quinta-feira, 15 de outubro de 2020

CONTO: TALISMÃ - IVAN ÂNGELO - COM GABARITO

 Conto: Talismã

               Ivan Ângelo

     Eu não teria seguido o homem pelas ruas nem presenciado as coisas que fez acontecer à sua passagem se ele não levasse sua flor – uma só, de longo caule, três folhas viçosas, vermelha: cravo –, se não a levasse com extremo cuidado, como coisa mais preciosa do que flor. Logo percebi que a estranheza do próprio homem contaminava a cena toda. Na cabeça, chapéu, cavanhaque, suíças, bigodes. Vestia um paletó justo de casimira cinza escura, colete de seda creme, jabô em vez de gravata, calças listradas de cós muito alto. Calçava borzeguins e polainas. Parecia ter saído de uma fotografia antiga e não tinha como voltar.

        As duas coisas juntas, a figura e o jeito como levava sua flor, não pareciam perturbar as outras pessoas, que passavam por elas como se aquilo acontecesse todos os dias às cinco horas da tarde de suas vidas. Indiferente por sua vez às pessoas, ele atravessava a avenida central com aquele seu jeito de não saber como se leva uma flor. O que o fazia diferente das outras pessoas que levavam flores era a concentração: ele mais tomava conta do que levava. Segurava-a na metade do caule com três dedos da mão esquerda; a mão direita, um pouco em concha, protegia-a. Como se fosse uma vela acesa! – era isso. O homem levava a flor como habitualmente se leva uma vela acesa: defendendo, prestando atenção, olhando a chama.

        Se fosse um buquê de rosas, uma corbelha, talvez não parecesse estranho, pode ser que eu não o tivesse percebido, ou que o considerasse apenas um desses atores sem emprego que hoje em dia levam mensagens vivas a um aniversariante. Se levasse uma rosa frágil, despetalável, talvez parecesse natural protege-la com tanto cuidado. Mas um cravo vermelho, taludo, viçoso... um só...

        Sem perceber, fui sendo envolvido, fui-me entrosando num curso de vida que não era o meu, não era o das coisas que me diziam respeito. Coisa feita: estava espreitando um homem que surpreendera num momento de exceção, invadia um outro mundo. Se ele fizesse um gesto banal, se cheirasse a flor, por exemplo, eu me libertaria: ah, é um homem qualquer com uma flor qualquer. Mas não: ele se movimentava com um encanto calculado, como um ator, e era eu a plateia. Ninguém mais parecia interessado. Diabos e anjos sabem para quem aparecem.

        Na tentativa de incluí-lo no mundo corriqueiro, costurei hipóteses. Enterro. Impossível: flor vermelha, uma só, um sorriso invisível. Namorada. Ia leva-la para uma namorada. Improvável: um homem com seu estilo mandaria um buquê, por mensageiro. Presente para a namorada. Possível, mas... um homem de uns sessenta anos, com aquelas roupas, parecia ridículo ou fora do papel se estivesse protegendo como preciosidade uma simples flor de namorada. Nada, nele, parecia ridículo. Bizarro, mas não ridículo. Levava-a para a esposa. Hipótese inadequada: maridos sabem que esposas não se contentam com um cravo único, querem buquê, e de rosas.

        Pode ser que à sua passagem já estivessem acontecendo pequenas mudanças de ordem, antes que eu percebesse, alterações imperceptíveis a olhos descuidados, como os meus até então, atentos mais à figura do que às suas circunstâncias. Quando me dei conta de que o sinal de trânsito abrira para ele e para os outros pedestres em tempo rapidíssimo, e que um segundo antes o homem como que erguera rapidamente o cravo e deixara de protege-lo por um momento, senti um arrepio e suspeitei que ele tinha feito aquilo acontecer, tinha apressado o sinal de pedestres. Suspeitei mais: que coisas como aquelas já vinham acontecendo e eu tinha me recusado a ver.

        Entrou em uma confeitaria. Lotada. Pude ver seus olhos a percorrer a vitrina, a lambiscar tortinhas, sequilhos, docinhos, à procura. Olhos cinzentos, como os de um cão siberiano. Mal encontrou – com um ah! – o que queria, materializou-se uma balconista solícita e saiu levando uma sacolinha pendurada no dedo, antes dos que já estavam lá há mais tempo. Na calçada, por onde eu tinha de avançar aos encontrões, davam-lhe caminho, gentis. Rostos preocupados desanuviavam-se à sua passagem. Parou aparentemente para prender as presilhas da polaina próxima a uma mendiga que amamentava um bebê mulato raquítico. O ritmo dos passantes, a pressa, o rumo, aparentemente não se alteravam, mas algo inusitado começou a acontecer naquele momento: atarefadas como abelhas, e com naturalidade como se fizessem aquilo todos os dias, as pessoas encheram em alguns instantes a cuia da mulher de moedas, anéis, notas altas. O homem da flor seguiu seu caminho depois de arrumar os sapatos, aparentemente alheio àquilo tudo. Andava com agilidade e graça diferentes da pressa cansada dos citadinos vesperais em fim de jornada. Novos eventos inesperados aconteciam no seu caminho. Um ônibus que atropelou um rapazinho e ia passando por cima dele parou de repente, travou, quebrou. A buzina do carro de um gorducho irritado com o trânsito que parou atrás do ônibus emudeceu contra a vontade dele. Desprovido da sua arma, o gorducho passou a dar socos no miolo do volante. Não aconteceu só com ele: nenhuma buzina soava. O rapazinho se levantou, reanimado, e tudo voltou a andar, junto. Ninguém parecia perceber que não havia acaso nesses acontecimentos. Sem dar na vista, o homem da flor com certeza se divertia pelo lado de dentro.

