domingo, 26 de maio de 2019

TEXTO: CEM DIAS ENTRE CÉU E MAR - FRAGMENTO - AMYR KLINK - COM GABARITO

Texto: CEM DIAS ENTRE CÉU E MAR - Fragmento
                   
     Amyr Klink

        O ranger do velho caça-minas de madeira contra o cais me roubou o sono. O movimento de proas e mastros dos pesqueiros atracados lado a lado produzia uma estranha música de ruídos e estalos que hipnotizavam os ouvidos. Embora uma fina névoa descansasse sobre as águas silenciosas do porto, e não houvesse um pingo de vento, o balançar dos barcos anunciava que fora da baía o mar estava agitado e as grandes ondas do sul tinham voltado.
        Impossível dormir nessa primeira noite a bordo; com a luzinha da cabine acesa, e uma lanterna na mão, procurava pôr ordem na infinidade de sacolas que ainda aguardavam um endereço certo no meu minúsculo compartimento de bagunças. Vesti mais uma blusa – frio – e, soltando um pouco o cabo da âncora e as amarras que me ligavam ao barquinho do capitão do porto, encostei no cais principal, a poucos metros apenas. Por entre as sombras dos vagões aí estacionados surgiram dois vultos:
        ― Amyr!‖. Eram Gunther e Marion, encapotados, que vieram me acordar. ― Amyr, o escritório de Aduana está abrindo! Os papéis!...”
        ― Bom dia‖, respondi.
        E com passaporte, diário e livros de bordo debaixo do braço, subi os degraus gelados da escadinha de ferro, e fomos atrás da única luz acesa no porto. O oficial da Imigração, especialmente arrancado da cama para a ocasião, e com cara de quem não estava muito acostumado a madrugar, colocou as estampilhas, carimbou e finalmente assinou os meus papéis. E assim, às seis horas do dia 10 de junho de 1984, uma gelada manhã de domingo, eu estava oficialmente autorizado a deixar o porto de Lüderitz, na Namíbia (antiga África do Sudoeste), com destino ao Brasil, remando.
        Tenso, andando em direção ao cais, senti que aqueles seriam os meus últimos passos em terra firme. O cheiro de porto no escuro, a areia quente sob os pés, os vagões enferrujados, o barulho de vozes humanas – quando novamente? Não sabia, e tampouco importava naquele momento. Estava nervoso, impaciente, desesperado para ir embora. A saída fora autorizada, a partir de Dias Point, e para lá seria rebocado por um veleiro, o Storm Vogel. Na ponta do cais, já estavam todos esperando: Helena com as crianças, a querida Anne Marie e os inesquecíveis amigos de Lüderitz com caras amassadas de sono e alguns olhos molhados. Tinha um enorme nó na garganta, e simplesmente não pude me despedir de ninguém: a voz não saía. Pulei no barco e, antes que me afastasse, Helena atirou uma chuva de flores:
        “― É para Iemanjá! Faça uma linda viagem, Amyr!”
        Gunther, talvez o único entre aquelas pessoas que não traíra uma ponta de nervosismo, não parava quieto e berrava:
        “― Cuide-se direito! Não deixe que te peguem! Queremos visitá-lo em Paraty”.
        De um veleiro antigo, de casco negro e que eu mal podia enxergar no escuro, ouvi um anônimo:
        “― Boa sorte, homem!”.
        Agradeci em silêncio. Aos poucos o cais foi diminuindo. Fundindo-se com contornos áridos das dunas que cercam a cidade. Passamos a última boia de indicação do porto, com sua luzinha vermelha e o eterno bater do sino que orienta os pesqueiros perdidos na neblina. O dia começou a nascer, envolto em uma neblina baixa que fazia as altas dunas do deserto parecerem nuvens sobre o horizonte.
        Focas e golfinhos surgiram brincando em torno do barco e, ao dobrar Dias Point e Halifax Island, onde vive uma simpática colônia de pinguins, o mar subitamente mudou. O vento forte e as ondas formadas anunciavam o limite das águas abrigadas da baía de Luderitz, o oceano livre pela frente. Do potente farol-apito, junto à cruz de Dias – que nas noites de tempestade e nos dias de neblina, tão frequentes nessa estranha costa, orienta a entrada dos navios –, ouvi pela última vez a África, uma série de longos e distantes apitos, a saudação da torre que aos poucos desaparecia, um continente que já não mais avistava, mas que ainda podia ouvir ... Adeus, África!
        Começou, então, a despedida da tripulação do Storm Vogel. Catastrófica despedida. Eu havia esquecido meu casaco vermelho e uma máquina fotográfica no veleiro, antes de deixar o porto, e pedi aos berros, por causa do vento que não parava de aumentar, que me passassem o material. Com o mar cada vez mais agitado, uma aproximação tornava-se tarefa delicada. Atirei um cabo, para auxiliar a manobra, mas ao ser puxado por barlavento desci uma onda em velocidade e entrei com o bico de proa no costado do veleiro, abrindo um pequeno rombo. Ficaram todos apavorados com o choque, e mais ainda com o furo no casco, e então tentaram passar em rumo oposto ao meu.
        Não sabia exatamente o que fazer; as ondas começavam a preocupar, mas era certo que eles estavam com excesso de pano para aquele vento. Só então percebi que eram completamente inexperientes e não entendiam nada de vela.
        Com o veleiro adernado pelo vento, sem ângulo de visão e em grande velocidade, o comandante errou a manobra e veio exatamente em cima de mim. Proa com proa, um choque tremendo, pensei que fosse afundar. Todas as coisas soltas dentro do barco voaram, e a antena de rádio, instalada do lado de fora, partiu-se ao meio e caiu na água. Junto, foi um bobina para comunicados a curta distância, em 40 metros, que ganhei do Gerd (formidável radioamador de Lüderitz) e que serviria para lhe mandar notícias nos primeiros dias.
