sexta-feira, 6 de setembro de 2024

CONTO: A AVÓ, A CIDADE E O SEMÁFORO - MIA COUTO - COM GABARITO

 CONTO: A avó, a cidade e o semáforo

               Mia Couto

        Quando ouviu dizer que eu ia à cidade, Vovó Ndzima emitiu as maiores suspeitas:

        -- E vai ficar em casa de quem?

        -- Fico no hotel, avó.

        -- Hotel? Mas é casa de quem?

        Explicar, como? Ainda assim, ensaiei: de ninguém, ora. A velha fermentou nova desconfiança: uma casa de ninguém?

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCqliSHZim7Zwd1YDElnlt3Fxj5o87F8OwkugZ3y4Q_PCf1jNX-2D6WtCRW0dfPKUHvVhn74RABpdcd6rO-ogtLy2mrS-7xZYfSv2UWBBY_j1anVvgJAugmnFOcV9aJ_zr6oJ1mO4Y9Li7ni6BCDzpRK9HoqNIKzTCEN0oE-OWSD1NIq2E_Rc7ohGVryQ/s320/casa-de-av%C3%B3.jpg

        -- Ou melhor, avó: é de quem paga – palavreei, para a tranquilizar.

        Porém, só agravei – um lugar de quem paga? E que espíritos guardam uma casa como essa?

        A mim me tinha cabido um prêmio do Ministério. Eu tinha sido o melhor professor rural. E o prêmio era visitar a grande cidade. Quando, em casa, anunciei a boa nova, a minha mais-velha não se impressionou com meu orgulho. E franziu a voz:

        -- E, lá, quem lhe faz o prato?

        -- Um cozinheiro, avó.

        -- Como se chama esse cozinheiro?

        Ri, sem palavra. Mas, para ela, não havia riso, nem motivo. Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Quem assegurava a pureza da peneira e do pilão? Como podia eu deixar essa tarefa, tão íntima, ficar em mão anônima? Nem pensar, nunca tal se viu, sujeitar-se a um cozinhador de que nem o rosto se conhece.

        -- Cozinhar não é serviço, meu neto – disse ela. – Cozinhar é um modo de amar os outros.

        Ainda tentei desviar-me, ganhar uma distração. Mas as perguntas se somavam, sem fim.

        -- Lá, aquela gente tira água do poço?

        -- Ora, avó...

        -- Quero saber é se tiram todos do mesmo poço...

        Poço, fogueira, esteira: o assunto pedia muita explicação. E divaguei, longo e lento. Que aquilo, lá, tudo era de outro fazer. Mas ela não arredou coração. Não ter família, lá na cidade, era coisa que não lhe cabia. A pessoa viaja é para ser esperado, do outro lado a mão de gente que é nossa, com nome e história. Como um laço que pede as duas pontas. Agora, eu dirigir-me para lugar incógnito onde se deslavavam os nomes! Para a avó, um país estrangeiro começa onde já não reconhecemos parente.

        -- Vai deitar em cama que uma qualquer lençolou?

        Na aldeia era simples: todos dormiam despidos, enrolados numa capulana ou numa manta conforme os climas. Mas lá, na cidade, o dormente vai para o sono todo vestido. E isso minha avó achava de mais. Não é nus que somos vulneráveis. Vestidos é que somos visitados pelas valoyi e ficamos à disposição dos seus intentos. Foi quando ela pediu. Eu que levasse uma moça da aldeia para me arrumar os preceitos do viver.

        -- Avó, nenhuma moça não existe.

        Dia seguinte, penetrei na penumbra da cozinha, preparado para breve e sumária despedida, quando deparei com ela, bem sentada no meio do terreiro. Parecia estar entronada, a cadeira bem no centro do universo. Mostrou-me uns papéis.

        -- São os bilhetes.

        -- Que bilhetes?

        -- Eu vou consigo, meu neto.

        Foi assim que me vi, acabrunhado, no velho autocarro. Engolíamos poeiras enquanto os alto-falantes espalhavam um roufenho ximandjemandje. A avó Ndzima, gordíssima, esparramada no assento, ia dormindo. No colo enorme, a avó transportava a cangarra com galinhas vivas. Antes de partir, ainda a tentara demover: ao menos fossem pouquitas as aves de criação.

        -- Poucas como? Se você mesmo disse que lá não semeiam capoeiras.

        Quando entramos no hotel, a gerência não autorizou aquela invasão avícola. Todavia, a avó falou tanto e tão alto que lhe abriram alas pelos corredores. Depois de instalados, Ndzima desceu à cozinha. Não me quis como companhia. Demorou tempo de mais. Não poderia estar apenas a entregar os galináceos. Por fim, lá saiu. Vinha de sorriso:

        -- Pronto, já confirmei sobre o cozinheiro...

        -- Confirmou o quê, avó?

        -- Ele é da nossa terra, não há problema. Só falta conhecer quem faz a sua cama.

        Aconteceu, depois. Chegado do Ministério, dei pela ausência da avó. Não estava no quarto, nem no hotel. Me urgenciei, aflito, pelas ruas no encalço dela. E deparei com o que viria a repetir-se todas tardes, a vovó Ndzima entre os mendigos, na esquina dos semáforos. Um aperto me minguou o coração: pedinte, a nossa mais-velha?! As luzes do semáforo me chicoteavam o rosto:

        -- Venha para casa, avó!

