domingo, 3 de agosto de 2025

TEXTO: CULTURAS ANCESTRAIS - COM GABARITO

 Texto: Culturas ancestrais

        A arte está presente em todas as sociedades humanas. O interesse pela arte e pela estética é um dos elementos que nos caracteriza como espécie. Essas manifestações podem ser muito individuais, mas dificilmente conseguiriam isolar-se completamente de seu contexto cultural e social. Em muitos grupos humanos, a arte se manifesta por meio de uma estética propositalmente coletiva, que reflete a identidade e valores culturais daquela sociedade. É por isso que a arte pode ser estudada do ponto de vista de várias áreas do conhecimento: da filosofia, da história, da sociologia, antropologia etc. Nenhuma delas, de fato, consegue analisar a arte independentemente. Todas essas áreas acabam relacionando-se, por causa da grande complexidade que envolve as manifestações humanas.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqoLgnHzbeNguJs1AnFB6vLSIfO3JpmkYjYAqDm2-7Lmsm7vy2XWf32Y2U2eR_2ElU3nAZ2EXdiISr3JVI1rduKyhNEaoOYQ-Su0QRAh7DuPXPhyTB9w0AwC5nVtVYYYHI_9-VjpCEbCw5gy9NGfQIpMjAH7wUSr865m1Y4FVnPT2_lXeN1V0nLrdvRio/s1600/images.jpg


        No Brasil, há uma mistura de várias culturas com identidades diferentes. Com o processo de colonização, buscou-se impor a arte e cultura de origem europeia. Isso não impediu a manutenção de outras culturas ancestrais, como a indígena e a africana, que estão enraizadas em nossa formação cultural. Mas, apesar dessa forte presença, muitos brasileiros desconhecem essas culturas, ou as veem somente de um jeito estereotipado.

        Artes indígenas

        No Brasil, algumas regiões apresentam maior presença da cultura indígena no cotidiano das pessoas. Mas, apesar da influência indígena, e também africana, em nossa formação cultural, uma visão europeia, a visão dos colonizadores, de mundo e da sociedade, fez-se dominante, o que faz com que, ainda hoje, haja um grande desconhecimento dessas culturas ancestrais das quais somos herdeiros.

        As culturas indígenas no Brasil, por mais que se encontrem dentro do território em que vivemos, ainda são vistas por muitas pessoas com um olhar estereotipado e equivocado. De modo geral, não se conhecem seus modos de vida, visão de mundo, as semelhanças e diferenças entre os seus povos. Há, inclusive, uma tendência a se entender os indígenas todos da mesma maneira. Diz-se “o índio”, no singular, sem diferenciar as centenas de povos indígenas que vivem no território brasileiro.

        O uso genérico da palavra “índio” para se referir aos povos nativos das Américas relaciona-se a um equívoco dos primeiros colonizadores que acreditavam ter chegado à Índia. O nome ficou, e até hoje esses povos são chamados “índios”. Já a palavra “indígena” é usada mundialmente, e refere-se a qualquer povo autóctone de uma região. As divisões em estados e países, em todos os lugares onde houve colonização, acabaram, muitas vezes, por separar povos que partilhavam uma mesma cultura e território, e também por obriga-los a migrarem de suas terras originais. Isso fez com que alguns grupos considerados de uma mesma etnia passassem a viver em países diferentes.

        Quando os portugueses iniciaram a exploração do que depois viria a ser o Brasil, todo o território era ocupado por grupos indígenas. Com muitas diferenças culturais entre si, alguns grupos aceitaram a presença dos brancos e outros a combateram. Nesse processo, vários foram extintos ou tiveram sua população muito reduzida por guerras ou ao contraírem doenças dos europeus.

        A cultura, hábitos e costumes dos grupos indígenas que até hoje existem no Brasil remontam há muitos séculos, até antes da chegada dos europeus, tendo sido passados de geração em geração, via tradição oral.

        Cada grupo indígena possui seus mitos, crenças e rituais; suas manifestações artísticas, já que as produções simbólicas e estéticas estão relacionadas. A arte está presente em várias instâncias da vida: no objeto cotidiano, utilitário, nos objetos usados nos rituais, nas pinturas corporais, na decoração dos instrumentos musicais. A maioria dos grupos indígenas no Brasil realiza sua produção estética por meio de materiais naturais presentes no ambiente em que vivem, como a argila que faz a cerâmica, as palhas que se tornam cestos, tintas naturais, penas coloridas das aves, conchas. As formas criadas com tais materiais, no entanto, diferem e criam estéticas relacionadas a simbologias específicas de cada grupo.

        As imagens anteriores são todas referentes ao mesmo grupo indígena que produz as bonecas ritxókó: os Karajás. Seu nome em sua língua nativa é Iny, que significa “nós”. Karajá é um nome originário de outra língua, o tupi, que acabou sendo adotado em português para designá-los. Eles ainda vivem em suas terras tradicionais, numa extensa faixa no Rio Araguaia, a Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo. Ocupam terras dos estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso. O rio faz parte de sua organização social e mitológica – seu mito de origem diz que os Iny no início vivam no fundo do rio. Vendo uma luz que vinha do alto, encontraram a superfície e ali se estabeleceram seguindo o curso do rio, dividindo-se em três grupos indígenas: os Karajá, os Javaé e os Xambioá. Apesar das diferenças linguísticas entre os grupos, todos se entendem e se identificam como Iny.

        O desenho, presente nas pinturas corporais e em vários outros objetos de uso cotidiano e ritual, é muito importante para os Iny. Para quem olha de fora, os desenhos no corpo, feitos com sumo de jenipapo, urucum ou fuligem de carvão, podem parecer simples grafismos ornamentais, mas, para a sociedade Iny, dependendo da ocasião, eles podem ter também significados específicos, como indicar categorias sociais de gênero, idade e estatuto social.

        As bonecas ritxókó, feitas exclusivamente pelas mulheres, expressam esses vários aspectos da identidade do grupo. Representam cenas do cotidiano, mitos, rituais, eventos do ciclo da vida, relações humanas e a fauna local, e reproduzem os padrões gráficos da pintura corporal e dos objetos. Tradicionalmente, são objetos lúdicos para as crianças, mas tornaram-se também importante fonte de renda das mulheres adultas em contato com a sociedade não indígena. Seu processo de execução inclui a extração e preparo do barro, modelagem, queima e pintura da cerâmica, que hoje em dia também é feita com tintas industriais.

        Padrão e abstração

        Como visto, os desenhos dos Karajás podem simbolizar elementos de sua cultura, com significados específicos para o grupo. Entre eles, assim como em muitos grupos humanos, os símbolos podem transformar-se em padrões abstratos.  

        Um padrão é a repetição periódica de um mesmo grupo de elementos visuais, como numa estampa que ocupa todo um tecido.

        Uma imagem abstrata são elementos visuais que não representam nenhuma figura reconhecível. Ela pode até surgir da representação de alguma coisa, mas a simplificação das formas faz com que não se perceba mais a figura original. Os elementos visuais isolados, por si só, são abstratos, por exemplo, as figuras geométricas.

        As coisas à nossa volta estão repletas de padrões, e muitos são abstratos.

        Olhe ao seu redor. Reproduza a seguir, com um desenho, pelo menos um padrão abstrato que está em seu campo de visão.

        Artes dos povos africanos

        Muitos museus em várias partes do mundo abrigam em seus acervos máscaras de povos da África subsaariana. Elas são olhadas com curiosidade pelas pessoas de outros povos, muitas vezes por um olhar que procura o exotismo, geralmente associado ao desconhecido, ao diferente. Isoladas em vitrines, podem despertar nas pessoas um interesse estético, mas perdem a carga simbólica com que foram feitas e com que são usadas em seu contexto original.

        Mesmo que uma cultura possua características gerais, cada grupo ou subgrupo apresenta características muito específicas. A arte tradicional dos povos da África subsaariana é muito vasta e complexa, com diferenças características de cada grupo étnico. As máscaras estão presentes na maioria deles. Materiais diversos podem ser usados em sua confecção, mas o mais comum é a madeira. Diferenças simbólicas e estéticas são perceptíveis entre grupos, mas elas apresentam alguns aspectos comuns. Uns dos mais significativos está relacionado à sua função para a sociedade que a produziu. As máscaras são feitas para serem usadas, geralmente, em cerimônias e rituais religiosos. Elas são vestidas, junto a outros adereços, em situações que envolvem dança e música. Quem veste a máscara muitas vezes o faz com o intuito de encarnar ou representar determinada divindade. Grande parte da espiritualidade africana envolve o culto aos ancestrais.

        As imagens da cerimônia Gèlédé, praticada por alguns grupos do povo iorubá, da África Ocidental. Os iorubás são um dos maiores grupos étnicos africanos. Estima-se que existam cerca de 30 milhões de iorubás no continente africano, que vivem principalmente na Nigéria, mas também há comunidades no Benin, Togo e Serra Leoa.

