sexta-feira, 17 de outubro de 2025

NOTÍCIA: MALANDRAGEM, ASTÚCIA E SIMPATIA - SUPERINTERESSANTE - COM GABARITO

 Notícia: Malandragem, astúcia e simpatia

        A palavra urubu, que marca profundamente a cultura brasileira, vem de uru-bu, que significa galinha preta em tupi-guarani. Na cosmologia tupinambá, há uma divindade, “o senhor dos urubus”, encarregada de receber as almas dos mortos que chegam aos céus. No Maranhão, a tribo dos Urubu-caapor tem a mais apurada arte plumária indígena do Brasil. Aqui, o urubu substituiu o corvo europeu nas fábulas como as de La Fontaine e Esopo e em histórias populares como O Urubu e o Sapo e Festa no Céu. Segundo o folclorista Câmara Cascudo (1898-1986), a ave é tanto símbolo de mau agouro quanto de pouco esforço, oportunismo e vagabundagem. “É esperto, astuto e raramente enganado, o compadre urubu das fábulas brasileiras”, afirma Cascudo no Dicionário do Folclore Brasileiro.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMU7GID_awQQplstgJKPBF3ZaUmNLWFY8MS4cC8K3zHqqThJLFGk2y4lk7u9MGoOYXOwdocKHFXPiuy2CsJO1cFys70z9mfOyvUR5L630xP3pesjh4Xwx7Qj_OorZLEiTJCdjYWwvOOW1QI9ie7zVjrLFxanH_5Z0V40hDcd-25P4z_RbEFEeIziHqYMc/s1600/Ka'apor.png


        Nos ditados populares, a ave ganha muitos nomes, como urubu-campeiro, urubutinga, urubu-chacareiro, urubu-ministro e urubupeba. “Urubu pelado não mora em bando”, “Praga de urubu não mata cavalo velho”, “Alegria de urubu é carniça” e “Anda tão mal que já está chamando urubu de meu louro” são apenas algumas das dezenas de ditados sobre o bicho.

        Escritores como Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Machado de Assis e Mário de Andrade fizeram várias alusões à ave em suas obras. Que também inspirou a melancolia do poeta simbolista Augusto dos Anjos, autor da frase: “Ah! Um urubu pousou na minha sorte”. Até Walt Disney recorreu ao urubu. Ao inventar o personagem Zé Carioca, em 1942, sob encomenda do governo norte-americano, para atrair as simpatias do Brasil para os aliados durante a Segunda Guerra Mundial, deu-lhe como companheiro o urubu Nestor, um carioca sempre duro, que vive de bicos. Nestor, como diz outro ditado, vive “escovando o urubu”, ou seja, vadiando, desempregado.

        Símbolo popular

        Na música popular o urubu recebeu uma grande homenagem do maestro Tom Jobim. Bom observador da natureza, Tom tinha especial admiração pelo cabeça-vermelha. No disco Urubu, de 1976, fez uma dedicatória na contracapa: “Urubu procurador, urubu achador. Que sabes, do alto, o que se esconde no chão da mata virgem e dos muitos perfumes que sobem do mundo. Eterno vigia de um tempo imperecível. Nos vetustos paredões de pedra, dorme o perfil de um urubu”.

        A ave também invadiu o futebol. Um dos times mais populares do mundo, o Flamengo, adotou o urubu como símbolo. Nos anos quarenta, o mascote da torcida era o marinheiro Popeye, forte e valente. Mas, no final dos anos 60, o urubu desenhado pelo cartunista Henfil, quando trabalhava no Jornal dos Sports, e depois redesenhado por Ziraldo, conquistou a torcida. Em junho de 1969, um torcedor soltou uma ave com uma bandeira do time amarrada nos pés, no Maracanã, minutos antes do clube enfrentar o Botafogo. A torcida, apanhada de surpresa, aplaudiu. Como não vencia há quatro anos e o resultado foi dois a um para o Fla, o urubu passou a ser sinônimo de sorte. Desde estão, os flamenguistas adoram soltar urubu nos jogos. Difícil é entrar no estádio com o bicho escondido da polícia.

Superinteressante, ano 10, nº 6, junho 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 68.

Entendendo a notícia: 

01 – Qual é a origem etimológica da palavra "urubu" e qual é o papel dessa ave na cosmologia tupinambá?

      A palavra "urubu" tem origem no tupi-guarani, vindo de "uru-bu", que significa "galinha preta". Na cosmologia tupinambá, havia uma divindade, "o senhor dos urubus", encarregada de receber as almas dos mortos que chegavam aos céus.

02 – Segundo o folclorista Câmara Cascudo, quais são os principais simbolismos atribuídos ao urubu no folclore brasileiro, e o que o torna um substituto do corvo europeu?

      Câmara Cascudo afirma que o urubu é símbolo de mau agouro, mas também de pouco esforço, oportunismo e vagabundagem. Ele substituiu o corvo europeu nas fábulas (como as de La Fontaine e Esopo) por ser visto como "esperto, astuto e raramente enganado" nas histórias populares brasileiras.

03 – Que ditados populares são citados na notícia para ilustrar a má fama ou a sagacidade do urubu, e qual deles expressa uma situação de extrema dificuldade?

      São citados vários, como: "Urubu pelado não mora em bando," "Praga de urubu não mata cavalo velho," e "Alegria de urubu é carniça." O ditado que expressa uma situação de extrema dificuldade ou decadência é: "Anda tão mal que já está chamando urubu de meu louro."

