CONTO: Demeter
e Perséfone
Hades aproveitou um dia em que
Perséfone passeava sozinha. Quando ela se inclinou para aspirar o perfume de
uma flor, a terra tremeu com grande estrondo. Uma falha se abriu bruscamente, e
dela surgiu o deus do Inferno, num carro puxado por quatro cavalos negros. A
jovem nem teve tempo de se recuperar do susto, porque ele a agarrou pela
cintura e a levou consigo. O carro sumiu tão depressa quanto tinha aparecido, e
a brecha se fechou atrás deles.
Os gritos desesperados de Perséfone foram ouvidos por sua mãe, Deméter. Ela acudiu, mas tarde demais. Nada assinalava a passagem do deus. Somente o ar agitado conservava o vestígio dessa aparição súbita, e as flores caídas atestavam silenciosas uma agitação recente.
Apavorada, a pobre mãe não sabia mais aonde ia. Errava pelo lugar, esquecendo seus deveres para com os homens. Normalmente, sua função de deusa da colheita, do trigo e de todas as plantas lhe impunha vigiar a produção agrícola. Na ausência de Deméter, o trigo se recusou a germinar, as plantas cessaram de crescer, e a terra inteira se tornou estéril. Então os deuses resolveram intervir.
O Sol, que tudo viu, revelou a Deméter onde estava sua filha. A princípio ela ficou aliviada por Perséfone estar viva, mas quando soube quem a detinha, exigiu que Zeus obtivesse sua libertação.
"Entendo sua dor de mãe", o deus lhe respondeu. "Intercederei por você junto a Hades. Ele vai devolver sua filha, ou não me chamo Zeus!"
Mas Hades se negou a deixar a doce companheira partir. Deméter decidiu então abandonar suas funções. Pouco lhe importava como os deuses e os mortais viveriam sem ela. Ela também não podia viver sem a filha. Assumiu o aspecto de uma velhinha e se exilou voluntariamente na terra.
Iniciou-se então um período cruel para os homens. De novo o solo secou, e a fome ameaçou a espécie humana. Essa situação não podia mais persistir. Os deuses se reuniram no palácio de Zeus e concordaram em persuadir Hades a devolver Perséfone à mãe. Zeus tomou a palavra:
"Caro irmão, você é o soberano do reino subterrâneo. Como tal, age de acordo com a sua vontade, contanto que não se meta neste mundo. Ora, desde que você reteve Perséfone, sua mãe recusa alimento aos mortais. Pela mesma razão, os sacrifícios se fazem raros. Você não pode deixar essa situação se agravar. Devolva a moça!"
"Está bem!", disse o deus esperto. "Mas antes preciso verificar se ela não comeu ou bebeu alguma coisa durante sua estada, senão ela não pode mais voltar à terra. E a lei."
Interrogada, Perséfone respondeu com candura que tinha experimentado as sementes de uma romã. Hades exultou. Mas acabaram fazendo um trato: Deméter teve que aceitar que sua filha permanecesse três meses ao lado de Hades e subisse para ficar com ela o resto do ano.
Assim é que, durante três meses, a terra se entristece, junto com Deméter, pela ausência de Perséfone. E o inverno, e o solo se torna improdutivo. Logo que a moça volta, a vida renasce, e a natureza inteira festeja o encontro entre mãe e filha. Somente Hades acha demorada essa primavera que o separa de sua companheira.
Os gritos desesperados de Perséfone foram ouvidos por sua mãe, Deméter. Ela acudiu, mas tarde demais. Nada assinalava a passagem do deus. Somente o ar agitado conservava o vestígio dessa aparição súbita, e as flores caídas atestavam silenciosas uma agitação recente.
Apavorada, a pobre mãe não sabia mais aonde ia. Errava pelo lugar, esquecendo seus deveres para com os homens. Normalmente, sua função de deusa da colheita, do trigo e de todas as plantas lhe impunha vigiar a produção agrícola. Na ausência de Deméter, o trigo se recusou a germinar, as plantas cessaram de crescer, e a terra inteira se tornou estéril. Então os deuses resolveram intervir.
O Sol, que tudo viu, revelou a Deméter onde estava sua filha. A princípio ela ficou aliviada por Perséfone estar viva, mas quando soube quem a detinha, exigiu que Zeus obtivesse sua libertação.