        Estava apavorado. O cockpit cheio de água, as ondas arrebentando, um frio tremendo, e a antena principal perdida. Meu Deus, que começo! Descontrolada com a força do vento, com velas panejando e escotas voando, a tripulação resolveu mudar de tática e, agora com o vento a favor, avançou de novo em minha direção. Fiquei histérico, não queria mais o casaco nem coisa alguma. Queria que fossem embora, aquilo estava perigoso demais! Faltavam só capa e lança para parecer um duelo — a capa, aliás, estava com eles — e vieram dessa vez em sentido contrário, com todas as velas cheias, levantando espuma pela proa. Berrando como louco, implorei que se afastassem. Inútil.
        Cruzando proas a poucos metros de distância, me atiraram o casaco amarrado a um cabo para que o vento não o carregasse. Agarrei-o — e que surpresa! —, o cabo não estava solto. Pior. Não era um cabo, mas a ponta de uma das escotas. Larguei tudo imediatamente; mas, enquanto o veleiro seguia veloz, a ponta que estava comigo ainda presa ao casaco enroscou-se num dos remos, o cabo esticou, partiu-se e o remo espirrou para cima, caindo no mar. Fiquei sem meu remo, e eles sem a escota da vela grande que panejava de maneira desesperada. Tudo se passara em frações de segundos. Tinha de qualquer modo que recuperar o remo. Situação absurda! Desamarrei um dos remos de reserva que estavam firmemente atados sobre o convés e, enfurecido, quase chorando de raiva, parti em direção ao remo perdido que se afastava com rapidez. Quarenta e cinco minutos de luta com as ondas e o vento para conseguir, todo ensopado, capturar o remo acidentado. Não, não podia ser verdade — quarenta e cinco minutos, e as bolhas estouravam-me nas mãos, a mais de cem dias do destino! Do veleiro, só me lembro da tripulação tentando levantar uma faixa, por certo preparada na véspera, onde se lia, num esforçado castelhano, “Amyr, feliz viag...”, e vupt, o vento carregou a faixa. Não nos vimos mais, e não houve despedida. Simplesmente sumiram. Assim, de modo rocambolesco, eu havia partido e, ao me descobrir totalmente só, uma estranha sensação me invadiu...
        A situação a bordo era desoladora. O vento ensurdecedor, o mar difícil, roupas encharcadas, muito frio e alguns estragos. Pela frente, uma eternidade até o Brasil. Para trás, uma costa inóspita, desolada e perigosamente próxima. Sabia melhor que ninguém avaliar as dificuldades que eu teria daquele momento em diante. Estava saindo na pior época do ano, final de outono, e teria pela frente um inverno inteiro no mar.
        A fria e difícil corrente de Benguela, meu caminho obrigatório até as proximidades da ilha de Santa Helena, é particularmente perigosa no mês de junho. Planejei partir no verão, quando as águas do Atlântico Sul são mais clementes, e estabeleci uma data-limite para a partida, além da qual eu deveria reconsiderar seriamente a decisão de me fazer ao mar. Essa data era o final do mês de maio, e já estava queimada. Uma colossal avalanche de problemas contribuiu para isso. Mas, se tomei essa decisão, não foi sem avaliar os riscos. Eu havia trabalhado nesse projeto durante mais de dois anos, sem jamais fazer uma única concessão que lhe comprometesse a segurança. Tinha um barco e um equipamento como sempre sonhei — perfeitos. Estava preparado para o pior, e por um período tão longo no mar seria impossível, cedo ou tarde, evitar o pior. Então, por que não partir?
        Finalmente, meu caminho dependeria do meu esforço e dedicação, de decisões minhas e não de terceiros, e eu me sentia suficientemente capaz de solucionar todos os problemas que surgissem, de encontrar saídas para os apuros em que porventura me metesse.
        Se estava com medo? Mais que a espuma das ondas, estava branco, completamente branco de medo. Mas, ao me encontrar afinal só, só e independente, senti uma súbita calma. Era preciso começar a trabalhar rápido, deixar a África para trás, e era exatamente o que eu estava fazendo. Era preciso vencer o medo; e o grande medo, meu maior medo na viagem, eu venci ali, naquele mesmo instante, em meio à desordem dos elementos e à bagunça daquela situação. Era o medo de nunca partir. Sem dúvida, este foi o maior risco que corri: não partir.
        Não estava obstinado de maneira cega pela ideia da travessia, como poderia parecer — estava simplesmente encantado. Trabalhei nela com os pés no chão, e, se em algum momento, por razões de segurança, tivesse que voltar atrás e recomeçar, não teria a menor hesitação. Confiava por completo no meu projeto e não estava disposto a me lançar em cegas aventuras. Mas não poder pelo menos tentar teria sido muito triste. Não pretendia desafiar o Atlântico — a natureza é infinitamente mais forte do que o homem —, mas sim conhecer seus segredos, de um lado ao outro. Para isso era preciso conviver com os caprichos do mar e deles saber tirar proveito. E eu sabia como.
        Pelo simples fato de estar ali onde estava, debatendo-me entre os remos, xingando as ondas e maldizendo a sorte, me sentia profundamente aliviado. Feliz por ter partido.