        A cerimônia gèlédé envolve o uso de máscaras em rituais com dança e música para celebrar e atrair os poderes das divindades e ancestrais femininas, como a grande mãe primordial, Iyà Nlà, assim como honrar as mulheres mais velhas do grupo. Está associada à força feminina na sociedade e aos princípios, como a fecundidade e fertilidade da terra. A cerimônia gèlédé pode acontecer em qualquer época do ano, com algum propósito específico, como atrair a chuva, espantar epidemias ou honrar os mortos. Mas a principal cerimônia é anual. Depois que sua data é definida, toda a sociedade gèlédé é avisada, e começam os preparativos para a cerimônia. As máscaras, com figuras humanas e animais, na realidade são colocadas sobre as cabeças, e não sobre o rosto. São usadas pelos homens, que dançam e entretêm o público, muitas vezes com dizeres educativos, vestidos de mulher.

        O panteão dos iorubás inclui diversas divindades (os orixás), associadas geralmente aos fenômenos da natureza e princípios que regem a vida humana, com variações de um grupo a outro, em especial pelo caráter oral de transmissão de sua mitologia. O ser supremo é Olodumaré, ou Olorun, criador de tudo o que existe, tanto no Orun, mundo espiritual, quanto em Aiye, mundo físico.

        Na música tradicional africana, há uma grande variedade de práticas entre os grupos étnicos. A música tem uma função principalmente social, acompanhando casamentos, nascimentos, diversos tipos de trabalhos e rituais religiosos. Muitas dessas músicas são executadas só para esses fins, geralmente, junto com a dança. A música é feita para dançar, e é possivelmente uma das razões pelas quais apresente um desenvolvimento e exploração rítmicas tão ricos, chamando atenção para os tambores e outros instrumentos de percussão. Apesar do destaque da percussão, a maior parte da produção musical dessa região é vocal.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 58-71.

Entendendo o texto:

01 – Como o texto aborda a relação entre arte e sociedade humana?

      O texto destaca que a arte está presente em todas as sociedades humanas, sendo um dos elementos que nos caracteriza como espécie. Embora as manifestações artísticas possam ser individuais, elas são intrinsecamente ligadas ao contexto cultural e social. Em muitos grupos, a arte assume uma estética coletiva, refletindo a identidade e os valores culturais de uma sociedade. Essa complexidade da arte permite que ela seja estudada por diversas áreas do conhecimento, como filosofia, história, sociologia e antropologia, todas elas inter-relacionadas devido à natureza multifacetada das manifestações humanas.

02 – De que maneira a colonização europeia impactou as culturas ancestrais no Brasil e qual a consequência desse processo?

      Com o processo de colonização, houve uma tentativa de imposição da arte e cultura europeia no Brasil. No entanto, o texto ressalta que essa imposição não impediu a manutenção e o enraizamento das culturas ancestrais, como a indígena e a africana, em nossa formação cultural. Apesar dessa forte presença, a consequência é que muitos brasileiros ainda desconhecem ou veem essas culturas de forma estereotipada, perpetuando uma visão dominante dos colonizadores e um grande desconhecimento da riqueza e diversidade dessas heranças.

03 – Explique por que o termo "índio" é considerado inadequado pelo texto e qual a alternativa proposta, justificando seu uso.

      O texto considera o uso genérico da palavra "índio" inadequado porque ele se relaciona a um equívoco dos primeiros colonizadores, que acreditavam ter chegado à Índia. Essa denominação generaliza e desconsidera a vasta diversidade de povos indígenas existentes no território brasileiro, tratando-os como um grupo homogêneo ("o índio" no singular). A alternativa proposta e justificada pelo texto é a palavra "indígena", que é utilizada mundialmente e se refere a qualquer povo autóctone de uma região, reconhecendo a pluralidade e a especificidade de cada etnia.

04 – Quais são as características gerais da produção artística indígena no Brasil e como ela se relaciona com o ambiente e a simbologia de cada grupo?

      A produção artística indígena no Brasil é caracterizada pela relação intrínseca entre as produções simbólicas e estéticas, que se manifestam em diversas instâncias da vida, desde objetos cotidianos e utilitários até itens rituais, pinturas corporais e decoração de instrumentos musicais. A maioria dos grupos utiliza materiais naturais presentes em seu ambiente, como argila, palhas, tintas naturais, penas coloridas e conchas. É importante notar que, embora os materiais sejam naturais, as formas criadas e as estéticas resultantes diferem entre os grupos, estando diretamente relacionadas às simbologias específicas de cada cultura.

05 – Descreva o povo Karajá (Iny) conforme o texto, abordando sua localização, organização social e mitos de origem.

      O povo Karajá, que se autodenomina Iny ("nós") em sua língua nativa, vive em suas terras tradicionais em uma extensa faixa ao longo do Rio Araguaia, na Ilha do Bananal, que é a maior ilha fluvial do mundo. Eles ocupam terras nos estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso. O rio é central para sua organização social e mitológica, com seu mito de origem narrando que os Iny viviam no fundo do rio e emergiram para a superfície ao ver uma luz, estabelecendo-se ao longo do curso do rio e dividindo-se em três grupos: Karajá, Javaé e Xambioá. Apesar das diferenças linguísticas, todos se entendem e se identificam como Iny.

06 – Qual a importância dos desenhos e das bonecas ritxókó para a sociedade Iny (Karajá)?

      Para a sociedade Iny, os desenhos são de extrema importância, estando presentes nas pinturas corporais e em diversos objetos de uso cotidiano e ritual. Embora para um observador externo possam parecer simples grafismos, para os Iny, dependendo da ocasião, eles podem ter significados específicos, indicando categorias sociais de gênero, idade e estatuto social. As bonecas ritxókó, produzidas exclusivamente pelas mulheres, expressam esses múltiplos aspectos da identidade do grupo, representando cenas do cotidiano, mitos, rituais, eventos do ciclo da vida, relações humanas e a fauna local, além de reproduzir os padrões gráficos da pintura corporal. Tradicionalmente lúdicas para as crianças, as bonecas também se tornaram uma importante fonte de renda para as mulheres adultas.

07 – Explique a diferença entre "padrão" e "imagem abstrata" de acordo com o texto.

      O texto define "padrão" como a repetição periódica de um mesmo grupo de elementos visuais, citando como exemplo uma estampa que ocupa todo um tecido. Já uma "imagem abstrata" é composta por elementos visuais que não representam nenhuma figura reconhecível. Ela pode até ter origem na representação de algo, mas a simplificação de suas formas faz com que a figura original não seja mais percebida. Elementos visuais isolados, como as figuras geométricas, são exemplos de elementos abstratos.

08 – Qual a principal função das máscaras na arte tradicional dos povos da África Subsaariana e como elas são vistas em seu contexto original versus em museus?

      A principal função das máscaras na arte tradicional dos povos da África Subsaariana é serem feitas para serem usadas, geralmente em cerimônias e rituais religiosos, acompanhadas de dança e música. Quem as veste muitas vezes o faz com o intuito de encarnar ou representar determinada divindade, e grande parte da espiritualidade africana envolve o culto aos ancestrais. O texto contrasta essa função original com a forma como as máscaras são vistas em museus: isoladas em vitrines, elas podem despertar interesse estético, mas perdem a carga simbólica com que foram criadas e são utilizadas em seu contexto original, sendo muitas vezes percebidas com um olhar que busca o exotismo.

09 – Descreva a cerimônia Gèlédé do povo Iorubá, destacando seus objetivos e as características do uso das máscaras.

      A cerimônia Gèlédé, praticada por alguns grupos do povo Iorubá da África Ocidental, envolve o uso de máscaras em rituais com dança e música. Seus principais objetivos são celebrar e atrair os poderes das divindades e ancestrais femininas, em especial a grande mãe primordial, Iyà Nlà, e honrar as mulheres mais velhas do grupo. A cerimônia está associada à força feminina na sociedade e a princípios como a fecundidade e fertilidade da terra. Pode ocorrer em qualquer época do ano com propósitos específicos (atrair chuva, espantar epidemias, honrar mortos), mas a principal cerimônia é anual. As máscaras, que apresentam figuras humanas e animais, são colocadas sobre as cabeças (não sobre o rosto) e usadas por homens, que dançam vestidos de mulher, muitas vezes com dizeres educativos.

10 – Qual é o papel da música tradicional africana subsaariana na sociedade e quais são suas características marcantes?

      Na música tradicional africana subsaariana, a música tem uma função principalmente social, acompanhando eventos como casamentos, nascimentos, diversos tipos de trabalhos e rituais religiosos. Muitas dessas músicas são executadas especificamente para esses fins, geralmente junto com a dança. Uma das características marcantes é o rico desenvolvimento e exploração rítmicas, com destaque para os tambores e outros instrumentos de percussão. Apesar da proeminência da percussão, a maior parte da produção musical dessa região é vocal.