        Parou numa esquina, olhou para os três lados, não sei se escolhendo milagres ou rumo. Seus olhos siberianos cruzaram com os meus tropicais e os prenderam por um breve momento. Vamos?, ele disse. Obrigado, eu disse. No tempo entre essas duas falas algo que me escapa se passou. Tive a impressão de estar de volta quando disse obrigado. Só uma impressão. Não havia nada nada nada de que eu lembrasse ou que o indicasse. Como se voltasse de uma distração. Depois desse momento, algo mudou em mim. Não tenho mais medo do destino ou do futuro, não sinto mais a angústia que irmana os homens. Nada de ruim acontece realmente com bilhões e bilhões de pessoas, nada que piore verdadeiramente suas vidas ou as faça sofrer mais do que estão habituadas a suportar, mas elas não sabem que é assim que vai ser. A diferença entre mim e elas, que me torna um pouco humano, é que eu sei que nada de ruim vai me acontecer. Desde aquele dia.

        Naquela esquina, às cinco horas da tarde do centro da cidade de São Paulo, o homem sorriu para mim discretamente e levantou a mão com a flor. Um táxi parou, como se produzido por aquele gesto. Antes de entrar no táxi, despediu-se com um aceno de cabeça e, num exagero de mágico, ultima graça antes de deixar o picadeiro, jogou para o ar sua flor, que se transformou em pássaro e desapareceu no céu, em gracioso voo.

             Ivan Ângelo. O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática, 1994.

Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 94-8.

Entendendo o conto:

01 – Escreva no caderno que perguntas você se fez durante a leitura do texto.

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Sente-se com dois ou três colegas e discutam as resposta possíveis às questões que cada um levantou durante a leitura.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O conto “Talismã” foi escrito em primeira pessoa. A forma como o narrador está inserido na cena pode ser representada por apenas uma das ideias a seguir:

a)   Uma pessoa contando para a outra o que conversou com um amigo.

b)   Uma pessoa comentando com outra o próprio comportamento.

c)   Uma pessoa contando detalhes do comportamento de outra.

d)   Uma pessoa descrevendo todos os movimentos e sensações de outra.

04 – É pelo olhar do narrador que testemunhamos as cenas. No caderno, façam uma síntese de cada parágrafo do conto. Destaquem com suas palavras os principais elementos dessas cenas, reconstruindo o percurso narrativo. Se necessário, deem suas impressões sobre esses elementos:

      Resposta pessoal do aluno. Sugestões:

·        Parágrafo 1 = O narrador resolveu seguir um homem porque ele carregava um cravo com cuidado e vestia-se com roupas antigas.

·        Parágrafo 2 = O homem, indiferente às pessoas que passavam por ele, levava a flor protegendo-a, como se ela fosse uma vela.

·        Parágrafo 3 = O narrador comenta que o modo delicado de levar uma flor tão viçosa como um cravo lhe causou admiração.

·        Parágrafo 4 = O narrador sente-se envolver pelos movimentos aparentemente calculados do homem e isso o surpreende.

·        Parágrafo 5 = O narrador conta as hipóteses que levantou para tentar tornar o homem mais comum e justificar seu gesto solene com a flor.

·        Parágrafo 6 = O narrador suspeita que o homem é capaz de fazer com que as coisas aconteçam de acordo com o seu desejo.

·        Parágrafo 7 = O narrador nota de modo mais claro a sequência de eventos inesperados e favoráveis ocorridos com a passagem do homem.

·        Parágrafo 8 = O narrador trava um rápido, mas profundo contato com o homem. Isso o transforma e lhe dá a certeza de que nada de ruim vai lhe acontecer.

·        Parágrafo 9 = O homem sorri para o narrador, lança para o ar a flor, que se transforma em um pássaro.

05 – Em que parágrafo o narrador passa a observar a influência do homem sobre os acontecimentos à sua volta?

      No sexto parágrafo.

06 – No caderno, relacionem todas as alterações ocorridas por influência da passagem do homem que carregava a flor.

