quinta-feira, 10 de junho de 2021

NOTÍCIA: MINHA LÍNGUA, MINHA PÁTRIA - MARCELO TOLETO - COM GABARITO

 NOTÍCIA: MINHA LÍNGUA, MINHA PÁTRIA

Estudante de Letras da UFSCar, o indígena Luciano Ariabo Quezo decidiu escrever um livro didático para evitar o desaparecimento da língua que era falada em sua aldeia, o umutina-balatiponé


Por Marcelo Toledo

De Ribeirão Preto

A cada dia, o estudante Luciano Ariabo Quezo, 25, percebia que a língua portuguesa ocupava mais espaço na aldeia indígena onde nasceu e "engolia" sua língua materna, o umutina-balatiponé. Preocupado com a situação, especialmente após a morte de um ancião - um dos poucos que só falava o idioma nativo -, ele resolveu escrever um livro bilíngue para tentar evitar o desaparecimento da língua de sua família.

Quezo é natural de uma reserva na região de Barra do Bugres (MT), onde cerca de 600 pessoas falam o idioma.

Aluno do último ano do curso de Letras da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) em São Carlos, no interior paulista, ele trabalha no tema desde 2012, quando obteve uma bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para sua pesquisa.

Só existem duas escolas indígenas no território umutina e, segundo ele, aprender a língua dependia do interesse individual. Após a morte do ancião, diz, não há mais idosos que dominem completamente a língua. E nem todos os jovens a conhecem.

Um esboço do projeto foi lançado em 2013, com 40 páginas e 180 exemplares, para ser testado e aprovado pela comunidade.

"Língua e Cultura Indígena Umutina no Ensino Fundamental" é destinado a alunos das séries iniciais das escolas de sua aldeia. Um irmão de Quezo trabalha em uma delas e utiliza o material com os estudantes.

Agora, a ideia do autor é aprimorar o material  produzido e aprofundar os temas abordados, chegando a pelo menos 200 páginas.

Dividido em quatro partes, o livro aborda as narrativas do povo, o artesanato, a história da comunidade e o corpo humano. As ilustrações são do próprio Quezo.

"Os mais velhos tinham o conhecimento, mas, entre os mais jovens, poucos falam o umutina. Quando o ancião morreu, em 2004, vi que o idioma poderia sumir se não fosse feito nada", afirma.

Segundo sua orientadora no projeto, a docente do departamento de Letras da UFSCar Maria Silvia Cintra Martins, Quezo teve a preocupação de consultar a comunidade sobre todo o processo de produção da obra.

"Sempre que propunha algo, ele dizia que tinha de conversar com seu povo. Como orientadora, aprendi muito. Foi uma troca, com ele aprendendo nossos padrões acadêmicos e eu conhecendo as exigências de uma comunidade indígena", diz.

Para compreender como são os textos, as questões  e as ilustrações de obras destinadas ao ensino fundamental, Quezo consultou material em português.

"Seu livro é resultado de um diálogo com outras obras de ensino de línguas. Ainda é a versão inicial, em fase de aplicação na aldeia, com vistas a uma  nova edição", diz a orientadora.

A obra ampliada não foi concluída ainda justamente por precisar de aprovação dos índios da aldeia de Quezo.

"O tempo da aldeia é diferente do nosso, não indígena", afirma Maria Silvia.

Além do livro, Quezo é pesquisador de um grupo de linguagens e etnicidades do departamento de Letras.

Cotas

A UFSCar criou um vestibular específico para alunos de comunidades indígenas a partir do primeiro semestre de 2008, após aprovação, no ano anterior, da medida pelo Conselho Universitário.

Cada um dos 61 cursos de graduação da universidade, nos campi de São Carlos, Araras, Sorocaba e Buri, municípios do interior paulista, oferece uma vaga específica para índios de etnias brasileiras.

O pré-requisito é que os candidatos tenham concluído o ensino médio na rede pública ou em escolas indígenas reconhecidas.

Glossário Umutina-Português

xotáxicanã - boa tarde

taykuria - como vai?

haré - peixe

kui - anta

- rio

olaripó - rio Paraguai

abiolô - crianças

xipá - casa

TOLEDO, Marcelo. Minha língua, minha pátria. Folha de S.Paulo. São Paulo, 15 abr. 2015. Cotidiano. p. C4. Acesso em: out. 2015.