04 – Qual foi o contexto em que Walt Disney criou o Urubu Nestor, e o que o personagem simbolizava para o Brasil, segundo a notícia?

      Walt Disney criou o personagem Zé Carioca e seu companheiro, o urubu Nestor, em 1942, sob encomenda do governo norte-americano para atrair as simpatias do Brasil para os aliados durante a Segunda Guerra Mundial (a política da Boa Vizinhança). Nestor simbolizava um carioca "sempre duro, que vive de bicos", ou seja, desempregado e vadiando, vivendo de "escovar o urubu."

05 – Como o maestro Tom Jobim homenageou o urubu em 1976?

      O maestro Tom Jobim, que admirava o urubu-cabeça-vermelha, dedicou-lhe o título de seu disco de 1976, "Urubu". Na contracapa, ele escreveu uma dedicatória poética descrevendo o urubu como "procurador, urubu achador," um "eterno vigia de um tempo imperecível."

06 – Por que o time do Flamengo adotou o urubu como seu símbolo, substituindo o marinheiro Popeye?

      O urubu, inicialmente desenhado pelos cartunistas Henfil e Ziraldo, ganhou popularidade e foi adotado como símbolo após um acontecimento decisivo em junho de 1969. Um torcedor soltou uma ave com uma bandeira do time no Maracanã. Como o time não vencia o Botafogo havia quatro anos e venceu o jogo (2x1), o urubu passou a ser considerado sinônimo de sorte, conquistando a torcida.

07 – Qual foi a alusão feita pelo poeta simbolista Augusto dos Anjos ao urubu, e o que essa frase sugere sobre o seu estado de espírito?

      A alusão feita por Augusto dos Anjos, um poeta conhecido pela sua melancolia e pessimismo, é a frase: "Ah! Um urubu pousou na minha sorte." Essa frase sugere que a presença da ave é um sinal de mau agouro, desgraça ou infortúnio iminente, refletindo um estado de espírito de grande tristeza ou pessimismo sobre o seu destino.

TEXTO: PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS VEADEIROS - SET BRASIL - COM GABARITO

 Texto: Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

        O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi criado em 11 de janeiro de 1961, sob o governo do presidente Juscelino Kubitschek. Inicialmente, recebeu o nome de Parque Nacional do Tocantins e possuía 625 mil hectares de área protegida. Que abrangia recursos hídricos, fauna e flora típicos do cerrado mais alto do Brasil, incluindo o Planalto Central (ponto culminante). Onze anos depois, em 11 de maio de 1972, teve sua área reduzida para 171.924 hectares, pois uma comissão do Ministério da Agricultura advertiu que, se essa diminuição não acontecesse, haveria prejuízo das atividades agropecuárias e minerais, o que dificultaria a vida da população rural e o desenvolvimento de um município bem próximo, o Alto Paraíso. Em 1981, o parque sofreu mais uma redução de sua área: desta vez, passou a ter 65 mil hectares, para que houvesse a passagem da rodovia GO-239 entre o Morro da Baleia e o Morro do Buracão. Foi reconhecido como sítio do Patrimônio Natural  da Humanidade pela Unesco, em 2001, quando teve sua área ampliada para 235.000 hectares. Essa ampliação, no entanto, foi suspensa por um decreto do Supremo Tribunal Federal de 2003, em razão de falhas no processo. Com isso, o parque continuou a ter a mesma área que possuía em 1981, ou seja, 65 mil hectares. Finalmente, em junho de 2017, a área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi ampliada para 240 mil hectares.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc569_YmMhJ__27c2MBH4QasfOlJO9i4lkg8sVPaslq-DYtfy4Hww9zl-7NqZcsChWKe8xPzl1xfwh4bW7H9Ru6WBHCC14j_9jyuqKPuhrclJIT3Ub-qSaR2zpOdLyp9sKXribM423xzR2IGwtyUrQm_IxU-2R_3a-OjdyVcNCytVpXml5hM1OVaaCR-g/s1600/VEADEIROS.jpg


Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

Fonte: Set Brasil. Ensino Fundamental, anos finais, 6º ano, livro 2. Thaís Ginícolo Cabral – São Paulo: Moderna, 2019. p. 31.

Entendendo o texto:

01 – Em que ano o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi criado e qual era o seu nome e área inicial?

      O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi criado em 11 de janeiro de 1961, sob o governo do presidente Juscelino Kubitschek. Inicialmente, ele recebeu o nome de Parque Nacional do Tocantins e possuía 625 mil hectares de área protegida.

02 – Qual foi o motivo da primeira redução da área do parque em 1972 e para qual tamanho ele foi reduzido?

      A primeira redução da área em 11 de maio de 1972 ocorreu porque uma comissão do Ministério da Agricultura advertiu que a área original prejudicaria as atividades agropecuárias e minerais, dificultando a vida da população rural e o desenvolvimento do município de Alto Paraíso. O parque foi reduzido para 171.924 hectares.

03 – Qual evento causou a redução da área do parque em 1981, e qual foi o seu tamanho final nesse ano?

      A redução da área em 1981 ocorreu para permitir a passagem da rodovia GO-239 entre o Morro da Baleia e o Morro do Buracão. Com essa redução, o parque passou a ter 65 mil hectares.

04 – Em que ano o parque foi reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, e qual foi a área que ele deveria ter nesse período?

      O parque foi reconhecido como sítio do Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 2001. Nessa época, sua área foi ampliada para 235.000 hectares.