        -- Casa?!

        -- Para o hotel. Venha.

        Passou-se o tempo. Por fim, chegou o dia do regresso à nossa aldeia. Fui ao quarto da vovó para lhe oferecer ajuda para os carregos. Tombou-me o peito ao assomar à porta: ela estava derramada no chão, onde sempre dormira, as tralhas espalhadas sem nenhum propósito de serem embaladas.

        -- Ainda não fez as malas, avó?

        -- Vou ficar, meu neto.

        O silêncio me atropelou, um riso parvo pincelando-me o rosto.

        -- Vai ficar, como?

        -- Não se preocupe. Eu já conheço os cantos disto aqui.

        -- Vai ficar sozinha?

        -- Lá, na aldeia, ainda estou mais sozinha.

        A sua certeza era tanta que o meu argumento murchou. O autocarro demorou a sair. Quando passamos pela esquina dos semáforos, não tive coragem de olhar para trás.

        O verão passou e as chuvadas já não espreitavam os céus quando recebi encomenda de Ndzima. Abri, sôfrego, o envelope. E entre os meus dedos uns dinheiros, velhos e encarquilhados, tombaram no chão da escola. Um bilhete, que ela ditara para que alguém escrevesse, explicava: a avó me pagava uma passagem para que eu a visitasse na cidade. Senti luzes me acendendo o rosto ao ler as últimas linhas da carta: “... agora, neto, durmo aqui perto do semáforo. Faz-me bem aquelas luzinhas, amarelas, vermelhas. Quando fecho os olhos até parece que escuto a fogueira, crepitando em nosso velho quintal...”.

COUTO, Mia. A avó, a cidade e o semáforo. In: COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 125-129.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 258-260.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Capulana: pano utilizado tradicionalmente pelas mulheres de Moçambique e de outros países da África para diversas funções, como saia, adereço dos cabelos, toalha, cortina, entre outras.

·        Valoyi: na tradição moçambicana, são feiticeiras más que atormentam os indivíduos à noite.

·        Roufenho: fanho, que fala pelo nariz.

·        Ximandjemandje: ritmo musical.

·        Cangarra: cesto de palha.

·        Capoeira: terra preparada para cultivo.

02 – Qual foi a reação inicial da avó Ndzima ao saber que o neto ia para a cidade?

      A avó Ndzima ficou desconfiada e fez muitas perguntas, demonstrando preocupação com a segurança e os costumes do lugar onde o neto ficaria.

03 – Por que a avó Ndzima se preocupou com quem iria cozinhar para o neto na cidade?

      A avó Ndzima acreditava que cozinhar era um ato de amor e intimidade, e temia que um cozinheiro desconhecido pudesse colocar veneno na comida ou não preparar os alimentos com a devida ternura.

04 – O que o neto ganhou como prêmio e por que motivo?

      Ele ganhou um prêmio do Ministério por ter sido o melhor professor rural, que incluía uma visita à grande cidade.

05 – Por que a avó insistiu em acompanhar o neto na viagem à cidade?
      A avó Ndzima temia que o neto estivesse vulnerável em um lugar desconhecido e queria garantir que ele estivesse bem cuidado.

06 – Qual foi a reação do hotel em relação às galinhas que a avó levou?

      Inicialmente, a gerência do hotel não autorizou a entrada das galinhas, mas depois de muita insistência da avó, permitiram que ela as levasse.

07 – Por que a avó Ndzima se aproximou dos mendigos na cidade?

      A avó encontrou uma espécie de conforto e pertencimento entre os mendigos, sentindo-se mais próxima deles do que dos outros habitantes da cidade.

08 – O que a avó fez quando soube que o cozinheiro do hotel era da terra dela?

      Ela se tranquilizou, acreditando que, por ser da mesma terra, o cozinheiro prepararia a comida com o cuidado e o amor que ela julgava necessário.

09 – Por que a avó decidiu ficar na cidade em vez de voltar para a aldeia?

      A avó sentiu que estava mais sozinha na aldeia do que na cidade e que já conhecia bem os cantos do novo lugar.

10 – Qual foi a reação do neto ao saber que a avó queria ficar na cidade?

      Ele ficou surpreso e sem palavras, pois não esperava que a avó quisesse ficar sozinha na cidade.

11 – Qual o significado das luzes do semáforo para a avó no final da história?

      As luzes do semáforo a faziam lembrar da fogueira no quintal da aldeia, trazendo-lhe uma sensação de conforto e nostalgia, como se estivesse mais próxima de suas raízes.

 

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ARTIGO DE OPINIÃO: A UTOPIA DA DESCONEXÃO - RONALDO LEMOS - COM GABARITO

 Artigo de opinião: A Utopia da Desconexão

        Talvez seja preciso ser um bilionário para se dar ao luxo de não ter um smartphone

        Esteve no Brasil na semana passada o escritor Yuval Noah Harari, conhecido mundialmente por seus livros “Sapiens” e “Homo Deus”. Tive a oportunidade de conversar com ele em três eventos distintos, incluindo um realizado no Congresso Nacional, com presença massiva de parlamentares. Em uma das conversas, ele confessou que “não tem smartphone”.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivCTOEpXkSzjQwkUBMdp1KhmSxxS3tFLqWPlW9CPiSw-C2_jw5D0ZaapFxYf6TFwCQ0LrXbePT-AEk4t5a_5h0MKUiNzfIXyqPwoVyMi2UkDGOq1h7xVlnUkue-XZ6OJKXodAXfrZhOssK3iU62WMvSTy9zM7qFPYFcQaaMwqX3eFGun_dRKXhNGImCwo/s320/smartphone-qualidade.jpg


        Essa revelação leva a pensar o que significa no mundo de hoje – para quem tem condições de pagar por conexão – não ter um smartphone.

