domingo, 10 de agosto de 2025

TEXTO: ORIGENS DO TEATRO - TEATRO GREGO - ARTE EM INTERAÇÃO - COM GABARITO

 Texto: Origens do teatro

        Teatro grego

        Há várias imagens, que nos mostra a representação de um ritual sagrado praticado na Grécia antiga, em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho e da fertilidade. Esses rituais eram chamados de ditirambo. Os primeiros registros dessas manifestações datam aproximadamente do século VII a.C.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiiSuL2CkTzH8LbcMByFO1CkdgGmmaFn7-iTyXObiSX8ZOtXUiHgU1lteVZhn0xcF8YHiLpU2JYANrONyzWubZdihJa7dTecVEuHWG4IUa77iaqBogdv9r-h4Czg3QS_SSfcTQ0asY6b6X6YLQgI3C2qlqLUsE34SvR471viEUMah0MU5eX0kbI9MRJX4/s320/unnamed.png


        Anteriormente aos ditirambos, acredita-se que os rituais representavam cultos agrários, de morte e ressureição. Neles, animais eram sacrificados em homenagem aos deuses e a pele era usada como uma espécie de vestimenta em danças nas quais imitavam o animal, com dizeres os deuses. Daí teriam surgido as primeiras formas de representação dramática.

        Mas é difícil definir com exatidão a origem geográfica do teatro, visto que manifestações culturais acontecem paralelamente e de formas similares em todo o mundo.

        Porém, o teatro ocidental, sistematizado como conhecemos hoje, teria surgido, segundo estudiosos das artes cênicas, a partir do ritual do ditirambo.

        Téspis foi considerado o primeiro ator de que se tem conhecimento. Ele viajava de cidade em cidade, organizando celebrações do ditirambo, que foram aos poucos transformadas em dramatizações com textos, acompanhados por música.

        Com o tempo, as celebrações foram se organizando ainda mais em sua forma, com a criação de diálogos, a separação de funções, criação de situações para representar histórias em devoção primeiro a Dionísio e depois a outros deuses, até se chegar a uma estrutura conhecimento e aos primeiros teatros, pela necessidade de uma estrutura física onde representar as peças.

        Durante a Antiguidade Clássica grega, período que vai do século VIII ao II a.C., a Grécia experimentou o auge das produções teatrais dessa época, no século V a.C. Existiam atores, autores e festivais organizados e patrocinados pelo Estado, nos quais a participação da população, muitas vezes, era obrigatória.

         Para se entender a função original do teatro na Grécia, é preciso considerar dois pontos importantes: a sociedade grega vivia sob os conceitos de mitos para entender a vida; e nessa época existia uma mentalidade civilizatória fundamentada na crença de que costumes, filosofia, arte, normas sociais e a política eram pressupostas de uma sociedade ideal. E o teatro foi parte fundamental desse processo.

        O que você entende por mitologia?

        A palavra “mito” vem da palavra grega mithos, que significa “fábula”, acontecimentos imaginados. A palavra mitologia é a junção de mito e do termo grego logos, que significa “estudo”. Assim, mitologia é o estudo dos mitos.

        Você viu, anteriormente, que o mito representa uma forma de explicar o mundo, em que o sagrado interfere diretamente nas relações de causa e efeito, nas relações entre os seres humanos e destes com a natureza.

        As histórias míticas aprecem em muitas sociedades, em muitos momentos da história. Cada qual com seus deuses representantes.

        Na mitologia grega, o Olimpo, nome dado ao monte mais alto da Grécia, era habitado e regido por deuses. Cada um deles representava um aspecto da natureza e tinha uma função específica.

        Na mitologia romana, aparecem os mesmos deuses, com outros nomes correspondentes. Alguns deles até ficaram mais conhecidos pelos nomes romanos.

        Leia, a seguir, uma breve descrição desses e de mais alguns dos principais deuses. Observe que cada um deles tem uma relação com algum aspecto da natureza, das ciências, da arte ou de características do ser humano.

        Zeus – deus dos deuses. Na mitologia romana é chamado de Júpiter.

        Hera – protetora da família. Mulher e irmã de Zeus. Chamada de Juno na mitologia romana.

        Palas Atena – deus da prudência, das ciências e das artes. Filha de Zeus. Chamada também de Minerva.

        Pã – deus dos caçadores. Filho de Zeus.

        Possêidon – ou Netuno. Deus do mar, irmão de Zeus.

        Héstia – ou Vesta. Deusa do fogo.

        Febo – ou Apolo. Deus da música, da poesia, da medicina e dos oráculos.

        Ártemis – ou Diana. Deusa das florestas, irmã de Febo.

        Deméter – ou Ceres. Deusa da agricultura.

        Hefesto – ou Vulcano. Deus do fogo.

        Hermes – ou Mercúrio. Mensageiro dos deuses.

        Ares – ou Marte. Deus da guerra.

        Afrodite – ou Vênus. Deusa da beleza, do amor, dos casamentos e nascimentos.

        Eros – ou Cupido. Deus do amor, filho de Afrodite.

        Hades – ou Plutão. Deus dos infernos.

        Erineas – ou Fúrias. Tem a função de executar as sentenças do interno

        Dionísio – ou Baco. Deus da fertilidade, da sensualidade, do vinho. É patrono do teatro.

        Príapo – ou Phallos. Deus da fecundidade, filho de Dionísio.

        Era por meio da crença nessas divindades que os gregos procuravam explicar tudo que os cercava.

        Na Grécia antiga, os mitos eram a base fundamental de toda a formação da sociedade. Todos os cidadãos, desde cedo, aprendem sobre os deuses, suas relações com os “mortais” e todas as decorrências de se enfrentar ou desobedecer as regras divinas. Não eram simplesmente histórias, faziam parte da cultura como uma crença real, ditada por normas e regras que deveriam ser seguidas.

        Dada toda essa importância para a sociedade grega, a transmissão desse conhecimento era feita de forma muito cuidadosa. Por exemplo, os primeiros narradores dos mitos eram considerados homens escolhidos pelos deuses. Tinham de ser de alta confiabilidade e seriam pessoas que teriam testemunho o próprio mito. Esses narradores eram os chamados rapsodos. Os rapsodos iam de cidade em cidade narrando os mitos em forma de poesia ou música.

        Desta forma, as artes foram se tornando importantes meios de transmissão dos mitos. E aos poucos o teatro aparece como uma das principais, por ter adquirido a complexidade necessária para mostrar todos os aspectos da história: personagens, situações, lugares, relações de causa e efeito, entre outros. O teatro era a possibilidade de fazer o público vivenciar a história e, assim, apreendê-la de forma mais completa.