      Ele apressou o sinal dos pedestres; em uma confeitaria, uma balconista apareceu assim que ele escolheu o doce; as pessoas davam-lhe passagem de maneira gentil; rostos preocupados desanuviavam-se a sua passagem; pessoas encheram a cuia de uma mendiga com notas altas e objetos de valor; um ônibus travou no momento em que passaria por cima de um rapazinho que atropelara; a buzina de um motorista irritado com o ônibus emudeceu; o rapazinho atropelado levantou-se, refeito; após cruzar os olhos com os olhos do homem, o narrador percebeu uma profunda transformação em seu ser.

07 – Para o narrador, os eventos que testemunhou são extraordinários porque rompem a ordem previsível dos fatos.

a)   Diante das mesmas situações narradas, o que se poderia esperar que acontecesse?

As dificuldades naturais enfrentadas pela maioria das pessoa, como muito tempo de espera, falta de gentileza, comportamentos egoístas, mesquinhos ou mesmo a morte do rapaz atropelado, caso o ônibus passasse por cima dele.

b)   Que comportamentos extraordinários, surpreendentes, portanto, são observados pelo narrador?

O narrador observa a bondade, a gentileza, a simpatia e a solução positiva de um evento que poderia ser transformado em tragédia.

c)   Baseando-se nas respostas dadas aos itens anteriores, concluam: Os eventos observados pelo narrador são mágicos, ou seja, só poderiam ocorrer por meio de uma interferência sobrenatural?

Não são mágicos esses eventos; ao contrário, eles são realmente possíveis, no entanto, não são comuns, daí a admiração do narrador por eles.

d)   Na opinião de vocês, o que faz o narrador acreditar ser aquele homem com um flor o responsável por todos os eventos a sua volta?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O narrador impressionado com o jeito de ser do homem, passa a enxergar a bondade das pessoas, gestos que talvez ele nunca tivesse notado.

08 – O narrador percebe uma transformação depois que seus olhos cruzaram com os do homem. Que transformação é essa?

      O narrador deixa de ter medo do destino ou do futuro por ter ganhado a certeza de que nada de ruim poderia acontecer a ele.

09 – Segundo a lógica do trecho abaixo, o que seria mais humano?

        “A diferença entre mim e elas, que me torna um pouco humano, é que eu sei que nada de ruim vai me acontecer. Desde aquele dia.”

      O medo, a angústia diária por causa das incertezas da vida.

10 – De acordo com o texto, o que você leu sobre talismãs. Então, responda:

a)   Que poderes uma pessoa que acredita em um talismã imagina que esse objeto tem?

O poder de dar sorte, de levar a fazer as escolhas certas, de evitar que algum mal lhe aconteça.

b)   No texto, a que elemento é atribuído o poder de talismã? Justifique sua resposta.

No texto, à flor foi atribuído o poder de talismã; primeiro porque ela é levada com imenso cuidado, com grande solenidade, depois, porque um evento mágico é atribuído a ela, sua transformação em um pássaro.

c)   O narrador conta que se transformou após cruzar o olhar com o do homem da flor. Na sua opinião, a confiança depositada em um objeto ou em um acontecimento pode realmente promover uma mudança na forma de enxergar a realidade?

Resposta pessoal do aluno.

d)   A que deve ser atribuída essa mudança suave, mas tão significativa na vida do narrador?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pode ser atribuída ao elemento mágico (a flor) e ao homem pela confiança que o narrador passou a ter nas circunstâncias e em si mesmo após ter cruzado seus olhos com os dele.

 

CONTO: NÃO É POR INVEJA - IVANIR CALADO - (ÂNGELA CARNEIRO) -COM GABARITO

 Conto: Não é por inveja

    Ivanir Calado

        Vicente é meu melhor amigo.

        Mas nem isso vai me impedir de cortar sua garganta assim que entrar naquele salão. [...] Observo da esquina do corredor, enquanto ele gira a chave e abre a porta, depois de olhar para os dois lados; parece que tem medo de estar sendo seguido. Parece que sente... culpa.

        [...]

        Assim que encontrei Vicente, na terceira série do primeiro grau, me tornei uma espécie de herói para ele. Era a primeira semana de aula, e eu ainda não conhecia ninguém naquela escola. Mesmo assim resolvi interferir quando os três garotos mais velhos o encurralaram no muro, arrancaram sua merenda das mãos e começaram a gritar ameaças. Eu também só tinha oito anos, como ele, mas meu tamanho fazia aparentar muito mais. Acabei resolvendo a questão num instante, e a partir daquele dia Vicente e eu passamos a ser vistos sempre juntos.

        A princípio o seu brilho pessoal não me incomodava. Certo, ele era o mais inteligente da sala, o mais simpático, o mais engraçado, o mais talentoso; mas também era o menor, o que mais sofria na mão dos truculentos, e era eu quem o salvava das enrascadas.

        E Vicente não se cansava de dizer que eu era o sujeito mais incrível que ele conhecia.

        Mesmo assim, aos poucos a postura de herói já não me bastava. Eu queria receber os olhares de admiração dos professores, queria provocar gargalhadas com frases aparentemente vindas do nada, queria... queria ser como Vicente.