05 – Qual foi a última e definitiva alteração no tamanho da área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e para quantos hectares ele foi ampliado?

      A última alteração na área do parque ocorreu em junho de 2017, quando foi ampliada para 240 mil hectares.

 

 

POEMA: LUAR - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Luar

         Cecília Meireles

Face do muro tão plana,
com o sabugueiro florido.

O luar parece que abana
as ramagens na parede.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmysCRE2rTFh1bVn75rpD__hvCGZfw8oIbhPWKYmo0ER40CDusHAggEtr8nX0QPUEnsiyBzNMIjSu4zi_Z7mcVKf5eT3-9IlQRKkA63HvJYH7r263AnaQUotBSdsHn9kLMO8xK6ZgkAlaJNmlKYkenh8HFK5-cSYz5K2a_LSUn1eXsimM69DJaBRTOBF4/s320/8440084-belo-cenario-noturno-com-arvore-silhueta-e-luar-foto.jpg


A noite toda é um zumbido
e um florir de vagalumes.

A boca morre de sede
junto à frescura dos galhos.

Andam nascendo os perfumes
na seda crespa dos cravos.

Brota o sono dos canteiros
como o cristal dos orvalhos.

Cecília Meireles. Viagem, Obra Poética. Aguilar, 1972.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 71.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a atmosfera geral criada pelo poema "Luar" e de que forma o foco na luz noturna contribui para esse clima?

      A atmosfera geral é de paz, mistério e profunda tranquilidade noturna. O foco na luz noturna (o luar e o florir de vagalumes) contribui para isso ao criar um ambiente de meias-sombras e brilhos intermitentes, tornando a cena mais etérea e sutil. O luar não ilumina de forma agressiva, mas sugere a leveza e a quietude da paisagem.

02 – Além da visão (a face do muro, o sabugueiro, os vagalumes), quais outros sentidos humanos são ativados no poema e quais elementos os evocam?

      Audição: Pelo "zumbido" da noite, que indica um som contínuo e baixo, típico da atividade dos insetos noturnos.

      Olfato: Pelos "perfumes" que "nascem" na "seda crespa dos cravos".

      Tato/Paladar (Metafórico): Pela sensação de "sede" junto à "frescura dos galhos", expressando um anseio ou desejo por absorver a pureza e a umidade da noite.

03 – Identifique e analise o recurso estilístico empregado no verso "O luar parece que abana as ramagens na parede."

      O recurso é a Personificação (ou Prosopopeia). O luar, um elemento inanimado, é dotado da ação humana de "abanar" (mover suavemente). Isso sugere que o movimento das sombras projetadas na parede, causado pela luz da lua, cria uma ilusão de vida e dança na cena, reforçando o caráter sutil e quase onírico da observação.

04 – O que a imagem da "boca morre de sede junto à frescura dos galhos" pode sugerir em um contexto que é primariamente sensorial e natural?

      A imagem é uma metáfora que expressa um intenso desejo ou anseio. A sede, neste contexto de frescor e perfume, sugere uma carência que transcende o físico — uma sede espiritual ou emocional. O eu lírico anseia por absorver a pureza, a paz e a renovação que a natureza noturna oferece, mas sente-se separado ou incapaz de alcançar plenamente essa "frescura".

05 – Analise o significado da metáfora que encerra o poema: "Brota o sono dos canteiros / como o cristal dos orvalhos."

      Esta metáfora encerra a cena com uma imagem de total quietude. Ela compara o surgimento do sono (o repouso completo da natureza) ao surgimento do orvalho (a umidade que se condensa). O sono, um estado abstrato, é materializado e visualizado de forma tangível, pura e brilhante ("cristal"), indicando que a tranquilidade noturna está completa e é tão preciosa quanto o brilho das gotículas de orvalho ao amanhecer.

 

 

CONTO: A VIAGEM - O SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO VI - FRAGMENTO - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: A viagemO Sítio do Pica-pau Amarelo VI – Fragmento

            Monteiro Lobato

        [...]

        Narizinho respondeu ao convite por meio dum borboletograma.

        Não sabem o que é? Invenção da Emília. Como não houvesse telégrafo para lá, a boneca teve a ideia de mandar a resposta escrita em asas de borboleta. Agarrou uma borboleta azul que ia passando e rabiscou-lhe na asa, com um espinho, o seguinte:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjaSBdMOtG-c0lTAsyp41tkEJb76YpM-SMyzYqyj33KTtciZ35FWvrk4eRAJW9sgOB3norqHIbtk2s-0aCxzKj_E0HT0JIipsydXVdgkvg_yXoe3GLY7wLtfDVb9w5VyUqME2nSBcDhz265ogSdamxd0_N07K_ERSWRhWODXWRVkSq5CU7bGfb8Ll9XaM/s320/ilustracao-representativa-dos-personagens-do-sitio-do-picapau-amarelo.jpg


        “Narizinho, a Condessa e o Marquês agradecem a honra do convite e prometem não faltar.”

        — Por que não incluiu o nome de Pedrinho, Emília? — perguntou a menina.

        — Porque ele não é nobre — nem barão ainda é!…

        Pronto que foi o borboletograma, surgiu uma dificuldade. A quem endereçá-lo? À rainha das Vespas ou à das Abelhas?

        — Já resolvo o caso — disse Emília, e soltou a borboleta com estas palavras: “Vá direitinha, hein? Nada de distrair-se com flores pelo caminho.”

        — Ir para onde? — perguntou a borboleta.

