sexta-feira, 10 de outubro de 2025

CONTO: AS PREPOSIÇÕES - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: As Preposições - Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        — Gosto dos Advérbios — foi dizendo Emília, enquanto Ser a levava para a casa das PREPOSIÇÕES. — Eles prestam enormes serviços a quem fala. Impossível a gente dizer uma coisa do modo exatinho como é preciso sem usar qualquer Advérbio.

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        Sim — concordou Ser. — Ninguém pode arrumar-se na vida sem eles. Até nós, Verbos, ganhamos imensamente com as modificações que eles nos fazem. Mas, bem consideradas as coisas, não existe palavra que não seja indispensável. Sem os Nomes, de que valeríamos nós, Verbos? E sem Verbos, de que valeriam os Nomes? Todas as palavras ajudam-se umas às outras, e desse modo os homens conseguem exprimir todas as ideias que lhes passam pela cabeça.

        A Casa das Preposições não era grande, porque há poucas palavras nessa família.

        — Estas senhoritas — disse Ser — servem para ligar outras palavras entre si, ou para ligar uma coisa que está atrás a uma que está adiante. O Advérbio modifica; a Preposição liga.

        — Quer dizer que são os barbantes, as cordinhas da língua — observou Emília.

        — Isso mesmo. Constituem os amarrilhos da língua. Sem elas a frase ficaria telegráfica, ou desamarrada. Aqui estão todas neste armário, olhe.                                                                  

        Emília examinou-as uma por uma, para as decorar bem, bem. Viu lá as Preposições A, Ante, Após, Até, Com, Contra, Conforme, Consoante, De, Desde, Durante, Em, Entre, Fará, Por, Sem, Sobre, Sob e outras.

        — Bravos! —- gritou Emília. — São umas cordinhas preciosas estas. A gente não pode dizer nada sem usá-las, sobretudo as menorzinhas, como A, Até, Com, De, Sem, Por...

        — Creio que a Preposição De é a mais importante — disse Ser. — Num concurso de utilidade, De venceria. É como ali adiante a conjunção E, que é a menor de todas. Tão econômica que até se escreve com uma letra só — e no entanto é uma danadinha de útil.                                                     Vamos visitar as Conjunções! — gritou Emília.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual a função principal das Preposições, de acordo com o Verbo Ser?

      Segundo o Verbo Ser, as Preposições servem para ligar outras palavras entre si, ou para ligar uma coisa que está atrás a uma que está adiante.

02 – Que analogia Emília usa para descrever o papel das Preposições na língua?

      Emília observa que as Preposições são "os barbantes, as cordinhas da língua" ou os amarrilhos da língua, pois sem elas a frase ficaria telegráfica ou "desamarrada".

03 – Por que a Casa das Preposições não era grande?

      A Casa das Preposições não era grande porque há poucas palavras nessa família (ou seja, a lista de preposições essenciais é limitada).

04 – De acordo com o Verbo Ser, qual é a Preposição mais importante e por quê?

      O Verbo Ser acredita que a Preposição De é a mais importante, afirmando que "Num concurso de utilidade, De venceria".

05 – Quais são, pelo menos, cinco exemplos de Preposições que Emília vê no armário?

      Emília vê diversas preposições, tais como: A, Ante, Após, Até, Com, Contra, De, Desde, Em, Entre, Por, Sem, Sobre, Sob (entre outras).

 

 

CRÔNICA: MINUTAS - ÉRICO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: MINUTAS

              Érico Veríssimo

        Um homem chega num balcão e tenta chamar a atenção da balconista para atendê-lo.

        – Senhorita...

        – Um minutinho.

        O homem vira-se para outro ao seu lado e diz:

        – Ih, já vi tudo.

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        – O que foi?

        – Ela disse “um minutinho”. Quer dizer que vai demorar. No Brasil, um minuto dura sessenta segundos, como em qualquer outro lugar, mas “um minutinho” pode durar uma hora.

        O homem tenta de novo:

        – Senhorita...

        – Só um instantinho.

        – Ai...

        – O que foi?

        – Ela disse “um instantinho”. Um “instantinho” demora mais que um minutinho. Parece que um minutinho é feito de vários instantinhos, mas é o contrário. Um “instantinho” contém vários “minutinhos”. Senhorita!

        – Só dois segundinhos!

        O homem começa a se retirar.

        – Aonde é que o senhor vai?

        – Ela disse “dois segundinhos”. Isso quer dizer que só vai me atender amanhã.

Érico Veríssimo. Jornal do Brasil, 28/06/96.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 66.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o problema inicial que impulsiona o diálogo e o humor da crônica?