        Comecei a estudar feito um louco. Aos doze anos deixava de ir ao cinema para me preparar para as provas, passava domingos inteiros trancado no quarto, lendo enciclopédias [...].

        Claro que em pouco tempo eu também me destacava na sala: passei a ser o segundo melhor aluno. É claro que o primeiro era o Vicente.

        E o que mais me irritava era quando, depois das provas de segunda-feira, ele ficava o recreio inteiro contando os filmes que tinha visto, a tarde de domingo que havia passado brincando na rua.

        Não era justo. Vicente nem ao menos estudava!

        Aos dezesseis anos nos apaixonamos pela mesma garota [...]

        Quando resolvemos conversar a respeito, ele foi compreensivo [...] Dá pra suportar uma coisa dessas? Ele dizia, com aquela voz tranquila e sem um pingo de condescendência:

        -- Vai lá, você tem mais jeito com as garotas, é maior, mais boa-pinta. De qualquer modo, ela nem deve saber que eu existo. Você é que é o galã.

        Era verdade. Naquela época eu já havia namorado um bocado de meninas [...] Vicente, com seu jeito magrelo e miúdo, conseguia fazer com que elas rissem de verdade, mas nunca era levado a sério.

        Como é que eu ia saber que Eliana preferia um cara divertido a um cara experiente? [...] Tentei todas as abordagens. Usei meu repertório de cultura enciclopédica quando percebi que ela não se abalava com músculos, citei poetas e músicos [...]

        Vicente tentou ajudar. Evitava falar com ela, lançava olhares de desculpa para o meu lado quando Eliana só se interessava pelas coisas que ele dizia, centenas de vezes tentou me convencer de que ela se interessava por mim. Bobagem. Depois de um mês de tentativas abri o jogo:

        -- Não adiante. Ela tá a fim de você. Não precisa fingir nem tentar defender a minha campanha.

        Durante quase um ano suportei ver os dois abraçados pelos cantos da escola, e foi com alívio que recebi a notícia de que ela iria fazer vestibular numa faculdade em São Paulo, para onde sua família estava se mudando.

        Eu passei em segundo lugar para o curso de física.

        Vicente foi o primeiro.

        Claro.

        Já não existiam os caras mais velhos que perturbavam Vicente. [...] Mesmo assim ele continuava me chamando de herói.

        Isso começou a me dar nos nervos. Nunca tocamos no assunto, claro, mas pouco a pouco fui percebendo que o ar de admiração da infância havia se transformado numa espécie de ironia dissimulada. Quando ele falava “herói”, havia sempre uma sombra de riso nos olhos. Acho que eu deveria ter aberto o jogo. Deveria ter dito que não queria mais esse tipo de tratamento; afinal de contas nós éramos adultos. [...]

        O tempo da faculdade ia terminando, e nós pretendíamos fazer o doutorado juntos. Havia algumas ideias revolucionárias que Vicente “intuíra” durante o curso, e nós decidimos aprofundá-las no mestrado e no doutorado. (Claro que você, ouvinte inexistente, percebeu que eu falei de intuição. Vicente continuava não estudando praticamente nada. Deixava trabalhos para a última hora; resolvia no metrô, no dia da entrega, exercícios que eu tinha passado meses ralando para decifrar. Não estava direito).

        Ele continuou dizendo que precisava de mim. E era verdade. Eu tinha paciência para gastar noites inteiras diante do computador, refazendo cálculos, programando equações e gráficos, trazendo para o plano concreto as impressões fugares que ele rabiscava distraído na toalha do bar [...].

        Mas era um trabalho importante. Sem mim, ele jamais obteria respeito, jamais passaria de um sonhador desligado do mundo. E por isso nunca senti inveja.

        É verdade. Nem no ano passado, quando esqueci totalmente do meu aniversário, depois de três dias e duas noites trancado na sala dos computadores. Ao sair, mais uma vez trazendo a confirmação das fantasias de Vicente, ele me esperava no bar, com uma torta de frutas e rum sobre a mesa manchada – como sempre.

        Vicente é meu amigo, meu melhor amigo.

        O canivete está gelado no bolso da calça. Minha mão também. Vicente entra no salão.

        Tenho de ser rápido, daqui a pouco virão todos os outros, se eu não agir logo ele destruirá minha vida. Contará ao mundo, receberá as glórias sozinho. Preciso aproveitar este momento a sós [...]

        Admito que as primeiras ideias foram dele. [...] Sei que ele estabeleceu o ponto de partida e determinou as soluções mais importantes. Mas Vicente não poderia ter feito isso comigo. Não poderia reunir as principais figuras da universidade e informar sozinho, sem nem mesmo me avisar, que estavam resolvidos todos os problemas da viagem acima da velocidade da luz. [...]

        Por isso o canivete pulsa em meu bolso. Por isso eu sei que preciso agir. Não é por inveja.

        Ele entra no salão. ...] A porta começa a se fechar atrás dele.