        Uma resposta a essa indagação pode ser encontrada involuntariamente no documentário sobre a vida de Bill Gates [...]. O documentário é interessante. No entanto, o que mais me chamou a atenção é o fato de que Gates vive praticamente desconectado. Ele lê livros em papel (muitos!) e dá a impressão de que raramente chega perto de um computador ou de um smartphone.

        Isso ilustra o fato de que no mundo de hoje talvez seja preciso ser um bilionário do nível de Bill Gates para se dar ao luxo de não ter um smartphone.

        Como disse Harari quando perguntei sobre isso: “O maior símbolo de status no mundo de hoje é a desconexão. Se você tem um smartphone, significa que você tem um chefe. Pode ser seu marido, seus filhos ou colegas de trabalho. Podem ser também os próprios aplicativos. Por meio do aparelho você está condicionado a ser acionado por alguém a qualquer momento”.

        Harari diz que, apesar de não ter smartphone, seu marido tem. E isso o protege das infinitas demandas que vêm através do aparelho, segundo ele “abrindo tempo para que ele possa pensar e escrever”.

        Perguntei também o que ele recomendaria nesse contexto de overdose de informação. Sua resposta foi justamente a importância de buscar proteger espaços de desconexão. Criar “santuários” mentais. Momentos em que temos autonomia e tranquilidade para deixar a mente livre.

        Esse é, aliás, um dos principais pontos enfatizados por Harari. A humanidade nos últimos séculos teve um progresso imenso na área de saúde, com a invenção das vacinas e dos antibióticos e avanços em medicina e prevenção. Não por acaso, a expectativa de vida era de 49 anos nos Estados Unidos no início do século 20 e hoje é de 78 anos.

        O problema é que, se avançamos em saúde física, em saúde mental não se pode dizer o mesmo. Especialmente por causa da velocidade da mudança atual, casos de ansiedade ou depressão estão se tornando cada vez mais visíveis.

        Harari lida com isso meditando duas horas por dia, além de partir uma vez por ano para um retiro isolado de ao menos um mês. Soluções que usualmente não são acessíveis à maioria das pessoas.

        No mundo em desenvolvimento, a situação é ainda mais paradoxal. Há ao mesmo tempo o desafio de conectar os desconectados e de reparar os excessos da ultraconexão. Tarefa cada vez mais difícil em um mundo em que a sobrevivência depende cada vez mais de estar conectado o tempo todo.

        No Brasil conheço apenas uma pessoa que, tendo dinheiro, optou por não ter smartphone. E você, quantas pessoas conhece?

        Reader

        Já era: Esquecer que 40% dos brasileiros até 2018 nunca usaram um    computador.

        Já é:  Trabalhar para conectar 100% do país e especialmente as escolas públicas.

        Já vem:  Cultivar autonomia para se desconectar.   

Lemos, Ronaldo. A utopia da desconexão. Folha de S. Paulo, 11 nov. 2019.  

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 182-183.

Entendendo o artigo:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Paradoxal: algo contraditório.

·        Utopia: projeto de natureza ideal, irrealizável ou impossível.

02 – Qual é o principal argumento de Yuval Noah Harari sobre o uso de smartphones?

      Harari argumenta que o maior símbolo de status no mundo atual é a desconexão. Ele sugere que ter um smartphone significa estar constantemente à disposição de alguém, seja um chefe, um familiar, ou até mesmo dos próprios aplicativos, limitando a autonomia pessoal.

03 – Por que Harari não usa smartphone?

      Harari opta por não usar smartphone para se proteger das infinitas demandas que o aparelho traz, o que lhe permite ter tempo para pensar e escrever. Ele acredita que essa desconexão é crucial para manter a saúde mental.

04 – Como Harari lida com a overdose de informações e o excesso de conexão?

      Harari lida com a overdose de informações e o excesso de conexão meditando duas horas por dia e participando de retiros isolados de pelo menos um mês, uma vez por ano. Essas práticas o ajudam a criar “santuários” mentais para manter a tranquilidade e a autonomia.

05 – Qual é o paradoxo da conectividade no mundo em desenvolvimento mencionado no artigo?

      No mundo em desenvolvimento, existe o paradoxo de que, ao mesmo tempo que há o desafio de conectar os desconectados, há também a necessidade de reparar os excessos da ultraconexão, o que se torna cada vez mais difícil em um mundo onde a sobrevivência depende de estar sempre conectado.

06 – Como Bill Gates exemplifica a ideia de desconexão no artigo?

      Bill Gates é citado como um exemplo de alguém que vive praticamente desconectado. Ele lê livros em papel e raramente usa computadores ou smartphones, ilustrando que é preciso ser bilionário para se dar ao luxo de não ter um smartphone e manter essa desconexão.