      O problema inicial é a dificuldade do cliente (o homem) em ser atendido pela balconista. Ele tenta chamar a atenção dela, mas é constantemente interrompido e adiado por expressões que, em vez de significar rapidez, anunciam uma espera prolongada.

02 – De acordo com o homem da crônica, qual é a diferença de duração entre um "minuto" e um "minutinho" no contexto brasileiro de atendimento?

      O homem ironiza que o minuto real dura sessenta segundos, "como em qualquer outro lugar". Já o "minutinho", no contexto do atendimento, é uma expressão que sinaliza demora e, segundo ele, pode durar até "uma hora", indicando uma promessa vazia de rapidez.

03 – Na hierarquia de espera criada pelo homem, qual expressão é mais longa: "um minutinho" ou "um instantinho"? Por quê?

      Para o homem, "um instantinho" demora mais que "um minutinho". Ele satiriza a lógica ao dizer que, embora um minuto seja maior que um instante real, no jargão do mau atendimento, "um 'instantinho' contém vários 'minutinhos'", indicando que a expressão é usada para justificar uma espera ainda maior e mais indefinida.

04 – Qual é a última expressão usada pela balconista, e qual é a conclusão radical que o homem tira dela?

      A última expressão usada pela balconista é "Só dois segundinhos!". A conclusão radical que o homem tira é que essa expressão significa que ela "só vai me atender amanhã". Quanto menor a unidade de tempo usada na promessa, maior é a certeza da demora, no que se torna o clímax irônico da crônica.

05 – Que crítica social ou cultural Erico Veríssimo faz ao satirizar o uso das expressões de tempo como "minutinhos" e "instantinhos"?

      Veríssimo faz uma crítica social à qualidade e à procrastinação no atendimento (especialmente o público ou comercial) e à falta de compromisso com a pontualidade no Brasil. Ele ironiza o uso de diminutivos ("-inho") para mascarar a falta de pressa e a ineficiência, transformando termos de brevidade em sinônimos de longa espera.

06 – Qual figura de linguagem é central para o humor e a crítica desta crônica? Justifique.

      A figura central é a hipérbole (o exagero) combinada com a ironia. A hipérbole está na atribuição de durações absurdas às pequenas unidades de tempo ("um minutinho pode durar uma hora"; "dois segundinhos" significa "só amanhã"). A ironia reside no contraste entre o significado literal das palavras (tempo curto) e o significado prático e social (tempo indeterminado e longo).

07 – Por que o homem decide se retirar quando ouve "Só dois segundinhos!"?

      Ele se retira porque, de acordo com a lógica satírica que ele estabeleceu, o uso de uma unidade de tempo extremamente curta, como "dois segundinhos", significa que a espera será a mais longa de todas, possivelmente um dia inteiro. A promessa de rapidez extrema o convence, ironicamente, de que a situação é irrecuperável e que não vale a pena esperar.

 

 

POEMA: TÂNATOS TANAJURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Tânatos Tanajura

          Carlos Drummond de Andrade

I
Tanajura
flor de chuva
chuviflor
em revoo
de arco-íris.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKwgvrCUOQz2WthyphenhyphenvH1QtJHVmdWpY4xMq68IvNYJ4qtcn-uMuUIublQHioaGMUqqqhPsK9y95328hsC8FZO9ArsMHoJf44I1yKZIlbnGGYRS9esMJwJs-41GGuUOI91BtERy_AeQzwieL8pX1uJ8WUlkqc7pMoU4P51M9B_B4jnXu1or_-ZwIBq0o76Jg/s320/ARCO%20IRIS.jpg



Erráticas
no ar escuro
que se aclara
ao sol da caça.

Foi o trovão,
tanajura,
tempo de amar,
tanajura,
tempinho de botar ovo
e de morrer,
tanajura.

II
Corre-corre na rua
a colher na enxurrada
a chuvatanajura.

Na tonta procura,
qual a mais gordinha
rainha do reino obscuro?
Oi, tana, tana, tanajura,
morte bailante
na tarde impura.

Esta hei de guardá-la,
esta hei de querer-lhe
como ao gato, ao caramujo
de minha estimação.

Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 70.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal dualidade temática explorada no título e ao longo do poema "Tânatos Tanajura"?

      A principal dualidade temática é a oposição e a união entre Vida e Morte. O termo Tânatos (personificação grega da Morte) e Tanajura (um inseto de vida breve e cíclica) juntos exploram a natureza efêmera da existência, onde o tempo de voar, amar e botar ovo é, simultaneamente, o "tempinho... de morrer".

02 – Explique o significado das expressões "flor de chuva" e "chuviflor" aplicadas à Tanajura na primeira estrofe da Parte I?