 

TEXTO: O MEIO E A CULTURA - COM GABARITO

 Texto: O meio e a Cultura

       Texto: O meio e a Cultura

        A brincadeira do boi, uma das mais tradicionais da cultura brasileira, faz parte dos ciclos festivos populares associados ao Natal, Carnaval e festas juninas. É realizada em todo o país com diferentes nomes, como Bumba meu boi, no Maranhão, Boi-bumbá, no Amazonas e Pará, Boi de reis, no Espírito Santo, e Boi de mamão, em Santa Catarina.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI4pIX1gFWooWlBc65zFDCgKbnMQpqw3Wr67-Op7VIFstWNd_V9YtnNkVQKdKmnB2WWwpZouKjww_uzCcaB4d9icECXIfFD-GvkNmu6lLFA5co1W48B9iiaVG0YLigsfI0QRi1Lhf-WJB2K_LOZYOqclVLffoNRKMd0hL4pNNNSOGfyuAN3fhqyd2_CiQ/s1600/images.jpg


        Acredita-se que tenha surgido no Nordeste, no século XVIII, e se espalhado depois pelo país. Apesar das influências das festas ibéricas, seu desenvolvimento ocorreu a partir de aspectos brasileiros, com personagens brancos, indígenas e afrodescendentes. Na maioria dos casos, as manifestações desse folguedo possuem um caráter popular e local, mantendo a tradição, passada de geração em geração.

        Nessa festa, podem ser observadas várias linguagens artísticas. São manifestações em que dança, música, elementos visuais, representação de lendas se misturam e se completam de forma integrada. Nas formas mais tradicionais, não costuma haver divisão como palco e plateia, em que uns se apresentam e os outros contemplam.

        O folguedo do boi possui muitas variações de um lugar a outro, mas todas costumam envolver a encenação de uma lenda que fala da morte e ressurreição do boi.

        Segundo a lenda, o boi de um rico fazendeiro havia sido morto pelo escravo Pai Francisco para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, de comer a língua do animal. O fazendeiro, ao perceber o sumiço do boi, manda um vaqueiro investigar, e o crime é descoberto. Índios são enviados para capturar Pai Francisco que, desesperado, busca ajuda de um pajé (que também pode ser um médico ou padre) para ressuscitar o boi.

        Durante a festa há o momento da encenação da lenda do boi, em que participam diversos personagens. Os principais são:

        O boi – é o personagem principal da encenação. Toda a história acontece em torno dele. A figura do boi, atrelada à importância da atividade pecuária na economia nordestina, é vista como alegoria de força e resistência, por isso esse animal sempre foi muito cultuado e aparece em várias mitologias brasileiras. A vestimenta do boi é o principal adereço da festa. Varia muito de uma região para outra, mas costuma ser muito colorida, muitas vezes bordada, com miçangas e paetês. O traje é vestido por uma pessoa, que é chamada de miolo. Ele dá movimento ao boi.

        O vaqueiro – é o personagem que avisa ao dono da fazenda que o boi foi morto. Também é uma alegoria típica do Nordeste, que representa o homem sertanejo. O vaqueiro nordestino usa roupas e chapéu de couro que o protegem do sol escaldante. No folguedo, o personagem ganhou um figurino colorido. Seu chapéu é enfeitado por longas fitas.

        O fazendeiro – representa o patrão. Na origem da lenda, era provavelmente o senhor de engenho. É ele quem ameaça o casal Francisco e Catirina de vingar o seu boi morto. Na festa, costuma ser o responsável pela organização da encenação.

        Os músicos – a festa do Bumba meu boi é acompanhada por uma banda musical. Vários ritmos e instrumentos são utilizados. No Nordeste existem centenas de grupos musicais que fazem aas festas do boi. Os instrumentos geralmente utilizados são os de percurso: tambores, pandeiros, matracas (pedaços de madeira, batidos um contra o outro), maracás (um tipo de chocalhos) e tambor-onça (tipo de cuíca rústica, de som grave, que remete ao som de um boi ou de uma onça).

        Pai Francisco (dependendo do lugar é chamado de Mateus) e Mãe Catirina – é o casal de escravos (às vezes aparecem como trabalhadores rurais) que desencadeia a história. Em algumas versões, Mãe Catirina (ou Catarina) quer comer a língua de um boi, mas não de qualquer boi: do boi mais precioso da fazenda, para que seu filho não nasça com cara de língua. Esse personagem muitas vezes é feito por um homem vestido de mulher.

        No Amazonas, o festejo do boi tornou-se uma celebração em massa, que utiliza das mais modernas tecnologias, comparável aos desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro. O Festival Folclórico de Parintins, ocorre nessa ilha desde 1965 e atrai milhares de pessoas do Brasil e do mundo. Possui hoje uma estrutura profissional, contando inclusive com o “bumbódromo”, uma arena construída em 1988 para receber as apresentações dos dois concorrentes: o Garantido, de cor vermelha, e o Caprichoso, de cor azul. As toadas, músicas criadas para cada um dos bois, são tocadas nas rádios e conhecidas pelas pessoas muito antes da data da competição. Em Parintins, a lenda tradicional do boi divide espaço com histórias e rituais que remetem à cultura indígena e cabocla, numa manifestação da identidade local.

        A festa ocorre no final de junho e envolve toda a cidade e região por meses. A rivalidade é bastante acirrada entre as torcidas dos bois. Uma curiosidade é que um torcedor de um boi nunca diz o nome do outro boi, tratando-o sempre por outras denominações, como contrário, rival, o outro etc. As apresentações, que hoje são televisionadas para todo o país, utilizam diversos recursos tecnológicos de luz e som, além de mecanismos elaborados para a movimentação das alegorias. Enquanto um boi se apresenta, a torcida adversária deve permanecer em silêncio. É proibido vaiar ou usar qualquer instrumento sonoro que interfira na apresentação do boi concorrente.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 339-341.

Entendendo o texto:

01 – O que é a brincadeira do boi e quais são suas principais características no contexto da cultura brasileira?

      A brincadeira do boi é uma das manifestações mais tradicionais da cultura popular brasileira, fazendo parte dos ciclos festivos associados ao Natal, Carnaval e festas juninas. É celebrada em todo o país, embora receba nomes variados como Bumba meu boi (Maranhão), Boi-bumbá (Amazonas e Pará), Boi de reis (Espírito Santo) e Boi de mamão (Santa Catarina). Acredita-se que tenha surgido no Nordeste no século XVIII, desenvolvendo-se com influências ibéricas, mas incorporando personagens brasileiros como brancos, indígenas e afrodescendentes. É um folguedo de caráter popular e local, mantendo-se vivo pela tradição passada de geração em geração. Nessas manifestações, há uma mistura integrada de várias linguagens artísticas, como dança, música, elementos visuais e a representação de lendas, geralmente sem a divisão formal de palco e plateia.

02 – Resuma a lenda central que é encenada na festa do boi e quais personagens principais são envolvidos nela.

      A lenda central encenada na festa do boi narra a morte e ressurreição de um boi de um rico fazendeiro. A história se desenrola quando o escravo Pai Francisco mata o boi para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que queria comer a língua do animal (em algumas versões, a língua do boi mais precioso para que o filho não nasça com cara de língua). Ao descobrir o sumiço do boi, o fazendeiro envia um vaqueiro para investigar, e o crime é revelado. Desesperado, Pai Francisco busca a ajuda de um pajé (que também pode ser um médico ou padre) para ressuscitar o boi. Assim, os personagens principais envolvidos na encenação são o Boi (o protagonista), o Vaqueiro, o Fazendeiro, o casal Pai Francisco e Mãe Catirina, e o Pajé/Médico/Padre.

03 – Quais são os papéis e características dos personagens do boi, vaqueiro e fazendeiro na encenação da festa?

      O Boi: É o personagem principal e central da encenação. Representa uma alegoria de força e resistência, muito cultuada devido à importância da pecuária na economia nordestina. Sua vestimenta é o principal adereço da festa, variando muito, mas sendo sempre muito colorida, bordada com miçangas e paetês. O traje é vestido por uma pessoa, chamada de miolo, que dá movimento ao boi.

      O Vaqueiro: É o personagem que avisa ao fazendeiro sobre a morte do boi. Ele é uma alegoria típica do Nordeste, representando o homem sertanejo, que tradicionalmente usa roupas e chapéu de couro para se proteger do sol. No folguedo, seu figurino se torna colorido, e seu chapéu é enfeitado por longas fitas.

      O Fazendeiro: Representa o patrão ou, na origem da lenda, o senhor de engenho. Ele é quem ameaça o casal Francisco e Catirina por terem matado seu boi. Na festa, costuma ser o responsável pela organização da encenação.

