. Envelhecera rapidamente. Pedro sentiu uma ponta de culpa por ter puxado a linha com tanta frequência. Dali em diante, seria muito mais parcimonioso com seu uso, e só a puxaria se fosse estritamente necessário.

        Alguns meses mais tarde, Lise anunciou que estava esperando um filho. Pedro ficou entusiasmadíssimo, e mal podia esperar. Quando o bebê nasceu, ele achou que não iria querer mais nada na vida. Mas sempre que o bebê adoecia ou passava uma noite em claro chorando, ele puxava a linha um pouquinho para que o bebê tornasse a ficar saudável e alegre.

        Os tempos andavam difíceis. Os negócios iam mal e chegara ao poder um governo que mantinha o povo sob forte arrocho e pesados impostos, e não tolerava oposição. Quem quer que fosse tido como agitador era preso sem julgamento, e um simples boato bastava para se condenar um homem. Pedro sempre fora conhecido por dizer o que pensava, e logo foi preso e jogado numa cadeia. Por sorte, trazia a bola mágica consigo e deu um forte puxão na linha. As paredes da prisão se dissolveram diante dos seus olhos e os inimigos foram arremessados à distância numa enorme explosão. Era a guerra que se insinuava, mas que logo acabou, como uma tempestade de verão, deixando o rastro de uma paz exaurida. Pedro viu-se de volta ao lar com a família. Mas era agora um homem de meia-idade.

        Durante algum tempo, a vida correu sem percalços, e Pedro sentia-se relativamente satisfeito.

        Um dia, olhou para a bola mágica e surpreendeu-se ao ver que a linha passara da cor dourada para a prateada. Foi olhar-se no espelho. Seu cabelo começava a ficar grisalho e seu rosto apresentava rugas onde nem se podia imaginá-las. Sentiu um medo súbito e decidiu usar a linha com mais cuidado ainda do que antes. Lise dera-lhe outros filhos e ele parecia feliz como chefe da família que crescia. Seu modo imponente de ser fazia as pessoas pensarem que ele era algum tipo de déspota benevolente. Possuía um ar de autoridade como se tivesse nas mãos o destino de todos. Mantinha a bola mágica bem escondida, resguardada dos olhos curiosos dos filhos, sabendo que se alguém a descobrisse, seria fatal.

        Cada vez tinha mais filhos, de modo que a casa foi ficando muito cheia de gente. Precisava ampliá-la, mas não contava com o dinheiro necessário para a obra. Tinha outras preocupações, também. A mãe estava ficando idosa e parecia mais cansada com o passar dos dias. Não adiantava puxar a linha da bola mágica, pois isto só aceleraria a chegada da morte para ela.

        De repente, ela faleceu, e Pedro, parado diante do túmulo, pensou como a vida passara tão rápido, mesmo sem fazer uso da linha mágica.

        Uma noite, deitado na cama, sem conseguir dormir, pensando nas suas preocupações, achou que a vida seria bem melhor se todos os filhos já estivessem crescidos e com carreiras encaminhadas. Deu um fortíssimo puxão na linha, e acordou no dia seguinte vendo que os filhos já não estavam mais em casa, pois tinham arranjado empregos em diferentes cantos do país, e que ele e a mulher estavam sós. Seu cabelo estava quase todo branco e doíam-lhe as costas e as pernas quando subia uma escada ou os braços quando levantava uma viga mais pesada. Lise também envelhecera, e estava quase sempre doente. Ele não aguentava vê-la sofrer, de tal forma que lançava mão da linha mágica cada vez mais frequentemente. Mas bastava ser resolvido um problema, e já outro surgia em seu lugar. Pensou que talvez a vida melhorasse se ele se aposentasse. Assim, não teria que continuar subindo nos edifícios em obras, sujeito a lufadas de vento, e poderia cuidar de Lise sempre que ela adoecesse. O problema era a falta de dinheiro suficiente para sobreviver. Pegou a bola mágica, então, e ficou olhando. Para seu espanto, viu que a linha não era mais prateada, mas cinza, e perdera o brilho. Decidiu ir para a floresta dar um passeio e pensar melhor em tudo aquilo.