07 – Quais são os avanços mencionados no artigo em relação à saúde física e mental?

      O artigo destaca que a humanidade fez enormes progressos em saúde física nos últimos séculos, como a invenção de vacinas e antibióticos, que aumentaram a expectativa de vida. No entanto, a saúde mental não acompanhou esses avanços, com casos crescentes de ansiedade e depressão devido à velocidade das mudanças tecnológicas e sociais.

08 – O que Harari recomenda para lidar com o excesso de conexão e a sobrecarga de informações?

      Harari recomenda a criação de “santuários” mentais, ou seja, momentos de desconexão que permitam à mente estar livre de interferências, proporcionando autonomia e tranquilidade essenciais para o bem-estar mental.

                

 

REPORTAGEM: CONHEÇA 6 APLICAÇÕES DA INTERNET DAS COISAS QUE JÁ ESTÃO TORNANDO O MUNDO MELHOR (FRAGMENTO) - COM GABARITO

 Reportagem: Conheça 6 aplicações da internet das coisas que já estão tornando o mundo melhor – Fragmento

        Da tecnologia agrícola à limpeza do ar, os dispositivos inteligentes funcionam como aliados importantes para resolver os problemas da humanidade

 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM2bkaS4ES3okYnvCHExDVjutyy3hqUlAWqIFwRbkZPNZ4nhtG9gfOQBjcFOSpgQeHczUW6edtSx45BElIJAwYYG4c_LODLck_Tr0ZiTMSVnuxPn1iI3_MjMgnkCZpPZOTpQJZZ8_NCYlM25JtBtKkuSy-qjOMfI9qK4vTYhkIuffuGcmToIEkofnIQPE/s320/internet.png

        Com bilhões de dispositivos que funcionam à base de sensores inteligentes, internet das coisas pode ser usada nos campos mais diversos.

        [...]

        Já é possível ver aplicações práticas da internet das coisas na organização do trânsito, na agilização de tratamentos médicos e também na preservação do meio ambiente., sempre condicionada à capacidade humana de analisar os dados que os dispositivos conectados geram.

        [...]

        Recentemente, o Fórum Econômico Mundial listou seis áreas nas quais a IoT já faz toda a diferença. Confira abaixo.

        1. Cidades mais inteligentes

        Hoje, mais da metade da população mundial já vive em ambientes urbanos. Em 2050, a previsão da ONU é que a proporção suba para dois terços. Por isso, é fundamental cuidar para que as cidades sejam lugares sustentáveis e bem organizados, que suportem o peso das mudanças climáticas e a chegada de mais milhões de habitantes.

        A internet das coisas vem ajudando várias cidades a cumprir esse objetivo. Em Barcelona, na Espanha, o uso de água para irrigação em jardins e fontes públicas já é controlado digitalmente, evitando desperdícios. O mesmo acontece com o sistema de iluminação pública, que tem postes dotados de sensores de presença, usados como roteadores para conexão Wi-Fi.

        Também em Barcelona, um sistema implantado nas vias públicas avisa os motoristas sobre lugares disponíveis para estacionar seus carros. Por meio de sensores no asfalto, sinais são emitidos para um aplicativo, ajudando o motorista a estacionar rapidamente, o que reduz o trânsito e as emissões de gases pelos veículos.

        2. Limpeza do ar e da água

        Cidades que sofrem muito com a poluição têm direcionado esforços para melhorar a qualidade do ar e da água. Em Londres, onde 9 mil pessoas morrem anualmente em função de problemas respiratórios, a Drayson Technologies está distribuindo para os cidadãos pequenos aparelhos que medem o nível de poluição do ar. Eles podem ser plugados em carros e bicicletas, circulando junto com os veículos pela cidade.

        Os sensores transmitem as informações para o aplicativo da empresa. O app, por sua vez, consolida as informações num único servidor, permitindo aos londrinos conferir um mapa digital da qualidade do ar em cada ponto da cidade.

        [...]

        3. Agricultura mais eficiente

        O campo também se beneficia da internet das coisas. Na Califórnia, depois que uma seca histórica prejudicou os agricultores locais no início da década, drones que fazem imagens aéreas e sensores de qualidade do solo ajudaram os produtores a identificar os melhores locais para plantar as novas safras.

        Esses recursos já estão presentes também no Brasil. Startups [...] instalam junto às plantações sensores meteorológicos que identificam indicadores como a radiação solar, direção do vento, pressão barométrica e o pH das espécies. O mapeamento aéreo com o uso de drones também já é usado por aqui, assim como tecnologias para máquinas semeadeiras, que mostram em tempo real aos controladores se toda a extensão do solo está sendo usada de forma adequada.

        4. Menos desperdício de comida

        [...]

        Há como reduzir a dimensão do problema usando a internet das coisas, mais uma vez agindo no ambiente rural. Uma possibilidade é monitorar processos como irrigação, polinização e a fertilização do solo, e fornecer relatórios a fazendeiros. É o que faz a startup israelense Prospera, que também tem um software de gestão para que os produtores gerenciem suas vendas e evitem perdas no transporte das mercadorias.

        Na África, onde a logística é mais precária, empresas semelhantes, como Farmerline e ArgoCenta, atuam para ajudar pequenos produtores a canalizar seus produtos rapidamente a distribuidores. Nos aplicativos, eles encontram empresas fabricantes de alimentos interessadas em vários tipos de ingredientes, além de cotações atualizadas de mercado para determinar o preço correto.