04 – Que tipo de instrumentação e ritmo são utilizados na banda musical que acompanha a festa do Bumba meu boi?

      A festa do Bumba meu boi é acompanhada por uma banda musical que utiliza uma variedade de ritmos e instrumentos. Os instrumentos geralmente utilizados são de percussão, essenciais para a cadência e energia da festa. Entre eles, destacam-se: tambores, pandeiros, matracas (pedaços de madeira batidos um contra o outro), maracás (um tipo de chocalho) e o tambor-onça (um tipo de cuíca rústica que produz um som grave, lembrando o rugido de um boi ou de uma onça). No Nordeste, existem centenas de grupos musicais dedicados a esses festejos.

05 – Descreva a importância do Festival Folclórico de Parintins e como ele se diferencia de outras manifestações do boi pelo país.

      O Festival Folclórico de Parintins, que ocorre na ilha de Parintins, Amazonas, desde 1965, é uma celebração em massa que se destaca por sua estrutura profissional e uso de tecnologias modernas, sendo comparável aos desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro. Diferentemente de outras manifestações que tendem a ser mais locais e populares, Parintins atrai milhares de pessoas do Brasil e do mundo, com uma arena específica, o "bumbódromo", construída em 1988 para as apresentações dos dois bois concorrentes: o Garantido (vermelho) e o Caprichoso (azul). A rivalidade entre as torcidas é intensa, e as toadas (músicas dos bois) são conhecidas muito antes da competição. Além da lenda tradicional do boi, o festival em Parintins incorpora histórias e rituais da cultura indígena e cabocla, refletindo a identidade local, e suas apresentações são televisionadas para todo o país, utilizando recursos tecnológicos de luz, som e mecanismos para movimentação de alegorias.

06 – Como a rivalidade entre os bois se manifesta no Festival de Parintins e quais regras de conduta são esperadas das torcidas?

      A rivalidade entre os bois no Festival de Parintins é bastante acirrada e intensa, envolvendo toda a cidade e região por meses. Essa rivalidade se manifesta de forma peculiar: os torcedores de um boi nunca pronunciam o nome do boi adversário, referindo-se a ele por outras denominações como "contrário", "rival" ou "o outro". Durante as apresentações, há regras estritas de conduta para as torcidas: enquanto um boi se apresenta, a torcida adversária deve permanecer em silêncio. É proibido vaiar ou usar qualquer instrumento sonoro que possa interferir na performance do boi concorrente, demonstrando uma rivalidade que, embora forte, é regulada para garantir o espetáculo.

07 – Por que o boi é considerado uma "alegoria de força e resistência" e qual sua importância cultural no contexto da festa, além da encenação da lenda?

      O boi é considerado uma "alegoria de força e resistência" no contexto da festa devido à importância histórica da atividade pecuária na economia nordestina, região onde a brincadeira se acredita ter surgido. O animal sempre foi muito cultuado e aparece em várias mitologias brasileiras, simbolizando não apenas a riqueza material, mas também a resiliência. Além da encenação da lenda de sua morte e ressurreição, que é o enredo central, a figura do boi é o personagem principal da festa em si, com a confecção e adorno de sua vestimenta (muitas vezes colorida, bordada com miçangas e paetês) sendo um destaque visual e artístico. O miolo, a pessoa que dá vida ao boi com seus movimentos, reforça essa representação de vitalidade, tornando o boi não apenas um personagem da história, mas um símbolo cultural vivo que integra a dança, a música e o visual da manifestação.

 

 

        Acredita-se que tenha surgido no Nordeste, no século XVIII, e se espalhado depois pelo país. Apesar das influências das festas ibéricas, seu desenvolvimento ocorreu a partir de aspectos brasileiros, com personagens brancos, indígenas e afrodescendentes. Na maioria dos casos, as manifestações desse folguedo possuem um caráter popular e local, mantendo a tradição, passada de geração em geração.

        Nessa festa, podem ser observadas várias linguagens artísticas. São manifestações em que dança, música, elementos visuais, representação de lendas se misturam e se completam de forma integrada. Nas formas mais tradicionais, não costuma haver divisão como palco e plateia, em que uns se apresentam e os outros contemplam.

        O folguedo do boi possui muitas variações de um lugar a outro, mas todas costumam envolver a encenação de uma lenda que fala da morte e ressurreição do boi.

        Segundo a lenda, o boi de um rico fazendeiro havia sido morto pelo escravo Pai Francisco para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, de comer a língua do animal. O fazendeiro, ao perceber o sumiço do boi, manda um vaqueiro investigar, e o crime é descoberto. Índios são enviados para capturar Pai Francisco que, desesperado, busca ajuda de um pajé (que também pode ser um médico ou padre) para ressuscitar o boi.

        Durante a festa há o momento da encenação da lenda do boi, em que participam diversos personagens. Os principais são:

        O boi – é o personagem principal da encenação. Toda a história acontece em torno dele. A figura do boi, atrelada à importância da atividade pecuária na economia nordestina, é vista como alegoria de força e resistência, por isso esse animal sempre foi muito cultuado e aparece em várias mitologias brasileiras. A vestimenta do boi é o principal adereço da festa. Varia muito de uma região para outra, mas costuma ser muito colorida, muitas vezes bordada, com miçangas e paetês. O traje é vestido por uma pessoa, que é chamada de miolo. Ele dá movimento ao boi.

        O vaqueiro – é o personagem que avisa ao dono da fazenda que o boi foi morto. Também é uma alegoria típica do Nordeste, que representa o homem sertanejo. O vaqueiro nordestino usa roupas e chapéu de couro que o protegem do sol escaldante. No folguedo, o personagem ganhou um figurino colorido. Seu chapéu é enfeitado por longas fitas.

        O fazendeiro – representa o patrão. Na origem da lenda, era provavelmente o senhor de engenho. É ele quem ameaça o casal Francisco e Catirina de vingar o seu boi morto. Na festa, costuma ser o responsável pela organização da encenação.

        Os músicos – a festa do Bumba meu boi é acompanhada por uma banda musical. Vários ritmos e instrumentos são utilizados. No Nordeste existem centenas de grupos musicais que fazem aas festas do boi. Os instrumentos geralmente utilizados são os de percurso: tambores, pandeiros, matracas (pedaços de madeira, batidos um contra o outro), maracás (um tipo de chocalhos) e tambor-onça (tipo de cuíca rústica, de som grave, que remete ao som de um boi ou de uma onça).

        Pai Francisco (dependendo do lugar é chamado de Mateus) e Mãe Catirina – é o casal de escravos (às vezes aparecem como trabalhadores rurais) que desencadeia a história. Em algumas versões, Mãe Catirina (ou Catarina) quer comer a língua de um boi, mas não de qualquer boi: do boi mais precioso da fazenda, para que seu filho não nasça com cara de língua. Esse personagem muitas vezes é feito por um homem vestido de mulher.

        No Amazonas, o festejo do boi tornou-se uma celebração em massa, que utiliza das mais modernas tecnologias, comparável aos desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro. O Festival Folclórico de Parintins, ocorre nessa ilha desde 1965 e atrai milhares de pessoas do Brasil e do mundo. Possui hoje uma estrutura profissional, contando inclusive com o “bumbódromo”, uma arena construída em 1988 para receber as apresentações dos dois concorrentes: o Garantido, de cor vermelha, e o Caprichoso, de cor azul. As toadas, músicas criadas para cada um dos bois, são tocadas nas rádios e conhecidas pelas pessoas muito antes da data da competição. Em Parintins, a lenda tradicional do boi divide espaço com histórias e rituais que remetem à cultura indígena e cabocla, numa manifestação da identidade local.

        A festa ocorre no final de junho e envolve toda a cidade e região por meses. A rivalidade é bastante acirrada entre as torcidas dos bois. Uma curiosidade é que um torcedor de um boi nunca diz o nome do outro boi, tratando-o sempre por outras denominações, como contrário, rival, o outro etc. As apresentações, que hoje são televisionadas para todo o país, utilizam diversos recursos tecnológicos de luz e som, além de mecanismos elaborados para a movimentação das alegorias. Enquanto um boi se apresenta, a torcida adversária deve permanecer em silêncio. É proibido vaiar ou usar qualquer instrumento sonoro que interfira na apresentação do boi concorrente.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 339-341.

Entendendo o texto:

01 – O que é a brincadeira do boi e quais são suas principais características no contexto da cultura brasileira?