        Tragédia

        Da Grécia antiga, a forma de teatro que mais teve registros e textos preservados foi a tragédia.

        Certamente, você já ouviu esse termo e é provável que também o use. Até os dias atuais, a palavra tragédia é muito usada, principalmente pelos meios de comunicação, quando se quer noticiar algum acontecimento catastrófico, de grandes proporções ou associado à morte.

        O significado do termo obviamente foi modificado desde a época da Grécia antiga, mas ainda mantém relações de sentido.

        A palavra “tragédia” vem do grego tragoedia. Tragos significa “bode”, e oidé, “ode”, “canto”. Assim, a tragédia pode ser entendida como “canto do bode”. Existem algumas versões que tentam explicar a relação do bode com a tragédia. Uma delas diz que, em alguns rituais, bodes eram sacrificados em homenagem aos deuses, e sua pele usada como vestimenta; em outras, que os cantos serviam para espantar (ou atrair) espíritos silvestres em forma de homens misturados com bodes e que costumavam participar dos ditirambos. Por isso, acredita-se que a tragédia como gênero teatral também tenha vindo desse culto.

        Nas peças trágicas gregas, o objetivo maior era mostrar como os humanos estavam condicionados à vontade dos deuses e como qualquer deslize, por menos intencional que fosse, levaria o personagem à desgraça inevitável. As tragédias falam de situações sem saída, ligadas à posição do ser humano no Universo.

        Essas peças serviam para ensinar a moral e dar ao cidadão um sentido de identidade, mostrando uma situação em que ele poderia se enxergar para seguir ou não o exemplo de algo que estava sendo mostrado. O ator era considerado uma espécie de sacerdote.

        A tragédia, nessa época, pode ser considerada muito mais do que uma manifestação teatral: representava uma situação social, patrocinada diretamente pelo Estado e por outros cidadãos de poder. Patrocinar o teatro era considerado um dever cívico.

        As Dionisíacas, festival em homenagem aos deuses, organizado pelo Estado, duravam seis dias, e a participação do povo era obrigatória. Nelas, a principal atração eram as apresentações de teatro.

        A produção era bastante intensa. Os principais tragediógrafos gregos de que se tem registro são: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Este último, por exemplo, produziu, em 50 anos, 92 peças, sendo que 19 chegaram completas aos dias de hoje.

        Nas apresentações das tragédias, os atores usavam roupas e adereços grandes, como os onkus, uma espécie de adereço utilizado na cabeça para dar maior altura ao personagem; o coturnos, que são os sapatos de saltos grandes, nome que até hoje é conhecido; e grandes máscaras feitas de couro, pano ou madeira, que tinham algumas funções importantes, como amplificar a voz dos atores, possibilitar que o mesmo ator fizesse mais de um personagem sem revelar sua identidade durante a peça, algo que era considerado impróprio na época. Esses adereços davam ao ator uma postura hierática e sagrada.

        Nas peças, além dos atores, um elemento muito importante era o coro, um personagem coletivo, formado por muitas pessoas, que representavam a voz do cidadão, e que servia para difundir os pontos de vista oficiais. Discordavam e comentavam o enredo, porém sem interferir nele ou na ação. Ao coro cabiam ações contemplativas, de comentários e reflexão, ou falas para explicar acontecimentos anteriores à história da peça. O coro movia-se segundo um ritmo fixo, com seus membros juntos, cantando ao som de flautas e alternando perguntas e respostas.

        A figura do herói também aparece nas tragédias, mas não como um semideus, como na mitologia. O herói é o personagem que desencadeia a história. Na maioria das vezes ele é o personagem principal. É ele quem sofre a falha trágica, situação em que o personagem faz alguma coisa errada sem saber, inconscientemente, mas que depois vai viver as consequências desse infortúnio de maneira consciente. O erro do herói trágico não é uma falha de caráter, mas uma falha por engano. O conflito na tragédia se dá entre a vontade do herói o seu destino.

        O público acompanha a trajetória do herói e vive com ele todos os momentos da história, culminando com a catarse, do grego kátharsis, que pode ser traduzida como “purificação” ou “purgação”. Era o nome dado à sensação que é despertada no espectador no desfecho da peça, uma descarga emocional, a fim de causar uma relação de empatia com o personagem e a história.

        Comédia

        A palavra “comédia” vem da junção dos termos gregos komos, que significa “rurais” ou “campestres”; e ode, que significa “canto”: “cantos rurais”.

        Acredita-se que também a comédia tenha se originado dos rituais ao deus Dionísio, mas ela teria tomado outro rumo em relação às tragédias, tanto em características quanto em funções.

        As tragédias cultuavam os deuses e suas regras sociais, já as comédias se desdobraram dos rituais de fertilidade, celebrando a vida e os assuntos mais mundanos, cotidianos, cultuando o divertimento. Os personagens eram inventados, as histórias falavam de zombaria, defeitos, vícios, críticas sociais, sempre de forma divertida e improvisada. E os finais eram felizes.

        Assim, tinha-se que a tragédia era digna dos deuses, e a comédia, digna dos homens.

        Na comédia, os atores improvisavam, paravam a peça para falar diretamente ao público, fazer brincadeiras, sugerir participação. Essas pausas eram chamadas parábase.

        Os mimos eram atores populares que improvisavam e iam de cidade em cidade levando histórias cômicas. Esses atores, segundo dados históricos, teriam representado textos falados e depois desenvolvido o gestual, originando o que conhecemos hoje como mímica.

        Aristófanes e Menandro fôramos autores de comédias mais representativos dessa época e de quem se tem mais registros até os dias de hoje. Eles participavam das Leneias, que eram as festas de comédias realizadas durante o inverno na Grécia.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 21-28.

Entendendo o texto:

01 – Qual divindade grega é associada aos rituais que deram origem ao teatro ocidental, e qual o nome desses rituais?

      O teatro ocidental, como conhecemos hoje, teria surgido a partir dos rituais chamados ditirambos, praticados na Grécia antiga em homenagem a Dionísio, deus do vinho e da fertilidade.

02 – Quem foi Téspis e qual sua importância para a história do teatro?

      Téspis foi considerado o primeiro ator de que se tem conhecimento. Ele viajava organizando celebrações do ditirambo, que gradualmente foram transformadas em dramatizações com textos e música, contribuindo para a evolução para o teatro.

03 – Quais eram os dois pontos importantes a serem considerados para entender a função original do teatro na Grécia Antiga?