        5. Conectando pacientes e médicos

        Os sensores conectados também já são usados na medicina. Em vários países, já são usados em vários países dispositivos vestíveis que medem batimentos cardíacos, pulso e pressão sanguínea dos pacientes, deixando seus médicos informados o tempo todo. Isso não só nos hospitais, mas também nas próprias casas dos pacientes, no caso daqueles que enfrentam risco constante.

        [...]

        6. Combatendo o câncer de mama

        [...]

        A mamografia tradicional pode falhar em identificar a doença nos estágios iniciais. Para resolver o problema, a Cyrcadia Health desenvolveu a ITBra.  O equipamento consiste em um top com microssensores que identificam mínimas variações de temperatura na região dos seios. Ao transmitir as informações para o smartphone da usuária ou para o médico, os dispositivos ajudam os profissionais da saúde a identificar padrões que possam representar um perigo para a saúde da mulher.

        [...].

ÉPOCA NEGÓCIOS. Conheça 6 aplicações da internet das coisas que já estão tornando o mundo melhor. Época Negócios: Tecnologia, 1º mar. 2019.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 205-207.

Entendendo a reportagem:

01 – O que é a Internet das Coisas (IoT) e como ela pode ser utilizada?

      A Internet das Coisas (IoT) refere-se a bilhões de dispositivos conectados à internet que funcionam à base de sensores inteligentes, sendo utilizados em diversas áreas para resolver problemas da humanidade, como na organização do trânsito, na saúde e na preservação ambiental.

02 – Como a IoT contribui para tornar as cidades mais inteligentes?

      A IoT ajuda a tornar as cidades mais inteligentes ao controlar digitalmente o uso de recursos, como a irrigação em jardins e iluminação pública, além de facilitar o estacionamento por meio de sensores que indicam vagas disponíveis, como ocorre em Barcelona.

03 – De que forma a IoT está sendo usada para melhorar a qualidade do ar em Londres?

      Em Londres, a IoT é utilizada através de aparelhos que medem a poluição do ar. Esses sensores são conectados a carros e bicicletas, transmitindo informações para um aplicativo que consolida os dados e disponibiliza um mapa digital da qualidade do ar na cidade.

04 – Quais são as aplicações da IoT na agricultura, especialmente após a seca na Califórnia?

      Após uma seca histórica na Califórnia, a IoT passou a ser usada na agricultura com drones que fazem imagens aéreas e sensores de qualidade do solo, ajudando os agricultores a identificar os melhores locais para o plantio e a otimizar o uso da terra.

05 – Como a IoT ajuda a reduzir o desperdício de comida?

      A IoT ajuda a reduzir o desperdício de comida monitorando processos agrícolas como irrigação e fertilização do solo, além de fornecer relatórios detalhados aos fazendeiros. Startups, como a israelense Prospera, oferecem softwares de gestão para que os produtores evitem perdas durante o transporte dos produtos.

06 – De que maneira a IoT conecta pacientes e médicos?

      A IoT conecta pacientes e médicos através de dispositivos vestíveis que monitoram sinais vitais, como batimentos cardíacos e pressão sanguínea, transmitindo essas informações em tempo real para os médicos, tanto em hospitais quanto nas casas dos pacientes.

07 – Qual inovação da IoT está ajudando no combate ao câncer de mama?

      A Cyrcadia Health desenvolveu o ITBra, um top com microssensores que detectam mínimas variações de temperatura na região dos seios. Essas informações são transmitidas para o smartphone ou diretamente para o médico, auxiliando na identificação precoce do câncer de mama.

ROMANCE: A CIDADE E AS SERRAS - (FRAGMENTO) - EÇA DE QUEIRÓS - COM GABARITO

 Romance: A cidade e as serras – Fragmento

                 Eça de Queirós

I

        O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Buu7RYYVabZQesSo01v72_sbMa4nZSZNaDvCDhPAJ_By_AmWq06cGHgjrB3a2DK-A8sWCyI7Wat9BRsaFOd2-oGx9M1vKjBKzOJHFSY4SBh8gsnVeUgtNkU8ECDOsay3ng93CvM7M-yFj3ZhpPoUuo-OqLK3A0d_Ug3uw-q30qvKd_TVRSCy5wzwPsw/s320/SERRAS.jpg


        No Alentejo, pela Estremadura, através das duas Beiras, densas sebes ondulando pôr e vale, muros altos de boa pedra, ribeiras, estradas, delimitavam os campos desta velha família agrícola que já entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei d.Dinis. A sua Quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo douro, cobriam uma serra. [...] Mas o palácio onde Jacinto nascera, e onde sempre habitara, era em Paris, nos Campos Elísios, nº 202. [...]

        Jacinto e eu, José Fernandes, ambos nos encontramos e acamaradamos em Paris, nas Escolas do Bairro Latino [...].

        Ora nesse tempo Jacinto concebera [...] a ideia de que o “homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E pôr homem civilizado o meu camarada entendia aquele que, robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com todos os mecanismos inventados [...] apto portanto a recolher dentro de uma sociedade, e nos limites do Progresso (tal como ele se comportava em 1875) todos os gozos e todos os proveitos que resultam de Saber e Poder... [...]