      A brincadeira do boi é uma das manifestações mais tradicionais da cultura popular brasileira, fazendo parte dos ciclos festivos associados ao Natal, Carnaval e festas juninas. É celebrada em todo o país, embora receba nomes variados como Bumba meu boi (Maranhão), Boi-bumbá (Amazonas e Pará), Boi de reis (Espírito Santo) e Boi de mamão (Santa Catarina). Acredita-se que tenha surgido no Nordeste no século XVIII, desenvolvendo-se com influências ibéricas, mas incorporando personagens brasileiros como brancos, indígenas e afrodescendentes. É um folguedo de caráter popular e local, mantendo-se vivo pela tradição passada de geração em geração. Nessas manifestações, há uma mistura integrada de várias linguagens artísticas, como dança, música, elementos visuais e a representação de lendas, geralmente sem a divisão formal de palco e plateia.

02 – Resuma a lenda central que é encenada na festa do boi e quais personagens principais são envolvidos nela.

      A lenda central encenada na festa do boi narra a morte e ressurreição de um boi de um rico fazendeiro. A história se desenrola quando o escravo Pai Francisco mata o boi para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que queria comer a língua do animal (em algumas versões, a língua do boi mais precioso para que o filho não nasça com cara de língua). Ao descobrir o sumiço do boi, o fazendeiro envia um vaqueiro para investigar, e o crime é revelado. Desesperado, Pai Francisco busca a ajuda de um pajé (que também pode ser um médico ou padre) para ressuscitar o boi. Assim, os personagens principais envolvidos na encenação são o Boi (o protagonista), o Vaqueiro, o Fazendeiro, o casal Pai Francisco e Mãe Catirina, e o Pajé/Médico/Padre.

03 – Quais são os papéis e características dos personagens do boi, vaqueiro e fazendeiro na encenação da festa?

      O Boi: É o personagem principal e central da encenação. Representa uma alegoria de força e resistência, muito cultuada devido à importância da pecuária na economia nordestina. Sua vestimenta é o principal adereço da festa, variando muito, mas sendo sempre muito colorida, bordada com miçangas e paetês. O traje é vestido por uma pessoa, chamada de miolo, que dá movimento ao boi.

      O Vaqueiro: É o personagem que avisa ao fazendeiro sobre a morte do boi. Ele é uma alegoria típica do Nordeste, representando o homem sertanejo, que tradicionalmente usa roupas e chapéu de couro para se proteger do sol. No folguedo, seu figurino se torna colorido, e seu chapéu é enfeitado por longas fitas.

      O Fazendeiro: Representa o patrão ou, na origem da lenda, o senhor de engenho. Ele é quem ameaça o casal Francisco e Catirina por terem matado seu boi. Na festa, costuma ser o responsável pela organização da encenação.

04 – Que tipo de instrumentação e ritmo são utilizados na banda musical que acompanha a festa do Bumba meu boi?

      A festa do Bumba meu boi é acompanhada por uma banda musical que utiliza uma variedade de ritmos e instrumentos. Os instrumentos geralmente utilizados são de percussão, essenciais para a cadência e energia da festa. Entre eles, destacam-se: tambores, pandeiros, matracas (pedaços de madeira batidos um contra o outro), maracás (um tipo de chocalho) e o tambor-onça (um tipo de cuíca rústica que produz um som grave, lembrando o rugido de um boi ou de uma onça). No Nordeste, existem centenas de grupos musicais dedicados a esses festejos.

05 – Descreva a importância do Festival Folclórico de Parintins e como ele se diferencia de outras manifestações do boi pelo país.

      O Festival Folclórico de Parintins, que ocorre na ilha de Parintins, Amazonas, desde 1965, é uma celebração em massa que se destaca por sua estrutura profissional e uso de tecnologias modernas, sendo comparável aos desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro. Diferentemente de outras manifestações que tendem a ser mais locais e populares, Parintins atrai milhares de pessoas do Brasil e do mundo, com uma arena específica, o "bumbódromo", construída em 1988 para as apresentações dos dois bois concorrentes: o Garantido (vermelho) e o Caprichoso (azul). A rivalidade entre as torcidas é intensa, e as toadas (músicas dos bois) são conhecidas muito antes da competição. Além da lenda tradicional do boi, o festival em Parintins incorpora histórias e rituais da cultura indígena e cabocla, refletindo a identidade local, e suas apresentações são televisionadas para todo o país, utilizando recursos tecnológicos de luz, som e mecanismos para movimentação de alegorias.

06 – Como a rivalidade entre os bois se manifesta no Festival de Parintins e quais regras de conduta são esperadas das torcidas?

      A rivalidade entre os bois no Festival de Parintins é bastante acirrada e intensa, envolvendo toda a cidade e região por meses. Essa rivalidade se manifesta de forma peculiar: os torcedores de um boi nunca pronunciam o nome do boi adversário, referindo-se a ele por outras denominações como "contrário", "rival" ou "o outro". Durante as apresentações, há regras estritas de conduta para as torcidas: enquanto um boi se apresenta, a torcida adversária deve permanecer em silêncio. É proibido vaiar ou usar qualquer instrumento sonoro que possa interferir na performance do boi concorrente, demonstrando uma rivalidade que, embora forte, é regulada para garantir o espetáculo.

07 – Por que o boi é considerado uma "alegoria de força e resistência" e qual sua importância cultural no contexto da festa, além da encenação da lenda?

      O boi é considerado uma "alegoria de força e resistência" no contexto da festa devido à importância histórica da atividade pecuária na economia nordestina, região onde a brincadeira se acredita ter surgido. O animal sempre foi muito cultuado e aparece em várias mitologias brasileiras, simbolizando não apenas a riqueza material, mas também a resiliência. Além da encenação da lenda de sua morte e ressurreição, que é o enredo central, a figura do boi é o personagem principal da festa em si, com a confecção e adorno de sua vestimenta (muitas vezes colorida, bordada com miçangas e paetês) sendo um destaque visual e artístico. O miolo, a pessoa que dá vida ao boi com seus movimentos, reforça essa representação de vitalidade, tornando o boi não apenas um personagem da história, mas um símbolo cultural vivo que integra a dança, a música e o visual da manifestação.

 

 

REPORTAGEM: CRIADA A MEMBROS CIA. DE DANÇA - FRAGMENTO - LETÍCIA DE SOUZA - COM GABARITO

 Reportagem: Criada a Membros Cia. de Dança – Fragmento

        Criada há 10 anos em Macaé, a Membros Cia. De Dança. Traz linguagem política para os palcos em três espetáculos

Por Letícia de Souza

        Nenhum passo da companhia de dança Membros é em falso. Cada movimento no palco assume uma dimensão política, seja para contestar um preconceito, para levantar questões sociais importantes – que merecem ser vistas sob outros ângulos –, seja para mostrar um novo horizonte a quem não tinha perspectiva. Talvez por isso o grupo criado em Macaé, no Rio de Janeiro, tenha tanta visibilidade no exterior. A companhia já se apresentou em mais de 100 cidades de 20 países e desembarca em Brasília com um projeto inédito no Brasil: a trilogia Membros, o corpo político que dança, que havia sido levada somente à Áustria.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhycAn5Qq_VJU0n-L-UR5Cwvq1pK8zNtSwvJc-b2qPKrKeKtyWIgjE_pUO8jsC1XjKwGnhOhQPljdHC6RyuJAnu0CFjr6B13kLTcSQqq-tVbaAc4gFpwvT8XWbSjxCbMobcPoAoJjWcMI0ZRF_CX1ty12jrYvDVcwd9aPwovdWbp70-4p83zA4Ms-Q083k/s320/1575055329.jpg


        Composto pelos espetáculos Raio X, Febre e Medo, que abordam a violência, o projeto pode ser conferido neste fim de semana no Teatro da Caixa. Apesar de formarem um conjunto, eles são apresentados em dias diferentes, de forma sequencial, com o objetivo de sugerir um aprofundamento do tema. Raio X entra em cena hoje, Febre, amanhã, e Medo, no domingo. O público, contudo, não perde o fio da meada se assistir a apenas uma das narrativas.

        Raio X é baseado nos conflitos típicos do sistema carcerário brasileiro. “Buscamos estudos de literatura marginal, que são livros escritos por detentos ou por pesquisadores desse campo de investigação”, conta Paulo Azevedo, diretor artístico da companhia. Em Febre, o grupo utiliza a figura do menino em situação de risco como metáfora para tratar as “doenças” da sociedade. Na última narrativa, a violência se projeta no corpo feminino, numa perspectiva que flerta com a prostituição. A intenção é romper o rótulo de fragilidade do gênero.

        A Membros Cia. de Dança foi fundada por Paulo Azevedo e pela coreógrafa Taís Vieira em 1999. Na época, eles apresentaram a jovens de escolas públicas de Macaé a dança a partir da cultura do hip hop. A iniciativa foi tão bem sucedida que surgiu uma escola de formação. Nas apresentações em Brasília, sobem ao palco 12 intérpretes (como são chamados os dançarinos) e todos se profissionalizaram dentro da própria companhia.

        Três perguntas – Paulo Azevedo

        Vocês são uma companhia reconhecida por tratar a dança como manifestação política. O que isso significa?