Glossário:

etnicidade: estudo das características de determinada etnia, povo ou cultura.

Para entender o texto

1. Essa notícia foi publicada em um jornal, em 15 de abril de 2015.  Por que a indicação da data de publicação é importante em uma notícia de jornal, seja ele impresso ou digital?

A data é importante numa notícia de jornal porque é a principal função da notícia é informar sobre fatos da atualidade.

2. Por causa da credibilidade que se confere a esse tipo de órgão de imprensa, é possível afirmar que as informações do texto são verídicas. Explique o porquê.

Os fatos são verdadeiros, pois trata-se de um veículo que não pode correr o risco de ter sua credibilidade posta em dúvida por veicular informação falsa.

3. O público a que se destina o texto interfere, de alguma forma, na maneira como o texto foi redigido?

O público constituído por leitores do jornal é conhecido apenas genericamente. Não é possível precisar exatamente o público que lerá a notícia. Consequentemente, o redator da notícia procura produzir um texto conciso, sintético, de fácil compreensão.

4. Responda: você teve alguma dificuldade em entender essa notícia? Por quê?

Resposta pessoal. Sugestão: Espera-se resposta negativa. O fato relatado é de fácil compreensão e a linguagem utilizada é simples, direta.

5. O título da notícia lida, Minha língua, minha pátria, fornece alguma pista mais concreta sobre o fato noticiado? Explique.

Não, o título tem um caráter mais genérico.

6. A notícia costuma apresentar a linha fina, texto curto que aparece logo abaixo do título para completar seu sentido ou ampliar a informação. Na linha fina usa-se letra menor que o título e maior que o texto. Identifique na linha fina estes componentes da notícia:

a) Quem fez?

O estudante Luciano Ariabo Quezo.

b) O que ele fez?

Escreveu um livro didático.

c) Para quê?

Para evitar o desaparecimento da língua umutina-balatiponé falada anteriormente em sua aldeia.

7. Explique o título da notícia.

O título estabelece uma relação entre a língua e a nacionalidade do indivíduo.

8. O que parece ter impressionado mais a orientadora do indígena, a professora Maria Silvia Cintra Martins, no seu trato com esse aluno?

O fato de ele só tomar decisões depois de conversar com toda a sua comunidade.

9. Nem tudo o que acontece no mundo merece virar notícia. No meio jornalístico, costuma-se dizer:

Não é notícia um cão morder um homem; mas, se um homem morder um cão, isso é notícia.

a) Com base nessa informação, explique por que o fato relatado virou notícia.

Porque só o que é novo e relevante - ou, ainda, surpreendente - é noticiável. Nesta notícia o fato relatado remete a um acontecimento nada corriqueiro: um estudante indígena que escreveu um livro didático para evitar o desaparecimento da língua que era falada em sua aldeia.

b) Todas as notícias veiculadas pelo jornal impresso, pelo rádio, pela televisão ou pela internet são necessariamente impactantes?

Nem sempre são impactantes. Nem todas as notícias são surpreendentes.

10. Compare estes dois trechos da notícia:

Quezo é natural de uma reserva na região de Barra do Bugres (MT), onde cerca de 600 pessoas falam o idioma.

Existem duas escolas indígenas no território umutina e, segundo ele, aprender a língua dependia do interesse individual. Após a morte do ancião, diz, não há mais idosos que dominem completamente a língua.

O que você poderia dizer sobre o estado de preservação do idioma indígena da reserva de Barra do Bugres?

O estado de preservação do idioma era crítico e podia se extinguir, já que ficou constatado que ninguém mais domina completamente essa língua, e compreendam também que a segunda frase justifica a preocupação e a atitude dele.

11. Em sua opinião, o jornalista opina sobre o fato noticiado ou limita-se a relatar esse fato?

Resposta pessoal. Sugestão: O jornalista não opina sobre o fato, não emite nenhum juízo de valor, como, por exemplo, se a tarefa que o indígena se propôs a realizar é importante ou não.

 

Um comentário:

  1. Obrigada mesmo o brailyn não estava pegando obrigada essa lição é pra amanhã ❤🏳️‍🌈

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