sábado, 8 de abril de 2017

REPORTAGEM: HISTÓRIAS DE PAIS EM ESTÚDIOS DE TATTOO - CADERNO FOLHATEEN - COM GABARITO

TEXTO: HISTÓRIAS DE PAIS EM ESTÚDIOS DE TATTOO

         A lei estadual sobre piercings e tatuagens, que acabar de completar um ano, atingiu em cheio não apenas filhos, mas pais. Há quem esteja satisfeito porque agora tem o apoio legal para o que pensa a respeito de tatuar o corpo ou colocar um piercing antes de completar a maioridade. Mas há também os indignados. Confira abaixo algumas histórias Free-lance para a folha.
         Independentemente da vontade dos pais, a lei nº 9.828, de 6/11/97, proíbe a aplicação de tatuagem e piercing em menores de 18 anos.
         Entre os pais, as opiniões divergem. De um lado, estão os que consideram a lei um instrumento válido para defender o cidadão de um arrependimento futuro. Do outro, os indignados. É o caso do advogado Robson [...], pai de Thais, 16, que, há três semanas, tentava sem sucesso colocar um piercing na clínica [...].
         “Essa lei é inconstitucional, o Estado não pode interferir na minha decisão sobre as vontades da minha filha, principalmente no que diz respeito à aparência dela”, disse o advogado.
         Dias depois, na Clínica [...], outro pai indignado se manifestava. “Para mim, essa lei é ridícula: piercing e tatuagem não prejudicam a sociedade”, disse José Américo [...], cuja filha, Lia [...] 14, havia sido barrada em dois respeitados estúdios de piercing em São Paulo.
         “Eu quero que minha filha aprenda a se indignar, é uma questão de liberdade. Daí, amanhã ela vai em qualquer lugar e volta com um negócio malfeito”, disse ele.
         Foi o que acorreu com as irmãs Ana Paula, 16, e Juliana [...] 15. Com o consentimento dos pais, foram à Clínica [...], um dos melhores estúdios de pierceng do Brasil, que não fez o trabalho. Acabaram na mão de um profissional sem habilitação.


         “O furo das duas infeccionou, e a joia era de ferro” (a joia, como é chamado o pierceng, deve ser de aço cirúrgico), conta a mãe, Vera [...]. “Não associo piercing ou tatuagens à droga ou marginalidade. Há tantos jovens desassistidos com problemas de drogas, por que não fazer algo por eles?”, diz ela.
         Já V. C. S. – ela pediu para não ser identificada – diz que chorou uma semana por causa da filha, B. F. S., 16, dona de dois piercengs e que acaba e tatuar um gnomo de 10 cm na batata da perna.
         “Uma menina de 16 anos não tem cabeça para avaliar as consequências de uma tatuagem. Ela vai ter problemas profissionais porque o preconceito existe. Uma coisa é fazer uma tatuagem com 21 anos de idade, consciente da profissão que vai seguir, e outra, embalada pelos amigos”, diz a mãe.

                       Esperar, sim, mas não à força.

         “Ninguém pode ter o direito de proibir uma pessoa de enfeitar o próprio corpo. Mas é legal esperar ter maturidade”, diz Fernando [...] 19, feliz dono de três tattoos feitas aos 18. Douglas [...], 19, conta arrependido: “Fiz quatro tatuagens com 15 anos e tiraria todas. Elas foram malfeitas, diz o bagulho chapado. Um moleque menor de idade não tem noção e faz muita besteira.”
         A estudante Roberta [...], 18, esperou três anos para imprimir um sol tribal nas costas. “Não fiz antes porque queria que fosse em um lugar legal para ter segurança”, conta ela, que chegou ao estúdio [...] acompanhada das amigas.
         Uma delas, Bruna [...], 15, foi categórica: acha legal ter maturidade, mas acha a lei “ridícula porque tira a liberdade e o direito de as pessoas fazerem o que quiserem com o próprio corpo”.
         Seguir a lei pede paciência e é o que Rachel [...], 15, acredita não ter. Em vez de esperar os 18, a garota pensa em apelar para a Nova Zelândia: “Como eu vou fazer intercâmbio, talvez eu faça por lá, já que para eles tattoo é supercomum.”