        Há duas semanas percebi que ele tramava alguma coisa, mas demorei a descobrir o que era. Tenho passado muito tempo no computador, envolvido com os últimos cálculos de empuxo hiper-gravitacional; é difícil colocar a mente em qualquer outra coisa. [...] Senti um arrepio ao percebê-lo cochichando no ouvido do sub-reitor [...]

         Instantaneamente meu cérebro começou a trabalhar em multitarefa. Ao mesmo tempo em que acompanhava as fileiras de números na tela e comandava os dedos sobre o teclado, prestava atenção ao que se passava atrás de mim. Tenho certeza de que o sub-reitor respondeu com um risinho abafado, muito baixo. [...]

        Durante a semana passada a coisa se intensificou. A parte teórica do projeto estava completa, faltavam apenas alguns detalhes técnicos e de pouca importância, e nós já conversávamos sentindo a tranquilidade da tarefa cumprida. Mas Vicente agia de modo cada vez mais estranho. Num intervalo de dois dias percebi que ele cochichava com mais cinco figuras importantes da instituição. O motivo para tanto segredo começava a criar forma na minha cabeça, mas eu me recusava a admitir. Vicente era meu amigo, meu melhor amigo. Não agiria assim.

        Resolvi fazer um teste e força-lo a um posicionamento. Anteontem, depois de dar forma final às últimas equações, fiquei de costas para o computador e o encarei. Acho que consegui meu melhor sorriso, mas por dentro tremia inteiro.

        -- Pronto, Vicente. Acho que está na hora de fazer uma reunião com o conselho universitário. A gente já pode informar oficialmente os resultados e marcar a primeira publicação.

        Parecia que ele tinha levado um tiro. [...]

        -- Acho que a gente deveria esperar mais um pouco.

        -- Esperar o quê? – Minha voz saiu um pouco irritada, mas eu também me controlei. Se o que eu pensava era verdade, aquela não seria uma guerra insignificante. Eu não poderia perder o controle sem motivo. Ele reagia rápido, mas eu o conheço há muito tempo [...]

        -- Vamos fazer mais uma revisão geral. Em duas semanas a gente analisa tudo, e depois podemos marcar a reunião.

        Não fazia sentido. Nós já tínhamos revisado tudo um milhão de vezes, era bobagem adiar.

        E os cochichos continuavam. Naquele mesmo dia ele foi almoçar mais cedo. Quando cheguei ao restaurante, Vicente estava sentado com o próprio reitor! Não era o estilo dele. E quando os dois me viram, ficaram sem jeito [...]

        Não podia haver mais dúvidas. Ele estava planejando puxar o meu tapete. Iria fazer a declaração sozinho.

        Claro que seria impossível me deixar totalmente fora dos créditos. Todo mundo sabia que nós trabalhamos juntos no projeto, mas fazer a primeira declaração sozinho iria, sem dúvida, colocá-lo como o principal responsável pelas descobertas.

        Comecei a fazer minhas investigações. No final da tarde de anteontem e durante todo o dia de ontem sondei as pessoas mais variadas. Todas pareciam fazer parte do jogo, fingiam não saber do que eu estava falando, mas duas ou três disseram um pouco mais do que deviam. Fui à secretaria e não tive dificuldade para descobrir que Vicente havia reservado o salão para hoje às duas e meia da tarde.

        Ele já entrou. São duas horas. Daqui a quinze minutos os outros começarão a chegar. Ando rapidamente até a porta e ao mesmo tempo puxo o canivete. A lâmina se abre com facilidade – exatamente como treinei a noite inteira.

        A decisão foi difícil. Primeiro precisei ter certeza de que não estava movido pela inveja. Boa parte da noite foi gasta com raciocínios tortuosos, mas ao mesmo tempo em que afiava a lâmina eu ganhava a certeza: era pela indignação, pela injustiça. Vicente não podia ter feito isso comigo, depois de tudo que passamos juntos. Ele diz que eu ainda sou seu herói, mas ninguém faz uma coisa dessas com o herói da infância. Estou agindo de consciência limpa. Vou matá-lo porque ele traiu não somente o espírito comunitário da ciência, mas porque traiu uma amizade de vinte anos. Tenho certeza: não é por inveja.

        Empurro a porta. Esquisito, o salão está escuro. Talvez ele vá testar o equipamento de projeção. A luz fraca vinda do corredor espalha uma leve penumbra.

        Suficiente para que eu perceba Vicente.

        Ele está de pé, no centro do salão.

        Ouço um barulho fraco, algo se arrastando, ou um chiado.

        Não posso perder tempo, logo os outros vão chegar. O canivete parece pegar fogo em minha mão.

        [...]

        Agarro-o por trás, com o braço esquerdo. O canivete está na mão direita.

        As luzes se acendem de súbito, brancas, ofuscantes. [...] Um barulho confuso explode em meus ouvidos. Será que ouvi direito?

        Serão aplausos?

        Minha mão interrompe o movimento a milímetros do pescoço dele. O pensamento é rápido, o punho se abre e deixa o canivete escorregar para dentro da manga do paletó, parando perto do cotovelo. O gesto se completa. Estou abraçando Vicente por trás, um abraço de amigo de infância, de herói.