        — Para a casa de seu sogro, ouviu? Malcriada! Atrever-se a fazer perguntas a uma condessa!

        — Mas… — ia dizendo humildemente a borboleta. Emília, porém, interrompeu-a com um berro.

        — Ponha-se daqui para fora! Não admito observações. Conheça o seu lugar, ouviu?

        A borboleta lá se foi, amedrontada e desapontadíssima.

        — Você parece louca, Emília! — observou Narizinho. – Como há de ela saber o endereço se você não deu endereço algum?

        — Sabe, sim! — retorquiu a boneca. — São umas sabidíssimas as senhoras borboletas. Se sabem fabricar pó azul para as asas, que é coisa dificílima, como não hão de saber o endereço dum borboletograma?

        [...]

Monteiro Lobato. Reinações de Narizinho. São Paulo, Brasiliense, 1984.

Entendendo o conto:

01 – Qual foi o meio de comunicação inventado por Emília para Narizinho responder ao convite e o que é esse meio?

      O meio de comunicação foi o borboletograma, que é a resposta escrita nas asas de uma borboleta, usada por falta de telégrafo no local.

02 – Quem escreveu a resposta no borboletograma e com o quê?

      A resposta foi escrita por Emília (a boneca) em uma borboleta azul, usando um espinho para rabiscar na asa.

03 – Qual era o conteúdo da mensagem escrita no borboletograma?

      A mensagem era: "Narizinho, a Condessa e o Marquês agradecem a honra do convite e prometem não faltar."

04 – Por que Emília não incluiu o nome de Pedrinho no borboletograma, segundo a própria boneca?

      Emília explicou que não incluiu o nome de Pedrinho porque "ele não é nobre — nem barão ainda é!…".

05 – Qual foi a dificuldade que surgiu após o borboletograma ficar pronto?

      A dificuldade era a quem endereçar a mensagem: "À rainha das Vespas ou à das Abelhas?".

06 – Como Emília resolveu o problema do endereço ao soltar a borboleta?

      Emília disse à borboleta: “Vá direitinha, hein? Nada de distrair-se com flores pelo caminho.” e, quando questionada, respondeu: “Para a casa de seu sogro, ouviu? Malcriada! Atrever-se a fazer perguntas a uma condessa!”. Ela não deu um endereço específico.

07 – Qual foi o argumento de Emília para justificar que a borboleta saberia o endereço, mesmo sem ter sido dado um?

      Emília argumentou que as borboletas "são umas sabidíssimas" e que, se "sabem fabricar pó azul para as asas, que é coisa dificílima, como não hão de saber o endereço dum borboletograma?".

 

CONTO: ENTRE OS ADJETIVOS - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Entre os Adjetivos – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        No bairro dos ADJETIVOS O aspecto das ruas era muito diferente. Só se viam palavras atreladas. Os meninos admiraram-se da novidade e o rinoceronte explicou:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbQfPfv-FtuVg4Z4Bcpl7TNevh7SghcGGwk-K2e2PjljZVzUaG6xFkhxrLU79Jkkpd2PxAwDovuNDLSztnvLfTQPHM4o0kSaWN99ASD__RXCXJ6UnNbUyL4EvLPa8WgBZkIRr2KxIK-8y-pmORlLVEj_o9TDENZq7e_0ysbzf6HexJ9tiCKxNKh0Ohk-E/s320/adjetivos-port-fundo.png

        — Os Adjetivos, coitados, não têm pernas; só podem movimentar-se atrelados aos Substantivos. Em vez de designarem seres ou coisas, como fazem os Nomes, os adjetivos designam as qualidades dos Nomes.

        Nesse momento os meninos viram o Nome Homem, que saía duma casa puxando um Adjetivo pela coleira.

        — Ali vai um exemplo — disse Quindim. — Aquele Substantivo entrou naquela casa para pegar o Adjetivo Magro. O meio da gente indicar que um homem é magro consiste nisso — atrelar o Adjetivo Magro ao Substantivo que indica o Homem.

        — Logo, Magro é um Adjetivo que qualifica o Substantivo — disse Pedrinho — porque indica a qualidade de ser magro.

        — Qualidade ou defeito? — asneirou Emília. — Para Tia Nastácia ser magro é defeito gravíssimo.

        — Não burrifique tanto, Emília! — ralhou Narizinho. — Deixe o rinoceronte falar.

        O armazém dos Adjetivos era bem espaçoso e algumas prateleiras recobriam as paredes. Na prateleira dos qualificativos PÁTRIOS, Narizinho encontrou muitos conhecidos seus, entre os quais Brasileiro, Inglês, Chinês, Paulista, Polaco, Italiano, Francês e Lisboeta, que só eram atrelados a seres ou coisas do Brasil, da Inglaterra, da China, de São Paulo, da Polônia, da Itália, da França e de Lisboa.

        Havia ali muito poucos Adjetivos daquela espécie. Mas as prateleiras dos que não eram Pátrios estavam atopetadinhas. Os meninos viram lá centenas, porque todas as coisas possuem qualidades e é preciso um qualificativo para cada qualidade das coisas. Viram lá Seguro, Rápido, Branco, Belo, Mole, Macio, Áspero, Gostoso, Implicante, Bonito, Amável, etc. — todos os que existem.

        — E na sala vizinha? — perguntou o menino.

        — Lá estão guardadas as LOCUÇÕES ADJETIVAS.

        — O que são essas Senhoras Locuções? — perguntou Emília.