KLINK, Amyr. Cem dias entre céu e mar. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 17-22.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras a abaixo:
·        Caça-minas: navio pequeno para abrir caminho em um campo minado.
·        Aduana: alfândega.
·        Estampilhas: selos fiscais.
·        Barlavento: direção em que o vento sopra.
·        Proa: parte dianteira da embarcação.
·        Costado: parte aparente do casco na embarcação.
·        Adernado: inclinado.
·        Cockpit: espaço em que o piloto fica nas embarcações.
·        Panejando: tremulando, tremendo.
·        Escotas: cabos que seguram a vela da embarcação.
·        Rocambolesco: marcado por imprevistos e aventuras.

02 – A quem você acha que esse texto é destinado?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Em sua opinião, por que Amyr Klink escolheu o mar como cenário de sua aventura?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Os fatos expostos pelo navegador são reais ou imaginários? Explique.
      São reais, pois são relatos de uma pessoa que realmente existe e que realizou a viagem apresentada.

05 – Que experiências são relatadas nesse texto?
      São relatadas as experiências de uma viagem do navegador Amyr Klink retornando para o Brasil em um veleiro.

06 – Quem conta os fatos? O narrador participa da história narrada ou expõe os fatos como alguém que apenas observa os acontecimentos?
      O narrador é Amyr Klink, que vivenciou os fatos relatados.

07 – Em um relato de viagem, é comum ocorrer a descrição de pessoas, lugares, objetos, e a rota e a distância percorridas.
a)   Isso ocorre nesse texto? Justifique sua resposta com exemplos.
Sim. Exemplos: “Tenso, andando em direção ao cais, senti que aqueles seriam os meus últimos passos em terra firme. O cheiro de porto no escuro, a areia quente sob os pés, os vagões enferrujados, o barulho de vozes humanas [...]”.

b)   O texto é constituído somente de descrições? Explique.
Não. Ele é constituído de narração, o que o difere dos relatos convencionais em que predomina a descrição detalhada de um acontecimento.