        Todo o corpo científico da universidade, as secretárias, o reitor e o sub-reitor abrem sorrisos enormes debaixo da faixa estendida e enfeitada com balões de todas as cores. As palavras invadem meus olhos e explodem como uma supernova: feliz aniversário, Rodrigo. Parabéns pelo grande feito!

        Vicente se vira e me devolve o abraço.

        -- Tinha certeza de que você esqueceria outra vez. [...]

        [...] Desço o braço direito pelas costas de Vicente e enfio a mão no bolso, tentando impedir que o canivete caia no chão. Com a prática adquirida ontem à noite, fecho a lâmina e deixou-o se acomodar entre as dobras de tecido. Levanto novamente a mão, agora para cobrir o rosto. Estou chorando, pode uma coisa dessas? [...] Enquanto os outros me abraçam, Vicente prepara o projetor. Em seguida me chama ao pódio, me segura pelos ombros e começa a fazer a declaração que mudará os destinos da humanidade.

        -- Rodrigo é meu herói. Ele é a pessoa mais importante na descoberta que passaremos a detalhar em seguida.

        O canivete pesa uma tonelada em meu bolso.

Ângela Carneiro et alii. A inveja. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 54-60.

Entendendo o conto:

01 – Como já vimos, o enredo de um conto compõe-se dos seguintes momentos:

·        Apresentação (situação inicial).

·        Complicação ou conflito.

·        Clímax (situação de transformação).

·        Desfecho (situação final).

Apresente em poucas linhas o enredo do conto lido.

      Rodrigo, o narrador-personagem, pretende matar Vicente, seu melhor amigo, pois acredita que ele apresentará sozinho um trabalho científico importantíssimo desenvolvido pelos dois. Segundos antes de cometer o crime, Rodrigo é surpreendido por uma festa de aniversário e pelo reconhecimento de toda a universidade à descoberta realizada pela dupla. O responsável por tudo aquilo é o amigo do qual ele tanto desconfiara.

02 – Geralmente o conflito surge das diferenças entre as personagens envolvidas no drama. Para chegar ao conflito, portanto, é necessário buscar como foram apresentadas essas diferenças. Para isso será importante reconstituir a amizade entre Rodrigo e Vicente.

a)   Em que situação eles se conheceram?

Na escola; Vicente estava sendo encurralado no muro por três garotos mais velhos, e Rodrigo protegeu-o.

b)   A partir desse momento, como Vicente se refere ao amigo Rodrigo, como o vê?

Com admiração; enxerga Rodrigo como um herói, como uma pessoa incrível: “o sujeito mais incrível que ele conhecia”.

c)   E Rodrigo, como se comporta à medida que conhece melhor Vicente?

Rodrigo busca fazer tudo o que o amigo faz e deseja ter destaque pelas mesmas razões que o amigo tem: “[...] queria ser como Vicente”.

03 – Compare os trechos transcritos do texto nas duas etapas a seguir:

1ª etapa:

·        A princípio o seu brilho pessoal não me incomodava.

·        Eu [...] queria ser como Vicente.

·        Não era justo. Vicente nem ao menos estudava!

·        Durante quase um ano suportei ver os dois abraçados pelos cantos da escola [...]

·        Vicente foi o primeiro. Claro.

·        Vicente continuava não estudando praticamente nada. Deixava trabalhos para a última hora; resolvia no metrô, no dia da entrega, exercícios que eu tinha passado meses ralando para decifrar. Não estava direito.

2ª etapa:

·        [...] Vicente não poderia ter feito isso comigo. [...] Por isso o canivete pulsa em meu bolso. Por isso eu sei que preciso agir. Não é por inveja.

·        Mas era um trabalho importante. Sem mim, ele jamais obteria respeito, jamais passaria de um sonhador desligado do mundo. E por isso nunca senti inveja.

·        A decisão foi difícil. Primeiro precisei ter certeza de que não estava movido pela inveja.

·        Vou matá-lo porque ele traiu não somente o espírito comunitário da ciência, mas porque traiu uma amizade de vinte anos. Tenho certeza: não é por inveja.

a)   Com base nos trechos da primeira etapa, responda: Que visão Rodrigo (o narrador-personagem) demonstra ter de si mesmo?

Rodrigo julga precisar se esforçar muito mais que Vicente para conseguir alcançar os mesmos objetivos. Pensa ser sempre desfavorecido em relação ao amigo.

b)   Preste atenção aos trechos destacados na segunda. Essas afirmações de Rodrigo podem ser consideradas contraditórias se relacionadas aos trechos da primeira coluna? Explique sua resposta.

Sim. Rodrigo queria ser como Vicente, queria fazer coisas tão boas quanto ele e gozar do mesmo prestígio, da mesma admiração. Ele afirma não sentir inveja, mas suas reações contradizem suas palavras.

c)   Conclua: Esse quadro (etapa) representa o embate entre duas personagens ou o conflito entre uma personagem e seus sentimentos contraditórios? Justifique sua resposta.