      Essas expressões são metáforas que associam a Tanajura à beleza, fragilidade e efemeridade das flores. Elas sublinham que a aparição do inseto é diretamente ligada à chuva (fenômeno sazonal), indicando uma existência breve e uma beleza passageira, como o florescer que dura apenas um momento.

03 – Na terceira estrofe da Parte I, a repetição do vocativo "tanajura" em versos sucessivos confere qual efeito ao ritmo e ao tom do poema?

        “Foi o trovão, tanajura, tempo de amar, tanajura, tempinho de botar ovo e de morrer, tanajura.”

      A repetição (anáfora/vocativo) estabelece um tom de cantiga, lamento ou oração ritmada. Ela confere ao trecho um efeito de ternura melancólica e reforça a fatalidade e a simplicidade do ciclo de vida do inseto, quase como se o eu lírico estivesse se despedindo.

04 – Na Parte II, o que a frase "morte bailante na tarde impura" sugere sobre o destino das tanajuras e a relação humana com elas?

      A frase sugere um forte contraste trágico: o "bailante" remete ao voo gracioso e à liberdade do inseto, que é subitamente interrompido pela "morte" causada pela caça humana. O termo "tarde impura" pode ser uma reflexão do eu lírico sobre a visão predatória e o abate em massa dos insetos pelos coletores.

05 – Qual é o significado do verso final na Parte II, quando o eu lírico afirma que irá "guardá-la" e "querer-lhe / como ao gato, ao caramujo de minha estimação"?

      Este verso representa um ato de individualização e afeto que contrasta com a caça em massa. O eu lírico retira uma Tanajura específica do destino coletivo (ser comida) para conceder-lhe um valor individual e sentimental, elevando o inseto efêmero ao status de um animal de estimação, demonstrando ternura e uma crítica sutil à indiferença humana.

 

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

CONTO: ARTIGOS E NUMERAIS - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Artigos e Numerais – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        — E naquela casinha minúscula? — perguntou Emília. — Quem mora lá?

        — Lá moram o vi, o O, o Um, Uma, umas pulgas de palavrinhas, mas que apesar disso são utilíssimas. A gente não dá um passo sem usá-las. São os ARTIGOS.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQfuGTOP45EHrojZOE29QUL-CSdEteISCBJOwUT0sPbiBFaoaqyWz9kiaEyi3Vj7eVbDugEhwCutS6vvU99o1VPtjqYrmZexjDug09CLQGTau8wykOLVNjwXyXHJ8Su1rAquWtwZRUnaMU0-ry4olqIBOTnRNyUGUrynIs2X7D27tgFNcn70ST3n87gsY/s1600/images.jpg


        — Para que servem?

        — Para individualizar um Nome. Individualizar quer dizer marcar um entre muitos. Quando a gente diz: A menina do nariz arrebitado, aquele A do começo marca, ou individualiza, esta menina que está aqui, esta neta de Dona Benta — e não uma menina qualquer. Tudo já fica muito diferente se dissermos: Menina do narizinho arrebitado — sem o A, porque então já não estaremos marcando estazinha aqui. O Artigo Um também individualiza. Em Um Macaco, o Um individualiza, ou marca, um certo macaco entre toda a macacada.

        — Mas Um Macaco não diz qual é o macaco. Um Macaco pode ser este ou aquele — objetou Emília.

        — Por isso mesmo o O e o A recebem o nome de Artigos DEFINIDOS, e o casalzinho Um e Uma recebem o nome de Artigos INDEFINIDOS. O Artigo O é Definido porque marca com certeza; o Artigo Um é Indefinido porque marca sem certeza.

        — A coisa é um tanto complicada; mas sem explicar eu entendo melhor do que explicado demais. Vamos adiante.

        Os meninos viram um imenso galpão com a seguinte tabuleta: NUMERAIS.

        — Aqui também moram números, Quindim? — perguntou o menino.

        — Não — respondeu Quindim rindo —, mas os homens usam palavras para expressarem os números. Os Numerais são as palavras que exprimem números, ordem, múltiplos ou frações. Eles se dividem em: CARDINAIS, como em Um, Dois, Cento e Cinquenta, Quatrocentos, Dois Mil e Duzentos, Milhão, etc; ORDINAIS, que exprimem ordem, como Primeiro, Segundo, Décimo, Centésimo, Milésimo, etc. Podem ser também MULTIPLICATIVOS, como Dobro, Duplo, Triplo, Óctuplo, etc. E, por fim, podem ser FRACIONÁRIOS, como Meio, Metade, Terço, Quarto, Nono, Décimo, Onze Avós, Vinte Avós, Quarenta Avós, Cinquenta Avós...