        Já fazia muito tempo que não ia àquela parte da floresta. Os pequenos arbustos haviam crescido, transformando-se em árvores frondosas, e foi difícil encontrar o caminho que costumava percorrer. Acabou chegando a um banco no meio de uma clareira. Sentou-se para descansar e caiu em sono leve. Foi despertado por uma voz que chamava-o pelo nome: “Pedro! Pedro!”.

        Abriu os olhos e viu a mulher que encontrara havia tantos anos e que lhe dera a bola prateada com a linha dourada mágica. Aparentava a mesma idade que tinha no dia em questão, exatamente igual. Ela sorriu para ele.

        — E então, Pedro, sua vida foi boa? — perguntou.

        — Não estou bem certo — disse ele — Sua bola mágica é maravilhosa. Jamais tive que suportar qualquer sofrimento ou esperar por qualquer coisa em minha vida. Mas tudo foi tão rápido. Sinto como se não tivesse tido tempo de aprender tudo que se passou comigo; nem as coisas boas, nem as ruins. E, agora falta tão pouco tempo! Não ouso mais puxar a linha, pois isto só anteciparia minha morte. Acho que seu presente não me trouxe sorte.

        — Mas que falta de gratidão! — disse a mulher — Como você gostaria que as coisas fossem diferentes?

        — Talvez se você tivesse me dado uma outra bola, que eu pudesse puxar a linha para fora e para dentro também. Talvez, então, eu pudesse reviver as coisas ruins.

        A mulher riu-se. — Está pedindo muito! Você acha que Deus nos permite viver nossas vidas mais de uma vez? Mas posso conceder-lhe um último desejo, seu tolo exigente.

        — Qual? — perguntou ele.

        — Escolha — disse ela. Pedro pensou bastante.

        Depois de um bom tempo, disse:

        — Eu gostaria de tornar a viver minha vida, como se fosse a primeira vez, mas sem sua bola mágica. Assim poderei experimentar as coisas ruins da mesma forma que as boas sem encurtar sua duração, e pelo menos minha vida não passará tão rápido e não perderá o sentido como um devaneio.

        — Assim seja — disse a mulher. — Devolva-me a bola.

        Ela esticou a mão e Pedro entregou-lhe a bola prateada. Em seguida, ele se recostou e fechou os olhos, exausto.

        Quando acordou, estava na cama. Sua jovem mãe se debruçava sobre ele, tentando acordá-lo carinhosamente.

        — Acorde, Pedro. Não vá chegar atrasado na escola. Você estava dormindo como uma pedra!

        Ele olhou para ela, surpreso e aliviado.

        — Tive um sonho horrível, mãe. Sonhei que estava velho e doente e que minha vida passara como num piscar de olhos sem que eu sequer tivesse algo para contar. Nem ao menos algumas lembranças.

        A mãe riu-se e fez que não com a cabeça.

        — Isso nunca vai acontecer — disse ela. — As lembranças são algo que todos temos, mesmo quando velhos. Agora, ande logo, vá se vestir. A Lise está esperando por você, não deixe que se atrase por sua causa.

        A caminho da escola em companhia da amiga, ele observou que estavam em pleno verão e que fazia uma linda manhã, uma daquelas em que era ótimo estar vivendo. Em poucos minutos, estariam encontrando os amigos e colegas, e mesmo a perspectiva de enfrentar algumas aulas não parecia tão ruim assim. Na verdade, ele mal podia esperar.

Extraído de: O livro das virtudes. 5. ed. Uma antologia de William J. Bennett. Nova Fronteira, 1995.

Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 185-189.

Entendendo o conto:

01 – Qual era a principal característica de Pedro quando criança, que o diferenciava dos outros?

      Pedro era um menino que não gostava de ir à escola e passava o tempo todo sonhando acordado, sempre ansiando pelo futuro e pela próxima coisa a acontecer, em vez de aproveitar o presente.