           Folha de São Paulo, São Paulo, 7 dez. 1998, Caderno Folhateen, p. 6.
                         (Sobrenome de pessoas e nome de clínicas foram retirados).

1 – Recorde o início da reportagem:
      “A lei estadual sobre piercengs e tatuagens [...]”
a)     O que é uma lei estadual?
Uma lei que só vigora no âmbito do estado em que foi aprovada.

b)    A lei sobre piercings e tatuagens a que se refere a reportagem se aplica a você?
A resposta depende do Estado em que residem os alunos e de sua idade: sim, se residem em São Paulo e são menores, não, se residem em outros estados.

2 – A reportagem começa afirmando que a lei sobre piercings e tatuagens acaba de completar um ano.
         -- Identifique as datas que confirmam essa afirmação.
       A reportagem é publicada em 7 de dezembro de 1998. A lei é de 06 de novembro de 1997.

3 – Identifique na reportagem e registre em seu caderno, em listas separadas:
a)     Os argumentos dos indignados contra a lei sobre piercings e tatuagens.
A lei é inconstitucional: o Estado não pode interferir na decisão dos pais sobre os filhos; piercing e tatuagem não prejudicam a sociedade; a lei interfere na liberdade das pessoas.

b)    Os argumentos dos satisfeitos a favor da lei.
A lei dá apoio legal para os pais que são contra piercings e tatuagens em filhos menores; defende o cidadão de um arrependimento futuro: menores não tem condições de avaliar as consequências de piercing e tatuagens, que podem trazer problemas profissionais, menores ainda não sabem escolher o que querem.

4 – Releia a fala de Vera, mãe de Ana Paula e Juliana.
a)     Está implícito na fala de Vera que há um preconceito em relação a piercings e tatuagens. Que preconceito?
O preconceito de quem usa piercing e tem tatuagens também usa drogas e é marginal.

b)    Vera é a favor ou contra a lei que proíbe piercings e tatuagens em menores de idade? Justifique sua resposta.
É contra, porque: trouxe prejuízo para suas filhas; piercing e tatuagem não são problemas que mereçam uma lei; a preocupação dos legisladores deveria voltar-se para verdadeiros problemas, como jovens desassistidos que usam drogas.

5 – Que problemas as pessoas entrevistadas apontam como possíveis consequências negativas de piercings e tatuagens?
       Piercings colocados por profissionais sem habilitação podem infeccionar; tatuagens podem ser mal feitas; piercings e tatuagens podem causar problemas profissionais, porque há preconceito contra quem os usa; a pessoa pode se arrepender da tatuagem no futuro.