        — Chega, Quindim — berrou Emília —, já sabemos que os números são infinitos. Senão vamos ficar a vida toda aqui...

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Quais são as palavras que moram na casinha minúscula e, apesar de serem "pulgas de palavrinhas," são utilíssimas?

      São os ARTIGOS, como o, a, os, as, um, uma, uns e umas.

02 – Qual é a função primordial dos Artigos, e como essa função muda se a palavra for removida da frase?

      A função primordial dos Artigos é individualizar um Nome (marcar um ser entre muitos). Se o Artigo for removido, a individualização se perde (Ex: "A menina do nariz arrebitado" marca esta menina específica; "Menina do narizinho arrebitado" – sem o 'A' – não marca esta menina aqui).

03 – Qual é a diferença de função entre o Artigo Definido e o Artigo Indefinido, e qual casalzinho representa cada um?

      Artigos DEFINIDOS (casal: O e A) marcam o Nome com certeza (Ex: O Macaco).

      Artigos INDEFINIDOS (casal: Um e Uma) marcam o Nome sem certeza (Ex: Um Macaco).

04 – O que são os Numerais em Portugália, e o que eles expressam?

      Os Numerais são as palavras que exprimem números. Eles são usados para expressar números, ordem, múltiplos ou frações.

05 – De acordo com Quindim, quais são as quatro classificações dos Numerais, e dê um exemplo de cada uma.

      Os Numerais se dividem em quatro tipos:

      CARDINAIS (Exprimem a contagem): Um, Dois, Milhão.

      ORDINAIS (Exprimem ordem): Primeiro, Segundo, Décimo.

      MULTIPLICATIVOS (Exprimem múltiplos): Dobro, Duplo, Triplo.

      FRACIONÁRIOS (Exprimem frações): Meio, Terço, Quarto.

 

 

CONTO: NA CASA DOS PRONOMES - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Na Casa dos Pronomes – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        — Chega de Adjetivos — gritou a menina. — Eu não sei por quê, tenho grande simpatia pelos PRONOMES, e queria visitá-los já.

        — Muito fácil — respondeu o rinoceronte. — Eles moram naquelas casinhas aqui defronte. A primeira, e menor, é a dos Pronomes PESSOAIS.

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        — Ela é tão pequena... — admirou-se Emília.

        — Eles são só um punhadinho, e vivem lá como em república de estudantes.

        E todos se dirigiram para a casa dos Pronomes Pessoais enquanto Quindim ia explicando que os Pronomes são palavras que também não possuem pernas e só se movimentam amarradas aos VERBOS.

        Emília bateu na porta — toque, toque, toque.           

        Veio abrir o Pronome Eu.

        — Entrem, não façam cerimônia.                              

        Narizinho fez as apresentações.                                     

        — Tenho muito gosto em conhecê-los — disse amavelmente o Pronome Eu. — Aqui na nossa cidade o assunto do dia é justamente a presença dos meninos e deste famoso gramático africano. Vão entrando. Nada de cerimônias.

        E em seguida:

        — Pois é isso, meus caros. Nesta república vivemos a nossa vidinha, que é bem importante. Sem nós os homens não conseguiriam entender-se na terra.

        — Todas as outras palavras dizem o mesmo — lembrou Emília.

        — E nenhuma está exagerando — advertiu o Pronome Eu. — Todas somos por igual importantes, porque somos por igual indispensáveis à expressão do pensamento dos homens.

        — E os seus companheiros, os outros Pronomes Pessoais? —  perguntou Emília.

        — Estão lá dentro, jantando.

        À mesa do refeitório achavam-se os Pronomes Tu, Ele, Nós, Vós, Eles, Ela e Elas. Esses figurões eram servidos pelos Pronomes OBLÍQUOS, que tinham o pescoço torto e lembravam corcundinhas. Os meninos viram lá o Me, o Mim, o Migo, o Nos, o Nosco, o Te, o Ti, o Tigo, o Vos, o Vosco, o O, o A, o Lhe, o Se, o Si e o Sigo — dezesseis Pronomes Oblíquos.

        — Sim senhor! Que luxo de criadagem! — admirou-se Emília. — Cada Pronome tem a seu serviço vários criadinhos oblíquos...

        — E ainda há outros serviçais, os Pronomes de TRATAMENTO — disse Eu. — Lá no quintal estão tomando sol os Pronomes Fulano, Sicrano, Você, Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Vossa Majestade e outros.

        — E para que servem os Senhores Pronomes Pessoais? —  perguntou a menina.

        — Nós — respondeu Eu — servimos para substituir os Nomes das pessoas. Quando a Senhorita Narizinho diz Tu, referindo-se aqui a esta senhora boneca, está substituindo o Nome Emília pelo Pronome Tu.