        Pôr uma conclusão bem natural, a ideia de Civilização, para Jacinto, não se separava da imagem de Cidade, duma enorme Cidade, com todos os seus vastos órgãos funcionando poderosamente. Nem este meu supercivilizado amigo compreendia que longe de armazéns servidos pôr três mil caixeiros; e de Mercados onde se despejam os vergéis e lezírias de trinta províncias; e de Bancos em que retine o ouro universal; e de Fábricas fumegando com ânsia, inventando com ânsia; e de Bibliotecas abarrotadas, a estalar, com a papelada dos séculos; e de fundas milhas de ruas, cortadas, pôr baixo e pôr cima, de fios de telégrafos, de fios de telefones, de canos de gases, de canos de fezes; e da fila atroante dos ônibus, tramas, carroças, velocípedes, calhambeques, parelhas de luxo; e de dois milhões duma vaga humanidade, fervilhando, a ofegar, através da Polícia, na busca dura do pão ou sob a ilusão do gozo – o homem do século XIX pudesse saborear, plenamente, a delícia de viver! [...].

        Ao contrário no campo, entre a inconsciência e a impassibilidade da Natureza, ele tremia com o terror da sua fragilidade e da sua solidão [...]. Depois, em meio da Natureza, ele assistia à súbita e humilhante inutilização de todas as suas faculdades superiores. De que servia, entre plantas e bichos – ser um Gênio ou ser um Santo?

II

        Era de novo fevereiro, e um fim de tarde arrepiado e cinzento, quando eu desci os Campos Elísios em demanda do 202. Adiante de mim caminhava, levemente curvado, um homem que, desde as botas rebrilhantes até às abas recurvas do chapéu de onde fugiam anéis dum cabelo crespo, ressumava elegância e a familiaridade das coisas finas. [...] E só quando ele parou ao portão do 202 reconheci o nariz afilado, os fios do bigode corredios e sedosos.

        -- Ó Jacinto!

        -- Ó Zé Fernandes! [...]

        -- Há sete anos!...

        E, todavia, nada mudara durante esses sete anos no jardim do 202! [...] 

        Mas dentro, no peristilo, logo me surpreendeu um elevador instalado pôr Jacinto[...]. Um criado, mais atento ao termômetro que um piloto à agulha, regulava destramente a boca dourada do calorífero. E perfumadores entre palmeiras, como num terraço santo de Benares, esparziam um vapor, aromatizando e salutarmente umedecendo aquele ar delicado e superfino.

        Eu murmurei, nas profundidades do meu assombrado ser:

        -- Eis a Civilização!

        [...].

III

        [Nós] saíamos depois do almoço, a pé, através de Paris. Estes lentos e errantes passeios eram outrora, na nossa idade de Estudantes, um gozo muito querido de Jacinto – porque neles mais intensamente e mais minuciosamente saboreava a Cidade. Agora, porém, apesar da minha companhia, só lhe davam uma impaciência e uma fadiga que desoladamente destoava do antigo, iluminado êxtase. Com espanto (mesmo com dor, porque sou bom, e sempre me entristece o desmoronar duma crença) descobri eu, na primeira tarde em que descemos aos Boulevards, que o denso formigueiro humano sobre o asfalto, e a torrente sombria dos trens sobre o macadame, afligiam meu amigo pela brutalidade da sua pressa, do seu egoísmo, e do seu estridor. [...]

        -- Não vale a pena, Zé Fernandes. Há uma imensa pobreza e secura de invenção! Sempre os mesmos florões Luís XV, sempre as mesmas pelúcias... Não vale a pena!

        Eu arregalava os olhos para este transformado Jacinto. [...].

IV

        [...] [Recebeu] o meu Príncipe inesperadamente, de Portugal, uma nova considerável. Sobre a sua Quinta e solar de Tormes, pôr toda a serra, passara uma tormenta  devastadora de vento, corisco e água. Com as grossas chuvas [...], um pedaço de monte, que se avançava em socalco sobre o vale da Carriça, desabara, arrastando a velha igreja, uma igrejinha rústica do século XVI, onde jaziam sepultados os avós de Jacinto desde os tempos de el-rei D. Manuel. [...]

        Jacinto empalidecera, impressionado. Esse velho solo serrano, tão rijo e firme desde os Godos, que de repente ruía! Esses jazigos de paz piedosa, precipitados com fragor, na borrasca e na treva, para um negro fundo de vale! Essas ossadas, que todas conservavam um nome, uma data, uma história, confundidas num lixo de ruína! [...]

        E telegrafou ao Silvério que desatulhasse o vale, recolhesse as ossadas, reedificasse a Igreja, e para esta obra de piedade e reverência, gastasse o dinheiro, sem contar, como a água dum rio largo.

        [...]

VIII

        Ao fim desse Inverno escuro e pessimista [...], Jacinto assomou à porta do meu quarto [...], deixou desabar sobre mim esta declaração formidável:

        -- Zé Fernandes, vou partir para Tormes. [...]

        -- Para Tormes? Ó Jacinto, quem assassinaste?...

        [...] O Príncipe da Grã-Ventura tirou da algibeira uma carta [...]