      Para entender a função original do teatro na Grécia Antiga, era preciso considerar que a sociedade grega vivia sob os conceitos de mitos para entender a vida e que existia uma mentalidade civilizatória fundamentada na crença de que costumes, filosofia, arte, normas sociais e política eram pressupostos de uma sociedade ideal.

04 – O que significa "mitologia" e qual era sua importância na sociedade grega antiga?

      "Mitologia" é o estudo dos mitos. Na Grécia antiga, os mitos eram a base fundamental de toda a formação da sociedade, sendo considerados crenças reais que ditavam normas e regras a serem seguidas por todos os cidadãos.

05 – Qual é a origem etimológica da palavra "tragédia" e quais eram os objetivos principais das peças trágicas gregas?

      A palavra "tragédia" vem do grego tragoedia, que significa "canto do bode". O objetivo maior das peças trágicas gregas era mostrar como os humanos estavam condicionados à vontade dos deuses e como qualquer deslize levaria o personagem à desgraça inevitável, ensinando moral e oferecendo um sentido de identidade ao cidadão.

06 – Quais eram os principais adereços utilizados pelos atores nas tragédias gregas e quais suas funções?

      Os atores nas tragédias gregas usavam adereços grandes como os onkus (adereço na cabeça para dar altura), os coturnos (sapatos de saltos grandes) e grandes máscaras (feitas de couro, pano ou madeira). As máscaras tinham funções importantes como amplificar a voz, permitir que o mesmo ator fizesse múltiplos personagens e manter uma postura hierática e sagrada.

07 – Qual era a função do coro nas apresentações das tragédias gregas?

      O coro era um personagem coletivo que representava a voz do cidadão e servia para difundir os pontos de vista oficiais. Ele comentava o enredo, realizava ações contemplativas e de reflexão, e explicava acontecimentos anteriores à história, sem, no entanto, interferir na ação.

08 – O que é a "falha trágica" do herói e o que o público vivenciava ao final da peça, conhecido como "catarse"?

      A falha trágica do herói é uma situação em que o personagem comete um erro inconscientemente, mas depois sofre as consequências de forma consciente. A catarse (do grego kátharsis, purificação ou purgação) era a descarga emocional que o espectador vivenciava no desfecho da peça, causando empatia com o personagem e a história.

09 – Qual é a origem etimológica da palavra "comédia" e como ela se diferenciava da tragédia em termos de função e características?

      A palavra "comédia" vem da junção dos termos gregos komos ("rurais" ou "campestres") e ode ("canto"), significando "cantos rurais". Ao contrário das tragédias que cultuavam os deuses, as comédias celebravam a vida e assuntos cotidianos, focando no divertimento, com personagens inventados, zombaria, críticas sociais de forma divertida, improvisação e finais felizes. Enquanto a tragédia era "digna dos deuses", a comédia era "digna dos homens".

10 – O que eram as "parábases" nas comédias gregas e quem eram os "mimos"?

      As parábases eram pausas nas comédias gregas onde os atores improvisavam e falavam diretamente ao público, fazendo brincadeiras e sugerindo participação. Os mimos eram atores populares que improvisavam e viajavam de cidade em cidade, levando histórias cômicas e que, segundo dados históricos, teriam originado a mímica moderna ao desenvolver o gestual.

 

HISTÓRIA: ÉDIPO O REI - FRAGMENTO - ARTE EM INTERAÇÃO - COM GABARITO

 História: ÉDIPO O REI – Fragmento

        Édipo é filho de Laios, rei de Tebas. Antes de Édipo nascer, Laios sofreu uma maldição que dizia que seu primeiro filho ia se tornar seu assino e casaria com a própria mãe. Tentando escapar à maldição dos deuses, Laios manda matar Édipo logo após seu nascimento. Porém, o bebê é salvo por um servidor, que o entrega a Políbio, rei de Corinto. Sem saber que Políbio não é seu pai verdadeiro, Édipo, já adulto, descobre a maldição e, para que não fosse cumprida, foge para Tebas. No meio do caminho, envolve-se em uma briga e mata alguns mercadores, sem saber que entre eles estava Laios, seu verdadeiro Pai.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiN8h0TKvN0yT2KlhszQsF8hWqDjz0Gv3_gWF19D3IB_BKG0Ym0351Vsl8qk6KRStHdgRc5JP3OJgwqDDkRi_fV1nMLf5zDOjurDUTxJxLyda11y79J8fQ7Rd8z15fx0yS6mYxRPQO4APsoE3uLEad0ehj8d8CN105y_tw4oDzfdwruYL27ieta9qZgFlk/s320/Untitled-design-3.png


        Ao chegar a Tebas, Édipo decifra o enigma da Esfinge, e quebra outra maldição que assolava a cidade. Como recompensa, é feito rei e casa-se com a recém viúva de Laios, Jocasta, sem saber que ela era sua mãe verdadeira.

        No meio da história, Édipo resolve investigar quem teria sido o assino do rei Laios, condição para livrar a cidade de outros males.

Édipo: Tu é que entregaste a criança de quem ele fala?

O Servidor: Fui eu. Quem dera tivesse morrido naquele mesmo dia?

Édipo:  Recusa-te a falar, e é isso o que te espera.

O Servidor: Se eu falar, minha morte será ainda mais certa.

Édipo: Esse homem parece-me querer ganhar tempo

O Servidor: Não, eu já disse: fui eu que o entreguei.

Édipo: De quem era essa criança? Tua ou de um outro?

O Servidor: Não era minha. Era de um outro.

Édipo:  De quem? De que lar de Tebas ela saía?

O Servidor: Não, mestre, em nome dos deuses, não perguntes mais.

Édipo: Morrerás, se eu tiver que repetir minha pergunta.

O Servidor: Ele nascera na casa de Laios.

Édipo: Escrava? ... Ou parente do rei?

O Servidor: Ai de mim! Chego ao mais cruel de dizer.

Édipo: E, para mim, de ouvir. No entanto, ouvirei.

O Servidor: Diziam ser filho do rei... Mas tua mulher, no palácio, pode te dizer isso melhor do que ninguém.

Édipo: Foi ela quem te entregou a criança?

O Servidor: Foi ela, Senhor.

Édipo: Com que intenção?

O Servidor: Para que eu a matasse.

Édipo: Uma mãe! ... Mulher desgraçada!

O Servidor: Ela tinha medo de um oráculo dos deuses.

Édipo: O que ele anunciava?

O Servidor: Que a criança um dia mataria seus pais.

Édipo: Mas por que tu a entregaste a este homem?