        Os meninos notaram um fato muito interessante — a rivalidade entre o Tu e o Você. O Pronome Você havia entrado do quintal e sentara-se à mesa com toda a brutalidade, empurrando o pobre Pronome Tu do lugarzinho onde ele se achava. Via-se que era um Pronome muito mais moço que Tu, e bastante cheio de si. Tinha ares de dono da casa.

        — Que há entre aqueles dois? — perguntou Narizinho. — Parece que são inimigos...

        — Sim — explicou o Pronome Eu. — O meu velho irmão Tu anda muito aborrecido porque o tal Você apareceu e anda a atropelá-lo para lhe tomar o lugar.

        — Apareceu como? Donde veio?

        — Veio vindo... No começo havia o tratamento Vossa Mercê, dado aos reis unicamente. Depois passou a ser dado aos fidalgos e foi mudando de forma. Ficou uns tempos Vossemecê e depois passou a Vosmecê e finalmente como está hoje — Você, entrando a ser aplicado em vez do Tu, no tratamento familiar ou caseiro. No andar em que vai, creio que acabará expulsando o Tu para o bairro das palavras arcaicas, porque já no Brasil muito pouca gente emprega o Tu. Na língua inglesa aconteceu uma coisa assim. O Tu lá se chamava Thou e foi vencido pelo You, que é uma espécie de Você empregada para todo mundo, seja grande ou pequeno, pobre ou rico, rei ou vagabundo.

        — Estou vendo — disse a menina, que não tirava os olhos de Você. — Ele é moço e petulante, ao passo que o pobre Tu parece estar sofrendo de reumatismo. Veja que cara triste o coitado tem...

        — Pois o tal Tu — disse Emília — o que deve fazer é ir arrumando a trouxa e pondo-se ao fresco. Nós lá no sítio conversamos o dia inteiro e nunca temos ocasião de empregar um só Tu, salvo na palavra Tatu. Para nós o Tu já está velho coroca.

        E mudando de assunto:

        — Diga-me uma coisa, Senhor Eu. Está contente com a sua vidinha?

        — Muito — respondeu Eu. — Como os homens são criaturas sumamente egoístas, eu tenho vida regalada, porque represento todos os homens e todas as mulheres que existem, sendo pois tratado dum modo especial. Creio que não há palavra mais usada no mundo inteiro do que Eu. Quando uma criatura humana diz Eu, baba-se de gosto porque está falando de si própria.

        — E fora os Pronomes Pessoais não há outros?

        — Há sim — disse Eu —, moram aqui na casa ao lado. Uns pobres coitados...

        Os meninos despediram-se do Pronome Eu para irem visitar os "coitados" da outra casa, muito admirados da petulância e orgulho daquele pronominho tão curto.

        — Parece que tem o presidente da República na barriga — comentou a boneca.

        E parecia mesmo...

        Na outra casa os meninos encontraram os Pronomes POSSESSIVOS — Meu, Teu, Seu, Nosso, Vosso e Seus com as respectivas esposas e com os plurais. Emília, que achava as palavras Meu e Minha as mais gostosas de quantas existem, agarrou o casalzinho e deu um beijo no nariz de cada uma, dizendo:

        — Meus amores!

        Depois encontraram os Pronomes DEMONSTRATIVOS — Este, Esse, Aquele, Mesmo, Próprio, Tal, etc, com as suas respectivas esposas e parentes. As esposas eram Esta, Essa, Aquela, Mesma, Própria, etc, e os parentes eram Essoutro, Estoutro, Aqueloutro, etc.

        — Muito bem — disse Narizinho. — Vamos adiante. Vejo alguns senhores muito conhecidos.

        De fato, mais adiante os meninos encontraram os Pronomes INDEFINIDOS, muito familiares a todos do bandinho. Eram eles: Algum, Nenhum, Outro, Todo, Tanto, Pouco, Muito, Menos, Qualquer, Certo, Vários, etc, com as suas respectivas formas femininas e os competentes plurais.

        — São umas palavrinhas muito boas, que a gente emprega a toda a hora — comentou Emília, sem entretanto beijar o nariz de nenhuma.

        Havia ainda os Pronomes RELATIVOS, quê servem para indicar uma coisa que está para trás. Eram eles: Que, Quem, O Qual, Cujo, Onde, etc, com as suas respectivas esposas e plurais. Quindim exemplificou:

        — O Visconde, cuja cartolinha sumiu, está danado. Nesta frase, o Pronome Cuja refere-se a uma coisa que ficou para trás.

        De fato, o Visconde havia perdido a sua cartolinha na aventura com as Palavras Obscenas. Deixara-a para trás.