"Entendo sua dor de mãe", o deus lhe respondeu. "Intercederei por você junto a Hades. Ele vai devolver sua filha, ou não me chamo Zeus!"
Mas Hades se negou a deixar a doce companheira partir. Deméter decidiu então abandonar suas funções. Pouco lhe importava como os deuses e os mortais viveriam sem ela. Ela também não podia viver sem a filha. Assumiu o aspecto de uma velhinha e se exilou voluntariamente na terra.
Iniciou-se então um período cruel para os homens. De novo o solo secou, e a fome ameaçou a espécie humana. Essa situação não podia mais persistir. Os deuses se reuniram no palácio de Zeus e concordaram em persuadir Hades a devolver Perséfone à mãe. Zeus tomou a palavra:
"Caro irmão, você é o soberano do reino subterrâneo. Como tal, age de acordo com a sua vontade, contanto que não se meta neste mundo. Ora, desde que você reteve Perséfone, sua mãe recusa alimento aos mortais. Pela mesma razão, os sacrifícios se fazem raros. Você não pode deixar essa situação se agravar. Devolva a moça!"
"Está bem!", disse o deus esperto. "Mas antes preciso verificar se ela não comeu ou bebeu alguma coisa durante sua estada, senão ela não pode mais voltar à terra. E a lei."
Interrogada, Perséfone respondeu com candura que tinha experimentado as sementes de uma romã. Hades exultou. Mas acabaram fazendo um trato: Deméter teve que aceitar que sua filha permanecesse três meses ao lado de Hades e subisse para ficar com ela o resto do ano.
Assim é que, durante três meses, a terra se entristece, junto com Deméter, pela ausência de Perséfone. E o inverno, e o solo se torna improdutivo. Logo que a moça volta, a vida renasce, e a natureza inteira festeja o encontro entre mãe e filha. Somente Hades acha demorada essa primavera que o separa de sua companheira.
POUZADOUX,
Claude. Contos e lendas da mitologia grega. São Paulo, Cia. das Letras, 2001,
p. 77-80.
Fonte: Livro – Português – 5ª Série – Linguagem Nova –
Faraco & Moura – Ed.Ática - 2002 –
p. 74 a 78.
Estudo do texto
1) O
texto lido é uma história retirada da mitologia. Esse texto estaria adequado
num livro de Ciências ou de Geografia como explicação científica para a
sucessão de estações do ano? Por quê?
Não. Trata-se de um texto
ficcional, inadequado a uma explicação científica dos fatos.
2) Raptos
são frequentes na mitologia.
Pesquise e responda. Que
pena a lei brasileira prevê para o crime de rapto?
O art. 219 do Código Penal cuidava do crime de “rapto violento ou
mediante fraude”.
Conforme a narração típica, configurava referido crime: “Raptar
mulher honesta, mediante violência, grave ameaça ou fraude, para fim
libidinoso”. A pena era de reclusão, de dois a quatro anos.
A nova lei aboliu a expressão “mulher honesta” do Código Penal e
também cuidou de acrescentar, entre outras regras já analisadas, o inciso V ao
§1º do art. 148, com a seguinte redação: “Se o crime é praticado com fins
libidinosos”.
O art. 148 tipifica o crime de sequestro ou cárcere privado,
contendo formas qualificadas no § 1º, sendo estas punidas com reclusão, de dois
a cinco anos.
3)
...
a terra tremeu com grande estrondo. Uma falha se abriu... Você sabe explicar
como acontece um terremoto?
A “casca” da Terra (a litosfera) é
formada por placas que se movimentam alguns centímetros por ano. Quando esse
movimento atinge o limite de resistência das rochas, ocorre uma ruptura. O
movimento repentino dos blocos de cada lado dessa ruptura gera vibrações que se
propagam em todas as direções. Os terremotos ocorrem mais frequentemente no
contato entre duas placas litosféricas, mas podem ocorrer no interior de uma
delas, sem que a ruptura atinja a superfície.
4)
Na
mitologia romana, a deusa que representa a agricultura é Ceres. Que palavra, em
português, relaciona-se com o nome dessa deusa?
Cereal.
5)
“Você
não pode deixar essa situação se agravar. Devolva a moça!”
a)
Que
entonação Zeus certamente utilizou ao dizer a frase destacada?
Tom de ordem.
b)
Reescreva
a frase para que seja lida como um pedido.
“por favor”, “por obséquio”, etc.
obrigado
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