quinta-feira, 6 de abril de 2017

TEXTO: A LÍNGUA PORTUGUESA - OLAVO BILAC - COM GABARITO

TEXTO: A LÍNGUA PORTUGUESA
       Olavo Bilac
         Estou me vendo debaixo de uma árvore, lendo a pequena história da literatura brasileira. [...]
         Olavo Bilac! – eu disse em voz alta e de repente parei quase num susto depois que li os primeiros versos do soneto à língua portuguesa: última flor do Lácio, inculta e bela / És, a um tempo, esplendor e sepultura.
         Fiquei pensando, mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio que não sabia onde ficava mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia, repensei baixando o olhar para a terra. Se escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos?
         Fui falar com meu pai. Comecei por aquelas minhas sondagens antes de chegar até onde queria, os tais rodeios que ele ia ouvindo com paciência enquanto enrolava o cigarro de palha, fumava nessa época esses cigarros. Comecei por perguntar se minha mãe e ele não tinham viajado para o exterior.
         Meu pai fixou em mim o olhar verde. Viagens, só pelo Brasil, meus avós é que tinham feito aquelas longas viagens de navio, Portugal, França, Itália... não esquecer que a minha avó, Pedrina Perucchi, era italiana, ele acrescentou. Mas por que essa curiosidade?
         Sentei-me ao lado dele, respirei fundo e comecei a gaguejar, é que seria tão bom se ambos tivessem nascido lá. Estaria agora escrevendo em italiano, italiano! – fiquei repetindo e abri o livro que trazia na mão: Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece!
         Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse me encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua. Se você chegar a escrever bem, não precisa ser italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo? E as traduções? Renegar a língua é renegar o pais, guarde isso nessa cabecinha. E depois (ele voltou a abrir o livro), olha que beleza o que o poeta escreveu em seguida, Amo-te assim, desconhecida e obscura, veja que confissão de amor ele fez à nossa língua! Tem mais, ele precisa da rima para sepultura e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora? – acrescentou e levantou-se. Deu alguns passos e ficou olhando a borboleta que entrou na varanda: Já fez a sua lição de casa?
         Fechei o livro e recuei. Sempre que o meu pai queria mudar de assunto ele mudava de lugar: saía da poltrona e ia para a cadeira de vime. Saía da cadeira de vime e ia para a rede ou simplesmente começava a andar. Era o sinal. Não quero falar nisso, chega. Então a gente falava noutra coisa ou ficava quieta.
         Tantos anos depois, quando me avisaram lá do pequeno hotel em Jacareí que ele tinha morrido, fiquei pensando nisso, ah! Se quando a Morte entrou, se nesse instante ele tivesse mudando de lugar. Mudar depressa de lugar e de assunto. Depressa, pai, saia da cama e fique na cadeira ou vá pra rua e feche a porta!
                                           Durante aquele estranho chá: perdidos e achados.
                                                              Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p. 109-111.
1 – O poeta chama a língua portuguesa de flor do Lácio.
a)     Recorde o comentário da narradora:
“O tal de Lácio eu não sabia onde ficava...”
Você sabe onde ficava “o tal de Lácio”: onde?
Na Península Itálica (região onde surgiu Roma)
b)    Por que o poema chama a língua portuguesa de flor do Lácio?
Porque é um produto excepcionalmente bom, bonito (como uma flor) da língua que se falava no Lácio; porque é uma língua tão bela quanto uma flor que tem sua origem no latim, língua falada no Lácio.
2 – O poeta atribui à língua características que se opõem; explique:
a)     A língua é bela, mas é inculta – porque é inculta?
É inculta porque não é produto de cultura, é a língua de um povo ainda sem tradição cultural; É inculta, porque é primitiva, rude.
b)    A língua é esplendor (brilho, grandiosidade), mas é sepultura – por que é sepultura?
Porque, por ser uma língua desconhecida, o que é escrito nela fica fora do alcance dos outros, fica escondido, oculto.
3 – Por que a narradora ficou tão perturbada ao ver a língua portuguesa chamada de sepultura?
       Porque escrevia e assustou-se com a possibilidade de que não tivesse leitores, de que seus textos ficassem inacessíveis.
4 – Para a narradora, a solução para escapar da língua-sepultura seria escrever em italiano:
         “Estaria agora escrevendo em italiano, italiano!”
a)     Por que italiano, e não francês, alemão, inglês...?
Porque era descendente de italianos, poderia ter nascido na Itália, a língua italiana era para ela uma possibilidade que tinha sido perdida.
b)    Escrever em italiano e não em português seria melhor não por causa do número de falantes – observe que o italiano não está incluído no quadro da p. 195. Que vantagem teria o italiano sobre o português?
O italiano é uma língua mais difundida no mundo, mais estudada, mais conhecida, é a língua de um país com mais representação econômica, cultural e literária que os países de língua portuguesa.
5 – Recorde a opinião do pai sobre o poema:
       “O soneto é muito bonito...”
       Veja, na p. 200, o poema de Olavo Bilac – um soneto; conte o número de estrofes, o número de versos em cada estrofe e conclua: qual é a forma de um soneto?
       O objetivo é provocar a leitura do poema de Bilac e aproveitar a referência a soneto, na crônica, para que os alunos conheçam esta forma de composição poética.


quarta-feira, 5 de abril de 2017

ANEDOTA: JOÃOZINHO E SEU PAI - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


         Anedota: JOÃOZINHO E SEU PAI

         O pai do Joãozinho fica apavorado
quando este lhe mostra o boletim:
         -- Na minha época, as notas baixas
eram punidas com uma boa surra – comenta contrafeito.
        -- Legal, pai! Que tal pegarmos o professor na saída amanhã?