        — São expressões que equivalem a um adjetivo e são empregadas no lugar deles. Por exemplo, quando digo: O calor da tarde aborrece o Visconde, estou usando a Locução Da tarde em lugar do Adjetivo Vespertino; ou quando digo Presente de Rei, em lugar de Presente Rêgio.

        Aquele Presente Régio agradou Emília, que ficou pensativa.

        O movimento no bairro dos Adjetivos mostrava-se intenso. Milhares de Nomes entravam constantemente para retirar das prateleiras os Adjetivos de que precisavam — e lá se iam com eles na trela.

        Outros vinham repor nos seus lugares os Adjetivos de que não necessitavam mais.

        — As palavras não param — observou Quindim. — Tanto os homens como as mulheres (e sobretudo estas) passam a vida a falar, de modo que a trabalheira que os humanos dão às palavras é enorme.

        Nesse momento uma palavra passou por ali muito alvoroçada. Quindim indicou-a com o chifre, dizendo:

        — Reparem na talzinha. É o Substantivo Maria, que vem em busca de Adjetivos. Com certeza trata-se de algum namorado que está a escrever uma carta de amor a alguma Maria e necessita de bons Adjetivos para melhor lhe conquistar o coração.

        A palavra Maria achegou-se a uma prateleira e sacou fora o Adjetivo Bela; olhou-o bem e, como se o não achasse bastante, puxou fora a palavra Mais; e por fim puxou fora o Adjetivo Belíssima.

        — A palavra Mais forma o Comparativo, com o qual o namorado diz que essa Maria é Mais Bela do que tal outra; e com o Adjetivo Belíssima ele dirá que Maria é extraordinariamente bela. E desse modo, para fazer uma cortesia à sua namorada, ele usa os dois GRAUS DO ADJETIVO. Partindo da forma normal que é a palavra Bela, usa o GRAU COMPARATIVO, com a expressão Mais Bela, e usa o GRAU SUPERLATIVO, com a palavra Belíssima.

        — Mas nem sempre é assim — observou Emília. — Lá no sítio, quando eu digo Mais Grande, Dona Benta grita logo: "Mais grande é cavalo".

        — E tem razão — concordou o rinoceronte —, porque alguns Adjetivos, como Bom, Mau, Grande e Pequeno, saem da regra e dão-se ao luxo de ter formas especiais para exprimir o Comparativo. Bom usa a forma Melhor. Mau usa a forma Pior. Grande usa a forma Maior, e Pequeno usa a forma Menor. O resto segue a regra.

        — E para que serve o SUPERLATIVO?

        — Para exagerar as qualidades do Adjetivo. Forma-se principalmente com um íssimo ou com um Érrimo no fim da palavra, como Feliz, Felicíssimo; Salubre, Salubérrimo. Ou então usa o O Mais, como O Mais Feliz.

        — E se quiser exagerar para menos? — indagou Pedrinho.

        — Nesse caso usa a expressão O Menos Feliz...

        — Sim — murmurou Emília distraidamente, com os olhos postos no Visconde, que continuava calado e apreensivo como quem está incubando uma ideia. — O Sonsíssimo Visconde, ou O Mais Sonso de todos os sabugos científicos...

        De fato, o Visconde estava preparando alguma. Deu de ficar tão distraído, que até começou a atrapalhar o trânsito. Tropeçou em várias palavras, pisou no pé de um Superlativo e chutou um O maiúsculo, certo de que era uma bolinha de futebol.

        Que seria que tanto preocupava o Senhor Visconde?

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal característica das palavras no bairro dos Adjetivos e qual é a função dessas palavras, segundo Quindim?

      A principal característica é que as palavras (Adjetivos) andam atreladas aos Substantivos, pois não têm pernas. A função dos Adjetivos é designar as qualidades (ou defeitos) dos Nomes / Substantivos.

02 – O que são os Adjetivos Pátrios e onde Narizinho os encontrou?

      Os Adjetivos Pátrios são qualificativos que indicam a origem de seres ou coisas. Narizinho os encontrou na prateleira dos qualificativos PÁTRIOS do armazém dos Adjetivos (Ex: Brasileiro, Chinês, Lisboeta).

03 – O que são as Locuções Adjetivas e qual exemplo Quindim usou para ilustrar a substituição de um adjetivo por uma locução?

      Locuções Adjetivas são expressões que equivalem a um adjetivo e são usadas no lugar deles. O exemplo dado foi a substituição do Adjetivo Vespertino pela Locução Adjetiva "Da tarde" (em calor da tarde).

04 – Qual Substantivo (Nome) foi visto buscando Adjetivos no armazém, e qual era a provável razão dessa busca?

      O Substantivo que buscava Adjetivos era Maria. A razão provável era que algum namorado estava escrevendo uma carta de amor para alguma Maria e necessitava de bons Adjetivos para conquistar o coração dela.

05 – Quais são os dois Graus do Adjetivo que a palavra Maria usou para fazer uma cortesia ao seu namorado, e quais palavras foram usadas para formá-los?

      Os dois graus usados foram:

      GRAU COMPARATIVO (com as palavras Mais Bela, usando a palavra Mais).

      GRAU SUPERLATIVO (com a palavra Belíssima, usando o sufixo -íssima).

06 – Quais são os quatro Adjetivos que, de acordo com Quindim, fogem à regra do Comparativo e usam formas especiais? Cite a forma Comparativa de cada um.

      Os quatro Adjetivos são:

      Bom (usa a forma Melhor).

      Mau (usa a forma Pior).

      Grande (usa a forma Maior).