Embora o conto apresente duas personagens, fica claro que o conflito é gerado por uma personagem apenas (Rodrigo) e seus sentimentos contraditórios.

04 – Relacione as informações levantadas até agora e apresente o conflito do conto.

        O conflito do conto encontra-se no sentimento de inveja, que gerou uma grande desconfiança de um amigo em relação ao outro.

05 – Releia o início do conto:

        “Vicente é meu melhor amigo.

         Mas nem isso vai me impedir de cortar sua garganta assim que entrar naquele salão.”

        Para justificar o desejo de matar o melhor amigo, o narrador fez um levantamento dos indícios de traição no comportamento de Vicente. Releia o texto do início até momentos antes de Rodrigo ser surpreendido coma festa. Em seu caderno, reproduza um quadro mostrando: Comportamentos que Vicente costumava ter com o amigo e Indícios da traição de Vicente levantados por Rodrigo.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Segundo o especialista em produção de textos Othon Garcia, fatos não se discutem, mas opiniões sim. Ele diz, porém, que os fatos em si nem sempre bastam para que a prova seja válida. Para validar uma prova, é necessário que a apuração dos fatos seja rigorosa, relevante e digna de crédito. Rodrigo não tinha razão para desconfiar de Vicente. Explique essa afirmação com base nas informações do Comportamentos que Vicente costumava ter com o amigo. Da questão 05.

        Durante todo o tempo, Vicente apenas deu provas de amizade a Rodrigo, não tomou uma atitude sequer que sugerisse necessidade de levar vantagem sobre o amigo.

07 – Analise os Indícios da traição de Vicente levantados por Rodrigo, (questão 05). As observações feitas pelo narrador-personagem são suficientes para a conclusão a que ele chegou? Por quê?

      Não. Rodrigo partiu de suposições, não teve coragem de esclarecê-las e estava prestes a praticar um grave delito.

08 – Os fatos, devidamente observados, podem levar à certeza absoluta; já os indícios nos permitem somente inferências e, além disso, eles podem ser contaminados pelos desejos, pelos sentimentos.

a)   Na sua opinião, ao levantar indícios de traição, quais sentimentos, quais medos ocupavam a mente de Rodrigo?

Resposta pessoal do aluno.

b)   E qual fato Rodrigo deixou de considerar?

A amizade sincera e cheia de gratidão que Vicente sempre demonstrara sentir por ele.

09 – Você já sabe que toda narrativa contém um tema, um assunto e uma mensagem.

·        O tema do conto lido é a inveja.

·        O assunto é a relação de grande amizade entre dois rapazes ameaçada pelo sentimento de inveja e de desconfiança de um deles.

Identifique a mensagem.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: o sentimento de inveja é tão pernicioso que distorce a visão da realidade e pode devastar uma relação.

 

 

 

NOTÍCIA: DICAS DE CUIDADOS PARA OS PETS NO INVERNO - RENATA BRUNELLI - COM GABARITO

 Notícia: Dicas de cuidados para os Pets no inverno

            19/06/2019 – por Renata Brunelli

        Assim como nós humanos, no inverno os animais também estão mais propensos a adquirirem doenças e a procura por clínicas veterinárias aumenta consideravelmente. Como a transmissão de virose nos cães é mais rápida que nos gatos, eles são os primeiros a chegarem nas clínicas.

        Além das doenças respiratórias que são as mais comuns, os animais idosos com problemas osteoarticulares como artrose, calcificações na coluna ou hérnia de disco, passam a sentir mais dor quando expostos às baixas temperaturas.

          Confira nossas dicas para deixar seu Pet quentinho e evitar doenças:

        Tosa: Se o cãozinho faz atividades regulares e não tem problemas de saúde, mantenha a rotina da tosa. No caso de cães muito idosos ou que ficam ao relento, aproveite a proteção natural do animal e evite tosas muito baixas.

        Roupinhas: Dentro de casa os cães geralmente não necessitam de roupas. Mas os mais friorentos, geralmente com pelo curto, podem usar casaquinhos e jaquetinhas. Evite peças de lã e dê preferências para às 100% algodão. Opte por tecidos leves e modelos confortáveis. Mas se o cão se sentir incomodado, melhor não usar.

        Local de dormir: Alguns cães, mesmo tendo sua própria casinha, preferem ficar ao relento. Deixe esses animais em locais fechados nos dias de chuva ou frio intenso. Proteja a caminha do animal do frio colocando algum revestimento de borracha ou estrado, evitando o contato direto com o chão. Para os gatos, utilize os arranhadores com toca, eles adoram.

        [...]

        Escovação: aumente a frequência de escovação do animal para pelo menos três vezes por semana. Eles tendem a se lamber mais no frio e acabam engolindo mais pelos que formam bolas no estômago, o que pode acarretar nos gatos constipação intestinal, conhecida também como “prisão de ventre”. Nos cães, previne a formação de nós que causam lesões na pele.

