sexta-feira, 1 de maio de 2020

POEMA: LIBERDADE - PAUL ELUARD - COM GABARITO

Poema: Liberdade
          
    Paul Éluard

Nos meus cadernos de escola
Nas carteira e nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página em branco
Pedra papel sangue ou cinza
Escrevo teu nome

Em toda imagem dourada
E nas armas dos guerreiros
Ou nas coroas dos reis
Escrevo teu nome

Na floresta e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Nos ecos da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas da noite
No pão branco da manhã
Nas estações em noivado
Escrevo teu nome

Em todo farrapo azul
No tanque de água mofado
No lago da lua viva
Escrevo teu nome

Nos campos e no horizonte
Nas asas dos passarinhos
E nos moinhos da sombra
Escrevo teu nome

Em todo sopro da aurora
No mar e em cada navio
Na montanha adormecida
Escrevo teu nome

Na branca espuma das nuvens
Nos suores da tormenta
Na chuva densa e enfadonha
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos de várias cores
Em toda verdade física
Escrevo teu nome

Nos caminhos acordados
E nas estradas vistosas
Ou nas praças transbordantes
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

Na fruta cortada ao meio
Do meu espelho e meu quarto
No leito concha vazia
Escrevo teu nome

No meu cão guloso e terno
De orelhas que estão em guarda
Nas suas patas sem jeito
Escrevo teu nome

Na minha porta de entrada
Nos objetos familiares
Nas ondas de fogo lento
Escrevo teu nome

Em toda carne cedida
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
E nos lábios sempre atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Nas ausências sem desejo
Na solidão toda nua
Nesta marcha para a morte
Escrevo teu nome

Na saúde que retorna
No período que passou
Nas esperanças sem eco
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Reconheço minha vida
Nasci para conhecer-te
E chamar-te

Liberdade.
              In: Poemas da liberdade. Coletânea de Edmundo Moniz. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967. p. 7-9.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 124-7.
Entendendo o poema:

01 – Quantas estrofes tem o poema?
      Possui 21 estrofes.

02 – A quem o poeta se dirige?
      A liberdade.

03 – Na segunda estrofe, que sinal de pontuação deveria ocorrer, se fosse seguida à risca a gramática normativa?
      A vírgula, entre os termos da enumeração: pedra, papel, sangue.

04 – Que efeito resulta da não-utilização desse sinal?
      Os termos parecem se fundir numa única coisa.

05 – Que palavra da quarta estrofe revela que se trata de um adulto lembrando a infância?
      Ecos.

06 – No poema há várias antíteses, ou seja, imagens ou ideias que se opõem, como, por exemplo: “página lida/página em branco”; “noite/pão branco da manhã”; “sopro da aurora/montanha adormecida”. Na 6ª estrofe (21-24), identifique a antítese de “tanque de água mofado”.
      “Lago da lua viva”.

07 – O elemento água está presente em toda a 9ª estrofe (versos 33-36). Explique.
      Há referência a espuma, nuvens, suor, chuva.

08 – Leia este verso da 10ª estrofe e explique a expressão destacada: “Em toda verdade física/Escrevo teu nome”.
      Todas as coisas fisicamente concretas de que trata o texto.

09 – Identifique elementos não-físicos onde o poeta pretende escrever o nome que invoca.
      Entre outros: “maravilhas da noite”; “vidraça das surpresas”; “ausências”; “solidão”; “marcha para a morte”; “saúde”; “perigo”; “esperanças”.

10 – Qual a finalidade que o poeta atribui à sua própria vida?
      Conhecer a liberdade, confissão que faz na penúltima estrofes.

11 – O poema tem rima? e ritmo?
      Não apresenta rimas, mas apresenta ritmo.

12 – Identifique o refrão.
      “Escrevo teu nome”.

13 – Nesse contexto, como você entendeu o verbo escrever?
      Resposta pessoal do aluno.



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