      Pequeno (usa a forma Menor).

07 – O que o Visconde de Sabugosa estava fazendo no final do trecho, e por que Emília o chamou de "O Sonsíssimo Visconde"?

      O Visconde estava calado, apreensivo, tropeçando e atrapalhando o trânsito, pois estava incubando uma ideia (preparando alguma coisa). Emília o chamou de "O Sonsíssimo Visconde" (ou "O Mais Sonso de todos os sabugos científicos") usando um Superlativo (aumentando a qualidade de sonso) para brincar com a distração e a natureza pensativa do sabugo.

 

CONTO: ENTRE AS CONJUNÇÕES - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Entre as Conjunções – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        O Verbo Ser levou Emília para a Casa das CONJUNÇÕES, que ficava ao lado.

          As Conjunções — explicou ele — também ligam; mas em vez de ligarem simples palavras (como fazem as Preposições) ligam grupos de palavras, ou isso a que os gramáticos chamam:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPdXGbyEH7DQDM1HHUVFmP6KOE3QB2sfV55insBEBvbJVfjIB7PbgTSysmcgHnj41AFHvLYX4LnVVsmWyn60DGJY1fJZk_sUrIyDWHlr7PubbGVdbNiU16aOWzP09In7HOqmc50ZZeZGAT4iThNqh5lj1DNrMTx2NjNmTO5Ab5ywUQ8Vhz5J9Gh6PUReE/s320/conjuncoes-tudo-o-que-voce-precisa-para-arrasar-nos-vestibulares.jpg


        ORAÇÃO.

          Oração não é reza? — perguntou Emília.

          E reza e é também uma frase que forma sentido perfeito. Quando alguém diz: Emília é uma boneca, está formando uma Oração curtinha. Mas há frases muito compridas, compostas de várias Orações; nesse caso é preciso ligar as Orações entre si por meio das Conjunções. Não fazendo isso, a frase cai aos pedaços.

          Compreendo — disse Emília. — Se eu digo... — e engasgou.    

          Espere — advertiu Ser. — Se você diz: A água é mole e a pedra é dura, você está amarrando duas Orações diversas com o barbantinho da Conjunção E.

        Emília viu na Casa das Conjunções dois armários, um com as Conjunções COORDENATIVAS e outro com as Conjunções SUBORDINATIVAS. No armário das Coordenativas encontrou muitas conhecidas suas, como E, Também, Então, Bem Como, Que, Ou, Mas, Porém, Todavia, Senão, Somente, Pois Bem, Ora, Aliás...

          Como são numerosas! — comentou a boneca. — Nunca supus que fosse necessário tanta variedade de fios para amarrar as Senhoras Orações.

          Os homens costumam amarrar as Orações de tantos modos diferentes, que todas essas cordinhas se tornam necessárias.

        Emília ainda viu lá Logo, Pois, Portanto, Assim, Por Isso, Daí, Ou, Isto É, Por Exemplo, e muitas mais.

        No segundo armário estavam as Conjunções Subordinativas, que ligam as Orações dum modo especial, escravizando uma à outra. Eram igualmente abundantíssimas, e Emília notou as seguintes: Quando, Apenas, Como, Enquanto, Desde Que, Logo Que, Até Que, Assim Que, Ao Passo Que, Se, Salvo, Exceto, Sem Que, Porque, Visto Que, De Modo Que, Para Que, Segundo, Conforme, Embora e outras.

          Xi... São tantas que já estão me enjoando — disse Emília, fazendo um muxoxo. — Chega de Casa de Fios. Vamos ver outra coisa.

          Só nos resta visitar as Interjeições — disse o Verbo Ser, tirando do bolso uma caixinha de rape para tomar a sua pitada.

          Isso é tabaco ou pó de pirlimpimpim? — perguntou Emília.

          Pó de pirlimpimpim? — repetiu o Verbo Ser, franzindo a testa. — Que pó é esse?

        Emília riu-se.

        — Nem queira saber, Serência! É um pozinho levado da breca. Uma vez tomamos uma pitada e fomos parar na Lua...

        E enquanto ia caminhando para a Casa das Interjeições, a boneca desfiou a primeira aventura da Viagem ao céu.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal função das Conjunções, segundo a explicação do Verbo Ser, e qual o seu papel fundamental na construção de frases mais longas?

      A principal função das Conjunções é ligar grupos de palavras, ou o que os gramáticos chamam de Oração. Em frases longas compostas por várias Orações, as Conjunções são necessárias para amarrar as Orações entre si, impedindo que a frase "caia aos pedaços".

02 – O que é uma Oração, no contexto da gramática, de acordo com o Verbo Ser?

      Uma Oração é uma frase que forma sentido perfeito. O Verbo Ser exemplifica com a frase curtinha: "Emília é uma boneca".

03 – Onde as Conjunções estavam guardadas na casa visitada, e quais são os dois grandes grupos em que elas são divididas?

      As Conjunções estavam guardadas em dois armários. Os dois grupos são as Conjunções Coordenativas e as Conjunções Subordinativas.

04 – Qual é a diferença na forma como as Conjunções Coordenativas e Subordinativas ligam as Orações?

      As Conjunções Coordenativas ligam as Orações sem que haja uma relação de dependência explícita (como a Conjunção E). As Conjunções Subordinativas ligam as Orações de um modo especial, escravizando uma à outra (criando uma dependência), como Porque ou Quando.

