EDITORIAL: Felizes para sempre? Quem dera...
Gláucia LealEm tempos de tão pouca tolerância consigo mesmo e
com os outros, manter relacionamentos amorosos duradouros e felizes parece um
dos objetivos mais almejados entre pessoas de variadas classes sociais e faixas
etárias. Fazer boas escolhas, entretanto, não é tarefa fácil - haja vista o
grande número de relações que termina, não raro, de maneira dolorosa - pelo
menos para um dos envolvidos. Para nossos avós o casamento e sua manutenção, quaisquer que fossem as penas e os
sacrifícios atrelados a eles, era um destino quase certo e com pouca
possibilidade de manobra. Hoje, entretanto, convivemos com a dádiva (que por
vezes se torna um ônus) de escolher se queremos ou não estar com alguém.
Um dos pesos que nos impõe a vida líquida (repleta
de relações igualmente líquidas, efêmeras), como escreve o sociólogo Zygmunt
Bauman, é a possibilidade de tomarmos decisões (e arcar com elas). Filhos ou
dependência econômica já não prendem homens e mulheres uns aos outros, e cada
vez mais nos resta descobrir onde moram, de fato, nossos desejos. E não falo
aqui do desejo sexual, embora seja um aspecto a ser considerado, mas do que
realmente ansiamos, aspiramos para nossa vida. Mas para isso é preciso,
primeiro, localizar quais são nossas faltas. E nos relacionamentos a dois elas
parecem ecoar por todos os cantos.
Dividir corpos, planos, sonhos, experiências,
espaços físicos e talvez o mais precioso, o próprio tempo, acorda nos seres
humanos sentimentos complexos e contraditórios. Passados os primeiros 18 ou 24
meses da paixão intensa (um período de maciças projeções), nos quais a criatura
amada parece funcionar como bálsamo às nossas dores mais inusitadas, passamos a
ver o parceiro como ele realmente é: um outro. E essa alteridade às vezes
agride, como se ele (ou ela) fosse diferente de nós apenas para nos irritar.
Surge então a dúvida, nem sempre formulada: continuar ou desistir?
Nesta edição, especialistas recorrem a inúmeros
estudos sobre relacionamento afetivo para confirmar algo que, intuitivamente, a
maioria de nós já sabe: 1. nada melhor que dividir alegrias com quem amamos (afinal,
de que adianta estar junto se não é para ser bom?); 2. educação e aquelas
palavrinhas mágicas (obrigado, por favor, desculpe) fazem bem em qualquer
circunstância, principalmente se acompanhadas da verdadeira gratidão pelos
pequenos gestos da pessoa com quem convivemos; 3. intimidade não vem pronta, é
conquistada a cada dia, quando partilhamos nossos medos, segredos e dúvidas; 4.
é possível aprender a agir de forma mais generosa consigo mesmo e com nosso
companheiro, e essa postura ajuda a preservar o carinho, a admiração e o amor.
Óbvio? Nem tanto... Se fosse, não haveria tanta gente em busca da felicidade
conjugal...
Boa leitura.
Gláucia Leal, editora (60)
glaucialeal@duettoeditorial.com.br
Mente e Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, fev.
2010. p. 3.
FONTE: Reprodução/Ed. Duetto.
Fonte da imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Flaurindamporto%2Fcasais%2F&psig=AOvVaw1tj_IGk9NixkkE--jzJLJ3&ust=1624752231949000&source=images&cd=vfe&ved=0CAoQjRxqFwoTCNjU9fH_s_ECFQAAAAAdAAAAABAD
Fonte: Livro: Língua
Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo:
Ática, 2016. p.288-90.
Para entender o texto
1.A tese defendida no texto é que a manutenção dos
relacionamentos amorosos não é fácil, embora seja algo intensamente desejado
pelas pessoas. Segundo a autora do texto, o que comprovaria essa ideia?
O término doloroso dos relacionamentos, a
indisposição das pessoas em fazer concessões ao outro e a dificuldade de
reconhecer as próprias falhas são algumas ideias que a autora levanta para a
dificuldade na manutenção dos relacionamentos.
2. Para Gláucia Leal, escolher se queremos ou não
estar com alguém pode ser uma dádiva (um presente, uma coisa benéfica) ou um
ônus (uma dificuldade, uma coisa negativa). Por quê?
Segundo a autora, a tomada dessa decisão
não é fácil, e obriga as pessoas a se confrontarem consigo mesmas, com seus
desejos e com a própria personalidade.
3. Segundo o texto, que fator(es) pode(m) levar as
pessoas a decidirem se querem manter ou romper um relacionamento amoroso?
A descoberta, passado o período de
intensa paixão, de que o outro é diferente de nós, e a necessidade de
reconhecer e aceitar essa diferença.
4. No parágrafo final do texto, em dois enunciados
seguidos empregam-se as reticências.
a) Localize esses enunciados e copie-os.
São os enunciados finais do texto:
"Nem tanto... Se fosse, não haveria tanta gente em busca da felicidade
conjugal...".
b) Explique os possíveis sentidos das reticências
nesse trecho.
O sentido das reticências nesse caso é
irônico, pois elas convidam o leitor a aceitar um ponto de vista que contradiz
o caráter "óbvio" dos temas que serão discutidos nos artigos da revista.
5. Você concorda com os argumentos da autora segundo
os quais o que sustenta a felicidade conjugal não é algo tão óbvio? Justifique
sua resposta.
Resposta pessoal.
As palavras no contexto
1. No início do primeiro parágrafo do texto são
empregados consigo, pronome oblíquo reflexivo, e outros, pronome indefinido.
a) Explique que oposição essa escolha de pronomes
ajuda a expressar no texto?
O texto opõe "um" ao
"outro" e que a dinâmica dos relacionamentos é explicada como oposição
entre os desejos de dois sujeitos diferentes.
b) Essa oposição é importante em outras partes do
texto? Por quê?
No final do terceiro parágrafo essa
oposição se explicita na dúvida que a autora formula: "continuar ou
desistir?". As formas linguísticas destacadas (consigo e outros)
estabelecem, desde o início da argumentação, essa oposição que o enunciador
estende para todo o texto.
2. No terceiro parágrafo, a palavra funcionar é
empregada metaforicamente em uma ocorrência. Releia o trecho e observe o
sentido do destaque.
[...] Passados os primeiros 18 ou 24 meses da
paixão intensa (um período de maciças projeções), nos quais a criatura amada
parece funcionar como bálsamo às nossas dores mais inusitadas, passamos
a ver o parceiro como ele realmente é: um outro. (linhas 33-38)
Como você explicaria, com suas palavras, o sentido
metafórico da palavra funcionar no trecho "a criatura amada parece
funcionar como bálsamo"?
Funcionar, nesse caso, significa
"agir como", "ter o efeito de".
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