        Significa que nos amparamos no principal referencial que entendemos como político, que é o corpo. Então, no momento em que esse corpo refaz o seu papel enquanto instrumento político, seja ele em forma de manifestação, protesto, silêncio, torna-se para a gente um referencial de pesquisa.

        Por que a opção por retratar a violência?

        De forma geral, a primeira violência que a gente constata é sobre gente mesmo. Vivemos em uma cidade cujo referencial é apenas o petróleo. Para a comunidade de uma forma geral, o imaginário de sucesso é quando um jovem da região consegue um emprego em uma firma que presta serviço para a Petrobras ou na própria Petrobras. As famílias dificilmente vão enxergar o processo artístico desses jovens como algo exitoso. Então, a primeira violência que surgiu para a gente foi a de colocarem que não era possível acreditar nos nossos projetos, fazer tudo o que a gente acabou conseguindo fazer.

        Qual é a linguagem do espetáculo?

        O hip hop a dança contemporânea talvez sejam mais fáceis de identificar. Mas, se fossem enquadrar a gente, acho que fazemos uma dança política. Também trazemos elementos da capoeira. [...]

Correio Brasiliense, em 30 de out. de 2009.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 282-283.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a principal característica e o propósito da Membros Cia. de Dança, e como isso se manifesta em suas apresentações?

      A principal característica da Membros Cia. de Dança é sua linguagem política, onde cada movimento no palco assume uma dimensão de crítica social. O propósito da companhia é usar a dança para contestar preconceitos, levantar questões sociais importantes e oferecer novas perspectivas. Isso se manifesta em suas apresentações através da abordagem de temas como a violência, explorando conflitos do sistema carcerário, a figura do menino em situação de risco como metáfora para doenças sociais, e a violência projetada no corpo feminino, buscando romper o rótulo de fragilidade. Para o diretor Paulo Azevedo, o corpo em si é um instrumento político, e sua pesquisa se baseia nesse referencial.

02 – Descreva a trilogia "Membros, o corpo político que dança", mencionando seus espetáculos constituintes e a temática central de cada um.

      A trilogia "Membros, o corpo político que dança" é um projeto inédito no Brasil, que havia sido apresentado somente na Áustria. Ela é composta por três espetáculos: "Raio X", "Febre" e "Medo". A temática central que permeia os três é a violência, com o objetivo de aprofundar a discussão sobre o tema ao longo das apresentações sequenciais.

      "Raio X" é baseado nos conflitos típicos do sistema carcerário brasileiro, utilizando estudos de literatura marginal.

      "Febre" emprega a figura do menino em situação de risco como uma metáfora para as "doenças" da sociedade.

      "Medo" projeta a violência no corpo feminino, explorando uma perspectiva que flerta com a prostituição, com a intenção de romper o rótulo de fragilidade do gênero.

03 – Como a Membros Cia. de Dança foi fundada e qual a relevância de sua escola de formação para os dançarinos?

      A Membros Cia. de Dança foi fundada em 1999 por Paulo Azevedo e pela coreógrafa Taís Vieira, em Macaé, Rio de Janeiro. Inicialmente, eles apresentaram a dança a partir da cultura do hip hop para jovens de escolas públicas da cidade. A iniciativa foi tão bem-sucedida que culminou na criação de uma escola de formação. A relevância dessa escola é que ela permitiu que todos os 12 intérpretes (como são chamados os dançarinos) que sobem ao palco nas apresentações em Brasília se profissionalizassem dentro da própria companhia. Isso demonstra um modelo de desenvolvimento e capacitação interna, valorizando e formando talentos a partir de suas próprias bases.

04 – De acordo com Paulo Azevedo, por que a companhia optou por retratar a violência em suas obras?

      Segundo Paulo Azevedo, a opção por retratar a violência surgiu de uma constatação sobre a primeira violência que o grupo enfrentou: a descrença em seus projetos artísticos. Vivendo em uma cidade como Macaé, cujo referencial econômico é majoritariamente o petróleo, o imaginário de sucesso para a comunidade estava centrado em empregos na Petrobras ou em empresas ligadas ao setor. As famílias, de forma geral, tinham dificuldade em enxergar o processo artístico como algo exitoso ou viável. Portanto, a violência inicial que a companhia buscou abordar foi a de ser desacreditada em sua capacidade de alcançar o sucesso por meio da arte, transformando essa experiência em um pilar para suas criações.

05 – Qual é a linguagem de dança predominante nos espetáculos da Membros Cia. de Dança, e o que mais a caracteriza?

      A linguagem de dança predominante nos espetáculos da Membros Cia. de Dança é o hip hop e a dança contemporânea, que são as mais fáceis de identificar. No entanto, Paulo Azevedo ressalta que a companhia faz uma "dança política", o que a caracteriza de forma mais abrangente. Além disso, a companhia também incorpora elementos da capoeira em suas coreografias. Essa fusão de estilos, combinada com a forte dimensão política de seus movimentos, define a identidade artística da Membros Cia. de Dança.

 

NOTÍCIA: PALMAS E PRECONCEITOS - PAULO CASTAGNA - COM GABARITO

 Notícia: Palmas e preconceitos

        Talento não bastava: para se aa primeira cantora brasileira aplaudida na Europa, Lapinha teve de esconder sua pele negra

Por Paulo Castagna, 3/1/2011

        Óperas já eram encenadas no Brasil durante o século XVIII. Foi nesse período que surgiu, no Rio de Janeiro, Joaquina Lapinha, a primeira cantora lírica brasileira que virou celebridade, e sobre quem pouca coisa se sabe. O sucesso de suas apresentações a levou a fazer uma longa e bem-sucedida temporada na Europa. Mesmo assim, até hoje não foram descobertos retratos que mostrem suas feições. Só existem citações de seu nome em documentos da época, principalmente programas teatrais, partituras e críticas musicais. Sua origem é tão misteriosa quanto sua morte. O pouco que se sabe dela é que, por ser negra, teve que vencer diversos entraves sociais para que pudesse deleitar as plateias cariocas e lusitanas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaXXMHUOzTIPWS8hcvWUyvkB56UpFj9d1h9E-zANnwThBaQkWL7tfv5idUiQHr2jbBWlLmmdQ-Qrd7k7-MNyxESCpzIRInsdNMohcw1QDXydC4IPSSr7LXqbq5AUOYRnIUJMDbsbHaucg94O8WyshU2DzY975SFUJAQFrQMcgob41wNVxGnnVtFs2sgdA/s1600/download.jpg


        Mesmo na Europa, raramente havia cantoras de ópera até meados do século XVIII. Os papéis femininos eram, em grande parte, interpretados por homens. Muitos desses intérpretes, por sinal, eram castrados, como o famoso cantor italiano Farinelli, alcunha pela qual Carlo Maria Broschi (1705-1782) se tornou conhecido. Algo parecido ocorria no cenário da música sacra. A Igreja Católica foi a instituição que mais restringiu o gênero feminino, proibindo que as mulheres cantassem nas missas até o começo do século XX. Uma passagem da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios justifica essa proibição: “É vergonhoso para a mulher falar na igreja”. E na opinião de Santo Ambrósio, que viveu no século IV, “a mulher deverá permanecer calada na igreja”.

        Foi somente a partir das transformações sociais e do crescimento dos valores burgueses – como o maior acesso à música, a construção de teatros públicos de ópera que podiam ser frequentados pela compra de ingressos, e não somente pela condição de nobreza – no decorrer do século XVIII que as mulheres começaram a atuar e a cantar profissionalmente. Como o canto sacro ainda lhes era vetado, essas primeiras profissionais acabaram encontrando seu espaço no teatro e na ópera. A italiana Margherita Durastanti (ativa entre 1700 e 1734) foi uma das primeiras cantoras profissionais na Europa, chegando a participar de várias óperas de Händel (1685-1759) na Inglaterra. Cantoras brasileiras surgiram pouco tempo depois.

        Já havia mulheres cantando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais pelo menos desde 1770. Nesse ano, João de Souza Lisboa, proprietário da casa da ópera de Vila Rica – atual Teatro Municipal de Ouro Preto (MG) –, chegou a comunicar ao governador da capitania de Minas Gerais que já tinha “na casa da ópera duas fêmeas que representam, e uma delas com todo o primor, muito melhor que as do Rio de Janeiro”. Diferentemente do que ocorria no Velho Mundo, eram comuns no Brasil, até o início do século XIX, atores negros e mulatos, maquiados com tinta branca e vermelha, representando os europeus daquela época. Cantar ópera por aqui, naquele tempo, não envolvia o glamour dos cantores de hoje. Esse tipo de trabalho, muito pelo contrário, era feito por subalternos, e seu descumprimento poderia ser severamente punido. Em casos extremos, a punição podia ser até a prisão.