02 – Que presente a mulher idosa ofereceu a Pedro na floresta?

      Ela ofereceu uma bola prateada com uma linha de seda dourada, que ela disse ser a linha da vida de Pedro, capaz de acelerar o tempo com um puxão.

03 – Qual foi o primeiro uso significativo que Pedro fez da linha mágica na escola?

      Quando a professora o repreendeu por não se concentrar, ele puxou a linha um pouco para que o dia escolar chegasse ao fim mais rápido.

04 – O que Pedro fez com a linha mágica para se tornar logo um aprendiz de carpinteiro e se casar com Lise?

      Ele deu um forte puxão na linha, acelerando o tempo para concluir o período escolar e antecipar o casamento.

05 – Por que Pedro começou a se sentir culpado após seu casamento?

      Ele percebeu que sua mãe havia envelhecido rapidamente, e sentiu culpa por ter puxado a linha com tanta frequência, acelerando o tempo para todos.

06 – Que evento inesperado fez Pedro usar a linha mágica de forma drástica, saltando um longo período de tempo?

      Ele foi preso e jogado na cadeia sob um governo opressor, e usou a linha para acelerar o tempo, dissolvendo as paredes da prisão e a guerra.

07 – Qual foi o primeiro sinal físico que Pedro notou que a linha mágica estava afetando seu próprio envelhecimento?

      Ele olhou no espelho e viu que seu cabelo começava a ficar grisalho e seu rosto apresentava rugas, além da linha mágica ter mudado de cor de dourada para prateada.

08 – Qual foi a grande tristeza de Pedro relacionada à sua mãe, apesar de possuir a linha mágica?

      Ele percebeu que a linha mágica não adiantava para evitar a morte dela; na verdade, só aceleraria sua chegada. Sua mãe faleceu, e ele refletiu sobre como a vida passara rápido mesmo sem usar a linha para ela.

09 – Qual foi o último desejo de Pedro à mulher idosa na floresta, depois de perceber os efeitos negativos da linha?

      Ele desejou tornar a viver sua vida como se fosse a primeira vez, mas sem a bola mágica, para poder experimentar as coisas boas e ruins sem encurtar sua duração e perder o sentido.

10 – Como o conto termina para Pedro, e o que ele aprendeu?

      Pedro acorda em sua cama como um menino, descobrindo que tudo foi um sonho. Ele aprendeu a valorizar o presente, as pequenas coisas da vida, e a perspectiva de ir à escola e encontrar amigos, percebendo que "mal podia esperar" pelas experiências cotidianas.

 

CARTA DE DECLARAÇÃO: DÚVIDA ETERNA: DEVO ME DECLARAR? - FRAGMENTO - CAPRICHO ABRIL - COM GABARITO

 Carta de declaração: Dúvida eterna: devo me declarar? – Fragmento

        A decisão de se declarar para o gatinho é SEMPRE muito difícil. Será que a gente consegue ajudar a A?:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjslpZJm9Va8zp7m3ertrkmGT6g7NRJNLpfApuWr8pfWbOPWZC3tbsblM3IhCT7UaZGWakeSSgHNX7pt3VsG_J42DxLCgLzgXNQZQQGc9qQA0xpTx6_jgfDW6s_yFmDrhLBDVzaYieQYvU0hyphenhyphenNClBBptwRScfK8B_ZmfQU2l7WgYOJbC7r77TGDcnZ8Mds/s320/Cartas_de_amor-1080x720.jpg


        [...] Acho essa história de se declarar um perigo! Uma declaração não correspondida é das coisas que mais doem no coração, fora a possibilidade dela virar o maior mico. Por essas e outras fico super na dúvida se essa é a melhor atitude para conquistar um gatinho. Não me entendam mal, eu sou super a favor da gente correr atrás do que (ou quem!) quer, de se arriscar, de tentar, de não desistir. Mas, pra mim, não tem muita lógica a ideia de que um gatinho vai começar a gostar de você simplesmente porque você gosta dele. O que leva alguém se apaixonar por outra pessoa são outras coisas. É uma boa conversa, a troca de carinho, os gostos em comum e também as diferenças (por que não?)