05 – Emília menciona algumas Conjunções que conhecia, listadas no armário das Coordenativas. Cite três exemplos dessas Conjunções Coordenativas.

      Emília encontrou no armário das Coordenativas conjunções como: E, Ou, Mas, Porém, Todavia, Senão, Logo, Pois, Portanto, Assim, Por Isso, Ora, Aliás, entre outras.

 

CRÔNICA: O RISADINHA - FRAGMENTO - PAULO MENDES CAMPOS - COM GABARITO

 Crônica: O Risadinha – Fragmento

             Paulo Mendes Campos

        Seria melhor dizer que ele não teve infância. Mas não é verdade. Eu o conheci menino, trepando às árvores, armando alçapão para canários-da-terra, bodoqueando as rolinhas, rolando pneu velho pelas ruas, pegando traseira de bonde, chamando o professor Asdrúbal de Jaburu. Foi este último um dos mais divertidos e perigosos brinquedos da nossa infância: o velho corria atrás da gente brandindo a bengala, seus bastos bigodes amarelos fremindo sob as ventas vulcânicas.

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        Nestor, em suma, teve a meninice normal de um filho de funcionário público em nosso tempo, tempo incerto, pois os recursos da Fazenda na província eram magros, e os pagamentos se atrasavam, enervando a população.

        Seus companheiros talvez nem soubessem que se chamasse Nestor; era para todos o Risadinha. Falava pouco e ria muito, um riso de fato diminutivo, nascido de reservados solilóquios, quase sempre extemporâneo. Certa feita, na aula de francês, quando entoávamos em coro o presente do subjuntivo do verbo s`en aller, Risadinha pespegou uma bólide de papel bem na ponta do nariz do professor, que era muito branco, pedante a capricho e tinha o nome de Demóstenes. O rosto do mestre passou do pálido ao rubro das suas tremendas cóleras. Um dos seus prazeres, sendo-lhe vetado por lei castigar-nos com o bastão, era desfiar em cima do culpado uma série de insultos preciosos, que ele ia escandindo um por um, sem pressa e com ódio.

        − Levante-se, seu Nestor! Sa-cri-pan-ta! Ne-gli-gen-te! Si-co-fan-ta! Tu-nan-te! Man-dri-ão! Ca-la-cei-ro! Pan-di-lha! Bil-tre! Tram-po-lei-ro! Bar-gan-te! Es-troi-na! Val-de-vi-nos! Va-ga-bun-do!...

        Pegando a deixa da única palavra inteligível, Risadinha erguia o dedo no ar e protestava, com ar ofendido:

        − Vagabundo, não, professor.

        Era um artista do cinismo, e sua momice de inocência era de tal arte que até mesmo seu Demóstenes não conseguia conter o riso. Como também somente ele já arrancara uma gargalhada do padre-prefeito, um alemão da altura da catedral de Colônia, num dia em que vinha caminhando lento e distraído, fora de forma.

        − Por que o senhorrr não está na forma? − perguntou-lhe rosnando o padre, como se estivesse de promotor da Inquisição, diante de um herege horripilante.

        − É porque estou com meu pezinho machucado, respondeu com doçura o Risadinha.

        − E por que o senhorrr não está mancando?

        Risadinha olhou com espanto para os seus próprios pés, começando a mancar vistosamente:

        − Desculpe, seu padre, é porque eu tinha esquecido.

        Foi um precursor de Cantinflas e, a despeito da opinião do leitor, nós lhe achávamos uma graça de doer a barriga.

        [...]

CAMPOS, Paulo Mendes. Para gostar de ler.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 281.

Entendendo a crônica:

01 – Qual era o nome verdadeiro do personagem principal e qual era seu apelido?

      O nome verdadeiro do personagem principal era Nestor, mas ele era conhecido por todos como Risadinha.

02 – Que tipo de infância o narrador descreve que Nestor (o Risadinha) teve?

      O narrador descreve que Nestor teve a meninice "normal de um filho de funcionário público em nosso tempo", embora a época fosse de recursos magros e pagamentos atrasados. A meninice era marcada por brincadeiras típicas, como trepar em árvores, armar alçapão, "bodoquear" rolinhas e rolar pneu.

03 – Qual era a característica principal do Risadinha que lhe rendeu o apelido, e como o narrador descreve esse traço?

      A principal característica era o riso. O narrador o descreve como alguém que "falava pouco e ria muito, um riso de fato diminutivo, nascido de reservados solilóquios, quase sempre extemporâneo."

04 – Que travessura o Risadinha cometeu durante a aula de francês e qual foi a reação imediata do professor Demóstenes?

      Risadinha atirou uma "bólide de papel" (bolinha) bem na ponta do nariz do professor Demóstenes. A reação do professor foi passar do pálido ao rubro de cólera.

05 – Como o professor Demóstenes, impedido por lei de usar o bastão, punia o Risadinha verbalmente?

      Ele punia o Risadinha proferindo "uma série de insultos preciosos", que ia escandindo (falando pausadamente) um por um, sem pressa e com ódio. A lista de insultos incluía "Sacripanta", "Sicofanta", "Trampoleiro", "Vagabundo", entre outros.

06 – Qual foi a "jogada" de cinismo e inocência do Risadinha que conseguiu arrancar o riso até do professor Demóstenes?

      Ao ser xingado com a lista de insultos, Risadinha interrompeu o professor na única palavra que considerou ofensiva e inteligível ("Vagabundo") e protestou com ar ofendido: "Vagabundo, não, professor." Sua "momice de inocência" era tão perfeita que o professor não conseguiu conter o riso.