        Atenção ao comportamento: mesmo com todos esses cuidados, seu Pet pode adoecer por culpa da queda de temperatura. Então, esteja sempre de olho no comportamento dele. Se perceber alguma mudança, como apatia e falta de apetite, leve-o a uma consulta veterinária.

                             Disponível em: https://www.meupetprotegido.com.br/dicas-e-curiosidades/dicas-de-cuidados-para-os-pets-no-inverso.

Acesso em: 12 fev. 2020.

Entendendo a notícia:

01 – O termo grifado responsável por dar uma ideia de contraste está em:

a)   “No caso de cães muito idosos ou que ficam ao relento, aproveite a proteção natural do animal e evite tosas muito baixas.”.

b)   Como a transmissão de virose nos cães é mais rápida que nos gatos, eles são os primeiros a chegarem nas clínicas.”.

c)   “Opte por tecidos leves e modelos confortáveis. Mas se o cão se sentir incomodado, melhor não usar.”.

d)   Se perceber alguma mudança, como apatia e falta de apetite, leve-o a uma consulta veterinária.”.

02 – Uma das dicas para manter seu pet saudável no inverno é:

a)   Utilizar casaquinhos e jaquetinhas de lã nele.

b)   Aumentar a frequência de escovação do animal.

c)   Levar o bichinho para uma tosa muito baixa.

d)   Deixar os cães soltos ao relento no quintal.

TEXTO: EMBARGOS CULTURAIS - (FRAGMENTO)- ARNALDO SAMPAIO DE M. GODOY - COM GABARITO

 Texto: EMBARGOS CULTURAIS (Fragmento)

            Maquiavel, entre a astúcia, a hipocrisia e a crueldade

19 de janeiro de 2020, 8h00

Por Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

        Nicolau Maquiavel (1469-1527) afastou da teorização política a invenção da realidade. Não expôs nenhuma utopia. Mas também não legou nenhuma premonição de um mundo distópico. O futuro não é sombrio, e nem nirvânico, nem infernal, e também não é um paraíso. É apenas o resultado de nossa ação, pautado por nossos cálculos, e também influenciado por eventos externos, que fogem de nosso controle.

        A principal preocupação de Maquiavel consistia no esforço em influenciar a condução dos negócios públicos. Era um prático. Não teorizava. Intervinha na realidade.

        Nasceu em Florença. Seu pai chamava-se Bernardo; sua mãe, Bartolomea. O pai era advogado. Pouco conhecido, teria exercido a profissão sem nenhum brilho. Acrescentava aos poucos ganhos algum recurso que ganhava na administração de seus escassos bens. Parece também que Bernardo foi um rígido pai. Estudou latim, gramática e cálculo. Em 1497, com 28 anos, Maquiavel esteve em Roma. No fim daquele ano, 1498, foi nomeado secretário na Segunda Chancelaria de sua cidade de nascimento.

        [...]

        Maquiavel é personagem emblemática do Renascimento, época que se opunha ao misticismo, ao coletivismo, ao antinaturalismo, ao teocentrismo e ao geocentrismo. O Renascimento foi marcado por intensa defesa do racionalismo, do individualismo, do antropocentrismo, do heliocentrismo. O humanismo foi também um dos traços definidores daquele tempo, centrado na retomada dos valores greco-romanos, circunstância muito característica na obra de Maquiavel.

        O Príncipe, segundo Jacob Burckhardt, um dos maiores historiadores da Renascença, “representa a objetividade renascentista e a ideia de Estado como obra de arte”. O Príncipe não é um trabalho de ideologia e de proselitismo, é um livro de conselhos práticos. E embora nos pareça que Maquiavel tenha rompido com toda a tradição de pensamento político que o precedia, há também fortes motivos para supor que tenha retomado uma linhagem romana. Maquiavel seria o restaurador de uma tradição esquecida.

    Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-19/embargos-culturais-maquiavel-entre-asstucia-hipocrisia-crueldade.

Acesso em 05 fev.2020.

Entendendo o texto:

01 – A síntese que apresenta a ideia central desse trecho do texto é a:

a)   Apresentação da obra completa “O Príncipe” e a ideologia trazida pelo autor do livro.

b)   Consideração sobre algumas concepções de Maquiavel e do contexto em que ele viveu.

c)   Exposição sobre o Renascimento e o humanismo inserido dentro desse período.

d)   Crítica aos pensamentos de Maquiavel e a política que se praticava no país.

e)   Descrição da vida acadêmica do filósofo e de sua passagem por Roma.

02 – De acordo com o texto, a preocupação principal de Maquiavel compreendia:

a)   Teorizações da política na invenção da realidade renascentista.

b)   Captações de recurso na administração de seus escassos bens.

c)   Esforços em influenciar a condução dos negócios públicos.

d)   Exposições da negação da utopia numa sociedade oprimida.

e)   Cuidados com um futuro que se mostrava muito tranquilo.