08 – O relato apresenta continuidade ou é registrado livremente, sem se preocupar com a linearidade dos fatos?
      Ele apresenta continuidade, pois expõe os fatos na sequência em que ocorreram.

09 – Amyr Klink inicia o 6° parágrafo destacando que estava tenso. Qual era a causa dessa tensão?
      Ele estava tenso, pois novamente voltaria ao mar e tinha receio de quando conseguiria estar a salvo em terra firme.

10 – No trecho: “A natureza é infinitamente mais forte do que o homem”, Amyr afirma que não pretendia desafiar a natureza. Em sua opinião, qual era o objetivo de sua viagem?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Superar seus próprios limites e aventurar-se no mar, passando por lugares difíceis e perigosos.

11 – Muitas pessoas, assim como Amyr Klink, buscam, por meio de aventuras, superar seus limites e, consequentemente, vencer os medos.
a)   Como o medo pode ser superado para que as pessoas atinjam seus objetivos?
Enfrentando-o para que ele não impeça a realização das atividades pretendidas.

b)   Você já passou por alguma situação em que teve medo e precisou superá-lo? Comente.
Resposta pessoal do aluno.

12 – Em sua opinião, que contribuições expedições como a realizada por Amyr Klink podem trazer às pessoas? Você as considera importantes?
      Resposta pessoal do aluno.

13 – Observe algumas palavras empregadas no texto: Cais – proa – mastros – atracados – âncora. Por meio do emprego dessas palavras, é possível reconhecer a área sobre a qual o texto trata. Que área é essa?
      A área da navegação.

14 – Releia o seguinte trecho:
        “[...] E assim, às seis horas do dia 10 de junho de 1984, uma gelada manhã de domingo, eu estava oficialmente autorizado a deixar o porto de Lüderitz, na Namíbia (antiga África do Sudoeste), com destino ao Brasil, remando.”

a)   Identifique os advérbios e as locuções adverbiais presentes nesse trecho, classificando-os.
Às seis horas do dia 10 de junho de 1984, manhã de domingo: locução adverbial de tempo. Oficialmente: advérbio de modo; na Namíbia, ao Brasil: locução adverbial de lugar.

b)   Por que o emprego de advérbios e locuções adverbiais é imprescindível nesse gênero textual?
Porque esse gênero é importante a localização do espaço e do tempo em que as ações ocorrem, a fim de contextualizar o leitor sobre os acontecimentos.

15 – Identifique, em cada um dos trechos a seguir, o sentido com que as expressões em destaque foram empregadas.
a)   Se estava com medo? Mais que a espuma das ondas, estava branco, completamente branco de medo.
Pálido.

b)   Confiava por completo no meu projeto e não estava disposto a me lançar em cegas aventuras.
Sem um rumo predeterminado.

LEITURA DE OBRA DE ARTE: RODA - MILTON DACOSTA - COM QUESTÕES GABARITADAS


Quadro: Roda (1942)
                 Milton Dacosta

Entendendo o quadro:

01 – Milton Dacosta nasceu em Niterói, em 1915.  Sua carreira firmou-se a partir de 1933, quando participou de uma exposição no Salão Nacional de Belas-Artes. Tal como nas obras de alguns poetas do período, nas obras de Dacosta também se veem influências das correntes de vanguarda, especialmente do Cubismo e do Surrealismo.

a)   Que aspectos do quadro se ligam ao Cubismo?
A geometrização das personagens: ângulos no rosto e no corpo, formas geométricas nos vestidos, no cabelo e na fita do cabelo.

b)   Que aspectos se ligam ao Surrealismo?
Certo estranhamento decorrente sobretudo do fato de as crianças não terem rosto.

02 – Intitulado Roda, o quadro retrata uma situação em que crianças de diferentes idades brincam de roda. Observe as personagens: o corpo, o rosto, a pele e as roupas.
a)   Qual é o aspecto mais inquietante na representação dessas personagens?
A falta do rosto.

b)   As cores das roupas que elas usam são vivas ou apagadas?
São vivas.

c)   As crianças se parecem com pessoas reais ou parecem seres artificiais, como se fossem bonecos? Por quê?
Parecem bonecos: não têm rosto e, em vez de pele, o corpo parece revestido de madeira ou papel.

