quinta-feira, 12 de outubro de 2023

CRÔNICA: UM PÉ DE MILHO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: UM PÉ DE MILHO

                Rubem Braga

        Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirmSJdOpPf8maZvGoH3oYGTDOTK4FUJNNopg63TsLph7Zr_Ppgm5erRgNf-eEOm2XNtH03ayJu_pfxphJuGV412iQ7aV_UcDcoyNIE8mpQTiOkUnqHfgclSFacAFEc2XXToAp_jADY0DpE2o1JfqfCnQX_4HXuGxBDBBV68FswP5KgUvcr-i-2yVRoN5A/s1600/MILHO.jpg


        Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim — mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa. Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo veio um amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e afirmou que era cana.

        Sou um ignorante, um pobre homem de cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as suas folhas além do muro — e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais — mas é diferente.

        Um pé de milho sozinho, em um canteiro, espremido, junto do portão, numa esquina de rua — não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas — mas na glória de seu crescimento, tal como o vi em uma noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, as crinas ao vento — e em outra madrugada parecia um galo cantando.

        Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores belas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. É alguma coisa de vivo que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.

Crônica extraída da obra 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2014.

Entendendo a crônica:

01 – “Detesto comparações surrealistas – mas na glória de seu crescimento, tal como o vi em uma noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, as crinas ao vento – e em outra madrugada parecia um galo cantando”. Sobre esse fragmento, é correto afirmar:

a)   O enunciador evidencia uma contradição gerada pela sua percepção que transcende a realidade.

b)   A linguagem utilizada pelo cronista caracteriza-se pelo uso predominante de termos no sentido denotativo.

c)   O termo “na glória do seu crescimento” expressa uma ideia de modo.

d)   Os elementos linguísticos “mas” e “e” agrupam dois enunciados, estabelecendo entre eles uma relação de oposição.

e)   O elemento linguístico “tal” constitui um marcador textual que retoma “comparações”.

02 – Assinale a opção errada quanto ao emprego dos verbos:

a)   Se reescrevêssemos o segundo período do último parágrafo no imperfeito, ele assim ficaria: “Havia muitas flores belas no mundo, e a flor de milho não seria a mais linda”.

b)   O cronista, com habilidade, mescla algumas vezes o presente com o imperfeito, como se observa nos dois períodos iniciais do terceiro parágrafo.

c)   No geral, o autor escreve no presente sobre fatos acontecido em passado recente.

d)   O verbo “trazer”, no segundo parágrafo, está empregado numa construção em que a voz é passiva.

e)   Passa para voz passiva, a frase “Já viu o leitor um pé de milho?” ficaria assim: “Um pé de milho já foi visto pelo leitor?”.

03 – O motivo que levou o autor a escrever a crônica foi:

a)   os americanos terem estabelecido comunicação com a lua.

b)   ter nascido um pé de milho em seu canteiro.

c)   o pé de milho de seu canteiro ter pendoado.

d)   o pé de milho de seu canteiro ter conseguido sobreviver ao transplante.

e)   ter sido confirmada a sua opinião de que o que nascia era um pé de milho.

04 – A expressão sublinhada em: “Os americanos, através do radar, ...”, indica:

a)   lugar.

b)   instrumento.

c)   meio.

d)   causa.

e)   Condição.

05 – “...nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim...”, “...e declarou desdenhosamente que aquilo era capim.”; os dois elementos sublinhados no texto indicam, respectivamente:

a)   desprezo / desconhecimento;

b)   desconhecimento / desprezo;

c)   desconhecimento / desconhecimento;

d)   desprezo / desprezo;

e)   afetividade / menosprezo.

06 – A substituição correta do termo sublinhado por um sinônimo está em:

a)   “Transplantei-o para o exíguo canteiro...” = raso;

b)   “...e declarou desdenhosamente que aquilo era capim” = depreciativamente;

c)   “...veio enriquecer o nosso canteirinho vulgar...” = popular;

d)   “Anteontem aconteceu o que era inevitável...” = imprevisível;

e)   “...que se afirma com ímpeto e certeza” = velocidade.

07 – Nos excertos há um sintagma substantivo + adjetivo. Assinale a alternativa em que a troca da posição entre esses vocábulos traz mudança de sentido.

a)   “Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa”.

b)   “Secaram as pequenas folhas”.

c)   “...em um canteiro espremido...”.

d)   “...e é um esplêndido pé de milho”.

e)   “Sou um ignorante, um pobre homem da cidade.”

08 – Assinale o item que contém um vocábulo que não pertence ao mesmo campo semântico das demais.

a)   quintal/ jardineiro/ capim.

b)   folhas/canas/milharais.

c)   lavoura/ raízes/chão.

d)   flores/pendão/terra.

e)   lavrador/ pé de milho/cavalo.

09 – O fato de comparar o pé de milho a um cavalo empinado e a um galo cantando destaca uma característica do pé de milho, que é o(a):

a)   altivez;

b)   solidão;

c)   mediocridade;

d)   colorido;

e)   beleza.

10 – O item em que o adjetivo tem valor objetivo e não representa uma opinião do cronista é:

a)   “...esplêndido pé de milho...”;

b)   “...um pobre homem da cidade...”;

c)   “Um pé de milho sozinho...”;

d)   “...muitas flores lindas no mundo...”;

e)   “...nosso canteirinho vulgar...”.

11 – O cronista compõe inicialmente sua crônica em primeira pessoa do singular, mas no quinto parágrafo muda para a primeira pessoa do plural: “... mas que nos encantou...”, “...veio enriquecer nosso canteirinho vulgar...”; isto significa que:

a)   o cronista enganou-se na estruturação do texto;

b)   a crônica passou a considerar também o leitor como participante;

c)   outras pessoas devem viver com o cronista;

d)   o canteiro devia pertencer ao condomínio;

e)   o cronista ampliou as apreciações para todo o gênero humano.

12 – “Já viu o leitor um pé de milho?” Transpondo-se essa oração para a ordem direta, obtém-se:

a)   Um pé de milho já foi visto pelo leitor?

b)   Um pé de milho o leitor já viu?

c)   Já viu um pé de milho, leitor?

d)   O leitor um pé de milho já viu?

e)   O leitor já viu um pé de milho?

 

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