                                   Donaldo Buchweitz. Piadas para você morrer de rir.
                  Belo Horizonte: Leitura, 2001, p. 38.


1 – Observe a situação em que se dá o diálogo entre pai e filho.
a)     O momento é tenso ou descontraído? Por quê?
Tenso. Pela surpresa das notas baixas.

b)    Como está o pai? Justifique sua resposta com palavras do texto.
Apavorado. Com o que vê no boletim.

2 – Observe a fala do pai de Joãozinho.
a)     O que ele quer dizer ao comentar que, em sua época, as notas baixas eram punidas com surras?
Quis dizer que o Joãozinho merecia uma surra.

b)    Portanto, nesse momento, que imagem ele provavelmente tem de Joãozinho?
Um mal aluno.

c)     Você acha que o pai pretende dar uma surra no filho?
Não.

d)    Então, com que intenção o pai faz esse comentário? Que imagem de si mesmo ele quer passar para o filho?
Com a intensão de que Joãozinho merecia uma surra. Que na época dele, toda nota baixa era castigado com surra.

3 – O humor da anedota está no mal-entendido que há entre pai e filho quanto à compreensão da fala do pai.
a)     De acordo com a fala do pai, quem supostamente merecia algum tipo de punição? Por quê?
Joãozinho. Porque tinha notas baixas.

b)    Por que a resposta de Joãozinho surpreende?
Porque o professor seria o responsável.



terça-feira, 4 de abril de 2017

FÁBULA: O LOBO E O CORDEIRO - MARISA LAJOLO - COM GABARITO

FÁBULA– O LOBO E O CORDEIRO
                    Marisa Lajolo

A razão do mais forte vai sempre vencer
É o que adiante vocês hão de ver.
Num límpido regato um dia
Um cordeiro, sereno, bebia.
Eis que surge um lobo faminto:
- Como ousas sujar minha água?
Diz o lobo com fingida mágoa:
- Logo vais receber o castigo
Por assim desafiar o perigo.
- Senhor – o cordeiro respondeu -,
Não te zangues: não vês que me encontro
Vinte passos abaixo de ti
E, portanto, seria impossível
Macular tua água daqui?
- Tu a sujas – diz o bicho feroz -,
Além disso estou informando
Que falaste de mim ano passado.
- Como poderia te ter ofendido
Se não era nascido então,
E o leite materno inda bebo?
- Ora, ora, se não foste tu,
Com certeza foi teu irmão.
- Não o tenho.
- Então foi algum dos teus:
Pois que nunca me deixam em paz,
Tu, teus pastores e cães;
Necessária a vingança se faz.
E no fundo da floresta
Com toda tranquilidade
O lobo devora o cordeiro
Sem outra formalidade.
                                     Histórias sobre ética. São Paulo: Ática, 1999, p. 11-12.
        (Coleção para gostar de ler, v. 27; coordenação e seleção de textos de
                                                                                                           Marisa Lajolo).
1 – Identifique:
a)     Qual é o primeiro argumento do lobo, para justificar sua ameaça ao cordeiro?
O cordeiro estava sujando a água que ele ia beber.

b)    O lobo apresenta esse argumento com fingida mágoa: com que objetivo ele finge que está magoado?
Com o objetivo de disfarçar a falsidade de seu argumento.

c)     Qual é o contra-argumento do cordeiro?
Estava abaixo do lobo, portanto, não podia estar sujando a água.

d)    Qual é a atitude do lobo diante do contra-argumento do cordeiro?
Ignora o contra-argumento e insiste em seu argumento – reafirma que o cordeiro suja a água – e em seguida apresenta outro argumento.