O Servidor: Tive piedade dela, mestre. Acreditei que ele a levaria ao país de onde vinha. Ele te salvou a vida, mas para os piores males! Se és realmente aquele de quem ele fala, saibas que nascestes marcado pela infelicidade.

Édipo: Oh! Ai de mim então no final tudo seria verdade! Ah! Luz do dia, que eu te vejo aqui pela última vez, já que hoje me revelo o filho de quem não deveria nascer, o esposo de quem não devia ser, o assassino de quem não devia matar!

​        Ele corre para dentro do palácio.

        Moderado.

O Coro: Pobres gerações humanas, não vejo em vós senão um nada!

        Qual o homem, qual o homem que obtém mais felicidade do que parecer feliz, para depois, dada essa aparência, desaparecer do horizonte?

        Tendo teu destino como exemplo, teu destino, ó desditado Édipo, não posso mais julgar feliz quem quer que seja entre os homens.

        Ele visou o mais alto. Tornou-se senhor de uma fortuna e de uma felicidade completas.

        Destruiu, ó Zeus, a Esfinge das garras aguçadas. Ergueu-se em nossa cidade como um baluarte contra a morte. E foi assim, Édipo, que foste proclamado nosso rei, que recebeste as mais altas honrarias, que reinaste sobre a poderosa Tebas.

        Mais forte

        E quem agora poderia ser dito mais infeliz do que tu? Quem sofreu desastres, misérias mais atrozes, numa tal reviravolta?

        Ah! Nobre e caro Édipo! Assim o leito nupcial viu o filho após o pai entrar no mesmo porto terrível!

        Como pôde, como pôde o campo lavrado por teu pai te suportar por tanto tempo, sem revolta, ó desgraçado?

        O tempo, que tudo vê, o descobriu a despeito de ti. Ele condena o himeneu, que nada tem de um himeneu, de onde nasciam ao mesmo tempo e por tantos dias um pai e filhos.

        Ah! Filho de Laios! Quisera jamais, jamais ter-te conhecido! Estou desolado, e gritos enlouquecidos escapam de minha boca. Cumpre dizer a verdade de ti, outrora, recuperei a vida, e por ti, hoje, fecho os olhos para sempre! Um escravo sai do palácio.

 SÓFOCLES. Édipo rei. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre. Editora L&PM, 2012 p. 72 e 77.

        Ao descobrir toda a verdade, Édipo fura os próprios olhos e se autoexila. Jocasta suicida-se. Sófocles (aproximadamente 496 a.C. – 405 a.C.) foi um dos mais importantes dramaturgos da Grécia antiga. Escreveu centenas de peças, mas apenas sete delas chegaram completas até os dias de hoje.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 29-31.

Entendendo a história:

01 – Como a tragédia de Édipo, conforme narrada no fragmento, ilustra o conceito de destino inabalável na mitologia grega, apesar das tentativas dos personagens de evitá-lo?

      O fragmento demonstra a inelutabilidade do destino ao descrever como Laios tenta frustrar a profecia de que seu filho o mataria e se casaria com a própria mãe, ao mandar matar Édipo. Contudo, a criança é salva e, sem saber sua verdadeira origem, Édipo, ao fugir de Corinto para evitar a maldição, cumpre-a inadvertidamente ao matar Laios e, posteriormente, casar-se com Jocasta. Isso sublinha a ideia de que o destino, uma vez predito pelos deuses, é inevitável, independentemente das ações humanas.

02 – Analise a ironia dramática presente na investigação de Édipo sobre o assassinato de Laios.

      A ironia dramática é evidente na busca incansável de Édipo pelo assassino de Laios, um esforço para livrar Tebas de males, sem que ele próprio saiba que é o culpado. Ele impõe condições severas e ameaça o servidor para que revele a verdade, ignorando que cada revelação o aproxima da descoberta de sua própria terrível realidade. A tensão aumenta à medida que ele pressiona por informações que, ao final, o condenarão e desvelarão sua identidade como o assassino e esposo incestuoso.

03 – Qual o papel do Servidor no fragmento e como suas hesitações contribuem para o clímax da revelação?

      O Servidor é a testemunha-chave da verdade sobre a origem de Édipo. Inicialmente relutante em falar ("Se eu falar, minha morte será ainda mais certa"), suas hesitações e súplicas ("Não, mestre, em nome dos deuses, não perguntes mais") constroem a tensão e o suspense. Cada tentativa de Édipo de extrair a verdade dele é um passo em direção à descoberta, e a resistência do Servidor reflete o peso e o horror da revelação iminente, amplificando o impacto do clímax quando a verdade é finalmente exposta.

04 – Descreva a reação de Édipo ao compreender a verdade sobre sua identidade e seus atos, conforme expresso no final do fragmento.

      Ao final do fragmento, a reação de Édipo é de desespero e absoluta consternação. Ele exclama: "Oh! Ai de mim então no final tudo seria verdade! Ah! Luz do dia, que eu te vejo aqui pela última vez, já que hoje me revelo o filho de quem não deveria nascer, o esposo de quem não devia ser, o assassino de quem não devia matar!". Essa fala revela sua profunda agonia e a sensação de que sua vida, até então baseada em uma falsa realidade, desmoronou completamente, culminando em seu ímpeto de correr para dentro do palácio, presumivelmente para consumar a tragédia.

05 – Como o Coro reflete sobre a condição humana e a felicidade efêmera a partir do destino de Édipo?

      O Coro, ao observar o destino de Édipo, expressa uma visão pessimista sobre a felicidade humana, considerando-a um "nada" e algo efêmero. Eles lamentam que o homem "obtém mais felicidade do que parecer feliz, para depois, dada essa aparência, desaparecer do horizonte". A tragédia de Édipo, que alcançou o auge da fortuna e honrarias, serve como um exemplo contundente de como a felicidade pode ser abruptamente revertida em miséria e desastre, levando o Coro a não poder mais "julgar feliz quem quer que seja entre os homens".

06 – Que elementos do texto sugerem a iminente catástrofe após a revelação da verdade a Édipo?

      Vários elementos no texto sugerem a catástrofe iminente. A fala de Édipo "Ah! Luz do dia, que eu te vejo aqui pela última vez" indica que ele pretende algo drástico, como o autoexílio ou a morte. A corrida de Édipo para dentro do palácio reforça a ideia de uma ação imediata e desesperada. Além disso, o lamento do Coro sobre as "misérias mais atrozes" e o "himeneu, que nada tem de um himeneu, de onde nasciam ao mesmo tempo e por tantos dias um pai e filhos" prenunciam as consequências trágicas que se seguirão à terrível descoberta. A frase final do fragmento que descreve Édipo furando os próprios olhos e Jocasta se suicidando confirma a catástrofe.