        Por isso acho mais negócio ir se aproximando aos poucos, fazendo amizade, mostrando interesse sim, mas sem declaração aberta. Principalmente nesse caso da A., que nunca nem conversou com o menino.

        Eu entendo que, às vezes, a paixão é tão grande que parece não caber dentro da gente e por isso essa vontade louca de se abrir. Mas antes de tomar essa decisão é preciso pensar nas consequências possíveis, e uma delas, infelizmente, é o menino simplesmente sair correndo. E eu acho que indo com um pouco mais de calma a chance de isso acontecer diminui bastante.

        E aí? Se declarar ou não?

        Beijo

        Fê.

Disponível em:http://capricho.abril.com.br/blogs/papodeamiga/duvida-eterna-devo-me-declarar/. Acesso em: 5 mar. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 7º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 58-59.

Entendendo a carta:

01 – Qual é a principal preocupação da autora da carta (Fê) em relação a uma declaração amorosa?

      A principal preocupação da autora é o risco de uma declaração não correspondida, que pode causar muita dor e se transformar em um "mico" (situação embaraçosa).

02 – Por que a autora questiona a eficácia de uma declaração aberta para conquistar alguém?

      A autora questiona porque ela não vê lógica na ideia de que alguém vai gostar de você "simplesmente porque você gosta dele". Ela acredita que o que leva à paixão são outros fatores, como boa conversa, troca de carinho, gostos em comum e até mesmo as diferenças.

03 – Qual a estratégia sugerida pela Fê como alternativa à declaração direta?

      A Fê sugere ir se aproximando aos poucos, fazendo amizade e mostrando interesse, mas sem uma declaração aberta.

04 – Em que tipo de situação a autora da carta considera a estratégia de aproximação gradual ainda mais importante?

      Ela considera a aproximação gradual ainda mais importante no caso específico da leitora "A", que nunca sequer conversou com o menino.

05 – Qual a consequência negativa que a autora alerta sobre uma declaração feita sem calma?

      A autora alerta que uma declaração feita sem calma pode fazer com que o menino "simplesmente saia correndo". Ela sugere que ir com mais calma diminui essa chance.

 

ARTIGO DE OPINIÃO: AS 3 FASES DO AMOR ROMÂNTICO - HELEN FISHER - COM GABARITO

 Artigo de Opinião: As 3 fases do amor romântico

           Helen Fisher

        Foi a antropóloga Helen Fisher, famosa pelos seus estudos sobre a bioquímica do amor, que propôs a existência de 3 fases no amor, cada uma delas com as suas características emocionais e os seus compostos químicos próprios. [...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX8Hnzo2wPveiWPL2Kw4GQNeT2orUqNRuajC-hbnEFWeqaFJhjGVaiP9VlGiHBB3RtD4z_raDfQbvWwLkgsybVuIHse4_Her8tt8axqBVeM3Ivctj_HiinWdAllG0msC2PuR6YStP5uJpW4m2VZ0vkmoPeqMPGIquVG85ezosWweqnLqxNJPVgept8RM4/s320/neurobiologia_do_amor.png


        A primeira fase é chamada “Fase do desejo” e é desencadeada pelos nossos hormônios sexuais, a testosterona nos homens e o estrogênio nas mulheres. [...]

        A segunda fase é a “fase da atração”, enamoramento ou paixão: é quando nos apaixonamos, ou seja, é a altura em que perdemos o apetite, não dormimos, não conseguimos concentrar-nos em nada que não seja o objeto da nossa paixão. É uma fase em que podem acontecer coisas surpreendentes, que por vezes dão origem a situações divertidas (para os outros) e embaraçosas (para o próprio): as mãos suam, a respiração falha, é difícil pensar com clareza, há “borboletas no estômago”... enfim... e isso tem a ver com outro conjunto de compostos químicos que afetam o nosso cérebro: a norepinefrina que nos excita (e acelera o bater do coração), a serotonina que nos descontrola, e a dopamina, que nos faz sentir felizes. [...]