        — Continue, Quindim — pediu Emília, e o rinoceronte continuou.

        — Temos, por fim, os Pronomes INTERROGATIVOS, que servem para fazer perguntas. Todos usam um Ponto de Interrogação no fim, para que a gente veja que são perguntativos.

        E os meninos viram lá os Interrogativos: Quê? Qual? Quanto? Quem?

        Emília gostou de conhecer aqueles Pronomes. Ela era a boneca que mais trabalho dava aos Senhores Pronomes Interrogativos.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Como os Pronomes, assim como os Adjetivos, conseguem se movimentar no bairro, já que "não possuem pernas"?

      Eles só se movimentam amarrados aos VERBOS.

02 – Qual é a função essencial dos Pronomes Pessoais, de acordo com o Pronome 'Eu'?

      Eles servem para substituir os Nomes das pessoas. (Ex: Substituir o Nome Emília pelo Pronome Tu).

03 – Que Pronomes eram chamados de OBLÍQUOS, qual era a sua aparência física e que papel social eles desempenhavam na república?

      Eram os pronomes como Me, Mim, Migo, Te, Ti, Tigo, etc. Eles tinham o pescoço torto e pareciam corcundinhas. Desempenhavam o papel de serviçais (criadagem) dos Pronomes Pessoais.

04 – Cite três exemplos de Pronomes de Tratamento que estavam "tomando sol" no quintal da casa.

      Fulano, Sicrano, Você, Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Vossa Majestade (Três exemplos são: Você, Vossa Senhoria, Vossa Majestade).

05 – Qual era a origem histórica (evolução) do Pronome 'Você', e qual Pronome ele estava ameaçando expulsar?

      'Você' veio do tratamento Vossa Mercê, que evoluiu para Vossemecê, depois Vosmecê e, por fim, Você. Ele estava ameaçando expulsar o Pronome Tu.

06 – Qual é a razão pela qual o Pronome 'Eu' afirma ter uma "vida regalada" e ser a palavra mais usada no mundo?

      Porque ele representa todos os homens e todas as mulheres que existem, e como os humanos são egoístas, eles "babam-se de gosto" ao falar de si próprios, usando o Eu constantemente.

07 – Quais eram os cinco grupos de Pronomes encontrados na casa vizinha à dos Pronomes Pessoais?

      Pronomes POSSESSIVOS, Pronomes DEMONSTRATIVOS, Pronomes INDEFINIDOS, Pronomes RELATIVOS e Pronomes INTERROGATIVOS.

08 – Qual a função dos Pronomes Possessivos e qual foi a reação de Emília ao ver os Pronomes 'Meu' e 'Minha'?

      Eles indicam posse. Emília os achava os "mais gostosos" de quantos existem, então agarrou o casalzinho e deu um beijo no nariz de cada um.

09 – Qual é a função dos Pronomes Relativos, e qual o exemplo usado por Quindim para se referir ao Visconde?

      Servem para indicar ou se referir a uma coisa que está para trás (um termo já mencionado). O exemplo dado foi: "O Visconde, cuja cartolinha sumiu, está danado."

10 – Como as pessoas conseguem identificar que os Pronomes Interrogativos são "perguntativos"?

      Todos os Pronomes Interrogativos usam um Ponto de Interrogação (?) no fim.

 

 

CONTO: EMÍLIA NA CASA DO VERBO SER - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Emília na casa do Verbo Ser – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        Emília teve uma grande ideia: visitar o Verbo Ser, que era o mais velho e graduado de todos os Verbos. Para isso imaginou um estratagema: apresentar-se no palácio em que ele vivia, na qualidade de repórter dum jornal imaginário.     — O Grito do Pica-Pau Amarelo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdljJFxwJDbq6JqHtiIHVjXwV7ickAY-_DIDxBFfzkjRPozoB-Gn2AT5Ip0Plbg3ZrH8r9neFcJVHBCu7zd_eC7o9G-i6hyoybF6hAfSS4lvXHxHXVgUVXDvEpr9K_BZBx6M_doma720D1f7JUQhqflwOee1StZqSqcbn-GUaf8m6UDOnkENzLsOKGC1A/s1600/Digitalizar0026.jpg


        — Meu caro senhor — disse ela ao porteiro do palácio —, eu sou redatora do Grito do Pica-Pau Amarelo, o mais importante jornal do sítio de Dona Benta, e vim cá especialmente para obter uma entrevista do grande e ilustre Verbo Ser. Será possível?