07 – De que forma a resolução do enigma da Esfinge por Édipo, que o eleva ao status de rei de Tebas, contrasta com o posterior desvelamento de sua verdadeira identidade e queda?

      A resolução do enigma da Esfinge representa o auge da inteligência e do heroísmo de Édipo, elevando-o à condição de salvador de Tebas e, consequentemente, ao trono e ao casamento com a rainha. Este ato o coloca no pináculo da felicidade e do reconhecimento. No entanto, o desvelamento de sua verdadeira identidade, impulsionado por sua própria investigação, expõe a terrível ironia de sua ascensão, revelando que a base de sua "felicidade" (o casamento com sua mãe e o trono de seu pai) era, na verdade, a própria maldição. Esse contraste evidencia a natureza ilusória de sua fortuna e a virada brutal do destino, transformando seu maior triunfo em sua maior desgraça.

TEXTO: AS LINGUAGENS DA ARTE - ARTE EM INTERAÇÃO - COM GABARITO

 Texto: As linguagens da arte

        A arte existe de muitas formas, com diferentes conceitos. Cada civilização produz arte e a define dependendo de seus costumes, valores e história. Mesmo com tantas diferenças, é possível caracterizá-la quanto aos tipos de manifestações, e formas de produção e comunicação mais tradicionais, que chamamos de linguagens artísticas. Assim como a linguagem verbal possui suas características próprias, as linguagens artísticas também possuem diferentes elementos que as identificam. Tradicionalmente, há três grupos de linguagens: artes visuais, música e artes cênicas; mas algumas manifestações podem misturar mais de uma linguagem artística, gerando muitas outras. O cinema e o vídeo, por exemplo, são chamados de audiovisuais.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0Y4r9PXpgEDoV7ZgdytwsUPSrw-moWMb5ctGz2ktlMWgIV7n1eVyIZ9W-C58hQt5uLN6eomu4Su7vnTciykFjyyQ2yNNYS7R1bRNxE4FhCjDz2bckH4Ksk_p67P2eyuhPSGz5SYK8HHRvp3C2wJl2MVPC7htXntr8sMw5DhKrnKcOW9ANdJgsezgBKXM/s320/maxresdefault.jpg


        Artes cênicas

        Nas artes cênicas, o objeto artístico ou obra de arte é o espetáculo, que pode ser de teatro ou de dança. Tradicionalmente é apresentado no palco, mas pode também acontecer fora dele.

        A especificidade dessa linguagem é que o espetáculo só existe no momento da apresentação, ou seja, na relação entre artista e espectador. Obviamente é possível filmar um espetáculo, mas, nesse caso, a filmagem passa a não ser mais o próprio objeto artístico para se tornar um registro dele.

        Outra característica das artes cênicas é que geralmente a obra é feita por um conjunto de artistas, e alguns deles são parte integrante da obra, como atores e bailarinos.

        A dança é uma linguagem que tem muitas características próprias, que variam conforme a cultura, o contexto histórico e os artistas que a estão desenvolvendo, mas que tem como principal fundamento o movimento corporal como meio de expressão. Pode ser improvisada ou feita como uma coreografia, na qual os movimentos são pré-definidos e organizados em uma sequência.

        Um espetáculo de teatro mais tradicional é formado por cenas. Cada cena é composta pelos seguintes elementos básicos:

-- Espaço – onde a cena acontece segundo o texto que está sendo encenado.

-- Personagem – quem executa a ação.

-- Ação – o que o personagem faz na cena.

        O conjunto de cenas forma uma narrativa, ou seja, nos conta uma história, que pode ser feita de inúmeras maneiras diferentes.

        Geralmente, as histórias acontecem por meio de um conflito, que é o embate entre duas vontades. O conflito pode se dar entre o personagem e algo externo a ele (outro personagem ou alguma situação) ou interno (duas vontades opostas).

        A palavra “drama” tem alguns significados diferentes. Esse termo é usado para se referir a uma encenação ou algum texto transformado em ação, dramatizado. Por esse motivo, o teatro também é chamado de arte dramática ou linguagem dramática. Mas drama também é o nome dado a um gênero teatral. Você sabe o que é um gênero? Você já deve ter lido o resumo de um filme ou de uma peça teatral em que estivesse escrito “gênero: drama” ou “gênero: comédia”.

        Gênero no teatro é usado para definir uma categoria em que a peça está inserida. Cada uma dessas categorias tem características que as diferenciam. É claro que essas definições são sempre limitadas e quase nunca dão conta de abordar todas as possibilidades existentes, pois acabam não considerando aspectos mais particulares de cada obra ou de valores culturais de épocas e sociedades diferentes. Considerando isso, pode-se dizer que os gêneros mais comuns no teatro ocidental são: comédia, tragédia, drama, farsa, auto, ópera, musical. Mas existem outros, e eles ainda podem se misturar, gerando gêneros mistos, como tragicomédia (mistura de elementos da tragédia e da comédia), a ópera e outros.

        No Ocidente, os dois gêneros que deram origem a outros nas artes cênicas são a tragédia e a comédia. Isso aconteceu na Grécia antiga, por volta do século VII a.C.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 18-21.

Entendendo o texto:

01 – Quais são os três grupos tradicionais de linguagens artísticas mencionados no texto?

      Os três grupos tradicionais de linguagens artísticas são as artes visuais, a música e as artes cênicas.

02 – Qual é a especificidade das artes cênicas em relação ao seu objeto artístico?

      A especificidade das artes cênicas é que o objeto artístico, ou a obra de arte (o espetáculo), só existe no momento da apresentação, na interação entre artista e espectador. Uma filmagem de um espetáculo não é a obra em si, mas sim um registro dela.

03 – Qual é o principal fundamento da dança como linguagem artística?

      O principal fundamento da dança é o movimento corporal como meio de expressão, podendo ser improvisado ou realizado como uma coreografia pré-definida.

04 – Quais são os três elementos básicos que compõem uma cena em um espetáculo de teatro tradicional?

      Os três elementos básicos que compõem uma cena teatral são o espaço (onde a cena acontece), o personagem (quem executa a ação) e a ação (o que o personagem faz na cena).

05 – O que significa a palavra "drama" no contexto teatral, e por que o teatro é chamado de arte dramática?