        A terceira fase é a “Fase de ligação” – passamos à fase do amor sóbrio, que ultrapassa a fase de atração/paixão e fornece os laços para que os parceiros permaneçam juntos. Há dois hormônios importantes nessa fase: a oxitocina e a vasopressina. [...]

Química. Boletim SPQ (Sociedade Portuguesa de Química). Portugal, nº100, p. 47-50, mar. 2006. (Fragmento adaptado).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 7º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 210.

Entendendo o artigo:

01 – Quem propôs a existência das 3 fases do amor romântico e qual é a área de estudo dela?

      A existência das 3 fases do amor romântico foi proposta pela antropóloga Helen Fisher, conhecida por seus estudos sobre a bioquímica do amor.

02 – Qual é o nome da primeira fase do amor e por quais elementos químicos ela é desencadeada?

      A primeira fase é chamada "Fase do desejo" e é desencadeada pelos hormônios sexuais: a testosterona nos homens e o estrogênio nas mulheres.

03 – Descreva as principais características emocionais e físicas da "Fase da atração" (enamoramento ou paixão).

      Na "Fase da atração", as pessoas podem perder o apetite, ter insônia, dificuldade de concentração no objeto da paixão, mãos suadas, falha na respiração, dificuldade para pensar com clareza e a sensação de "borboletas no estômago".

04 – Quais são os três compostos químicos que afetam o cérebro durante a "Fase da atração" e qual o efeito de cada um?

      Os três compostos são: a norepinefrina, que excita e acelera o bater do coração; a serotonina, que descontrola; e a dopamina, que faz sentir feliz.

05 – Qual o nome da terceira fase do amor, o que ela representa para o relacionamento e quais hormônios são importantes nessa etapa?

      A terceira fase é a "Fase de ligação". Ela representa o amor sóbrio, que ultrapassa a paixão e fornece os laços para que os parceiros permaneçam juntos. Os hormônios importantes nessa fase são a oxitocina e a vasopressina.

 

 

POEMA: ÍTACA - KAVÁFIS - COM GABARITO

 Poema: Ítaca

             Kaváfis

Se partires um dia rumo a Ítaca

Faz votos de que o caminho seja longo

Repleto de aventuras, repleto de saber.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfEp36NkD48SUgHCksy0ZGVysBfGyaG87vrtSHPEXp6TILVtANBtMdJS6jtomqddkcCH46Fh7MYvXsNXChSMJz9hJaSY1cJdYlHJ9a9YXiIiE0RbkUiXJyD4qCkmahnFp09y9tyomuDnOYDISDdazWxzrcAS_A-gq9p5ewFJWWwaxetUY5BQPvsk0So-o/s1600/images.jpg

Nem Lestrigões nem os Ciclopes

Nem o colérico Posseidon te intimidem;

Eles no teu caminho jamais encontrarás

Se altivo for o teu pensamento, se sutil

Emoção teu corpo e teu espírito toca.

Nem Lestrigões nem os Ciclopes

Nem o bravio Posseidon hás de ver,

Se tu mesmo não os levares dentro da alma

Se tua alma não os puser diante de ti.

 

Faz votos de que o caminho seja longo.

Numerosas serão as manhãs de verão

Nas quais, com que prazer, com que alegria,

tu hás de encontrar pela primeira vez um porto

para correr as lojas dos Fenícios

e belas mercadorias adquirir:

madrepérolas, corais, âmbares, ébanos

e perfumes sensuais de toda espécie

quanto houver de aromas deleitosos.

A muitas cidades do Egito peregrina

Para aprender, para aprender dos doutos.

 

Tem todo o tempo Ítaca na mente.

Estás predestinado a ali chegar

Mas não apresses a viagem nunca.

Melhor muitos anos levares de jornada

E findares na ilha velho enfim.

Rico de quanto ganhaste no caminho.

Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.

Sem ela não te ponhas a caminho.

Mais do que isso não lhe cumpre dar-te

Ítaca não te iludiu, se achas pobre.

