Crônica: Barroco, Alma do Brasil
Affonso Romano de Sant’Anna
Já se disse airosamente que o futebol
brasileiro, com suas improvisações e dribles surpreendentes, teria algo a ver
com o Barroco. As pernas tortas de Garrincha, a instabilidade que provocava no
adversário, o improviso rápido e fulminante de Pelé ou as circunvoluções de
Tostão marcaria um tipo de jogo oposto ao futebol-força praticado modernamente.
Mas a encenação que, resumindo a alma brasileira, reúne espetacularmente as contradições
barrocas é o desfile do carnaval na avenida.
O carnaval carioca, congregando
esculturas populares, música e dança, constitui-se numa ópera barroca e
popular, numa grande procissão profana, numa exibição do triunfo da premonição
dionisíaca e apocalíptica de que ‘‘tudo vai acabar na quarta-feira.’’
Se fizéssemos uma coleta das
afirmativas e alusões feitas nos últimos anos sobre a alma brasileira e o
barroco seria um não acabar. (...) Roger Bastide, que veio ao Brasil dar uns
cursos e acabou passando aqui a maior parte de sua vida, via em nossas
florestas a continuação dos templos barrocos.
Affonso Romano de
Sant’Anna. “Barroco, alma do Brasil”. Rio de Janeiro, Bradesco Seguros /
Comunicação Máxima, 1997. p. 202.
Fonte: Livro- Português
– Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 140-1.
Entendendo a crônica:
01 – De acordo com a
crônica, qual o significado das palavras abaixo:
·
Airoso: Gentil, honroso.
·
Circunvolução: Movimento à volt de um centro; contorno sinuoso; saliência
ondulada; voltas da coluna torcida.
·
Congregar: Reunir.
·
Profana: O que não é sagrado ou é contrário ao respeito devido às
coisas sagradas.
·
Memento
Mori: ‘‘lembra-te de que deves
morrer’’.
·
Premonição: Aviso, pressentimento.
·
Dionisíaco: Cuja natureza é semelhante ao deus grego da alegria e do
vinho.
02 – Para caracterizar a
alma barroca do Brasil, o cronista utiliza algumas comparações que aproximam o
futebol da arte barroca. Escreva em seu caderno as correlações que ele estabelece
entre os fatos futebolísticos a seguir e o Barroco.
a)
A instabilidade que Garrincha provoca nos
adversários.
Ao contrário da arte renascentista, o Barroco reflete os conflitos,
a desarmonia e o desequilíbrio da época.
b)
As circunvoluções de Tostão.
A arquitetura barroca caracteriza-se pela profusão de formas e
ornamentos; nos textos, a ordem inversa torna o discurso suntuoso.
03 – Ao referir-se às pernas
tortas de Garrincha, o cronista também realiza uma associação com a arquitetura
barroca. Veja a foto de um chafariz e explique esta associação.
O chafariz possui
ornamentos curvos, sinuosos.
04 – O Barroco é fruto da
tentativa de conciliação entre o espiritualismo medieval (teocêntrico) e o
humanismo renascentista (antropocêntrico), do que resultou o chamado “jogo dos”
e a profusão de antíteses e paradoxos. Para o cronista, de que maneira este
elemento estaria presente na alma brasileira?
Através do
carnaval.
05 – “A vida é passageira”,
dizia o homem barroco. Essa consciência da transitoriedade da vida, relacionada
à presença da morte e da degradação física e moral é outra característica do
Barroco. Que verso citado pelo cronista retoma a ideia da frase latina
“lembra-te de que deves morrer”, justificando assim a tolerância aos excessos
do carnaval?
“Tudo vai acabar
na quarta-feira”.
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