07 – Que estratagema o Risadinha usou para convencer o padre-prefeito de que seu pé estava machucado?

      Ao ser questionado pelo padre ("E por que o senhorrr não está mancando?"), Risadinha olhou para os próprios pés, começou a mancar vistosamente e pediu desculpas, dizendo: "Desculpe, seu padre, é porque eu tinha esquecido." Essa resposta também arrancou uma gargalhada do padre.

 

 

CRÔNICA: O FISCAL DA NOITE - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: O FISCAL DA NOITE

            Rubem Braga

        Fui eu que vi o Cruzeiro erguer-se do mar e mais tarde chegar até o horizonte de minha varanda; vi duas estrelas muito brilhantes nascerem depois dele e subir também. Analfabeto olhando as estrelas, segui sua navegação sem saber seus nomes; vigiei de meu imóvel tombadilho.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNGTzNKhh_qPVl3wRE-all6xXchKXrozviF8yKRxmaykhW4DP4TkpuYkJQ9k9tCmR5Vao-D8fi0zITbLHpq0F_a0m8FZuiNRDvDw-FPMZ01TnurtVcWxRmSF7d21ag-I5wbTNuo6qLhRXvbbk0l2lo2BvO7U91rEz4gD4Fho9tp4WlUPnpLFJHRtHXBv4/s320/PINTURA.jpg


        Estava solitário, mas não triste; lembrei o velho dito dos "A noite ainda é uma criança."

        Mas o tempo avança. Agora medito no seio de uma noite como à sombra de uma grande árvore; de raro em raro, madura cai uma estrela e se perde na escureza do céu ou do chão. Quase vejo o mar, apenas o pressinto e o sei arfando lânguido, sem vento.

        Deus me pôs nesta rede a olhar a noite. Não tenho sono nem de sair; não telefonarei para ninguém. Sou como um débil mental a quem houvessem dado o emprego de fiscalizar as estrelas, e acompanhado com paciência sua marcha lenta. Devo dizer que estão se comportando bem, tanto as mais novas como as mais velhas; andam de leste para de maneira morosa e sensata, guardando com atenção as respectivas distâncias. Se o major-fiscal me telefonar direi que não há nenhuma ração. O nascimento da lua está marcado para as 24h45m da madrugada; espero que seja pontual e não me dê aborrecimentos. O número de estrelas cadentes é diminuto.

        Informarei: "Pequenas baixas; o desperdício de estrelas durante a noite a meu cargo foi mínimo e, creio, inevitável; nosso estoque é imenso, senhor major." O major comunicará ao coronel, este ao general, este ao Presidente da República. O Presidente da República expedirá mensagens congratulatórias a Deus e a Albert Einstein, no Paraíso.

        Adormeço na rede, e desperto assustado; mas o céu está em ordem, e as estrelas marcham sempre na mesma direção, como crianças bem-comportadas. Deus me pôs nesta rede, e o Diabo me fez dormir. Felizmente a lua ainda não nasceu. Risco um fósforo para olhar meu relógio ("a opinião do prefeito de Genebra. sobre a hora de Ipanema"), meu famoso relógio antimagnético, antiatômico e antilírico, e suspiro aliviado; ainda faltam 18 minutos para o nascimento da lua. Levanto-me e tomo posição em outro   ângulo da varanda, murmurando: "Vamos providenciar isso."

Rubem Braga. Para gostar de ler, vol. 4. São Paulo, Ática, 1979.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 175.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é a atitude do narrador em relação às estrelas que observa no início da crônica?

      O narrador se descreve como um "Analfabeto olhando as estrelas", indicando que, embora as observe atentamente e siga sua "navegação" ("vigiei de meu imóvel tombadilho"), ele não sabe seus nomes.

02 – Qual é o estado de espírito do narrador ao meditar na varanda?

      Ele afirma que, embora estivesse "solitário, mas não triste", no início. Depois, ao meditar "no seio de uma noite como à sombra de uma grande árvore", ele não tem sono nem vontade de sair ou telefonar, assumindo o papel de observador paciente.

03 – Que comparação o narrador utiliza para descrever a sua função de observador da noite?

      Ele se compara a um "débil mental a quem houvessem dado o emprego de fiscalizar as estrelas, e acompanhado com paciência sua marcha lenta."

04 – Como o narrador avalia o comportamento das estrelas sob sua "fiscalização"?

      Ele informa que elas estão se comportando bem, "tanto as mais novas como as mais velhas", e que andam "de leste para de maneira morosa e sensata, guardando com atenção as respectivas distâncias."

05 – Qual é a única "preocupação" que o narrador tem com a chegada do novo astro?

      A preocupação dele é com o nascimento da lua, marcado para as 24h45m da madrugada. Ele espera que ela "seja pontual e não me dê aborrecimentos."

06 – Qual é o teor do relatório que o narrador planeja enviar ao "major-fiscal" sobre as estrelas cadentes?

      Ele planeja informar: "Pequenas baixas; o desperdício de estrelas durante a noite a meu cargo foi mínimo e, creio, inevitável; nosso estoque é imenso, senhor major."

07 – O que leva o narrador a despertar assustado na rede e o que o alivia?

      Ele adormece na rede e desperta assustado. O que o alivia é ver que "o céu está em ordem, e as estrelas marcham sempre na mesma direção, como crianças bem-comportadas", e constatar, olhando seu relógio, que a lua "ainda não nasceu", faltando 18 minutos para o seu horário marcado.