03 – Observe agora os elementos que compõem o cenário em que as personagens se encontram.
a)   Trata-se de um cenário natural ou artificial? Caracterize-o.
Um cenário artificial; não há nem planta, nem animal, nem casa; há apenas quatro troncos ou estacas fincadas na terra. O solo, de uma cor verde, também não parece ser de terra nem coberto por vegetação.

b)   O que o cenário como um todo expressa?
Uma paisagem desértica, sem vida, que suscita impressões como o vazio.
04 – Visto no conjunto, nota-se que o quadro reúne elementos contraditórios, que podem ser organizados em pares, como ser e não ser, natural e artificial ou vida e morte. Identifique na obra elementos relacionados:
a)   Com o universo natural ou com a vida.
As crianças brincam de roda, as flores ao seu redor, as cores vivas dos vestidos.

b)   Com o universo artificial ou com a morte.
As flores jogadas no chão, as crianças que parecem bonecos, a paisagem desértica e sem vida.

05 – A criança sempre foi associada à ideia de ingenuidade, de pureza. Nesse quadro, as crianças revelam essas características? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Até certo ponto, pois o quadro, ao mesmo tempo que expressa uma ideia de pureza infantil, retrata as crianças como seres autômatos, sem identidade e sem vida.

06 – O quadro foi pintado em 1942. As crianças que vemos brincam de roda e, por isso, têm as mãos dadas. Em 1940, Carlos Drummond de Andrade publicou o poema “Mãos dadas”, em que se lê:
        “O presente é tão grande, não nos afastemos.
         Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.

a)   Em qual contexto sociopolítico, nacional e internacional, o poema e o quadro foram produzidos?
No contexto internacional da Segunda Guerra Mundial e no contexto nacional do Estado Novo.

b)   É possível afirmar que no quadro de Dacosta as crianças representam a união, a solidariedade e a esperança de um futuro melhor?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É possível que não. O aspecto artificial das crianças e da paisagem impossibilita associar a cena, apesar das mãos dadas, a um futuro de união e solidariedade.

07 – O que você acha que está mais diferente neste quadro?
      A frieza do autor em pintar rostos não identificados, sem expressão, sem sentimentos.

08 – Por que Milton Dacosta não desenhou o rosto das meninas?
      Acredito que porque as crianças perderam sua identidade, a brincadeira de roda mostrava muito da identidade infantil que foi se perdendo ao longo do tempo. Por este motivo as meninas não tem rosto, pois elas perderam sua identidade de criança.

09 – Mesmo sem ter desenhado o rosto, como você imagina que seria a expressão delas?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Expressão de felicidade.

10 – A menina que está de costas é maior e está de sapatos. Quem pode ser ela? Por quê?
      Ela pode ser uma mulher adulta. Acredito que tentando fugir das obrigações de um adulto e relembrando como é ser criança.


sábado, 25 de maio de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): MALUCO BELEZA - RAUL SEIXAS - COM GABARITO

Música(Atividades): Maluco Beleza

                            Raul Seixas
Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Um maluco total
Na loucura real

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Eeeeeeeeuu!
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza

                                Composição: Claudio Roberto / Raul Seixas

Entendendo a canção:

01 – A palavra em destaque no terceiro verso da música tem a mesma classificação que;
a)   Homem.
b)   Sentimento.
c)   Amizade.
d)   Natural.
e)   Lucidez.

02 – O que a música "Maluco beleza" tem em comum com surrealismo?

      Fala sobre a normalidade de sujeitos comuns que são aqueles que tentam se enquadrar nos padrões da sociedade, bem como, a loucura do cantor, que em muitos momentos declara isso abertamente, pois, não tem interesse de seguir estes padrões.

03 – Em que versos o poeta diz que na maioria das vezes está bem, consciente, observando as coisas em sua volta, mas as vezes fica maluco de verdade para dar conta de tanta coisa?
      Vou ficar
       Ficar com certeza
       Maluco beleza
       Eu vou ficar
       Ficar com certeza
       Maluco beleza”.

04 – Nos versos: “Controlando / A minha maluquez / Misturada / Com minha lucidez”. O que o poeta quis dizer?
      Que tenta se controlar, pois já foi taxado, rotulado e julgado pelo seu comportamento e que por trás de tudo isso existe a sua lucidez, na qual se mistura e se confunde com as suas loucuras.

05 – Por que ele diz que o caminho que escolheu é fácil seguir, mas tem um porém, qual?
      Porque precisa ser forte e estar determinado e consciente que realmente não temos para onde ir, porque a nossa verdadeira busca está dentro de nós mesmo.