2 – Identifique:
a)     Qual é o segundo argumento do lobo, para continuar ameaçando o cordeiro?
O cordeiro tinha falado mal dele, no ano anterior.

b)    Qual é o contra-argumento do cordeiro?
Ainda não tinha nascido, no ano anterior.

c)     Qual é a ração do lobo ao contra-argumento do cordeiro?
Não nega o contra-argumento, mas apresenta outro.

3 – Identifique:
a)     Qual é o terceiro argumento do lobo, para insistir na ameaça ao cordeiro? Que pressuposto está subjacente a esse argumento?
O irmão do cordeiro tinha falado mal dele; o pressuposto é que o cordeiro deveria pagar pelos atos do irmão.

b)    Qual é o contra-argumento do cordeiro?
Não tinha irmão.

c)     Qual é a resposta do lobo? Que pressuposto está subjacente a essa resposta?
Algum dos pastores ou dos cães tinha falado mal dele; o pressuposto é que o cordeiro deveria pagar pelos atos daqueles com quem convivia.

4 – No jogo de argumentos e contra-argumentos, qual dos dois tinha razão: o lobo ou o cordeiro?
       O cordeiro, porque apresentava fatos verdadeiros, enquanto o lobo inventava fatos.

5 – Recorde as palavras finais do lobo:
       “Necessária a vingança se faz”.
       Foi mesmo por vingança que o lobo devorou o cordeiro? Justifique sua resposta.
       Não, não havia razão para vingança, o cordeiro tinha cometido nenhuma falta; devorou o cordeiro porque estava faminto.

6 – Identifique, na fábula, o preceito moral ou a moral e explique: que relação tem esse preceito com a história do lobo e do cordeiro?
       A razão do mais forte vai sempre vencer; a fábula mostra que, embora o cordeiro é que tivesse razão, venceu o lobo, apenas porque era mais forte.


POEMA: O HOMEM; AS VIAGENS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: O HOMEM; AS VIAGENS
                Carlos Drummond de Andrade

O homem, bicho da Terra tão pequeno
Chateia-se na Terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a Lua
Desce cauteloso na Lua
Pisa na Lua
Planta bandeira na Lua
Experimenta a Lua
Coloniza a Lua
Civiliza a Lua
Humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
Pisa em Marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado
Vamos a outra parte?
Claro – diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus
O homem põe o pé em Vênus,
Vê o visto – é isto?
Idem
Idem
Idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o Sol, falso touro
Espanhol domado.
Testam outros sistemas fora
Do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(Estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar, colonizar, civilizar
Humanizar o homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria de con-viver.

                                A palavra mágica. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 81-83.
                                             Carlos Drummond de Andrade Granã Drummond
                                                                              www.carlosdrummond.com.br

1 – Consultando o poema nas páginas deste livro, determinem sua estrutura:
a)     O poema fala:
- primeiro, de viagens ao espaço,
Viagem ao espaço: as cinco primeiras estrofes mais os três primeiros versos da sexta estrofe.

- depois, de viagem de si a si mesmo.
Viagens de si a si mesmo: a última estrofe, excetuados os três primeiros versos.

Identifiquem essas duas partes no poema.
b)    Identifiquem o destino, o ponto de chegada de cada uma das viagens ao espaço, na ordem em que elas são apresentadas no poema.
Lua; Marte; Vênus; Júpiter; outros planetas; Sol; outros sistemas.

c)     Observem que a ordem de apresentação das viagens ao espaço obedece a um critério; determinem qual é esse critério:
- Do lugar mais interessante ao mais chato?
- Do lugar mais próximo ao mais distante?
- Do lugar mais conhecido ao mais misterioso?