        -- “Ilmº  e Exmº sr. – Tenho grande satisfação em comunicar a V.Exª que toda esta semana devem ficar prontas as obras da capela...[...]. Os venerandos restos dos excelsos avós de V. Exª., senhores de todo o meu respeito, podem pois ser em breve trasladados da igreja de S José, onde têm estado depositados pôr bondade do nosso Abade, que muito se recomenda a V.Exª... Submisso aguardo as prestantes ordens de V.Exª a respeito desta majestosa e aflitiva cerimônia...” [...]

        -- Ah! bem! Queres ir assistir à trasladação.... Jacinto sumiu a carta no bolso.

        -- Pois não te parece, Zé Fernandes? Não é pôr causa dos outros avós, que são vagos, e que eu não conheci. É pôr causa do avô Galião... Também não o conheci. Mas este 202 está cheio dele; tu estás deitado na cama dele; eu ainda uso o relógio dele. Não posso abandonar ao Silvério e aos caseiros o cuidado de o instalarem no seu jazigo novo. Há aqui um escrúpulo de decência, de elegância moral... Enfim, decidi. Apertei os punhos na cabeça, e gritei – vou a Tormes! E vou!... E tu vens! [...]

        [...] Logo depois de atravessarmos uma trêmula ponte de pau, sobre um riacho quebrado por pedregulhos, o meu Príncipe, com o olho de dono subitamente aguçado, notou a robustez e a fartura das oliveiras... – E em breve os nossos males [da viagem] esqueceram ante a incomparável beleza daquela serra bendita!

XV

        E agora, entre roseiras que rebentam, e vinhas que se vindimam, já cinco anos passaram sobre Tormes e a Serra. O meu Príncipe já não é o último Jacinto, Jacinto ponto final – porque naquele solar que decaíra, correm agora, com soberba vida, uma gorda e vermelha Teresinha, minha afilhada, e um Jacintinho, senhor muito da minha amizade. [...] Quando ele agora, bom sabedor das coisas da lavoura, percorria comigo a Quinta, em sólidas palestras agrícolas, prudentes e sem quimeras – eu quase lamentava esse outro Jacinto que colhia uma teoria em cada ramo de árvore, e riscando o ar com a bengala, planejava queijeiras de cristal e porcelana, para fabricar queijinhos que custariam duzentos mil-réis cada um! [...]

        Visitara já as suas propriedades de Montemor, da Beira; e consertava, mobiliava as velhas casas dessas propriedades para que os seus filhos, mais tarde, crescidos, encontrassem “ninhos feitos”. Mas onde eu reconheci que definitivamente um perfeito e ditoso equilíbrio se estabelecera na alma do meu Príncipe, foi quando ele, já saído daquele primeiro e ardente fanatismo da Simplicidade – entreabriu a porta de Tormes à Civilização. [...] Aparecera, vindo de Lisboa, um contramestre, com operários, e mais caixotes, para instalar um telefone!

        -- Um telefone, em Tormes, Jacinto? O meu Príncipe explicou, com humildade: -- Para casa de meu sogro!... bem vês.

        Era razoável e carinhoso. O telefone, porém, sutilmente, [...], estendeu outro longo fio, para Valverde. E Jacinto, alargando os braços, quase suplicante:

        -- Para casa do médico. Compreendes...

        Era prudente. Mas, certa manhã, em Guiães, acordei aos berros da tia Vicência! Um homem chegara, misterioso, com outros homens, trazendo arame, para instalar na nossa casa o novo invento. [...]. Mas corri a Tormes. Jacinto sorriu, encolhendo os ombros:

        -- Que queres? Em Guiães está o boticário, está o carniceiro... E, depois, estás tu!

        [...] O Progresso, que, à intimação de Jacinto, subira a Tormes a estabelecer aquela sua maravilha, pensando talvez que conquistara mais um reino para desfear, desceu, silenciosamente, desiludido, e não avistamos mais sobre a serra a sua hirta sombra cor de ferro e de fuligem. Então compreendi que, verdadeiramente, na alma de Jacinto se estabelecera o equilíbrio da vida, e com ele a Grã-Ventura, de que tanto tempo ele fora o Príncipe sem Principado.

        [...].

QUEIRÓS, Eça de. A cidade e as serras. São Paulo: Babel, 2012. p. 29-30, 30-36, 39, 43, 44, 47, 48, 65,112, 174, 175, 207, 34.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 191-194.

Entendendo o romance:

01 – Qual é a origem social de Jacinto?

      Jacinto nasceu em uma família rica, proprietária de vastas terras agrícolas em várias regiões de Portugal, incluindo Alentejo, Estremadura e Beiras. Sua família já possuía essas terras desde os tempos do rei D. Dinis.

02 – Onde Jacinto passou a maior parte de sua vida?

      Jacinto passou a maior parte de sua vida em um palácio em Paris, nos Campos Elísios, nº 202.

03 – Qual era a visão inicial de Jacinto sobre a felicidade?

      Jacinto acreditava que a felicidade superior só podia ser alcançada por um homem superiormente civilizado, ou seja, alguém que acumulasse todo o conhecimento disponível e utilizasse todos os avanços tecnológicos.

04 – Como Jacinto associava a civilização com a cidade?

      Para Jacinto, a civilização estava intrinsecamente ligada à vida na cidade, onde os mecanismos do progresso, como mercados, bancos, fábricas, bibliotecas e infraestruturas modernas, estavam em pleno funcionamento.