Tu te tornaste sábio, um homem de experiência

E agora sabes o que significam Ítacas.

Kaváfis é um poeta grego contemporâneo. Esta poesia foi retirada de uma antologia de seus poemas publicados pela Editora Nova Fronteira.

Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 167.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o desejo central que o eu lírico faz para quem parte rumo a Ítaca?

      O desejo central é que o caminho seja longo, "repleto de aventuras, repleto de saber", enfatizando a importância da jornada em si e das experiências acumuladas.

02 – Como o poema sugere que se evitem os perigos mitológicos (Lestrigões, Ciclopes, Posseidon)?

      O poema afirma que esses perigos não intimidarão nem serão encontrados se o pensamento for altivo e a emoção sutil. Mais crucialmente, eles não serão vistos se a própria pessoa não os levar dentro da alma ou se sua alma não os puser diante de si, indicando que os verdadeiros obstáculos são internos.

03 – Que tipo de experiências o eu lírico recomenda buscar durante a jornada?

      O eu lírico recomenda buscar intercâmbios comerciais ("correr as lojas dos Fenícios e belas mercadorias adquirir") e aprendizado ("A muitas cidades do Egito peregrina / Para aprender, para aprender dos doutos"), valorizando tanto a riqueza material quanto a intelectual.

04 – Qual a importância de "ter todo o tempo Ítaca na mente" sem apressar a viagem?

      Ter Ítaca na mente serve como um objetivo constante, mas o poema insiste em não apressar a viagem para que se possa acumular experiências e sabedoria ao longo dos anos. A lentidão permite que o viajante chegue à ilha "rico de quanto ganhaste no caminho".

05 – O que Ítaca realmente oferece ao viajante, segundo o poema?

      Ítaca não oferece riquezas materiais em si, mas sim a oportunidade de uma "bela viagem". O valor de Ítaca está em ser o motivo ou o destino que impulsiona a jornada, proporcionando o aprendizado e a experiência que transformam o viajante em alguém sábio.

06 – Qual o significado da frase "Ítaca não te iludiu, se achas pobre"?

      Essa frase sugere que a expectativa de riquezas materiais em Ítaca seria uma ilusão do próprio viajante. Ítaca cumpre seu papel ao oferecer a jornada; se o destino final parecer "pobre", a culpa não é da ilha, mas talvez da expectativa equivocada do indivíduo sobre o que a vida ou o destino devem entregar.

07 – Que transformação o viajante sofre ao final da jornada, e o que ele finalmente compreende sobre "Ítacas"?

      Ao final da jornada, o viajante se torna "sábio, um homem de experiência". Ele compreende que o verdadeiro valor de "Ítacas" (ou de qualquer objetivo na vida) não reside na chegada ou em bens materiais, mas nas lições, no crescimento e nas vivências.

POEMA: O ARTISTA INCONFESSÁVEL - JOÃO CABRAL NETO - COM GABARITO

 Poema: O Artista Inconfessável

              João Cabral Neto

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAVMq8dcn5HVsNrGYHkFWEUUrX-O3oTxcUQeAtRcYUZvIeWhwKQ2ytijbTzb8aMJW0Tm9GhMJVL3noe7Myz9Y15FmbBJ6jA0LMGvqFt0qsjDNoitcKuSrVzsVS_yu9RKUDiNH3qEs3w9_sVTn-bmthYByhUYLdoYxKJVvDPn7rqwgCeMfr8qciPJPRPkM/s1600/thumb_9788560281190.jpg


Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

João Cabral de Melo Neto. Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 153.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal contradição expressa pelo eu lírico no início do poema?

      A principal contradição é a afirmação de que "Fazer o que seja é inútil" e "Não fazer nada é inútil". Essa dualidade inicial estabelece o dilema existencial do poema.

02 – Por que o eu lírico sugere que "mais vale o inútil do fazer"?

      O eu lírico sugere que "mais vale o inútil do fazer" não para esquecer a inutilidade, mas porque o ato de fazer, mesmo que inútil, é mais difícil do que a inação. Há um valor intrínseco no esforço e na dificuldade.

