terça-feira, 17 de setembro de 2019

CRÔNICA: BARROCO, ALMA DO BRASIL - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO -

Crônica: Barroco, Alma do Brasil
           
 Affonso Romano de Sant’Anna

        Já se disse airosamente que o futebol brasileiro, com suas improvisações e dribles surpreendentes, teria algo a ver com o Barroco. As pernas tortas de Garrincha, a instabilidade que provocava no adversário, o improviso rápido e fulminante de Pelé ou as circunvoluções de Tostão marcaria um tipo de jogo oposto ao futebol-força praticado modernamente. Mas a encenação que, resumindo a alma brasileira, reúne espetacularmente as contradições barrocas é o desfile do carnaval na avenida.
        O carnaval carioca, congregando esculturas populares, música e dança, constitui-se numa ópera barroca e popular, numa grande procissão profana, numa exibição do triunfo da premonição dionisíaca e apocalíptica de que ‘‘tudo vai acabar na quarta-feira.’’
        Se fizéssemos uma coleta das afirmativas e alusões feitas nos últimos anos sobre a alma brasileira e o barroco seria um não acabar. (...) Roger Bastide, que veio ao Brasil dar uns cursos e acabou passando aqui a maior parte de sua vida, via em nossas florestas a continuação dos templos barrocos.
                            Affonso Romano de Sant’Anna. “Barroco, alma do Brasil”. Rio de Janeiro, Bradesco Seguros / Comunicação Máxima, 1997. p. 202.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 140-1.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual o significado das palavras abaixo:
·        Airoso: Gentil, honroso.

·        Circunvolução: Movimento à volt de um centro; contorno sinuoso; saliência ondulada; voltas da coluna torcida.

·        Congregar: Reunir.

·        Profana: O que não é sagrado ou é contrário ao respeito devido às coisas sagradas.

·        Memento Mori: ‘‘lembra-te de que deves morrer’’.

·        Premonição: Aviso, pressentimento.

·        Dionisíaco: Cuja natureza é semelhante ao deus grego da alegria e do vinho.

02 – Para caracterizar a alma barroca do Brasil, o cronista utiliza algumas comparações que aproximam o futebol da arte barroca. Escreva em seu caderno as correlações que ele estabelece entre os fatos futebolísticos a seguir e o Barroco.
a)   A instabilidade que Garrincha provoca nos adversários.
Ao contrário da arte renascentista, o Barroco reflete os conflitos, a desarmonia e o desequilíbrio da época.

b)   As circunvoluções de Tostão.
A arquitetura barroca caracteriza-se pela profusão de formas e ornamentos; nos textos, a ordem inversa torna o discurso suntuoso.

03 – Ao referir-se às pernas tortas de Garrincha, o cronista também realiza uma associação com a arquitetura barroca. Veja a foto de um chafariz e explique esta associação.
      O chafariz possui ornamentos curvos, sinuosos.

04 – O Barroco é fruto da tentativa de conciliação entre o espiritualismo medieval (teocêntrico) e o humanismo renascentista (antropocêntrico), do que resultou o chamado “jogo dos” e a profusão de antíteses e paradoxos. Para o cronista, de que maneira este elemento estaria presente na alma brasileira?
      Através do carnaval.

05 – “A vida é passageira”, dizia o homem barroco. Essa consciência da transitoriedade da vida, relacionada à presença da morte e da degradação física e moral é outra característica do Barroco. Que verso citado pelo cronista retoma a ideia da frase latina “lembra-te de que deves morrer”, justificando assim a tolerância aos excessos do carnaval?
      “Tudo vai acabar na quarta-feira”.


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