        Foi nesse contexto que surgiu Lapinha, cujo nome verdadeiro era Joaquina Maria da Conceição Lapa e que começou a atuar e cantar em óperas no Rio de Janeiro na década de 1780. Manuscritos que vêm sendo estudados em Portugal, principalmente pelo musicólogo inglês David Cranmer, demonstram que ela trabalhou em várias peças dos italianos Giovanni Paisiello (1740-1816) e Domenico Cimarosa (1749-1801), os compositores mais conhecidos do gênero em seu tempo. De Paisiello, ela cantou, entre outras, “O Barbeiro de Sevilha” – cujo enredo também foi musicado por Gioacchino Rossini (1792-1868) anos depois. Lapinha se apresentou ainda em algumas óperas do italiano Fortunato Mazziotti (1782-1855), do lusitano Marcos Portugal (1762-1830) e do brasileiro José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), que lhe dedicou papéis líricos em “Ulisseia” e em “O Triunfo da América”, representadas no Rio de Janeiro em 1809.

        Preparar-se para atuar numa ópera, tanto naquela época quanto posteriormente, exigia muito tempo e bastante trabalho. As boas cantoras executavam com frequência as coloraturas, ou seja, a emissão de várias notas agudas numa só sílaba, técnica que exigia muito do intérprete e que, quando bem utilizada, causava furor na plateia. Lapinha não só tinha nesse recurso um de seus trunfos, como o usou para cativar o público, segundo algumas críticas que foram preservadas até hoje.

        Os documentos até agora localizados sobre Lapinha indicam que, depois de seu começo de carreira no Rio de Janeiro, a cantora se apresentou em várias cidades de Portugal entre 1791 e 1805. A edição da Gazeta de Lisboa de 16 de janeiro de 1795 se refere a “Joaquina Maria da Conceição Lapinha, natural do Brasil, onde se fizeram famosos os seus talentos músicos, que têm já sido admirados pelos melhores avaliadores desta capital”. Em 6 de fevereiro de 1795, o mesmo jornal fez uma crítica ainda mais elogiosa, que enfatizou a capacidade que a cantora tinha de deixar até mesmo plateias europeias deslumbradas: “A 24 do mês passado, houve no Teatro de São Carlos desta cidade [de Lisboa] o maior concurso que ali se tem visto, para ouvir a célebre cantora americana Joaquina Maria da Conceição Lapinha, a qual, na harmoniosa execução do seu canto, excedeu a expectação de todos: foram gerais e muito repetidos os aplausos que expressavam a admiração que causou a firmeza e sonora flexibilidade da sua voz, reconhecida por uma das mais belas e mais próprias para teatro”.

        Além de receber os aplausos dos portugueses, Lapinha havia superado outra barreira na Europa: ela foi uma das primeiras mulheres a receber autorização para participar de espetáculos públicos em Lisboa. Assim que chegou à cidade, Joaquina se deparou com um veto da própria rainha D. Maria I à participação feminina nas apresentações realizadas nos teatros da capital. O motivo provavelmente estava relacionado aos flertes de seu marido, o rei D. Pedro III, com as atrizes que se apresentavam em Lisboa. O viajante sueco Carl Ruders (1761-1837), responsável por essa informação, também comenta que a cantora era obrigada a disfarçar a cor de sua pele – que os europeus julgavam “inconveniente” – com tinta branca: “Joaquina Lapinha é natural do Brasil e filha de uma mulata, por cujo motivo tem a pele bastante escura. Este inconveniente, porém, remedeia-se com cosméticos. Fora disso, tem uma figura imponente, boa voz e muito sentimento dramático”.

        Depois de passar esse período em Portugal, enfrentando as dificuldades decorrentes da sua condição de mulher negra, a cantora retornou ao Rio de Janeiro e continuou cantando óperas. Seu nome parou de aparecer nos anúncios de espetáculos de música lírica em meados de 1813.

        O sucesso que Joaquina Lapinha alcançou em vida ocorreu independentemente de sua condição racial. Isso demonstra que a herança africana e a excelência da arte, mesmo vistas por um olhar europeu, não eram fatores opostos, como se acreditava antes.

Paulo Castagna. Disponível em: http://revistadehistoria.com.br/secao/retrato/opera-da-discriminacao. Acesso em: fev. 2013.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 272-274.

Entendendo a notícia:

01 – Qual foi o principal desafio enfrentado por Joaquina Lapinha para alcançar o sucesso como cantora lírica, tanto no Brasil quanto na Europa, e como ela o superou?

      O principal desafio enfrentado por Joaquina Lapinha foi o preconceito racial e de gênero em uma sociedade onde mulheres e, especialmente, mulheres negras, tinham seu acesso à música profissional severamente restrito. No Brasil do século XVIII, embora atores negros fossem comuns, o trabalho em ópera era subalterno, e na Europa, cantoras eram raras e o canto era predominantemente masculino. Como mulher negra, Lapinha teve que superar entraves sociais significativos. Ela superou isso através de seu talento excepcional, especialmente sua maestria nas coloraturas e sua voz reconhecida como "uma das mais belas e mais próprias para teatro", que deslumbrou plateias cariocas e lusitanas. Além disso, na Europa, ela precisou esconder a cor de sua pele com cosméticos para ser aceita em espetáculos públicos, uma exigência para superar o preconceito racial "inconveniente" na visão europeia da época.

02 – De que forma a trajetória de Joaquina Lapinha, apesar dos obstáculos, desafiou as concepções da época sobre a arte e a origem racial?

      A trajetória de Joaquina Lapinha desafiou diretamente as concepções da época ao provar que o talento artístico e a excelência não estavam atrelados à raça ou ao gênero, mesmo sob o olhar europeu. Em uma era onde o preconceito racial era arraigado e a participação feminina na música lírica era limitada, Lapinha, uma mulher negra, alcançou reconhecimento internacional e foi aplaudida em teatros europeus. Seu sucesso demonstrou que a "herança africana e a excelência da arte" não eram "fatores opostos", como se acreditava. Ela quebrou barreiras ao ser uma das primeiras mulheres a se apresentar em espetáculos públicos em Lisboa e ao ser aclamada por sua voz, superando a visão de sua pele como "inconveniente" através da maestria de sua arte.

03 – Quais foram as restrições impostas às mulheres no cenário musical, tanto sacro quanto secular, antes do surgimento de cantoras profissionais como Lapinha?

      Antes do surgimento de cantoras profissionais como Lapinha, as mulheres enfrentavam significativas restrições no cenário musical. No âmbito da música sacra, a Igreja Católica proibia a participação feminina nas missas até o início do século XX, baseando-se em passagens bíblicas como a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios ("É vergonhoso para a mulher falar na igreja") e na opinião de Santo Ambrósio ("a mulher deverá permanecer calada na igreja"). No cenário secular da ópera europeia, até meados do século XVIII, era raro haver cantoras, com muitos papéis femininos sendo interpretados por homens, inclusive castrados. Essas restrições sociais e religiosas limitavam severamente as oportunidades para as mulheres desenvolverem carreiras profissionais na música, direcionando as primeiras profissionais que surgiram para o teatro e a ópera quando as transformações sociais permitiram.

04 – Descreva a situação das cantoras e atores no Brasil do século XVIII em comparação com a Europa, conforme o texto.

      No Brasil do século XVIII, a situação das cantoras e atores diferia consideravelmente da Europa. Enquanto na Europa as mulheres encontravam grandes restrições para atuar e cantar profissionalmente em óperas até meados do século XVIII, no Brasil, já havia mulheres cantando no Rio de Janeiro e em Minas Gerais pelo menos desde 1770. O texto menciona que eram comuns no Brasil, até o início do século XIX, atores negros e mulatos, que frequentemente se maquiavam com tinta branca e vermelha para representar europeus. No entanto, o trabalho em ópera no Brasil daquela época não possuía o glamour de hoje, sendo realizado por subalternos e sujeito a punições severas, incluindo prisão, em caso de descumprimento, o que contrasta com o status de celebridade que cantores como Farinelli alcançavam na Europa.

05 – Quais foram as evidências documentais que confirmam o sucesso e a aclamação de Joaquina Lapinha na Europa?

      As evidências documentais que confirmam o sucesso e a aclamação de Joaquina Lapinha na Europa incluem manuscritos estudados em Portugal, principalmente pelo musicólogo inglês David Cranmer, que demonstram sua participação em várias peças de compositores renomados como Giovanni Paisiello e Domenico Cimarosa. Além disso, edições da Gazeta de Lisboa de 1795 são citadas como prova de seu reconhecimento. A edição de 16 de janeiro de 1795 se refere a ela como "natural do Brasil, onde se fizeram famosos os seus talentos músicos, que têm já sido admirados pelos melhores avaliadores desta capital". Mais enfaticamente, a edição de 6 de fevereiro de 1795 elogia sua performance no Teatro de São Carlos, descrevendo o "maior concurso que ali se tem visto" para ouvi-la e ressaltando que ela "excedeu a expectação de todos", recebendo "gerais e muito repetidos os aplausos que expressavam a admiração que causou a firmeza e sonora flexibilidade da sua voz".

