quinta-feira, 7 de maio de 2020

TEXTO: A PUBLICIDADE NA TV - CIRO MARCONDES FILHO - COM GABARITO


Texto: A PUBLICIDADE NA TV
         
    Ciro Marcondes Filho

        O pesquisador Jesús Martin Barbero diz que, através da publicidade, nossa sociedade constrói dia a dia a imagem que cada um tem de si. Para ele, a publicidade é um espelho, apesar de bem deformado, pois a imagem do lado de lá é muito mais bela que a imagem do lado real.
        A publicidade, no passado, teve a função de vender produtos. Era sua razão de ser. Hoje, ela tem outra função muito especial: a de demonstração de modelo a serem seguidos, isto é, a apresentação de padrões físicos, estéticos, sensuais, comportamentais, aos quais as pessoas devem se amoldar. A publicidade dirá regras de reconhecimento e valorização social. […]
        Se no passado ela funcionava como a TV, as revistas, o cinema, apresentando indiretamente esses modelos estéticos, hoje a venda de mercadorias – sua aparente razão de ser – tornou-se secundária. Em primeiro lugar, ela vende, idealiza os modelos estéticos, sexuais e comportamentais.
        Além disso, a publicidade na sociedade industrial capitalista funciona como um reforço diário das ideologias, do princípio da valorização das aparências, da promoção de símbolos de status (carros, roupas, ambientes, bebidas, joias, objetos luxuosos de uso pessoal). De certa maneira, como no humor, a publicidade reforça também tendências negativas, encobertas ou disfarçadas, da cultura. Ela confirma diferenças, segregações, distinções, trabalhando em concordância com os preconceitos sociais e com as discriminações de toda espécie […]. Em suma, ela é produzida para estar de acordo e, portanto, para reforçar as desigualdades e os problemas sociais, culturais, étnicos ou políticos. Essa função reforçadora é seu suporte para a venda de mercadorias, pois, ao mesmo tempo que incita ao consumo, é o próprio veículo, o transporte de valores e dos desejos que estão ancorados na cultura que as consome. As mercadorias trazem em si, incorporado, tudo aquilo que a sociedade deseja, e por isso são consumidas.
        […]
        A publicidade, especialmente a de TV, veicula valores: a raça branca (dominante) é transmitida, por exemplo, como a única bela, modelar, válida. No Peru, na África, no Nordeste brasileiro, a criança branca de olhos azuis, docemente cuidada por sua mãe loira, de cabelos sedosos e aveludados, é o tipo ideal de publicidade.
        A pesquisadora alemã Karin Buselmeler realizou uma interessante pesquisa sobre a imagem da mulher na televisão. Ela constatou, em primeiro lugar, que a mistificação do trabalho doméstico ocorre de forma mais clara na publicidade, colocando os afazeres de casa como um “trabalho nobre” de mulher. A mulher aparece nesses quadros como a responsável pela felicidade da família, felicidade só atingível pela aquisição de produtos oferecidos pela publicidade. O filho teria poucas chances de brincar no parque infantil se não cuidasse atentamente de seus cabelos; o marido, se não possuir camisa branca, brilhante, será olhado de modo atravessado pelos colegas. De tudo isso a mulher tem de cuidar.
        […]
        Em resumo, concluímos então que a publicidade trabalha através da promoção de puras aparências: não se compram mercadorias por suas qualidades inerentes nem pelo seu valor de uso, mas pela imagem que o produto veicula no ambiente da vida do consumidor. Nenhuma dessas mercadorias realiza de fato o que pretende, isto é, nenhum cigarro propicia aventuras, nenhum carro traz vida luxuosa, nenhum uísque conquista mulheres. Em todos esses casos, o produto é inteiramente secundário; as pessoas são seduzidas por alguma coisa que está fora e muito além dele.
  Ciro Marcondes Filho. Televisão – A vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1988. p. 77-80.
                             Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – Atual Editora -1998 – p. 163-6.

Entendendo o texto:

01 – No 1° parágrafo, o texto compara a publicidade a um espelho. Com base na leitura de todo o texto, responda:
a)   Por que a publicidade é comparada a um espelho?
Porque ela reflete os valores e os comportamentos sociais.

b)   Por que a imagem, nesse espelho, é distorcida?
Porque o mundo criado pela publicidade é artificial e não traz os problemas do mundo real.

c)   Destaque do 5° parágrafo um exemplo que justifique sua resposta anterior.
O caso da criança branca, de olhos azuis, que serve como único modelo de criança em diferentes países do mundo.