      A palavra "drama" pode se referir a uma encenação ou um texto transformado em ação, dramatizado, por isso o teatro é chamado de arte dramática. Além disso, "drama" também é o nome dado a um gênero teatral específico.

06 – Cite três exemplos de gêneros teatrais comuns no teatro ocidental.

      Três exemplos de gêneros teatrais comuns no teatro ocidental são: comédia, tragédia e drama. Outros incluem farsa, auto, ópera e musical.

07 – Quais foram os dois gêneros que deram origem a outros nas artes cênicas no Ocidente e onde isso aconteceu?

      Os dois gêneros que deram origem a outros nas artes cênicas no Ocidente foram a tragédia e a comédia. Isso aconteceu na Grécia antiga, por volta do século VII a.C.

POEMA: PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ - BERTOLD BRECHT - COM GABARITO

 Poema: Perguntas de um trabalhador que lê

             Bertold Brecht

Quem construiu a Tebas de sete portas?

Nos livros estão nomes de reis.

Arrastaram eles os blocos de pedra?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLdxYjBpp-JSUsUs6wL57NmkEGxyqZQzc6cYd_tgpDnjcTcJLK2FoBRD2wqVPFwFJPUDaLZ9axZxmIrEWK97iVMFVcDlfHRmzZVU7l56lEYbmT8fefiMdH16xa_0wOkpXYPlfBRbnMkyk-eVVVXOYy6vivV7y-5aFAoGx_u351Sx_eukiM95Sm8Ge18s0/s1600/images.jpg


E a Babilônia várias vezes destruída

Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas

Da Lima dourada moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros, na noite em que

A Muralha da China ficou pronta?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo

Quem os ergueu? Sobre quem

Triunfaram os césares? A decantada Bizâncio

tinha somente palácios para os seus habitantes?

Mesmo na lendária Atlântida

Os que se afogavam gritaram por seus escravos

Na noite em que o mar a tragou?

O jovem Alexandre conquistou a Índia.

Sozinho?

César bateu os gauleses.

Não estava sequer um cozinheiro?

Felipe da Espanha chorou, quando sua armada

naufragou. Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.

Quem venceu além dele?


Cada página uma vitória.

Quem cozinhava o banquete?

A cada dez anos um grande Homem.

Quem pagava a conta?


Tantas histórias.

Tantas questões.

Bertold, Brecht. Poemas 1913-1956. 5. ed. São Paulo: Ed. 34, 2000.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 256-257.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal tese ou argumento que Bertolt Brecht desenvolve no poema "Perguntas de um Trabalhador que Lê"?

      A principal tese do poema é questionar a história oficial e tradicional, que frequentemente foca apenas em grandes líderes, reis e generais, ignorando ou minimizando o papel fundamental das massas trabalhadoras na construção das civilizações e na realização de grandes feitos. Brecht argumenta que, por trás de cada monumento, conquista ou avanço, houve o esforço anônimo e o trabalho árduo de inúmeros indivíduos, cujas contribuições raramente são registradas nos livros de história. O poema busca desmistificar a glória individual e trazer à tona a importância da ação coletiva e do trabalho braçal.

02 – Como Brecht utiliza a enumeração de grandes feitos históricos (Tebas, Babilônia, Muralha da China, Roma, Bizâncio, Atlântida, conquistas de Alexandre e César) para fortalecer seu argumento?

      Brecht utiliza a enumeração de grandes feitos históricos para demonstrar a universalidade e a recorrência do problema que ele aponta: a invisibilidade do trabalhador comum. Ao listar monumentos e eventos de diferentes épocas e civilizações, como a construção de Tebas, a reconstrução de Babilônia, a conclusão da Muralha da China, os arcos de triunfo de Roma e os palácios de Bizâncio, Brecht mostra que em todas essas grandezas, a figura do trabalhador é sistematicamente apagada. A repetição dessas perguntas sobre quem realmente construiu ou trabalhou nesses projetos serve para acumular evidências e reforçar a tese de que a história está incompleta e distorcida ao focar apenas nos nomes dos poderosos.

03 – Qual o significado da pergunta "Arrastaram eles [os reis] os blocos de pedra?" e de outras perguntas semelhantes no poema?

      A pergunta "Arrastaram eles [os reis] os blocos de pedra?" é central para o poema, pois ela representa a desconstrução da imagem heroica e autossuficiente dos líderes. Brecht, através dessa e de outras perguntas semelhantes ("Em que casas / Da Lima dourada moravam os construtores?", "Não estava sequer um cozinheiro?" etc.), força o leitor a reconhecer a divisão de trabalho e a dependência dos grandes feitos em relação ao trabalho de muitos. A implicação é que reis e imperadores, por mais poderosos que fossem, não realizavam as tarefas braçais e cotidianas necessárias para construir impérios ou vencer guerras. Essas perguntas retóricas servem para expor a hipocrisia da narrativa histórica que atribui todo o mérito a uma única figura.

04 – Como o poema "Perguntas de um Trabalhador que Lê" sugere uma crítica à forma como a história é escrita e transmitida?

      O poema sugere uma crítica incisiva à forma como a história é escrita e transmitida, ao apontar que "Nos livros estão nomes de reis", mas não os nomes dos construtores. Brecht critica a historiografia tradicional, que se concentra em indivíduos notáveis, feitos militares e grandes eventos políticos, ignorando as condições de vida, o trabalho e as perspectivas das classes subalternas. Ele questiona a seletividade dos registros históricos, que glorificam os vencedores e os poderosos, silenciando as vozes e as contribuições daqueles que efetivamente construíram e sustentaram essas sociedades. A repetição de "Tantas histórias. / Tantas questões." no final do poema reforça a ideia de que a versão apresentada é parcial e incompleta, necessitando de um olhar crítico e questionador.

05 – Qual o impacto da perspectiva de um "trabalhador que lê" para a mensagem do poema?

      A perspectiva de um "trabalhador que lê" é crucial para a mensagem do poema. Ela confere autenticidade e legitimidade às perguntas levantadas. Não é um historiador ou um intelectual que faz essas indagações, mas alguém que, por sua própria condição social e experiência de trabalho, entende a importância do esforço físico e coletivo. O "trabalhador que lê" é capaz de enxergar as lacunas na história oficial porque sua vivência o conecta com a realidade do trabalho e da produção. Essa perspectiva subverte a autoridade das narrativas dominantes e valida um ponto de vista que normalmente é marginalizado, tornando o poema uma voz para aqueles que foram esquecidos pela história.

06 – Analise as duas últimas estrofes: "Cada página uma vitória. / Quem cozinhava o banquete? / A cada dez anos um grande Homem. / Quem pagava a conta?" O que elas adicionam ao argumento central?

