domingo, 21 de junho de 2020

CRÔNICA: OUSADIA - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Ousadia

              Fernando Sabino

        A moça ia no ônibus muito contente desta vida, mas, ao saltar, a contrariedade se anunciou:

        -- A sua passagem já está paga, disse o motorista.

        -- Paga por quem?

        -- Esse cavalheiro aí.

        E apontou um mulato bem vestido que acabara de deixar o ônibus, e aguardava com um sorriso junto à calçada. 

        -- É algum engano, não conheço esse homem. Faça o favor de receber. 

        -- Mas já está paga...

        -- Faça o favor de receber! -- insistiu ela, estendendo o dinheiro e falando bem alto para que o homem a ouvisse: -- Já disse que não conheço! Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando, o senhor não está vendo? Por favor, faço questão que o senhor receba minha passagem. 

        O motorista ergueu os ombros e acabou recebendo: melhor para ele, ganhava duas vezes. A moça saltou do ônibus e passou fuzilada de indignação pelo homem.

        Foi seguindo pela rua sem olhar para ele. 

        Se olhasse, veria que ele a seguia, meio ressabiado, a alguns passos. 

        Somente quando dobrou à direita para entrar no edifício onde morava, arriscou uma espiada: lá vinha ele! Correu para o apartamento, que era no térreo, pôs-se a bater aflita:

        -- Abre! Abre aí! 

        A empregada veio abrir e ela irrompeu pela sala, contando os pais atônitos, em termos confusos, a sua aventura. 

        -- Descarado! Como é que tem coragem? Me seguiu até aqui! 

        De súbito, ao voltar-se, viu pela porta aberta que o homem ainda estava lá fora, no saguão.

        Protegida pela presença dos pais, ousou enfrentá-lo:

        -- Olha ele ali! É ele, venha ver! Ainda está ali, o sem-vergonha. Mas que ousadia! 

        Todos se precipitaram para a porta. A empregada levou as mãos à cabeça.

        -- Mas a senhora, como é que pode! É o Marcelo. 

        -- Marcelo? Que Marcelo? -- a moça se voltou surpreendida.

        -- Marcelo, o meu noivo. A senhora conhece ele, foi quem pintou o apartamento. 

        A moça só faltou morrer de vergonha:

        -- É mesmo, é o Marcelo! Como é que não reconheci! Você me desculpe, Marcelo, por favor. 

        No saguão, Marcelo torcia as mãos, encabulado:

        -- A senhora é que me desculpe, foi muita ousadia. 

Fernando Sabino.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, quem preferiu a seguinte fala: “Esse cavalheiro aí”?

      O motorista.

02 – Toda narrativa obedece a um esquema de constituição, de organização. É importante perceber que os acontecimentos sucedem numa determinada ordem e com a intervenção dos personagens. Nesse momento é que acontecem alguns fatos que darão origem à história narrada. Após, a leitura do texto, aponte o fato que deu origem a essa história.

      O fato de um “estranho” ter pago a passagem de ônibus da moça.

03 – Em geral, os fatos de uma narrativa acontecem numa ordem de causa e consequência, ou de motivação e efeito. No texto, qual foi a consequência de Marcelo ter pagado a passagem da moça?

      Despertou raiva e desconfiança, pois não o reconheceu.

04 – O foco narrativo é:

a)   1ª pessoa (também é personagem)

b)   3ª pessoa (observador – conta apenas o observa).

c)   3ª pessoa onisciente (sabe também o que as personagens pensam).

05 – Em sua opinião, a crônica “Ousadia” faz alguma crítica a algum comportamento humano muito presente em nossa sociedade? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Identifique no enredo da crônica a sequência dos fatos e enumere-os:

(1) Situação inicial.

(2) Complicação ou conflito.

(3) Clímax.

(4) Desfecho.

(3) Ao subir para seu apartamento, a moça percebe que o homem que a estava seguindo está no saguão do prédio.

(2) Surpreende-se ao saber que a passagem já foi paga por um rapaz que a espera.

(1) Uma moça, no ônibus, vai pagar a passagem.

(4) A moça só faltou morrer d vergonha porque descobre que o homem não era suspeito e sim o noivo de sua empregada, ela não o havia reconhecido.

07 – Nos trechos abaixo coloque O para opinião e F para fato:

(F) “A sua passagem já está paga”.

(F) “E apontou um mulato bem-vestido...”

(O) “Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando...”

(O) “Se olhasse, veria que ele a seguiam...”

(F) “... foi quem pintou o apartamento”.

08 – Com relação ao gênero e a sua estruturação, responda:

a)   Qual é o gênero textual?

Crônica.

b)   Qual é o tipo discursivo?

Cotidiano.

c)   Qual é o domínio discursivo desse gênero?

Crítica.

d)   Qual é a sua finalidade / função sócio comunicativa / para que serve / objetivo?

Ele tem por fim fazer uma crítica sobre algo cotidiano na sociedade, com objetivo de que isso melhore talvez.

e)   Quais são as principais características?

Crítica e reflexão.

09 – Qual é o tema e o assunto do texto?

      O tema é a ousadia, e o assunto abordado foi o preconceito.

10 – Na frase: “Abre! Abre aí!”, o uso da exclamação sugere o quê?

      Pressa e medo.

 


18 comentários:

  1. Obrigado ajudou muito na minha lição agradeço as respostas obrigado

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  2. gente vc sabe qual é essa pergunta 1.Qual é o tema desta crônica?

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  3. Alguém sabe qual efeito essa crônica causa no leitor?

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  4. Qual é o público-alvo desse texto?

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