quinta-feira, 26 de outubro de 2023

ARTIGO DE OPINIÃO: NA TRASEIRA DO CAMINHÃO - DRAUZIO VARELLA - COM GABARITO

 Artigo: NA TRASEIRA DO CAMINHÃO

          Drauzio Varella

        Na minha infância era moda na minha rua chocar caminhão: pendurar-se na traseira do veículo e saltar na virada da esquina. Veja artigo do dr. Drauzio.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6e3oDYVQRqVK0UG__yyQysviVteIl2brff5XWzRM4yDn-oDentm4VDsLu1WM8efi3_tN0TV2-ty_hXGG6ICt7LTSCQ0lIO2VPnZsC7Zs-KnqWHrOjTq-6pM_zdVmufP2ZRb2MAy2P44yrzIFUbHYt71ccaaHKRRvZkIvyZUjBZFY_uLgrDfiI2tVPOuU/s1600/TRASEIRA.jpg


        Quando eu tinha 7, 8 anos, virou moda na minha rua chocar caminhão: pendurar-se na traseira do veículo e saltar na virada da esquina. Uma vez, choquei o caminhão de lixo e quando pulei na frente de casa, meu pai, que chegava do trabalho, estava parado no portão com cara de quem não gostou da gracinha. Recebi o mais detestável dos castigos: domingo inteiro de pijama na cama.

        Cabeça-dura, repeti a façanha outras vezes, até que decidi chocar a caminhonete do seu Germano, o alemão da fábrica em frente, só para me exibir para os meninos, que morriam de medo dele. Sentei na calçada ao lado da caminhonete. Dois operários puseram umas caixas na carroceria. Seu Germano, saindo para o almoço, deu a partida. Eu pendurado atrás. Infelizmente, na esquina, em vez de diminuir a velocidade ele acelerou, e me faltou coragem para pular.

        Fomos na direção do largo Santo Antônio, cada vez mais depressa, eu com os ossos batendo na lataria, morto de medo de cair. Ao chegar no largo, duas senhoras me viram naquela velocidade e gritaram para parar. Seu Germano nem ouviu. Com os braços cansados, fiz um esforço para saltar para dentro da carroceria, mas a caminhonete pulava feito cavalo bravo nos paralelepípedos da rua e eu não consegui. Tentei de novo e não deu. Mais uma vez, pior ainda. Então, fiquei apavorado. Achei que ia morrer e que meu pai ia ficar muito triste, porque ele sempre dizia: “Deus me livre, perder um de vocês”.

        Talvez o medo da morte tenha me dado força na quarta tentativa: esfolei a canela inteira, mas consegui passar a perna e impulsionar o corpo para dentro. Caí no meio das caixas, com o coração disparado, e chorei. Quando a caminhonete parou na porta do seu Germano, achei melhor ficar quietinho entre as caixas, até ele voltar para a fábrica depois do almoço. Também não deu certo: ele resolveu descarregar a caminhonete e me encontrou escondido. Tomou um susto tão grande que até pulou para trás:

        — Menino dos infernos! Como veio parar aqui?

        No caminho, ele me deu conselhos e me contou do pai. Achei que os castigos do pai dele eram muito piores. O meu nunca tinha me trancado no guarda-roupa a noite inteira.

        Expliquei que só queria chocar até a esquina, mas a velocidade tinha sido tanta… Ele ficou enfezado e disse que ia contar para o meu pai. Pedi para não fazer isso porque eu ia apanhar, mas ele não se importou, falou que era merecido até. Mostrei as pernas esfoladas, ele não se comoveu. Por fim, contei dos domingos de castigo na cama. Nesse momento, brilhou um instante de compaixão no olhar dele:

        — Seu pai deixa você de pijama, deitado o domingo inteiro?

        — Só quando eu desobedeço muito.

        — Está louco! Teu pai é severo como o meu, na Alemanha. Entre na caminhonete que eu te levo de volta.

        No caminho, ele me deu conselhos e me contou do pai. Achei que os castigos do pai dele eram muito piores. O meu nunca tinha me trancado no guarda-roupa a noite inteira. Seu Germano concordou em manter segredo, desde que eu prometesse nunca mais chocar veículo nenhum. Desde então, apesar do jeito bravo, ele ficou meu amigo. Quando me encontrava, às vezes dizia:

        — Não vá esquecer: menino que cumpre a palavra merece respeito.

Drauzio Varella. 16 de maio de 2011. Revisado em 6 de março de 2018.

Entendendo o artigo:

01 – O que o autor fazia na sua infância que era moda na sua rua?

      Na sua infância, o autor costumava pendurar-se na traseira de caminhões e saltar na virada da esquina.

02 – Qual foi a reação do pai do autor quando ele chocou o caminhão de lixo?

      O pai do autor não gostou da gracinha e o castigou com um domingo inteiro de pijama na cama.

03 – Por que o autor decidiu chocar a caminhonete de seu Germano?

      O autor decidiu chocar a caminhonete de seu Germano para se exibir para os meninos que tinham medo dele.

04 – O que aconteceu quando o autor tentou pular da caminhonete do seu Germano na esquina?

      Na tentativa de pular da caminhonete do seu Germano na esquina, o autor não conseguiu devido à velocidade do veículo e ao medo de cair.

05 – Por que o autor ficou apavorado durante essa experiência?

      O autor ficou apavorado porque pensou que poderia morrer e que seu pai ficaria triste, já que costumava dizer: "Deus me livre, perder um de vocês".

06 – Qual foi a reação de seu Germano ao encontrar o autor na caminhonete?

      Seu Germano ficou surpreso e chocado ao encontrar o autor na caminhonete e afirmou: "Menino dos infernos! Como veio parar aqui?"

07 – Como a relação entre o autor e seu Germano mudou após esse incidente?

      Apesar do susto inicial, seu Germano concordou em manter segredo e se tornou amigo do autor, aconselhando-o a cumprir sua palavra e a não chocar mais veículos.

 

 

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