      As duas últimas estrofes servem como um resumo conciso e uma generalização do argumento central do poema, ampliando a crítica para além dos exemplos históricos específicos.

      "Cada página uma vitória. / Quem cozinhava o banquete?": Essa estrofe questiona a glorificação contínua das vitórias nos anais da história. A "vitória" é frequentemente associada a generais ou líderes militares, mas Brecht nos lembra que por trás de qualquer triunfo há um vasto aparato de suporte e trabalho não reconhecido. O "banquete" simboliza não apenas a celebração, mas toda a infraestrutura e o esforço logístico e humano que permitem tais eventos, geralmente realizados por pessoas comuns.

      "A cada dez anos um grande Homem. / Quem pagava a conta?": Aqui, Brecht satiriza a periodicidade com que a história celebra "grandes Homens", sugerindo que essa exaltação individual é um padrão. A pergunta "Quem pagava a conta?" é um questionamento direto sobre os custos humanos e materiais por trás do sucesso desses "grandes Homens". Implica sacrifícios, exploração e o ônus sobre as massas, que sustentam esses feitos sem receber o devido reconhecimento ou benefício. Essas estrofes, portanto, sintetizam a crítica à invisibilidade do trabalho e do sacrifício coletivo em prol da glória individual.

07 – Qual é a relevância do poema de Brecht para a compreensão da história e da sociedade contemporânea?

      A relevância do poema de Brecht para a compreensão da história e da sociedade contemporânea é profunda. Ele nos convida a adotar um olhar crítico e descolonizado sobre as narrativas históricas, questionando quem as escreve, de que perspectiva e com quais propósitos. Em um mundo onde a fama e o reconhecimento ainda são predominantemente atribuídos a poucos, o poema de Brecht é um lembrete de que o funcionamento de qualquer sociedade depende do trabalho e da contribuição de milhões de indivíduos muitas vezes anônimos. Ele nos encoraja a valorizar o trabalho coletivo, a desafiar as hierarquias de valor e a reconhecer as vozes marginalizadas na construção da história e da realidade social. O poema continua a ser um chamado à conscientização sobre as desigualdades e a importância de uma análise histórica mais inclusiva e abrangente.

 

 

ENTREVISTA: UM PAÍS CHAMADO TEATRO - REVISTA SESC TV - COM GABARITO

 Entrevista: Um país chamado Teatro

        ARIANE MNOUCHKINE e o Théâtre du Soleil

        ARIANE MNOUCHKINE é considerada uma das mais importantes diretoras de teatro em atividade no mundo. Ela fundou a lendária companhia Théâtre du Soleil, na ativa desde 1964, com sede em Paris (França). Surgida no contexto dos movimentos contestadores da década de 1960, sua companhia tem forte conexão com a liberdade, partindo em busca de uma linguagem inovadora. O processo de criação do grupo é coletivo, isto é, com total envolvimento de atores, diretores e técnicos em todas as etapas de realização do espetáculo. Outra característica da companhia é seu engajamento social com as questões contemporâneas. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyJk2dWVT6JxXopUKZkqUrCRHX-HjXRlcCfaLJ_LF8W2WYGV5W1ZwjWooKMYS4-y90Q9XQR3hyC0NacD57C02ybJnkT1sBv1P1HnoNTXFn0CuyB-QoI5d6N-2oK4R4rexK6xQMwjCtCioQYALQRRFQQpEp_0oxBCh6yPsBjHZ5o0D1hBToSyHCGclR5xs/s320/8ebfb569-87d6-4519-a876-e22686669492.jpg


O Théâtre du Soleil está no Brasil, neste mês, apresentando-se em São Paulo no Sesc Belenzinho, com a peça Os Náufragos da Louca Esperança. Esta é a segunda vez que o País recebe essa companhia, que em 2007 apresentou Les Ephémères. Ariane, aos 72 anos, é referência de inventividade, fôlego e vigor.

        Esta é a segunda vez que a senhora vem ao Brasil com sua companhia. Qual sua expectativa para esta turnê?

        A expectativa é igualmente alegre e maravilhosa, como da primeira vez. Nós estamos muito felizes, evidentemente, porque a impressão é a de que estamos sendo recebidos por amigos. Temos boas lembranças de São Paulo, tivemos uma boa receptividade do público.

        A nova montagem do Théâtre du Soleil, Os Náufragos da Louca Esperança, é baseada no romance póstumo Les naufragés du Jonathan, de Júlio Verne. Como foi o processo de criação desse espetáculo?

        O processo foi duplo. A primeira parte concerne à própria história do romance. Os atores realizam um processo de mise en abîme [criação de uma narrativa dentro de outra narrativa] e improvisam a parte inventada da história. 

        O Théâtre du Soleil é reconhecido em todo o mundo pelo seu engajamento social e pela sua diversidade, com atores vindos de diferentes países. No que isso interfere no processo de criação e no resultado de suas obras?

        É difícil medir isso, porque não enxergo as pessoas que trabalham conosco como estrangeiros. Nós somos todos do mesmo país, que é o país chamado teatro. Num dado momento, não existem franceses, brasileiros, espanhóis. É verdade, nós somos vinte e três nacionalidades aqui. Ao mesmo tempo, todos falam francês, é o teatro francês, vai além de questões de etnia e nacionalidade.

        A turnê do Théâtre du Soleil inclui, além da apresentação do espetáculo, encontro com o público e oficina com atores. Qual o interesse em realizar essa troca?

        O objetivo é chamar o máximo de jovens, estudantes, universitários e pessoas que estudam teatro para compartilhar com eles não o nosso método, porque não temos um método, mas nosso jeito de fazer a nossa pesquisa. Por um lado, é muito, muito, muito trabalho. Por outro, é mostrar que não há um segredo, mas muito trabalho.

        A companhia surgiu em 1964, em meio à efervescência cultural e política que o mundo vivia. Passadas cinco décadas, o que mudou nesse trabalho?

        A gente mantém as bases como no início: a igualdade de salários, a democracia nas decisões grandes e importantes, uma forma bastante coletiva de trabalhar, mas talvez de certa forma também tenhamos avançado, eu espero. Temos trabalhado cada dia mais e mais.

        Em sua opinião, qual é o papel do teatro e das artes na compreensão do mundo?

        É uma pergunta difícil, porque isso renderia um livro. O teatro encarna o mundo, é uma arte da encarnação. Ele não conta ideias, ele conta corpos, atos e emoções. É através desses corpos, atos e emoções que certas ideias são esclarecidas. Eu não acredito que a arte seja para compreender o mundo, mas para sentir o mundo, esclarecer o mundo.