05 – Qual era a relação de Jacinto com a natureza no início do romance?

      Jacinto se sentia desconfortável na natureza, vendo-a como um ambiente onde suas capacidades superiores se tornavam inúteis, e onde ele se sentia isolado e frágil.

06 – Como Jacinto reagiu à notícia da destruição da capela de sua família em Tormes?

      Jacinto ficou profundamente abalado com a destruição da capela e dos túmulos de seus antepassados e imediatamente ordenou que as obras de reconstrução fossem realizadas, mostrando um senso de responsabilidade e reverência pela memória de sua família.

07 – O que levou Jacinto a decidir visitar Tormes?

      Jacinto decidiu visitar Tormes para supervisionar pessoalmente a trasladação dos restos mortais de seus avós para a capela reconstruída, motivado por um senso de decência e elegância moral.

08 – Como Jacinto mudou sua percepção da vida na cidade ao longo do tempo?

      Jacinto começou a sentir-se desiludido com a vida na cidade, percebendo a brutalidade e a repetição monótona do progresso urbano, o que contrastava com sua antiga adoração pela civilização urbana.

09 – Como Jacinto encontrou equilíbrio entre a vida na cidade e no campo?

      Jacinto encontrou equilíbrio ao aceitar alguns aspectos do progresso (como o telefone) em Tormes, mas sem permitir que a civilização urbana invadisse completamente sua vida rural. Ele adotou uma vida simples e focada na natureza, mas com toques de modernidade que considerava úteis.

10 – Qual foi o resultado final da transformação de Jacinto em Tormes?

      Jacinto alcançou um equilíbrio harmonioso entre a vida simples do campo e os confortos da civilização, tornando-se um homem feliz e realizado, ao contrário do que era em Paris, onde era o "Príncipe sem Principado".

 

 

POEMA: ODE TRIUNFAL - (FRAGMENTO) - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: ODE TRIUNFAL – Fragmento

             Fernando Pessoa

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica  

Tenho febre e escrevo.  

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. 

[...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5-Ac7AoqW6PdRIqxJdxNM0lSSKnValCATLuqZ2c1A3L6v1DVQXrE0J3TxgkR5RHnZZBKcgBcsn-S4tSEw-vNxwRi6bVtOe3bgJtK1c1RDp_i6EdIaTxMvuWPM35h4MGo3eyvmm2oYk0CbJsnAmdA2_6O2yI1igodP5Dh_913lgBiFy30PzziMcHQ2HWU/s320/LAMPADA.jpg


Eia comboios, eia pontes, eia hotéis, à hora do jantar

Eia aparelhos de todas as espécies, ferros, brutos, mínimos,

Instrumentos de precisão, aparelhos de triunfar, de cavar,

Engenhos, brocas, máquinas rotativas!

 

Eia! eia! eia!  

Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!  

Eia telegrafia sem fios, simpatia metálica do Inconsciente!  

Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!  

Eia todo o passado dentro do presente!  

Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!  

Eia! eia! eia!  

Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!  

Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!  

Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.  

Engatam-me em todos os comboios.  

Içam-me em todos os cais.  

Giro dentro das hélices de todos os navios.  

Eia! Eia-hô eia!

Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade! 

[...]

PESSOA, Fernando. Ode Triunfal. In: Pessoa, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000011.pdf. Acesso em: 6 jun. 2020.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 200.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal tema abordado no poema "Ode Triunfal – Fragmento"?

      O poema aborda o triunfo da modernidade e da industrialização, exaltando as máquinas, a eletricidade, e o progresso tecnológico. O eu lírico celebra o poder transformador da modernidade, ainda que essa transformação venha acompanhada de uma sensação de febre, inquietação e alienação.

02 – Como o eu lírico se relaciona com a modernidade no poema?

      O eu lírico se mostra fascinado pela modernidade, descrevendo-a com entusiasmo e reverência. Ele sente-se integrado à maquinaria moderna, ao ponto de se identificar com o calor mecânico e a eletricidade. No entanto, há também um tom de febre e frenesi, sugerindo um certo desconforto ou alienação diante do ritmo acelerado da industrialização.

03 – Como o poeta contrasta o passado e o presente no poema?

      O poeta contrasta o passado e o presente ao exaltar a modernidade como algo totalmente desconhecido pelos antigos. Através da repetição da palavra "eia", ele celebra os avanços tecnológicos e a nova realidade, ao mesmo tempo em que afirma que todo o passado está contido no presente e que o futuro já está sendo gestado no agora.

04 – O que simboliza a eletricidade no poema?

      A eletricidade simboliza a energia vital e dinâmica da modernidade, sendo descrita como os "nervos doentes da Matéria". Ela representa o poder transformador e onipresente da tecnologia moderna, que permeia e altera todos os aspectos da vida cotidiana.

05 – Qual é o tom predominante no poema e como ele reflete a visão do eu lírico sobre o progresso?

      O tom predominante é de exaltação e entusiasmo, com um ritmo quase frenético. Esse tom reflete a visão ambígua do eu lírico sobre o progresso: por um lado, ele celebra o avanço tecnológico e o poder da modernidade; por outro, esse entusiasmo é tingido por uma sensação de febre e alienação, sugerindo que o progresso traz consigo uma desumanização ou perda de identidade.