2 – Segundo os primeiros versos do poema, o que leva o homem a explorar o desconhecido? O que busca no desconhecido?
         O homem quer fugir da Terra, quer escapar para outros lugares: chateia-se na Terra, onde há pouca diversão e muita miséria; busca lugares melhores, em que tenha mais alegria, em que se sinta melhor.

3 – Comparem estes quatro trechos do poema:
         1ª viagem                                            2ª viagem
desce cauteloso na Lua                            “... o homem desce em Marte
Pisa na Lua                                                    pisa em Marte
Planta bandeirola na Lua                            experimenta
Experimenta a Lua                                       coloniza
Coloniza a Lua                                               civiliza
Civiliza a Lua                                                  humaniza Marte com engenho e
Humaniza a Lua”.                                         Arte.”

3ª viagem                                                      4ª viagem
“O homem põe o pé em Vênus.                “O homem funde a cuca se não
Vê o visto – é isto?                                                       for a Júpiter.
Idem                                                               proclamar justiça junto com
Idem                                                                               injustiça.
Idem”.                                                            Repetir a fossa
                                                                        Repetir o inquieto
                                                                        Repetitório.”
a)     Observem que a enumeração das ações do homem vai sendo resumida, de viagem a viagem.
O que quer o poeta mostrar com isso?
Que em todos os lugares, tudo é igual, não é preciso repetir, é sempre a mesma coisa.

b)    Comparem a forma como o poeta expressa a chegada do homem à Lua, a Marte e a Vênus:
- “desce cauteloso na Lua”;
- “desce em Marte” (já não está mais cauteloso...);
- “põe o pé em Vênus” (já não “desce”, põe logo o pé).
O homem vai se tornando cada vez mais:
Entusiasmado?             Confiante?             Corajoso?

4 – Localizem na quinta estrofe o verso:
       “O espaço todo vira Terra-a-terra”.
       Em Terra-a-terra, o poeta reúne em uma só palavra duas características que o espaço adquire:
       O espaço todo vira Terra + o espaço todo vira Terra-a-terra.
a)     O espaço todo vira Terra – por quê?
Porque o homem se chateia em todos os lugares, todos os lugares são iguais a Terra.

b)    O espaço todo vira terra-a-terra – o que quer dizer terra-a-terra?
Comum, sem novidade, corriqueiro, trivial.

c)     Concluam: quais são as duas características do espaço reunidas na palavra Terra-a-terra?
Todos os planetas e sistemas são iguais à Terra e todos são comuns, não oferecem novidades.

5 – Recordem a viagem ao sol:
       “O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever?
       Não-vê que ele inventa
       Roupa insiderável de viver no Sol.
        Põe o pé e:
        Mas que chato é o Sol, falso touro
        Espanhol domado.”
a)     Nesse trecho, o poema cria duas palavras:
- ... só para tever – Qual o sentido dessa palavra?
Ver pela televisão (combinação de tevê + ver).

- ... roupa insiderável de viver no Sol.
Descubram o sentido dessa palavra, observando sua formação: do verbo siderar, que existe, e quer dizer fulminar, aniquilar, o poeta formou o adjetivo que não existe – insiderável:
                                In+siderável
Concluam: o que é uma roupa insiderável? Por que, para viver no Sol, seria necessário ter uma roupa insiderável?
Roupa que não pode ser aniquilada; o Sol destruiria qualquer roupa que não fosse resistente a seu calor.

b)    O poeta compara o Sol a um falso touro espanhol domado.
Expliquem por que o Sol é um touro espanhol (o touro das touradas de Espanha), por que é falso e por que é domado.
O Sol parece potente, forte como os touros que ameaçam os toureiros nas touradas da Espanha; mas é um touro falso porque, na verdade, não é uma ameaça; é domado porque é conquistado, é vencido pelo homem.