03 – Qual é a condição para o "fazer" que o poema propõe como mais significativo?

      A condição para o "fazer" mais significativo é fazer o inútil sabendo que ele é inútil e que seu sentido "não será sequer pressentido". É um fazer consciente da falta de propósito externo.

04 – A quem o poema se dirige com a frase "dizer mais direto ao leitor Ninguém"? Qual o efeito dessa escolha?

      O poema se dirige a um leitor “Ninguém", o que enfatiza a ideia de que a obra é feita sem expectativa de reconhecimento ou compreensão por parte de um público. Essa escolha reforça o tema da inutilidade e do desdém em relação à recepção da arte.

05 – Qual a conclusão final do poema sobre o propósito da criação para o "Artista Inconfessável"?

      A conclusão é que a criação, para o "Artista Inconfessável", não visa utilidade, reconhecimento ou esquecimento da inutilidade. Ela é realizada pela própria dificuldade do ato e como uma forma de expressar desdém ou de comunicar diretamente ao leitor “Ninguém" que o que foi feito é, em última instância, para ninguém.

 

 

 

POEMA: POEMA EM LINHA RETA - ÁLVARO DE CAMPOS (HETERÔNIMO DE FERNANDO PESSOA) - COM GABARITO

 Poema: Poema em linha reta

              Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGA7gWIiPTGsHa98fJ44GxCHCZXOWxv4qkB2-XR5LT55lha3YasDrfENDk5VYhR0sS_z9q8tP8lsc-5de9GsVeGYeJZf9S5r7pKKPqMgfwz16MSeY1EqJ71wudUjTpvE0hvHqcAlBMXFIlYn_-IktOpZpJmE9pKjXKHJGnom0YO_ccPoIjokjryDI2Mq8/s320/hq720.jpg


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas do hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedindo emprestado sem pagar,

Eu que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Extraído de Poemas escolhidos, seleção e organização de Frederico Barbosa. Edit. Klick / Editora Klick, 2000, p.134 a 135.

Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 248-249.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal dicotomia explorada no poema?

      A principal dicotomia explorada no poema é a oposição entre a percepção idealizada que o eu lírico tem das outras pessoas (como "campeões", "príncipes", "semideuses" que nunca cometeram erros ou ridículos) e a autoimagem crua e desidealizada que ele possui de si mesmo, cheia de falhas, imperfeições e momentos vergonhosos ("reles", "porco", "vil", "parasita", "ridículo", "grotesco").

02 – Que tipo de linguagem o eu lírico utiliza para descrever a si mesmo? Dê exemplos.

      O eu lírico utiliza uma linguagem autodepreciativa e explícita para descrever a si mesmo, recorrendo a termos que contrastam fortemente com a imagem de perfeição que atribui aos outros. Exemplos incluem: "reles", "porco", "vil", "irrespondivelmente parasita", "indesculpavelmente sujo", "ridículo", "absurdo", "grotesco", "mesquinho", "submisso e arrogante", "cômico às criadas do hotel", "feito vergonhas financeiras", "agachado para fora da possibilidade do soco", e "vil, literalmente vil".

03 – Qual é o desejo do eu lírico em relação às outras pessoas?

      O eu lírico expressa um profundo desejo de encontrar autenticidade e humanidade nas outras pessoas. Ele anseia por ouvir uma "voz humana" que confesse "não um pecado, mas uma infâmia", que conte "não uma violência, mas uma cobardia". Em outras palavras, ele quer que as pessoas admitam suas falhas, fraquezas e momentos de vileza, que demonstrem ser tão imperfeitas e reais quanto ele se sente.

04 – Como o poema aborda a hipocrisia social?

      O poema aborda a hipocrisia social ao retratar a fachada de perfeição que as pessoas parecem apresentar na sociedade. O eu lírico percebe que todos ao seu redor se mostram como ideais, como se nunca tivessem tido um "ato ridículo" ou "sofrido enxovalho". Essa constatação o leva a sentir-se isolado em sua própria imperfeição, como se fosse o único "vil e errôneo nesta terra", evidenciando a pressão social para esconder as vulnerabilidades.

