sexta-feira, 25 de junho de 2021

EDITORIAL: FELIZES PARA SEMPRE? QUEM DERA... GLÁUCIA LEAL - COM GABARITO

 EDITORIAL: Felizes para sempre? Quem dera...

Gláucia Leal

Em tempos de tão pouca tolerância consigo mesmo e com os outros, manter relacionamentos amorosos duradouros e felizes parece um dos objetivos mais almejados entre pessoas de variadas classes sociais e faixas etárias. Fazer boas escolhas, entretanto, não é tarefa fácil - haja vista o grande número de relações que termina, não raro, de maneira dolorosa - pelo menos para um dos envolvidos. Para nossos avós o casamento e sua  manutenção, quaisquer que fossem as penas e os sacrifícios atrelados a eles, era um destino quase certo e com pouca possibilidade de manobra. Hoje, entretanto, convivemos com a dádiva (que por vezes se torna um ônus) de escolher se queremos ou não estar com alguém.

Um dos pesos que nos impõe a vida líquida (repleta de relações igualmente líquidas, efêmeras), como escreve o sociólogo Zygmunt Bauman, é a possibilidade de tomarmos decisões (e arcar com elas). Filhos ou dependência econômica já não prendem homens e mulheres uns aos outros, e cada vez mais nos resta descobrir onde moram, de fato, nossos desejos. E não falo aqui do desejo sexual, embora seja um aspecto a ser considerado, mas do que realmente ansiamos, aspiramos para nossa vida. Mas para isso é preciso, primeiro, localizar quais são nossas faltas. E nos relacionamentos a dois elas parecem ecoar por todos os cantos.

Dividir corpos, planos, sonhos, experiências, espaços físicos e talvez o mais precioso, o próprio tempo, acorda nos seres humanos sentimentos complexos e contraditórios. Passados os primeiros 18 ou 24 meses da paixão intensa (um período de maciças projeções), nos quais a criatura amada parece funcionar como bálsamo às nossas dores mais inusitadas, passamos a ver o parceiro como ele realmente é: um outro. E essa alteridade às vezes agride, como se ele (ou ela) fosse diferente de nós apenas para nos irritar. Surge então a dúvida, nem sempre formulada: continuar ou desistir?

Nesta edição, especialistas recorrem a inúmeros estudos sobre relacionamento afetivo para confirmar algo que, intuitivamente, a maioria de nós já sabe: 1. nada melhor que dividir alegrias com quem amamos (afinal, de que adianta estar junto se não é para ser bom?); 2. educação e aquelas palavrinhas mágicas (obrigado, por favor, desculpe) fazem bem em qualquer circunstância, principalmente se acompanhadas da verdadeira gratidão pelos pequenos gestos da pessoa com quem convivemos; 3. intimidade não vem pronta, é conquistada a cada dia, quando partilhamos nossos medos, segredos e dúvidas; 4. é possível aprender a agir de forma mais generosa consigo mesmo e com nosso companheiro, e essa postura ajuda a preservar o carinho, a admiração e o amor. Óbvio? Nem tanto... Se fosse, não haveria tanta gente em busca da felicidade conjugal...

Boa leitura.

Gláucia Leal, editora (60)

glaucialeal@duettoeditorial.com.br

Mente e Cérebro. São Paulo: Duetto Editorial, fev. 2010. p. 3.

FONTE: Reprodução/Ed. Duetto.

Fonte da imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Flaurindamporto%2Fcasais%2F&psig=AOvVaw1tj_IGk9NixkkE--jzJLJ3&ust=1624752231949000&source=images&cd=vfe&ved=0CAoQjRxqFwoTCNjU9fH_s_ECFQAAAAAdAAAAABAD

Fonte: Livro: Língua Portuguesa: linguagem e interação/ Faraco, Moura, Maruxo Jr. – 3.ed. São Paulo: Ática, 2016. p.288-90. 


Para entender o texto

1.A tese defendida no texto é que a manutenção dos relacionamentos amorosos não é fácil, embora seja algo intensamente desejado pelas pessoas. Segundo a autora do texto, o que comprovaria essa ideia?

O término doloroso dos relacionamentos, a indisposição das pessoas em fazer concessões ao outro e a dificuldade de reconhecer as próprias falhas são algumas ideias que a autora levanta para a dificuldade na manutenção dos relacionamentos.

2. Para Gláucia Leal, escolher se queremos ou não estar com alguém pode ser uma dádiva (um presente, uma coisa benéfica) ou um ônus (uma dificuldade, uma coisa negativa). Por quê?

Segundo a autora, a tomada dessa decisão não é fácil, e obriga as pessoas a se confrontarem consigo mesmas, com seus desejos e com a própria personalidade.

3. Segundo o texto, que fator(es) pode(m) levar as pessoas a decidirem se querem manter ou romper um relacionamento amoroso?

A descoberta, passado o período de intensa paixão, de que o outro é diferente de nós, e a necessidade de reconhecer e aceitar essa diferença.

4. No parágrafo final do texto, em dois enunciados seguidos empregam-se as reticências.

a) Localize esses enunciados e copie-os.

São os enunciados finais do texto: "Nem tanto... Se fosse, não haveria tanta gente em busca da felicidade conjugal...".

b) Explique os possíveis sentidos das reticências nesse trecho.

O sentido das reticências nesse caso é irônico, pois elas convidam o leitor a aceitar um ponto de vista que contradiz o caráter "óbvio" dos temas que serão discutidos nos artigos da revista.

5. Você concorda com os argumentos da autora segundo os quais o que sustenta a felicidade conjugal não é algo tão óbvio? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

As palavras no contexto

1. No início do primeiro parágrafo do texto são empregados consigo, pronome oblíquo reflexivo, e outros, pronome indefinido.

a) Explique que oposição essa escolha de pronomes ajuda a expressar no texto?

O texto opõe "um" ao "outro" e que a dinâmica dos relacionamentos é explicada como oposição entre os desejos de dois sujeitos diferentes.

b) Essa oposição é importante em outras partes do texto? Por quê?

No final do terceiro parágrafo essa oposição se explicita na dúvida que a autora formula: "continuar ou desistir?". As formas linguísticas destacadas (consigo e outros) estabelecem, desde o início da argumentação, essa oposição que o enunciador estende para todo o texto.

2. No terceiro parágrafo, a palavra funcionar é empregada metaforicamente em uma ocorrência. Releia o trecho e observe o sentido do destaque.

[...] Passados os primeiros 18 ou 24 meses da paixão intensa (um período de maciças projeções), nos quais a criatura amada parece funcionar como bálsamo às nossas dores mais inusitadas, passamos a ver o parceiro como ele realmente é: um outro. (linhas 33-38)

Como você explicaria, com suas palavras, o sentido metafórico da palavra funcionar no trecho "a criatura amada parece funcionar como bálsamo"?

Funcionar, nesse caso, significa "agir como", "ter o efeito de".

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