        O porteiro mostrou-se atrapalhado, porque era a primeira vez que aparecia por ali uma repórter daquela marca. A cidade da língua costumava ser visitada apenas por uns velhos carrancas, chamados filólogos, ou então por gramáticos e dicionaristas, gente que ganha a vida mexericando com as palavras, levantando o inventário delas, etc. Mas uma jornalista, e jornalista daquele tamanho, isso era novidade absoluta.

        — Vou ver se ele recebe a senhorita — respondeu o guarda.

        — Pois vá, e interesse-se pelo meu caso, que não perderá o tempo — disse Emília. — Mando-lhe lá do sítio uns bolinhos de Tia Nastácia, que são excelentes.

        O venerando Verbo Ser ouviu o guarda e estranhou o pedido de entrevista; mas como tivesse muito medo da imprensa, não pôde recusar-se a receber aquela repórter.

        Emília foi levada à presença dele e entrou muito tesa, com um bloquinho de papel debaixo do braço e um lápis sem ponta atrás da orelha. O venerando ancião estava sentado num trono, tendo em redor de si os seus sessenta e oito filhos — ou Pessoas dos seus Modos e Tempos. Parecia um velho de mil anos, com aquela cabeleira branca de Papai Noel.

          Salve, Serência! — exclamou Emília, curvando-se diante dele, com os braços espichados, à moda do Oriente. — O que me traz à vossa augusta presença é o desejo de bem servir aos milhares de leitores do Grito do Pica-Pau Amarelo, o jornal de maior tiragem do sítio de Dona Benta. Os coitados estão ansiosos por conhecer as ideias de Vossa Serência sobre mil coisas.

        — Suba, menina! — respondeu o Verbo Ser com voz trêmula.

        Emília subiu os degraus do trono, abrindo caminho a cotoveladas por entre a soldadesca atônita, e foi postar-se bem defronte do venerável ancião.

        — Fale, Serência, enquanto eu tomo notas — disse ela, e começou a fazer ponta no lápis com os dentes.

        O Verbo Ser tossiu o pigarro dos séculos e começou:

        — Eu sou o Verbo dos Verbos, porque sou o que faz tudo quanto existe ser. Se você existe, bonequinha, é por minha causa. Se eu não existisse, como poderia você existir ou ser?

        — Está claro — disse Emília escrevendo uns garranchos. — Vá falando.

        Ser tossiu outro pigarro e continuou:

        — Muitos gramáticos me chamam VERBO SUBSTANTIVO, como quem diz que eu sou a substância de todos os demais Verbos. E isso é verdade. Sou a Substância! Sou o Pai dos Verbos! Sou o Pai de Tudo! Sou o Pai do Mundo! Como poderia o mundo existir, ou ser, se não fosse eu? Responda!

        — Não tem resposta, Serência. É isso mesmo — disse Emília, escrevendo. — Os leitores do Grito vão ficar tontos com a minha reportagem. O diabo é este lápis sem ponta. Não haverá por aí algum canivete ou faca que não seja de mesa, Serência?

        Não havia canivete, nem faca, nem nenhum instrumento cortante naquela cidade de palavras, de modo que Emília só podia contar com os seus dentes. Mas tanto roeu o lápis, sem conseguir boa ponta, que ele foi diminuindo, diminuindo, até virar um toquinho inútil. Acabou-se o lápis — e foi essa a verdadeira causa de o Grito do Pica-Pau Amarelo (jornal que aliás nunca existiu) não haver publicado a mais sensacional reportagem que ainda foi feita no mundo.

        O Verbo Ser falou muita coisa de si, contando toda a sua vida desde o começo dos começos. Disse que já havia morado na cidade das palavras latinas, hoje morta.

        — Naquele tempo eu me chamava Esse. Depois que a cidade latina começou a decair, mudei-me para as cidades novas que se foram formando por perto, e em cada uma assumi forma especial. Aqui nesta tomei esta forma que você está vendo e que se escreve apenas com três letras. Na cidade de Galópolis virei Ètre. Em Italópolis virei Essere. Em Castelópolis sou como aqui mesmo.

        — Então foi em Roma que Vossa Serência nasceu?

        — Não, menina. Sou muito mais velho que Roma. Antes de mudar-me para lá eu já existia na cidade das palavras sânscritas; e antes de ir para a cidade das palavras sânscritas, eu já vinha não sei de onde. Perdi a memória do lugar e do tempo em que nasci, embora esteja convencido de que nasci junto com o mundo.

        — Pois olhe — disse Emília —, está bem rijinho para a idade... Dona Benta, com sessenta e oito anos apenas, não chega aos pés de Vossa Serência.

        — Nós, palavras, vivemos muito mais do que as criaturas humanas.

        — Mas também morrem — observou Emília, apontando para o cemitério que se avistava através da janela.