05 – Qual é o sentimento predominante do eu lírico ao longo do poema?

      O sentimento predominante do eu lírico ao longo do poema é de solidão e um profundo cansaço em relação à idealização e à falta de honestidade alheia. Ele se sente isolado em suas imperfeições, expressando um misto de angústia ("a angústia das pequenas coisas ridículas"), frustração ("Arre, estou farto de semideuses!") e um anseio por conexão genuína ("Quem me dera ouvir de alguém a voz humana").

06 – O que significa a expressão "Poema em linha reta" no contexto da obra de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos?

      A expressão "Poema em linha reta" no contexto da obra de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos sugere uma escrita direta, sem rodeios ou adornos, que expressa a verdade nua e crua do eu lírico. Em contraste com a complexidade e as múltiplas facetas de outros heterônimos, Álvaro de Campos, neste poema, apresenta uma confissão despojada de artifícios, uma linha direta de pensamento e sentimento que expõe suas imperfeições sem dissimulação.

07 – Qual é a principal crítica que o eu lírico faz à sociedade ou às pessoas ao seu redor?

      A principal crítica que o eu lírico faz à sociedade ou às pessoas ao seu redor é a ausência de autenticidade e a constante exibição de uma perfeição irreal. Ele lamenta a falta de coragem para admitir as falhas humanas, as "infâmias" e "cobardias", em vez de apenas "pecados" ou "violências". Essa crítica ressalta a superficialidade das relações humanas e a dificuldade de encontrar uma conexão genuína quando todos se esforçam para manter uma imagem impecável.

 

POESIA: CANTO DA ESTRADA ABERTA - WALT WHITMAN - COM GABARITO

 Poesia: Canto da estrada aberta

              Walt Whitman

A pé e de coração leve

Eu enveredo pela estrada aberta,

Saudável, livre, o mundo à minha frente,

A minha frente o longo atalho pardo

Levando-me aonde eu queira.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzmfPNOjZJp6B05OORyfCjcXze9x2xue6OVWwyymKNh8oKLC54KRzPIOdUo0k4Q9NODNI_Kr2WES1GXR5fsV4qHG-M_xT_On2fYEeBF5zzFg7KSxgZ7ckoKYJzIhqOZcRETl5h6Q5XKCp_whaqANFf-f8FApNx27DkM41bHzutZFdQ-i9ysL7jUQXd5GA/s320/hq720.jpg

Daqui em diante não peço mais boa sorte,

Boa sorte sou eu.

Daqui em diante não lamento mais,

Não transfiro, não careço de nada;

Nada de queixas atrás das portas,

De bibliotecas, de tristonhas críticas;

Forte e contente vou eu

Pela estrada aberta.

Folhas das folhas de relva. São Paulo, Brasiliense, 193.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 253.

Entendendo a poesia:

01 – Como o eu lírico descreve seu estado de espírito ao iniciar sua jornada pela estrada aberta?

      O eu lírico se descreve "a pé e de coração leve", sentindo-se "saudável, livre" e com "o mundo à sua frente".

02 – O que o eu lírico afirma ser a "boa sorte" para ele, a partir de agora?

      Ele declara que, dali em diante, a própria "boa sorte" é ele mesmo, indicando uma autoconfiança e autonomia.

03 – De que elementos o eu lírico decide não precisar mais em sua jornada?

      O eu lírico decide não precisar mais de lamentos, de transferir responsabilidades ou culpas, e de queixas, bibliotecas ou críticas tristonhas.

04 – Qual a atitude geral do eu lírico em relação ao futuro e à sua caminhada?

      Ele demonstra uma atitude de força e contentamento, seguindo pela estrada aberta com determinação e otimismo.

05 – Qual a importância da "estrada aberta" para o eu lírico, simbolicamente?

      A "estrada aberta" simboliza a liberdade, a autonomia e a jornada da vida, onde ele pode ir aonde quiser, sem depender de fatores externos ou de restrições.