domingo, 8 de setembro de 2019

POEMA: PASSARINHO - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

Poema: PASSARINHO
              Mário Quintana

        Sempre me pareceu que um poema era algo assim como um passarinho engaiolado. E que, para apanhá-lo vivo, era preciso um meticuloso cuidado que nem todos têm. Poema não se pega a tiro. Nem a laço. Nem a grito. Não, o grito é o que mais o mata. É preciso esperá-lo com paciência e silenciosamente como um gato.
        Ora, pensava eu tudo isso e o céu também, quando topo com uns versos de Raymond Queneu, que confirmam muito da minha cinegética transcendental. Eis por que aqui os traduzo, ou os adapto, e os adoto, sem data venia:
        Meu Deus, que vontade me deu de escrever um poeminho...
        Olha, agora mesmo vai passando um!
        Pst pst pst
        Vem para cá para que eu te enfie
        Na fieira de meus outros poemas
        Vem cá para que eu te entube
        Nos comprimidos de minhas obras completas.
        Vem cá para que eu te empoete
        Para que eu te enrime
        Para que eu te enritme
        Para que eu te enlire
        Para que eu te empégase
        Para que eu te enverse
        Para que eu te emprose
        Vem cá...
        Vaca!
        Escafedeu-se.
                                          Mario Quintana. “Passarinho”. In: A vaca e o hipogrifo. Porto Alegre, Garatuja, 1977. p. 108-9.
                                                 Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.66-7.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Cinegética: Arte de caçar.

·        Data vênia: Expressão latina que significa “com a devida vênia” (licença, permissão).

·        Empégase: Neologismo baseado em Pégaso, cavalo alado da mitologia grega.

·        Escafeder-se: Fugir às pressas.

·        Transcendental: Que transcende; muito elevado; superior, metafísico.

02 – Além da sensibilidade e da criatividade, que outra virtude o poeta julga essencial para escrever um poema?
      A paciência.

03 – Através de que expressão o autor sugere que o poema é uma atividade que ultrapassa a realidade puramente material?
      Através da expressão “cinegética transcendental”.

04 – Por que o poeta Queneu se aborrece e ofende o poema, chamando-o de vaca?
      Porque o poema estava “na ponta da língua”.

05 – Copie em seu caderno os neologismos que o poeta cria em seu poema e explique os seus significados.
      Empoeta / enritme / enlire / empégase / enverne / emprose.

06 – Você acha que a paciência combina com a vida altamente competitiva do século XXI? A paciência é mesmo uma virtude? Discuta com os colegas e apresente o seu ponto de vista.
      Resposta pessoal do aluno.


Nenhum comentário:

Postar um comentário