02 – Segundo o texto, no passado a publicidade se preocupava em promover exclusivamente o produto, com mensagens diretas como “compre isso”, “leve aquilo”, etc. Hoje, com o aumento da competição, a promoção do produto é feita indiretamente.
a)   O que, na publicidade atual, ganha mais importância do que o próprio produto oferecido?
Os modelos ou valores estéticos, sexuais e comportamentais.

b)   Dos slogans publicitários que seguem, quais se identificam mais com a publicidade antiga, que promovia diretamente o produto, e quais se identificam com a publicidade “moderna”, que veicula valores? Justifique sua resposta.
·        “Wellaton. Ponha isso na sua cabeça”.
·        “Use Vidrex e você vai ver como esse negócio vicia”.
·        “Se você é dono de seu nariz, cuide bem dele. Bom ar, Sachet e Aerossol”.
·        “A fama se identifica para que você não se misture”.
Em todos os itens se vê algum componente a mais do que a mera promoção do produto; porém o 3° e o 4° itens envolvem explicitamente valores: ser “dona de seu nariz” sugere que a consumidora é uma mulher independente e moderna; “para que você não se misture” sugere exclusivamente e destaque social.

03 – Você já reparou como na publicidade se repetem certos comportamentos sociais tidos como modelos? As mulheres estão sempre encontrando soluções para administrar a casa com menor esforço (anúncios de bancos, por exemplo) e carros. De acordo com o texto:
a)   Por que é necessário lançar mão desses papéis sociais para vender produtos?
Porque, para vender produtos, a publicidade necessita reproduzir a ideologia vigente, isto é, os símbolos, valores e comportamentos sociais, inclusive com suas desigualdade e preconceitos.

b)   Como reforço das ideologias, a publicidade tem cumprido um papel conservador ou transformador em relação aos valores da sociedade? Por quê?
Um papel conservador, porque ela não questiona nem discute esses valores, simplesmente os reproduz.

04 – Na fase final do 4° parágrafo – “As mercadorias trazem em si, incorporado, tudo aquilo que a sociedade deseja, e por isso são consumidas” – o autor destacou a expressão por isso em virtude de uma das justificativas seguintes. Qual é ela?
a)   Ele quer dizer que o consumidor atual não se contenta em saber das qualidades do produto, mas é levado a compra-lo quando a publicidade é criativa.
b)   Ele quer dizer que atualmente o consumidor compra um produto não apenas por causa de suas qualidades, mas também porque vê projetados nele os valores e os desejos sociais.

05 – De acordo com o penúltimo parágrafo do texto:
a)   A publicidade veicula uma imagem de que os afazeres domésticos da mulher são “nobres”. Na sua opinião, por que a publicidade mistifica a figura feminina?
Porque leva em conta que a mulher é uma grande consumidora e muitas vezes a compradora oficial para toda a família.

b)   Compare o penúltimo parágrafo ao texto a seguir, da pesquisadora Nelly de Carvalho:
Possuir objetos passa a ser sinônimo de alcançar a felicidade: os artefatos e produtos proporcionam a salvação do homem, representam bem-estar e êxito. Sem a auréola que a publicidade lhes confere, seriam apenas bens de consumo; mas mistificados, personalizados, adquirem atributos da condição humana.
                                           Publicidade – A linguagem da sedução, cit. p. 13.

Os dois textos apresentam semelhanças quando discutem a forma como a publicidade relaciona produtos de consumo com felicidade. Qual é essa semelhança?
      Ambos os textos demonstram que a publicidade transmite a ideia de que só obtendo os produtos que ela oferece é possível alcançar a felicidade.

06 – Leia esta análise de Jair F. dos Santos, sobre anúncios de iogurte:
        Veja um close do iogurte Danone em revistas ou na TV. Sua superfície é enorme, lustrosa, sedutora, tátil – dá água na boca. O Danone verdadeiro é um alimento mixuruca, mas seu simulacro hiper-realizado (imagem ampliada do objeto) amplifica, satura sua realidade. Com isso, somos levados a exagerar nossas expectativas e modelamos nossa sensibilidade por imagens sedutoras.
                                  O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense. p. 13.

Compare esse texto ao último parágrafo de Ciro Marcondes, que afirma: “o produto é inteiramente secundário: as pessoas são seduzidas por alguma coisa que está fora e muito além dele”. Como se vê, ambos os autores mencionam a sedução como meio de estimular o consumidor. De acordo com os textos:
a)   Por que o produto, com suas qualidades, não é suficiente para convencer o consumidor, havendo necessidade da sedução?
Porque, atualmente, o que leva o consumidor a comprar o produto é o conjunto de significados que o acompanham, criados pela publicidade.

b)   No anúncio do iogurte mencionado por Jair F. dos Santos, o que estaria fora do próprio iogurte e seria responsável pela sedução do consumidor?
Sua imagem ampliada e lustrosa, que sugere um alimento saboroso.



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