        — Sim. Morrem certas palavras que não são de boa raça. Um Verbo como eu não morre nunca. Muda de aspecto apenas, e emigra duma cidade para outra. Eu nunca hei de morrer.

        — Assim seja, Serência! — disse Emília. — Porque se Vossa Serência cai na asneira de morrer, como iremos nós nos arranjar lá tiú mundo? Ninguém mais poderá ser coisa nenhuma...

        Pela janela aberta via-se um trecho de rua, onde o Visconde estava a passear de braço dado a uma palavra esquisita.

        — Quem é aquele figurão? — perguntou Ser, franzindo os sobrolhos.

        — Pois é o nosso grande Visconde de Sabugosa, um verdadeiro sábio da Grécia. Gosta muito de Arcaísmos e outras velharias. Juro que a palavra que está com ele é coroca.

        — Não é, não. Já foi coroca; hoje está remoçada. Aquela palavra é a tal Paredro, que em Roma conheci sob a forma latina Paredrus. Emigrou para cá comigo, mais ninguém quis saber dela. Os homens não a chamavam nunca para coisa alguma, e por fim a coitada teve de desocupar o beco e ir viver no bairro dos Arcaísmos. Pois sabe o que aconteceu? Um belo dia um deputado brasileiro, que era o grande romancista Coelho Neto, teve a ideia de requisitá-la para a meter num discurso. Já lhe mandamos a palavra requisitada, ainda cheia de pó e teias de aranha como se achava. Paredro entrou no discurso do deputado, fez sucesso e voltou rejuvenescida. Desde então passou a receber frequentes chamados e acabou vindo morar de novo aqui no centro, em companhia das palavras vivas. Casos como esse, porém, são raríssimos. Em geral, quando uma palavra morre, morre duma vez.

        A conversa de Emília com o Verbo Ser durou bastante tempo. Um velho velhíssimo como aquele tem muito que contar. Por fim acabaram amigos, e Emília pediu-lhe que a acompanhasse numa visitinha aos Advérbios, espécie de palavras que ela ainda não conhecia.

        — Pois não. Com muito prazer — disse o venerável velho, e tomando-lhe a mãozinha saiu com ela do palácio.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual foi o estratagema que Emília usou para conseguir uma entrevista com o Verbo Ser?

      Ela se apresentou no palácio na qualidade de repórter do jornal imaginário "O Grito do Pica-Pau Amarelo", o suposto "mais importante jornal do sítio de Dona Benta".

02 – Por que a visita de Emília foi considerada uma "novidade absoluta" pelo porteiro do palácio?

      Porque a cidade da língua costumava ser visitada apenas por velhos filólogos, gramáticos e dicionaristas (gente que "mexerica com as palavras"), e nunca por uma jornalista, muito menos uma "jornalista daquele tamanho" (uma boneca).

03 – Por que o Verbo Ser é chamado de "o Verbo dos Verbos" e "Verbo Substantivo"?

      Ele é chamado assim porque é o que faz tudo quanto existe ser (a substância de todos os demais Verbos). Ele se autoproclama "a Substância" e "o Pai dos Verbos" (e do Mundo).

04 – Qual foi o motivo real que fez com que a reportagem sensacional de Emília para o "Grito do Pica-Pau Amarelo" não fosse publicada?

      O motivo foi a falta de ponta no lápis. Emília tanto roeu o lápis com os dentes, sem conseguir uma boa ponta, que ele diminuiu até virar um "toquinho inútil", acabando com o instrumento de trabalho da repórter.

05 – Qual era a forma do Verbo Ser na antiga cidade das palavras latinas, e quais formas ele assumiu em Galópolis (francês) e Italópolis (italiano)?

      Na cidade das palavras latinas (hoje morta), ele se chamava Esse. Em Galópolis, virou Être, e em Italópolis, virou Essere.

06 – Qual foi a história da palavra Paredro, e como ela conseguiu "rejuvenescer" e retornar ao convívio das palavras vivas, depois de morar no bairro dos Arcaísmos?

      Paredro era uma palavra antiga (latina Paredrus) que foi esquecida e se mudou para o bairro dos Arcaísmos. Ela foi "requisitada" por um deputado brasileiro, o romancista Coelho Neto, para ser usada em um discurso. O sucesso no discurso a fez rejuvenescer e voltar a receber chamados no centro da cidade.

07 – O que Emília pediu ao Verbo Ser no final da conversa, e para onde eles foram juntos?

      Emília pediu que ele a acompanhasse numa visitinha aos Advérbios (uma espécie de palavra que ela ainda não conhecia). O Verbo Ser, o ancião venerável, aceitou e saiu do palácio de braço dado com a boneca.