06 – Explique a importância da técnica de "coloratura" para as cantoras da época, incluindo Lapinha, e como ela foi utilizada para cativar o público.

      A técnica da coloratura, que consiste na "emissão de várias notas agudas numa só sílaba", era de extrema importância para as cantoras da época, incluindo Lapinha, pois exigia um alto nível de habilidade e controle vocal do intérprete. Quando bem executada, essa técnica causava furor e deslumbramento na plateia, sendo um verdadeiro trunfo para as cantoras. Para Lapinha, a coloratura era um de seus recursos mais fortes, e ela a utilizava precisamente para cativar o público, como atestam críticas preservadas. A capacidade de executar essa técnica com "firmeza e sonora flexibilidade" era um diferencial que evidenciava o talento e a destreza da cantora, contribuindo significativamente para sua aclamação e sucesso.

07 – Embora pouco se saiba sobre a vida de Joaquina Lapinha, o que o texto revela sobre sua origem e o período em que atuou, e por que a falta de retratos é um detalhe significativo?

      O texto revela que Joaquina Lapinha, cujo nome verdadeiro era Joaquina Maria da Conceição Lapa, surgiu e começou a atuar e cantar em óperas no Rio de Janeiro na década de 1780. Sua origem é descrita como "misteriosa", mas sabe-se que ela era negra ("filha de uma mulata"), o que implicava superar diversos entraves sociais. Ela atuou em Portugal entre 1791 e 1805 e continuou cantando óperas no Rio de Janeiro após seu retorno, com seu nome deixando de aparecer em anúncios por volta de 1813. A falta de retratos que mostrem suas feições é um detalhe significativo porque, apesar de seu imenso sucesso e fama como "primeira cantora lírica brasileira que virou celebridade" e a primeira a ser aplaudida na Europa, a ausência de sua imagem perpetua a ideia de que sua identidade visual, em particular a cor de sua pele, era algo a ser ocultado ou negligenciado, reforçando o preconceito e a invisibilidade que mulheres negras enfrentavam naquela época, mesmo as mais talentosas e aclamadas. Isso contrasta com a documentação de outros artistas da época, mostrando como o preconceito ainda a limitava na história visual.

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): MARACATU ATÔMICO - CHICO SCIENCE - COM GABARITO

 Música (Atividades): Maracatu Atômico

             Chico Science

O bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor
E toda a fauna, a flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte, tem arte, tem arte
E aqui passa com raça eletrônico, maracatu atômico

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Mamauê

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp_QVpzByJ_85TSkVKGmzJJK4fFdobnJhMsOfAyVQ03fplydxWubwUEkiAYkYgiLhCpG-rQK6xMVjXeFx5ZW8OQxRIdzq0vQkYKamKrrcNhbNCEaMKe5Jq6b_IwyHopgIpMg9G0VaZf1zP_LHpAJ1oi5IaiGEAN29HPRZewj11PmSm4K1Ufkl9T7uR298/s320/maxresdefault.jpg


Atrás do arranha-céu, tem o céu, tem o céu
E depois tem outro céu sem estrelas
Em cima do guarda-chuva, tem a chuva, tem a chuva
Que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê

No meio da couve-flor, tem a flor, tem a flor
Que além de ser uma flor tem sabor
Dentro do porta-luva, tem a luva, tem a luva
Que alguém de unhas negras e tão afiadas esqueceu de pôr

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê

No fundo do para-raio, tem o raio, tem o raio
Que caiu da nuvem negra do temporal
Todo quadro-negro, é todo negro, é todo negro
E eu escrevo seu nome nele só pra demonstrar o meu apego

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê

O bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor
E toda a fauna, a flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte tem arte, tem arte
E aqui passa com raça eletrônico maracatu atômico

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê.

Composição: Chico Science; Jorge Mautner; Nelson Jacobina. Maracatu atômico. In: Chico Science & Nação Zumbi. Afrociberdelia, Sony Music, 1996.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 330-331.

Entendendo a música:

01 – Qual é a principal característica da linguagem utilizada na letra de "Maracatu Atômico" e como ela contribui para o tema da música?

      A principal característica da linguagem em "Maracatu Atômico" é a repetição de palavras e sons, criando um ritmo hipnótico e um jogo de palavras que mescla elementos cotidianos e oníricos. Essa repetição, como em "o bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor" ou "no meio da couve-flor, tem a flor, tem a flor", não é apenas estilística; ela contribui para o tema da reinterpretação e da descoberta do extraordinário no ordinário. Ao repetir e fragmentar as frases, Chico Science destaca as partes de um todo, revelando belezas e particularidades que passariam despercebidas. Essa técnica reflete a proposta do movimento Manguebeat, de misturar o arcaico e o tecnológico, o orgânico e o industrial, o popular e o erudito, criando uma "estética da lama" que vê riqueza na hibridez.

02 – De que forma a música "Maracatu Atômico" representa a fusão de elementos tradicionais e modernos, característica do Manguebeat?

      "Maracatu Atômico" é uma representação exemplar da fusão de elementos tradicionais e modernos, pilar do Manguebeat. Essa fusão é explícita na própria expressão "maracatu atômico": o maracatu evoca a tradição cultural pernambucana, com suas raízes africanas e seu forte caráter popular e ritualístico, enquanto "atômico" remete à modernidade, à energia, à tecnologia e, por vezes, à disrupção. A letra reforça essa junção ao descrever um "porta-estandarte" que "tem arte" e passa "com raça eletrônico, maracatu atômico", evidenciando a inserção de elementos tecnológicos na tradição. Além disso, as imagens poéticas misturam o natural ("fauna, flora", "beija-flor", "chuva") com o urbano e tecnológico ("arranha-céu", "porta-luva", "para-raio", "quadro-negro"), criando uma paisagem sonora e lírica que celebra a coexistência desses mundos.

03 – Analise o refrão "Manamauê, auêia, aê / Manamauê, auêia, aê / Manamauê, auêia, aê / Mamauê". Qual é sua função e o que ele evoca?

      O refrão tem uma função percussiva e mântrica na música. Ele evoca os cantos e os rituais do maracatu e de outras manifestações culturais afro-brasileiras, que frequentemente utilizam vocalizações rítmicas e repetitivas para criar uma atmosfera de transe e coletividade. A ausência de um significado literal claro nessas sílabas reforça sua dimensão sonora e rítmica, transportando o ouvinte para um universo que transcende a lógica racional. Ele serve como um elemento de coesão, unindo as diferentes imagens e ideias apresentadas nas estrofes e reforçando a identidade cultural arraigada do maracatu, mesmo em sua versão "atômica".

04 – Que tipo de sensações ou ideias são provocadas pelas imagens sensoriais da música, como "gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las" ou "couve-flor, tem a flor... tem sabor"?

      As imagens sensoriais da música, como "gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las" e "couve-flor, tem a flor... tem sabor", provocam uma sensação de descoberta e encantamento com o detalhe e o inusitado. Elas estimulam a percepção multissensorial, misturando o visual ("gotas lindas", "flor" da couve-flor) com o paladar ("vontade de comê-las", "tem sabor"). Essas descrições inusitadas e quase sinestésicas realçam a beleza e a riqueza presentes em elementos cotidianos, convidando o ouvinte a olhar para o mundo com um novo olhar, valorizando o que é muitas vezes ignorado. Refletem a capacidade de Chico Science de transformar o prosaico em poético, o trivial em surpreendente, e de encontrar uma lógica própria, a "lógica da lama", que revela as maravilhas ocultas no universo simples.

05 – Como a música "Maracatu Atômico" expressa a visão do artista sobre a complexidade da realidade brasileira, onde o "micro" e o "macro" se encontram?

      A música "Maracatu Atômico" expressa a visão do artista sobre a complexidade da realidade brasileira através da constante interconexão entre o "micro" e o "macro". O poema lírico transita de detalhes singelos como "o bico do beija-flor" e "gotas tão lindas" para grandezas como "toda a fauna, a flora" e "o céu". O cenário urbano do "arranha-céu" se conecta ao infinito do "céu sem estrelas", e o íntimo ("alguém de unhas negras... esqueceu de pôr") encontra seu paralelo no universal ("toda a fauna, a flora grita de amor"). Essa alternância constante entre o particular e o geral, o detalhe e o panorama, demonstra que a riqueza e a complexidade do Brasil residem nessa intersecção e sobreposição de realidades. A "geleia geral" ou o "maracatu atômico" é, portanto, a manifestação dessa multiplicidade, onde cada pequeno elemento contém um universo, e o todo é a soma de detalhes surpreendentes e contraditórios.