        A senhora está à frente do Thêátre du Soleil desde a fundação. Como pensa na continuidade da companhia?

        Trabalho na formação de sucessores. Eu tenho um codiretor, por exemplo, o Charlie-Henri Bradier, que trabalha comigo há vinte anos. É preciso que isso continue depois de mim. Cada um sabe o que pode ser feito, o que não pode ser feito, o que pode ser falado e o que não. Todos pensam e refletem; o segredo em si é o processo de criação ser aberto. O segredo da continuidade é a hospitalidade, que nós já fazemos agora, o modo como recebemos gente nova. Eu tenho muito trabalho, o que é cansativo às vezes.

        Há um rico material de cinema sobre o Théâtre du Soleil. Qual a motivação do grupo para realizar o registro dos espetáculos?

        Nós realizamos filmes, não meros registros das peças, sobre nossos trabalhos. O espetáculo Les Ephémères foi o único que, de fato, foi registrado, porque era fundamental ver o público. Os outros espetáculos são realmente filmes. Nossa intenção não é imortalizar o que quer que seja. Ouvia as pessoas pedindo que deixássemos traços para quem não pudesse ver os espetáculos. Eu compreendi isso um dia, há muito tempo, após assistir a dez segundos de um filme de uma peça. Esses dez segundos foram muito importantes para mim. A cena não era extraordinária, mas me tocou profundamente. E então eu compreendi que era importante deixar traços do nosso trabalho para que atores e estudantes pudessem ver. É mais do que uma questão de imortalizar ou atingir o maior número de pessoas: é criar um material de consulta.

        A senhora acha que a televisão abre espaço para apreciar e discutir as artes?

        Muito raramente, mesmo na França. Cada vez menos. Mas, no ano que vem isso vai mudar, porque vamos ganhar as eleições. Estou brincando, mas espero.

Revista Sesc TV, out. 2011. Edição 55. Disponível em: www.sesctv.com.br/revista.cfm?materiaid=111. Acesso em: fev. 2013.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 123-125.

Entendendo a entrevista:

01 – Quais são as principais características do Théâtre du Soleil, fundado por Ariane Mnouchkine, conforme descrito no texto?

      O Théâtre du Soleil, fundado em 1964 por Ariane Mnouchkine, é conhecido por várias características marcantes. Primeiramente, ele surgiu no contexto dos movimentos contestadores da década de 1960, buscando liberdade e uma linguagem inovadora no teatro. O grupo adota um processo de criação coletivo, envolvendo totalmente atores, diretores e técnicos em todas as etapas da produção. Além disso, a companhia é reconhecida por seu forte engajamento social com questões contemporâneas e pela diversidade de suas 23 nacionalidades em seu elenco, apesar de todos falarem francês durante o trabalho.

02 – Como Ariane Mnouchkine descreve a experiência de se apresentar no Brasil pela segunda vez com o Théâtre du Soleil?

      Ariane Mnouchkine descreve a experiência de se apresentar no Brasil pela segunda vez como "igualmente alegre e maravilhosa" como da primeira vez. Ela expressa grande felicidade, afirmando que a impressão é de estarem sendo recebidos por amigos, e relembra a boa receptividade do público de São Paulo em sua visita anterior em 2007, quando apresentaram "Les Ephémères".

03 – Qual é a base da nova montagem do Théâtre du Soleil, "Os Náufragos da Louca Esperança", e como foi seu processo de criação?

      A nova montagem, "Os Náufragos da Louca Esperança", é baseada no romance póstumo "Les naufragés du Jonathan", de Júlio Verne. O processo de criação foi duplo. A primeira parte envolveu a história do próprio romance. A segunda parte consistiu em os atores realizarem um processo de "mise en abîme" (criação de uma narrativa dentro de outra narrativa) e improvisarem a parte inventada da história, o que sugere uma abordagem orgânica e exploratória na construção do espetáculo.

04 – Segundo Ariane Mnouchkine, como a diversidade de nacionalidades do elenco do Théâtre du Soleil interfere no processo de criação e no resultado das obras?

      Ariane Mnouchkine afirma que é difícil medir a interferência da diversidade de nacionalidades do elenco porque ela não enxerga os membros do grupo como estrangeiros. Para ela, todos são do "país chamado teatro", transcendendo questões de etnia e nacionalidade. Apesar de haver 23 nacionalidades, todos falam francês, e a companhia é considerada "teatro francês". Isso sugere que a diversidade é absorvida e unificada pela identidade teatral do grupo, em vez de ser um fator de interferência negativa.

05 – Qual é o principal objetivo dos encontros com o público e das oficinas com atores que o Théâtre du Soleil realiza durante suas turnês?

      O principal objetivo dos encontros com o público e das oficinas é chamar o máximo de jovens, estudantes e universitários para compartilhar o "jeito de fazer a pesquisa" do grupo. Mnouchkine ressalta que não se trata de um "método" secreto, mas sim de mostrar que o trabalho do Théâtre du Soleil é o resultado de "muito, muito, muito trabalho". A intenção é desmistificar o processo criativo e inspirar os futuros profissionais da área.

06 – Como Ariane Mnouchkine define o papel do teatro e das artes na compreensão do mundo?

      Para Ariane Mnouchkine, o teatro é uma "arte da encarnação"; ele não se limita a contar ideias, mas "conta corpos, atos e emoções". Ela acredita que é por meio desses elementos concretos que certas ideias são esclarecidas. Mnouchkine não vê a arte primariamente como uma ferramenta para "compreender o mundo", mas sim para "sentir o mundo" e "esclarecer o mundo", sugerindo que a experiência visceral e emocional proporcionada pelo teatro é mais fundamental do que uma compreensão puramente intelectual.

07 – Qual a motivação do Théâtre du Soleil para realizar registros cinematográficos de suas peças, e qual é o objetivo desses materiais?

      A motivação do Théâtre du Soleil para realizar filmes (e não meros registros) sobre seus trabalhos é deixar "traços" para quem não pôde ver os espetáculos e, mais importante, criar um "material de consulta" para atores e estudantes. Ariane Mnouchkine inicialmente não tinha a intenção de imortalizar suas obras, mas compreendeu a importância de deixar esses registros após ser tocada por dez segundos de um filme de uma peça antiga. O objetivo, portanto, vai além da imortalização ou de atingir um grande público; é fornecer um recurso pedagógico e inspirador para o futuro da arte teatral.