SONETO: PÁLIDA, À LUZ DA LÂMPADA SOMBRIA - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

SONETO: Pálida, à luz da lâmpada sombria

                               Álvares de Azevedo

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
              In: Bárbara Heller et alii, orgs. Álvares de Azevedo.
São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 22.
Entendendo o soneto:
01 – Que indícios podemos perceber neste soneto da segunda fase do Romantismo, denominado mal do século?
      O receio de amar e o sofrimento vivido pela idealização do eu lírico, para com a mulher amada, o fazem recorrer ao desejo da “morte”, como forma de fuga por causa de problemas amorosos.

02 – Da primeira para segunda estrofe do texto, a luz que circunda a pessoa descrita sofre alteração. Que tipo de alteração ocorre?
      No primeiro verso da primeira estrofe, a mulher amada é descrita pela sua palidez, que se opõe à sombria lâmpada que a ilumina; já na segunda estrofe são descritas a calma e a harmonia da amada, que é embalada pela maré das águas.

03 – O poema é escrito a partir de:
a)   Uma crítica feita à mulher amada pelo eu lírico.
b)   Uma descrição da mulher amada feita pelo eu lírico.
c)   Um sonho que o eu lírico teve com a mulher amada.
d)   Um conflito que o eu lírico deseja resolver com a mulher amada.

04 – “Como a lua por noite embalsamada,” temos nesse verso:
a)   Uma metáfora.
b)   Uma hipérbole.
c)   Uma comparação.
d)   Uma metonímia.

05 – O elemento tempo no poema:
a)   É o mesmo do início ao fim.
b)   Retrata o anoitecer.
c)   Sofre uma gradação.
d)   Foi irrelevante.

06 – Apresentam uma antítese os versos:
a)   “Como a lua por noite embalsamada, / Entre as nuvens do amor ela dormia!”
b)   “Era um anjo entre nuvens d’alvorada / Que em sonhos se banhava e se esquecia!”
c)    “Negros olhos as pálpebras abrindo... / Formas nuas no leito resvalando...”
d)   “Por ti – as noites eu velei chorando, / Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!”

07 – A atmosfera retratada nos quartetos é vaga e imaterial. O elemento que reforça a ideia de imaterialidade da mulher amada nessas estrofes é:
a)   A lâmpada.
b)   As nuvens.
c)   A lua.
d)   As flores.

08 – A última estrofe revela que a mulher observada:
a)   Despertou do seu sono.
b)   Exibe-se para o eu lírico.
c)   Retira-se do ambiente.
d)   Encabula-se diante do eu lírico.

09 – Por ser um sonho, a mulher desse soneto possui imagens cambiantes, isto é, sua descrição muda ao longo do texto. Identifique algumas dessas imagens nas duas primeiras estrofes.
·        A mulher é pálida e está reclinada sobre um leito de flores;
·        Ela dorme entre as nuvens do amor;
·        É a virgem do mar, embalada pela maré;
·        É um anjo entre nuvens d’alvorada.

10 – Há alguma contradição entre essas imagens que caracterizam a mulher?
      Sim. Na segunda estrofe ela se caracteriza pela pureza, é uma virgem e um anjo; na terceira estrofe ela se caracteriza pela beleza física, pela nudez e pela sensualidade.

11 – Leia a seguinte afirmação de Mário de Andrade:
        “Álvares de Azevedo sofreu como nenhum, apavoradamente, o prestígio romântico da mulher. Pra ele a mulher é uma criação absolutamente sublime, divina e ...inconsútil. O amor sexual lhe repugnava, e pelas obras que deixou e difícil dizer que tivesse experiência dele”.

(“Amor e Medo” in Aspectos da literatura brasileira, 6ª. ed. São Paulo, Martins, 1978).

Qual verso do soneto exprime a timidez do sujeito lírico diante da mulher, mesmo sendo ela apenas um sonho?
      “Não te rias de mim, meu anjo lindo!”

12 – O soneto exprime o sofrimento, a frustação amorosa e a atitude escapista ultra romântica. Explique essa atitude, comentando os dois últimos versos do soneto.
      O penúltimo verso exprime o sofrimento das noites de vigília. E o último aponta a fuga pelo sonho e até pela morte como saída para a frustação amorosa.