quarta-feira, 17 de junho de 2020

POEMA: FAVELÁRIO NACIONAL - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: FAVELÁRIO NACIONAL
        
     Carlos Drummond de Andrade

Quem sou eu para te cantar, favela,
Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
...
Aqui só vive gente, bicho nenhum
tem essa coragem.
...
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
...

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Entendendo o poema:

01 – Nos versos: “Mas, favela, ciao, / que este nosso papo / está ficando tão desagradável. / vês que perdi o tom e a empáfia do começo?” Verifica-se a presença predominante das funções de linguagem:

a)   Apelativa e referencial.

b)   Poética e referencial.

c)   Metalinguística e apelativa.

d)   Fática e emotiva.

02 – Neste poema o que o autor aborda?

      Ele faz uma breve análise da situação das favelas brasileiras na década de 1960.

03 – Leia este trecho do poema e responda:

“Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.”

        Assinale a alternativa que melhor sintetiza as ideias expressas no trecho do poema:

a)   A favela é um lugar perigoso, habitado por pessoas sem moral.

b)   O medo é um sentimento associado à favela como locus da violência, constante ameaça à ordem urbana.

c)   A cidade é um espaço segregado, que dificulta o conhecimento e o contato com o diferente e reforça preconceito sociais.

d)   Os habitantes da cidade são culpados pela pobreza e pela violência urbana.

e)   A violência está presente no imaginário social sobre as favelas e atenua as barreiras da segregação especial.

04 – Em uma das opções abaixo, percebe-se que o verbo foi utilizado de forma coloquial, não seguindo a rigidez imposta pelas regras gramaticais. Assinale a opção em que há essa ocorrência:

a)   “E nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?”

b)   “Custa ser irmão / custa abandonar nossos privilégios”.

c)   “Vês que perdi o tom e a empáfia do começo?”

d)   “Aqui só vive gente, bicho nenhum / tem essa coragem”.

05 – Nos versos abaixo, percebe-se que foram utilizadas figuras de linguagem, enfatizando o sentimento do eu lírico. Porém, há uma opção em que não se verifica esse fato. Assinale-a.

a)   “Baixou em mim na viração / direto, rápido, telegrama nasal”.

b)   “Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver”.

c)   “Aqui só vive gente, bicho nenhum”.

d)   “Favela, erisipela, mal-do-monte”.

06 – Assinale a alternativa em que a função sintática exercida pela oração em destaque está corretamente indicada.

a)   “Medo de que sintas como sou culpado” – Adjunto adverbial.

b)   “Custa ser seu irmão” – Objeto direto.

c)   “... telegrama nasal anunciando morte...” – Adjunto adnominal.

d)   “Medo só de te sentir, encravada” – Objeto direto.

07 – Assinale a alternativa que apresenta uma análise INACEITÁVEL sintática ou semanticamente.

a)   O vocábulo melhor introduz uma espécie de retificação do que foi anteriormente abordado.

b)   Os dois pontos no versos 7 (sete) foram utilizados para introduzir a enumeração das características do mau cheiro.

c)   Em “e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade”, o termo em destaque complementa o nome que exerce função sintática de predicativo do sujeito.

d)   O pronome demonstrativo este foi utilizado para marcar uma posição no tempo presente em que se estabelece o diálogo.


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