6 – Observem como o poeta dividiu o verbo colonizar na sexta estrofe:
       “Restam outros sistemas fora do solar a col-onizar.”
       Oni – é um elemento que se junta a palavras para acrescentar a elas o sentido de tudo, todo:
       Onipresente = presente em todos os lugares;
       Onisciente = que sabe todas as coisas.
       Em col-onizar, o poeta reúne dois sentidos em uma só palavra:
       - colonizar outros sistemas – Qual é o sentido?
       Transformar outros sistemas em colônias da Terra- ocupar, dominar outros sistemas.

        - col-onizar outros sistemas – Qual é o sentido?
        Transformar todos os outros sistemas em colônias da Terra.

7 – Releiam a última estrofe, em que o poeta fala de uma outra viagem.
a)     Qual é o destino, o ponto de chegada dessa outra viagem?
Destino: o próprio homem (si mesmo).

Qual é o objetivo dessa outra viagem?
Objetivo: colonizar, civilizar, humanizar o homem (si mesmo).

b)    O poeta não tem certeza de que o homem esteja equipado para esta outra viagem – recordem a pergunta:
- O homem está equipado para a viagens ao espaço – a primeira estrofe cita o equipamento: Qual é?
Foguete, cápsula, módulo.

- Que “equipamento” vocês julgam que o homem precisaria ter para realizar essa outra viagem?
Resposta pessoal. Algumas possibilidades: amor, respeito pelos outros, paciência, coragem, etc...


domingo, 2 de abril de 2017

GERÚNDIO E GERUNDISMO - VEJA A DIFERENÇA

      GERÚNDIO   E GERUNDISMO  -  VEJA  A DIFERENÇA        
A t  A  Tirinha   do Grump, que apareceu no vestibular do ITA:



No lugar de reclamação, ação! Comprei um livro com tudo sobre a Reforma Ortográfica. Vou estar lendo diariamente. Vou estar aprendendo cada vez mais. Vou estar me superando a cada dia.
– Bem que podiam ter aproveitado a Reforma para estarem limando o gerúndio.
***
Temos, nos quadrinhos, uma crítica a um vício de linguagem que virou “modinha”, o gerundismo. Trata-se do emprego inadequado da forma nominal gerúndio. Muitas pessoas confundem gerúndio e gerundismo e, das duas uma: ou empregam equivocadamente o verbo no gerúndio ou evitam-no a todo custo, achando que é errado usá-lo.
Para evitar as confusões, vamos definir cada um dos termos:
§ Gerúndio: forma nominal dos verbos que indica ação em processo, ou seja, a ação já teve início e ainda está em andamento, não foi encerrada: “Os alunos estão fazendo a prova, enquanto a professora observa.”
§ Gerundismo: vício de linguagem que consiste na construção de locução verbal exagerada, com excesso de verbos e um deles no gerúndio, na tentativa de reforçar a ideia de continuidade de uma ação no futuro: “Vou estar fazendo a lição de casa após o almoço”.
Como diriam meus alunos, ‘o que pega’ é que há falta de objetividade na construção, pois não há necessidade de tantos verbos na locução. A mensagem ficaria mais objetiva e clara, por exemplo, assim:
§ Vou fazer a lição de casa após o almoço.
Além da falta de objetividade, há também outro problema: ‘vou fazer’ é pontual, assertivo, ao passo que ‘vou estar fazendo’ transmite a ideia de que o processo vai ser iniciado, mas nada se sabe quanto ao término…
Então é melhor não usar locuções com verbo no gerúndio? Não! Essa forma nominal é útil, mas deve ser empregada apenas quando a intenção for indicar que a ação não terminou, ainda está em curso, isoladamente ou em relação a outra ação, como nesta frase:
§ A velhinha estava fazendo palavras cruzadas enquanto esperava o médico atendê-la. (ação iniciada e não concluída)
Como iniciei o texto com uma tirinha, vou encerrá-lo com outra – o cartunista Laerte fez bom uso do gerúndio na tirinha abaixo:


Resumindo: evite o gerúndio desnecessário, mas continue a empregá-lo em locuções verbais que expressem ação iniciada e ainda não concluída.

E quando vocês estiverem empregando corretamente essa forma verbal, ficarei satisfeita por auxiliado.