quarta-feira, 28 de agosto de 2024

POEMA: ODE TRIUNFAL - (FRAGMENTO) - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: ODE TRIUNFAL – Fragmento

             Fernando Pessoa

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica  

Tenho febre e escrevo.  

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. 

[...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5-Ac7AoqW6PdRIqxJdxNM0lSSKnValCATLuqZ2c1A3L6v1DVQXrE0J3TxgkR5RHnZZBKcgBcsn-S4tSEw-vNxwRi6bVtOe3bgJtK1c1RDp_i6EdIaTxMvuWPM35h4MGo3eyvmm2oYk0CbJsnAmdA2_6O2yI1igodP5Dh_913lgBiFy30PzziMcHQ2HWU/s320/LAMPADA.jpg


Eia comboios, eia pontes, eia hotéis, à hora do jantar

Eia aparelhos de todas as espécies, ferros, brutos, mínimos,

Instrumentos de precisão, aparelhos de triunfar, de cavar,

Engenhos, brocas, máquinas rotativas!

 

Eia! eia! eia!  

Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!  

Eia telegrafia sem fios, simpatia metálica do Inconsciente!  

Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!  

Eia todo o passado dentro do presente!  

Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!  

Eia! eia! eia!  

Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!  

Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!  

Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.  

Engatam-me em todos os comboios.  

Içam-me em todos os cais.  

Giro dentro das hélices de todos os navios.  

Eia! Eia-hô eia!

Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade! 

[...]

PESSOA, Fernando. Ode Triunfal. In: Pessoa, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000011.pdf. Acesso em: 6 jun. 2020.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 200.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal tema abordado no poema "Ode Triunfal – Fragmento"?

      O poema aborda o triunfo da modernidade e da industrialização, exaltando as máquinas, a eletricidade, e o progresso tecnológico. O eu lírico celebra o poder transformador da modernidade, ainda que essa transformação venha acompanhada de uma sensação de febre, inquietação e alienação.

02 – Como o eu lírico se relaciona com a modernidade no poema?

      O eu lírico se mostra fascinado pela modernidade, descrevendo-a com entusiasmo e reverência. Ele sente-se integrado à maquinaria moderna, ao ponto de se identificar com o calor mecânico e a eletricidade. No entanto, há também um tom de febre e frenesi, sugerindo um certo desconforto ou alienação diante do ritmo acelerado da industrialização.

03 – Como o poeta contrasta o passado e o presente no poema?

      O poeta contrasta o passado e o presente ao exaltar a modernidade como algo totalmente desconhecido pelos antigos. Através da repetição da palavra "eia", ele celebra os avanços tecnológicos e a nova realidade, ao mesmo tempo em que afirma que todo o passado está contido no presente e que o futuro já está sendo gestado no agora.

04 – O que simboliza a eletricidade no poema?

      A eletricidade simboliza a energia vital e dinâmica da modernidade, sendo descrita como os "nervos doentes da Matéria". Ela representa o poder transformador e onipresente da tecnologia moderna, que permeia e altera todos os aspectos da vida cotidiana.

05 – Qual é o tom predominante no poema e como ele reflete a visão do eu lírico sobre o progresso?

      O tom predominante é de exaltação e entusiasmo, com um ritmo quase frenético. Esse tom reflete a visão ambígua do eu lírico sobre o progresso: por um lado, ele celebra o avanço tecnológico e o poder da modernidade; por outro, esse entusiasmo é tingido por uma sensação de febre e alienação, sugerindo que o progresso traz consigo uma desumanização ou perda de identidade.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário