quinta-feira, 14 de agosto de 2025

CONTO: UMA NOITE NO PARAÍSO - ÍTALO CALVINO - COM GABARITO

 Conto: Uma noite no paraíso

           Ítalo Calvino

        Era uma vez dois grandes amigos que, de tanto que se queriam, haviam feito um juramento: quem casasse primeiro deveria chamar o outro para padrinho, mesmo que se encontrasse no fim do mundo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr4GrTRifFg4bQZIOIo2pQ1K3yVs5gl9LtcvjqHz0zfAiHiloNvvDKax781k_-HJXy5NR9ayM-SlNADUUHUi5aVCUpauH7Ct7_HyXJdJtOL0E1olsZYznTDTvjg_4KNxfDOue2kTJwOxNz-RGxJa_tmMpY_cBLkv-f9EGcToMH0jCs5mEVRNHQLlFkrJs/s320/11536670-1618622857663-5fb9555fc4aca.jpg


        Depois de algum tempo, um dos amigos morre. O outro, devendo casar, não sabia como fazer e pediu conselhos ao confessor.

        — Negócio complicado — disse o pároco —, você deve manter a sua palavra. Convide-o mesmo estando morto. Vá até o túmulo e diga o que tem a dizer. Ele decidirá se vem ou não.

        O jovem foi até o túmulo e disse:

        — Amigo, chegou o momento, vem para ser meu padrinho!

        Abriu-se a terra e pulou fora o amigo.

        — Claro que vou, tenho que manter a promessa, pois se não a mantiver não sei quanto tempo terei que ficar no purgatório.

        Vão para casa e depois à igreja para o matrimônio. A seguir veio o banquete de núpcias e o jovem morto começou a contar histórias de todo tipo, mas não dizia uma palavra sobre o que vira no outro mundo. O noivo não via a hora de lhe fazer umas perguntas, mas não tomava coragem. No final do banquete, o morto se levanta e diz:

        — Amigo, já que lhe fiz este favor, você tem que me acompanhar um pouquinho.

        — Claro, por que não? Porém, espere, só um momentinho, pois é a primeira noite com minha esposa…

        — Certamente, como quiser!

        O marido deu um beijo na mulher.

        — Vou sair um instante e volto logo. — E saiu com o morto.

        Falando de tudo um pouco, chegaram ao túmulo. Abraçaram-se.

        O vivo pensou: "Se não lhe perguntar agora, não pergunto nunca mais", tomou coragem e lhe disse:

        — Escute, queria lhe perguntar uma coisa, a você que está morto: do outro lado, como funciona?

        — Não posso dizer nada — respondeu o morto. — Se quiser saber, venha você também ao Paraíso.

        O túmulo se abriu, e o vivo seguiu o morto. E logo se encontravam no Paraíso. O morto o levou para ver um belo palácio de cristal com portas de ouro, cheio de anjos que tocavam e faziam dançar os beatos, e são Pedro, que tocava contrabaixo. O vivo estava de boca aberta e quem sabe quanto tempo teria ficado ali se não tivesse de ver todo o resto.

        — Agora, vamos a outro lugar! — disse-lhe o morto, e o levou a um jardim onde as árvores, em vez de folhas, tinham pássaros de todas as cores que cantavam. — Vamos em frente, o que faz aí encantado? — E o levou a um prado onde os anjos dançavam, alegres e suaves como namorados. — Agora vou levá-lo para ver uma estrela!

        Não se cansaria nunca de admirar as estrelas; os rios, em vez de água, eram de vinho e a terra era de queijo.

        De repente, caiu em si:

        — Ouça, compadre, já faz algumas horas que estou aqui em cima. Tenho que voltar para minha esposa, que deve estar preocupada.

        — Já está cansado?

        — Cansado? Sim, se pudesse…

        — E muito mais haveria para descobrir!

        — Tenho certeza, mas é melhor eu voltar.

        — Como preferir. — E o morto o acompanhou até o túmulo e depois sumiu.

        O vivo saiu do túmulo e não reconhecia mais o cemitério. Estava todo cheio de monumentos, estátuas, árvores altas. Sai do cemitério e, no lugar daquelas casinhas de pedra meio improvisadas, vê grandes palácios e bondes, automóveis, aviões. "Onde é que vim parar? Terei errado o caminho? Mas como está vestida esta gente!"

        Pergunta a um velhinho:

        — Cavalheiro, esta aldeia é…?

        Sim, é esse o nome desta cidade.

        — Bem, não sei por que, não consigo me situar. Saberia me dizer onde fica a casa daquele que se casou ontem?

        — Ontem? Estranho, trabalho como sacristão e posso garantir que ontem ninguém se casou!

        — Como? Eu me casei! — E lhe contou que acompanhara ao Paraíso um padrinho seu que morrera.

        — Você está sonhando — disse o velho. — Essa é uma velha história que contam: do marido que acompanhou o padrinho até o túmulo e não voltou; e a mulher morreu de desgosto.

        — Não, senhor, o marido sou eu!

        — Ouça, a única solução é que vá conversar com nosso bispo.

        — Bispo? Mas aqui na aldeia só existe um pároco.

        — Nada disso. Há muitos anos que temos um bispo. — E o levou até o bispo.

        O bispo, quando o jovem lhe contou o que lhe acontecera, lembrou-se de uma história que ouvira quando rapaz. Pegou os livros, começou a folheá-los: há trinta anos, não; cinquenta anos, não; cem, não; duzentos, não. E continuava a folhear. No final, numa folha toda rasgada e gordurosa, encontra justamente aqueles nomes.

        Aconteceu há trezentos anos. O jovem desapareceu no cemitério e a mulher dele morreu de desgosto. Leia aqui se não acredita!

        — Mas sou eu.

        — E você esteve no outro mundo? Conte-me como é!

        Porém, o jovem ficou amarelo como a morte e caiu. Morreu assim, sem poder contar nada do que vira.

Extraído de: Ítalo Calvino. Fábulas italianas. Tradução: Nilson Maulin, São Paulo, Companhia das Letras.

Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 290-292.

Entendendo o conto:

01 – Qual é o juramento feito pelos dois amigos no início do conto, e qual sua importância para a trama?

      O juramento feito pelos dois amigos é que quem casasse primeiro deveria chamar o outro para padrinho, mesmo que estivesse no "fim do mundo". Este juramento é o motor de toda a trama, pois é ele que força o amigo vivo a convidar o amigo morto, desencadeando todos os eventos sobrenaturais e a jornada para o Paraíso.

02 – Como o amigo morto descreve sua razão para aceitar o convite para ser padrinho?

      O amigo morto afirma que precisa manter a promessa para não ter que ficar mais tempo no purgatório. Ele diz: "Claro que vou, tenho que manter a promessa, pois se não a mantiver não sei quanto tempo terei que ficar no purgatório." Isso adiciona uma camada de urgência e um toque de humor irônico à sua aparição.

03 – Por que o amigo morto se recusa a descrever o "outro lado" durante o banquete de núpcias?

      Durante o banquete, o amigo morto conta "histórias de todo tipo, mas não dizia uma palavra sobre o que vira no outro mundo". Ele se recusa a descrever o "outro lado" porque a condição para o vivo saber é ir ele mesmo ao Paraíso. Ele só revela a natureza do Paraíso ao vivo quando o leva para lá.

04 – Quais são as características do Paraíso descritas pelo amigo morto ao amigo vivo?

      O Paraíso é descrito com elementos maravilhosos e fantásticos: um "belo palácio de cristal com portas de ouro" e anjos tocando e fazendo os beatos dançar, com São Pedro tocando contrabaixo. Além disso, há um jardim com árvores que, em vez de folhas, tinham pássaros de todas as cores que cantavam, um prado com anjos dançando "alegres e suaves como namorados", e estrelas para admirar. Os rios eram "de vinho e a terra era de queijo".

05 – Qual é o principal problema que o amigo vivo enfrenta ao retornar do Paraíso?

      O principal problema que o amigo vivo enfrenta ao retornar é a passagem exorbitante do tempo sem que ele perceba. Ele pensa que esteve fora por "algumas horas", mas ao sair do túmulo, percebe que a cidade mudou drasticamente. Ele não reconhece mais o cemitério, a arquitetura, os meios de transporte, e descobre que se passaram trezentos anos desde que saiu de casa.

06 – Como o conto explora a ideia da relatividade do tempo?

      O conto explora a relatividade do tempo de forma central. Para o amigo vivo, o tempo no Paraíso parece passar muito rápido, apenas "algumas horas", mas ao retornar ao mundo dos vivos, ele descobre que trezentos anos se passaram. Isso demonstra como a percepção do tempo pode ser alterada em diferentes realidades ou dimensões, e como o que é um breve instante em um lugar pode ser um vasto período em outro.

07 – Qual é o desfecho trágico do amigo vivo e o que isso simboliza?

      O desfecho trágico do amigo vivo é que, após descobrir que trezentos anos se passaram e que sua esposa já morrera de desgosto, ele morre subitamente, sem conseguir contar nada do que vira no Paraíso. Isso simboliza a impossibilidade de transpor completamente a experiência do sobrenatural para o mundo mortal. O conhecimento do Paraíso é tão avassalador e incompatível com a vida terrena que a tentativa de recontá-lo ou de conciliar essas realidades é fatal, mantendo o mistério do além-vida.

 

CONTO: PRIMEIRA AVENTURA DE ALEXANDRE - CLÁSSICO - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

 Conto: Primeira Aventura de Alexandre – Clássico

           Graciliano Ramos

        Naquela noite de lua cheia estavam acocorados os vizinhos na sala pequena de Alexandre: seu Libório, cantador de emboladas, o cego preto Firmino e Mestre Gaudêncio curandeiro, que rezava contra mordedura de cobras. Das Dores benzedeira de quebranto e afilhada do casal, agachava-se na esteira cochichando com Cesária.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaRX68PTs_49ucuHUxfIGk8_eufh5-ddBkhG3aou9i8AL1mM2BLAHYdA5Uch0mjOb9q02tyWyd-DRwCFRMhkr-wFv9LduDdDrGhtOMwESLaKfyPjbt09wu2B3TOMjZ3lnFOHmhLLmoRn12mpmBhMVT5cuez95MGNrcG4M-rkldA7UkgX8Pe7jIR15_xWc/s320/3392704-lua-cheia-noite-ilustracao-imagem-na-floresta-gratis-vetor.jpg


        — Vou contar aos senhores… principiou Alexandre amarrando o cigarro de palha.

        Os amigos abriram os ouvidos e Das Dores interrompeu o cochicho:

        — Conte, meu padrinho.

        Alexandre acendeu o cigarro ao candeeiro de folha, escanchou-se .na rede e perguntou:

        — Os senhores já sabem porque é que eu tenho um olho torto?

        Mestre Gaudêncio respondeu que não sabia e acomodou-se num cepo que servia de cadeira.

        — Pois eu digo, continuou Alexandre. Mas talvez nem possa escorrer tudo hoje, porque essa história nasce de outra, e é preciso encaixar as coisas direito. Querem ouvir? Se não querem, sejam francos: não gosto de cacetear ninguém.

        Seu Libório cantador e o cego preto Firmino juraram que estavam atentos. E Alexandre abriu a torneira:

        — Meu pai, homem de boa família, possuía fortuna grossa, como não ignoram. A nossa fazenda ia de ribeira a ribeira, o gado não tinha conta e dinheiro lá em casa era cama de gato. Não era, Cesária?

        — Era, Alexandre, concordou Cesária. Quando os escravos se forraram, foi um desmantelo, mas ainda sobraram alguns baús com moedas de ouro. Sumiu-se tudo.

        Suspirou e apontou desgostosa a mala de couro cru onde seu Libório se sentava:

        — Hoje é isto. Você se lembra do nosso casamento, Alexandre?

        — Sem dúvida, gritou o marido. Uma festa que durou sete dias. Agora não se faz festa como aquela. Mas o casamento foi depois. É bom não atrapalhar.

        — Está certo, resmungou mestre Gaudêncio curandeiro. É bom não atrapalhar.

        — Então escutem, prosseguiu Alexandre. Um domingo eu estava no copiar, esgaravatando unhas com a faca de ponta, quando meu pai chegou e disse:

        — “Xandu, você nos seus passeios não achou roteiro da égua pampa?” E eu respondi: — “Não achei, nhor não.” — “Pois dê umas voltas por aí, tornou meu pai Veja se encontra a égua.” — “Nhor sim.” Peguei um cabresto e saí de casa antes do almoço, andei, virei, mexi, procurando rastos nos caminhos e nas veredas. A égua pampa era um animal que não tinha aguentado ferro no quarto nem sela no lombo. Devia estar braba, metida nas brenhas, com medo de gente. Difícil topar na catinga um bicho assim”. Entretido, esqueci o almoço e à tardinha descansei no bebedouro, vendo o gado enterrar os pés na lama. Apareceram bois, cavalos e miunça, mas da égua pampa nem sinal. Anoiteceu, um pedaço de lua branqueou os xiquexiques e os mandacarus, e eu, me estirei na ribanceira do rio, de papo para o ar, olhando o céu, fui-me amadornando devagarinho, peguei no sono, com o pensamento em Cesária. Não sei quanto tempo dormi, sonhando com Cesária. Acordei numa escuridão medonha. Nem pedaço de lua nem estrelas, só se via o carreiro de Sant’lago. E tudo calado, tão calado que se ouvia perfeitamente uma formiga mexer nos garranchos e uma folha cair. Bacuraus doidos faziam às vezes um barulho grande, e os olhos deles brilhavam como brasas. Vinha de novo a escuridão, os talos secos buliam, as folhinhas das catingueiras voavam. Tive desejo de voltar para casa, mas o corpo morrinhento não me ajudou. Continuei deitado, de barriga para cima, espiando o carreiro de Sant’lago e prestando atenção ao trabalho das formigas. De repente, conheci que bebiam água ali perto. Virei-me, estirei o pescoço e avistei lá embaixo dois vultos malhados, um grande e um pequeno, junto da cerca do bebedouro. A princípio não pude vê-los direito, mas firmando a vista consegui distingui-las por causa das malhas brancas. — “Vão ver que é a égua pampa, foi o que eu disse. Não é senão ela. Deu cria no mato e só vem ao bebedouro de noite.” Muito ruim o animal aparecer àquela hora. Se fosse de dia e eu tivesse uma corda, podia laçá-lo num instante. Mas desprevenido, no escuro, levantei-me azuretado, com o cabresto na mão, procurando meio de sair daquela dificuldade. A égua ia escapar, na certa. Foi aí que a ideia me chegou.

        — Que foi que o senhor fez? perguntou Das Dores curiosa.

        Alexandre chupou o cigarro, o olho torto arregalado, fixo na parede. Voltou para Das Dores o olho bom e explicou-se:

        — Fiz tenção de saltar no lombo do bicho e largar-me com ele na catinga. Era o jeito. Se não saltasse, adeus égua pampa. E que história ia contar a meu pai? Hem? Que história ia contar a meu pai, Das Dores?

        A benzedeira de quebranto não deu palpite, e Alexandre mentalmente pulou nas costas do animal:

        — Foi o que eu fiz. Ainda bem não me tinha resolvido, já estava escanchado. Um desespero, seu Libório, carreira como aquela só se vendo. Nunca houve outra igual. O vento zumbia nas minhas orelhas, zumbia como corda de viola. E eu então… Eu então pensava, na tropelia desembestada: — “A cria, miúda, naturalmente ficou atrás e se perde, que não pode acompanhar a mãe, mas esta amanhã está ferrada e arreada.” Passei o cabresto no focinho da bicha e, os calcanhares presos nos vazios, deitei-me, grudei-me com ela, mas antes levei muita pancada de galho e muito arranhão de espinho rasga-beiço. Fui cair numa touceira cheia de espetos, um deles esfolou-me a cara, e nem senti a ferida: num aperto tão grande não ia ocupar-me com semelhante ninharia. Botei-me para fora dali, a custo, bem maltratado. Não sabia a natureza do estrago, mas pareceu-me que devia estar com a roupa em tiras e o rosto lanhado. Foi o que me pareceu. Escapulindo-se do espinheiro, a diaba ganhou de novo a catinga, saltando bancos de macambira e derrubando paus, como se tivesse azougue nas veias. Fazia um barulhão com as ventas, eu estava espantado, porque nunca tinha ouvido égua soprar daquele jeito. Afinal subjuguei-a, quebrei-lhe as forças e, com puxavantes de cabresto, murros na cabeça e pancadas nos queixos, levei-a para a estrada. Ai ela compreendeu que não valia a pena teimar e entregou os pontos. Acreditam vossemecês que era um vivente de bom coração? Pois era. Com tão pouco ensino, deu para esquipar. E eu, notando que a infeliz estava disposta a aprender, puxei por ela, que acabou na pisada baixa e num galopezinho macio em cima da mão. Saibam os amigos que nunca me desoriento. Depois de termos comido um bando de léguas naquele pretume de meter o dedo no olho, andando para aqui e para acolá, num rolo do inferno, percebi que estávamos perto do bebedouro. Sim senhores. Zoada tão grande, um despotismo de quem quer derrubar o mundo — e agora a pobre se arrastava quase no lugar da saída, num chouto cansado. Tomei o caminho de casa. O céu se desenferrujou, o sol estava com vontade de aparecer. Um galo cantou, houve nos ramos um rebuliço de penas. Quando entrei no pátio da fazenda, meu pai e os negros iam começando o ofício de Nossa Senhora. Apeei-me, fui ao curral, amarrei o animal no mourão, cheguei-me à casa, sentei-me no copiar. A reza acabou lá dentro, e ouvi a fala de meu pai: — “Vocês não viram por aí o Xandu?” — “Estou aqui, nhor sim, respondi cá de fora” — “Homem, você me dá cabelos brancos, disse meu pai abrindo a porta. Desde ontem sumido!” — “Vossemecê não me mandou procurar a égua pampa?” — “Mandei, tornou o velho. Mas não mandei que você dormisse no mato, criatura dos meus pecados. E achou roteiro dela?” — “Roteiro não achei, mas vim montado num bicho. Talvez seja a égua pampa, porque tem malhas. Não sei, nhor não, só se vendo. O que sei é que é bom de verdade: com umas voltas que deu ficou pisando baixo, meio a galope. E parece que deu cria: estava com outro pequeno.” Aí a barra apareceu, o dia clareou. Meu pai, minha mãe, os escravos e meu irmão mais novo, que depois vestiu farda e chegou a tenente de polícia, foram ver a égua pampa. Foram, mas não entraram no curral: ficaram na porteira, olhando uns para os outros, lesos, de boca aberta. E eu também me admirei, pois não.

        Alexandre levantou-se, deu uns passos e esfregou as mãos, parou em frente de mestre Gaudêncio, falando alto, gesticulando:

        — Tive medo, vi que tinha feito uma doidice. Vossemecês adivinham o que estava amarrado no mourão? Uma onça-pintada, enorme, da altura de um cavalo. Foi por causa das pintas brancas que eu, no escuro, tomei aquela desgraçada pela égua pampa.

Texto extraído do livro “Alexandre e outros heróis”, Editora Record – Rio de Janeiro, 1981, pág. 11.

Entendendo o conto:

01 – Quem são os vizinhos reunidos na sala de Alexandre no início do conto?

      Os vizinhos são seu Libório (cantador de emboladas), o cego preto Firmino, Mestre Gaudêncio (curandeiro) e Das Dores (benzedeira de quebranto e afilhada do casal).

02 – Qual a primeira coisa que Alexandre revela aos vizinhos e amigos antes de começar a contar sua história principal?

      Alexandre pergunta se eles sabem por que ele tem um olho torto.

03 – Como Alexandre descreve a fortuna de seu pai no passado, antes do "desmantelo" após a libertação dos escravos?

      Ele descreve a fazenda do pai como algo que ia "de ribeira a ribeira", com gado "sem conta" e dinheiro "lá em casa era cama de gato".

04 – Qual foi a tarefa que o pai de Alexandre lhe deu e que o levou à sua aventura?

      O pai de Alexandre o mandou procurar a égua pampa que estava sumida.

05 – O que Alexandre pensou que estava laçando no escuro, confundindo o animal por causa das "malhas brancas"?

      Ele pensou que estava laçando a égua pampa, que supostamente havia dado cria no mato.

06 – Quais dificuldades Alexandre enfrentou enquanto tentava dominar o animal que pensava ser a égua pampa?

      Ele levou muitas pancadas de galho, arranhões de espinhos "rasga-beiço" e caiu numa touceira cheia de espetos que esfolaram seu rosto.

07 – Como Alexandre conseguiu guiar o animal de volta para a fazenda, mesmo após as dificuldades e a escuridão?

      Ele subjugou o animal com puxavantes de cabresto, murros na cabeça e pancadas nos queixos, e o animal "entregou os pontos", começando a andar em uma "pisada baixa e num galopezinho macio". Ele percebeu que estavam perto do bebedouro pela "zoada tão grande".

08 – Onde Alexandre amarrou o animal ao chegar à fazenda?

      Ele amarrou o animal no mourão do curral.

09 – Qual foi a reação do pai de Alexandre e dos outros quando viram o que ele havia trazido para a fazenda?

      Todos ficaram "lesos, de boca aberta", olhando uns para os outros sem acreditar.

10 – Que animal Alexandre realmente havia capturado e por que ele o confundiu com a égua pampa?

      Alexandre havia capturado uma onça-pintada, enorme, da altura de um cavalo. Ele a confundiu com a égua pampa por causa das pintas brancas que, no escuro, ele interpretou como malhas.

 

 

CONTO: PÍRAMO E TISBE - EDITH HAMILTON - COM GABARITO

 Conto: Píramo e Tisbe

        Já houve um tempo em que o vermelho profundo das bagas da amoreira era branco como a neve. A mudança de cor resultou de um fato muito estranho e triste: a morte de dois jovens apaixonados.

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        Píramo e Tisbe, ele o mais belo dos jovens e ela a mais bela virgem de todo o Oriente, viviam na Babilônia, a cidade da rainha Semíramis, em casas tão próximas que apenas uma parede comum as separava. Crescendo assim, lado a lado, aprenderam a amar-se mutuamente. Queriam muito casar-se, mas não havia como vencer a proibição dos pais. O amor, porém, não pode ser proibido. Quanto mais se cobre a chama, mais fortes ficam as labaredas. Além disso, o amor sempre acaba encontrando soluções. Não era possível manter separados esses dois jovens cujos corações explodiam de amor.

        Na parede que separava as duas casas havia uma pequena fenda da qual até então ninguém se dera conta. A quem ama, porém, não há nada que passe despercebido. Nossos dois jovens descobriram-na, e através dela começaram, então, a sussurrar doces palavras de amor, Tisbe de um lado e Píramo do outro. A odiosa parede que os separava transformara-se em sua única forma de contato. "Não fosse tua existência, poderíamos estar juntos e beijar-nos", costumavam dizer, referindo-se à parede. "Mas, pelo menos, podemos falar através de ti. Permites que doces palavras de amor cheguem aos nossos ouvidos apaixonados. Não somos ingratos." Assim falavam e, quando a noite chegava e tinham de separar-se, era na parede que davam os beijos que não tinham como chegar aos lábios do outro lado.

        Todas as manhãs, quando o alvorecer já expulsara do céu as estrelas e os raios do Sol já haviam secado a geada que endurecia a relva, iam furtivamente até a fenda e ali ficavam, às vezes trocando as mais doces juras de amor, outras vezes lamentando o triste destino a que pareciam condenados. Suas palavras, porém, eram sempre trocadas em forma de sussurros quase inaudíveis. Por fim chegou o dia em que não tinham mais condições de continuar suportando aquela situação. Decidiram que, naquela mesma noite, iriam tentar fugir e atravessar a cidade em direção ao campo, onde finalmente poderiam ficar juntos em liberdade. Combinaram encontrar-se em lugar bastante conhecido — o Túmulo de Nino —, sob uma árvore que ali havia, uma grande amoreira cheia de bagas brancas como a neve, e perto da qual murmuravam as águas frescas de uma fonte. O plano lhes pareceu perfeito, e para eles aquele foi o mais longo dia de suas vidas.

        Por fim, o Sol mergulhou no oceano e a noite chegou. Na escuridão, Tisbe saiu furtivamente de casa e, fazendo o possível para não ser vista, dirigiu-se para o túmulo onde haviam combinado encontrar-se. Píramo ainda não tinha chegado, e ela ficou a esperá-lo com a coragem fortalecida pelo amor. De repente, porém, a luz da lua permitiu-lhe divisar o vulto de uma leoa que se aproximava. A fera selvagem tinha acabado de matar uma presa; tinha as mandíbulas ensanguentadas, e vinha saciar a sede na fonte. Estava ainda a uma distância que permitia a fuga de Tisbe; mas, ao correr em busca de um abrigo seguro, a jovem deixou cair a capa que trazia aos ombros.

        Ao voltar para o seu covil, a leoa viu a capa e, antes de desaparecer na floresta, abocanhou-a e fez dela apenas um monte de trapos. Ao chegar, poucos minutos depois, foi com essa cena que Píramo se deparou. Diante dele estavam os farrapos ensanguentados da capa e, visíveis na obscuridade, as pegadas da leoa. A conclusão era inevitável: Tisbe estava morta. Ele permitira que seu amor, uma jovem tão delicada, viesse sozinha para um lugar tão cheio de perigos, e ali não estivera para protegê-la. "Fui eu que te matei", exclamou. Do solo espezinhado, levantou o que restava da capa e, beijando-a muitas vezes, levou-a consigo para perto da amoreira. "Agora", disse ele, "beberás também do meu sangue." Desembainhou a espada e cravou-a no coração. O sangue, lançado em borbotões, atingiu em cheio as bagas da amoreira, que então se tingiram de um vermelho escuro.

        Apesar de ainda apavorada com a leoa, o grande medo de Tisbe era não conseguir encontrar seu amado. Assim, resolveu arriscar-se a voltar para junto da árvore onde haviam marcado o encontro, a amoreira dos reluzentes frutos brancos, mas não conseguia encontrá-la. A árvore era a mesma, mas seus ramos não deixavam entrever um só lampejo de brilho branco. Ao olhar bem, percebeu que alguma coisa se mexia no chão. Recuou, trêmula, mas no instante seguinte, firmando os olhos por entre as sombras, viu claramente o que se passava ali: Píramo, banhado em sangue e quase morto. Voou para ele e o tomou nos braços, beijando-lhe os lábios frios e implorando-lhe que a olhasse e falasse. "Sou eu, a tua Tisbe, a tua amada!", disse-lhe a chorar. Ao ouvir o nome que tanto amava, Píramo entreabriu os olhos pesados e olhou para Tisbe pela última vez. Em seguida, a morte se encarregou de fechá-los para sempre.

        Ela então viu a espada que lhe caíra das mãos, e bem perto dela a sua capa manchada de sangue e esfarrapada. Num instante, compreendeu tudo. "Tua própria mão te matou", disse, "e teu amor por mim. Também posso ser corajosa, também eu posso amar. Só a morte teria tido o poder de nos separar, mas agora deixará de ter esse poder." Cravou no coração a espada ainda úmida do sangue de seu amado.

        Por fim, os deuses se apiedaram, e o mesmo fizeram os pais dos dois jovens. O fruto vermelho escuro da amoreira ficou sendo a eterna recordação desses amantes fiéis e verdadeiros. Suas cinzas estão contidas em uma única urna, pois nem a morte foi capaz de separá-los.

Esta história é contada por Ovídio. É bastante característica do que há de melhor em seu estilo: boa narração, vários monólogos retóricos e, no meio, um pequeno ensaio sobre o Amor. Extraído de: Mitologia, Edith Hamilton, São Paulo, Martins Fontes, 1992.

Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 87-88.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a origem da mudança de cor das bagas da amoreira, segundo o conto?

      A mudança de cor das bagas da amoreira, de brancas para um vermelho profundo, resultou da morte trágica de Píramo, cujo sangue jorrou sobre elas após ele cravar a espada em seu coração, acreditando que Tisbe estava morta.

02 – Onde viviam Píramo e Tisbe e qual era o principal obstáculo para o amor deles?

      Píramo e Tisbe viviam na Babilônia, em casas vizinhas separadas por uma única parede. O principal obstáculo para o amor deles era a proibição de seus pais, que não permitiam o casamento.

03 – Como os amantes se comunicavam apesar da proibição e da parede que os separava?

      Os amantes se comunicavam através de uma pequena fenda na parede que dividia suas casas. Por essa fenda, eles sussurravam doces palavras de amor e, à noite, davam beijos na parede como se estivessem beijando um ao outro.

04 – Qual foi o plano de Píramo e Tisbe para finalmente ficarem juntos?

      O plano deles era fugir na calada da noite e se encontrar no Túmulo de Nino, sob uma grande amoreira de bagas brancas, perto de uma fonte, para então viverem juntos em liberdade no campo.

05 – O que Tisbe encontra ao chegar primeiro ao local do encontro?

      Ao chegar primeiro ao local do encontro, Tisbe avista uma leoa com as mandíbulas ensanguentadas que vinha beber água na fonte. Ao fugir apavorada, Tisbe deixa cair a capa.

06 – O que Píramo conclui ao chegar ao local do encontro e ver a capa de Tisbe?

      Píramo conclui que Tisbe foi morta pela leoa, pois encontra os farrapos ensanguentados da capa dela e as pegadas da fera, levando-o a acreditar que sua amada pereceu.

07 – Qual foi a reação de Píramo ao pensar que Tisbe estava morta?

      Píramo se desesperou, culpou-se pela suposta morte de Tisbe por tê-la deixado vir sozinha a um lugar perigoso. Ele então cravou a espada em seu próprio coração perto da amoreira, tingindo suas bagas de vermelho com o sangue.

08 – Como Tisbe descobre a tragédia que se abateu sobre Píramo?

      Tisbe retorna ao local do encontro, ainda amedrontada, mas preocupada em encontrar Píramo. Ela percebe a amoreira com as bagas vermelhas e, ao olhar no chão, vê Píramo banhado em sangue e quase morto, e a espada que ele usou para tirar a própria vida, junto com sua capa manchada.

09 – Qual foi a decisão de Tisbe ao compreender a situação, e por quê?

      Tisbe, ao compreender que Píramo se matou por amor a ela e por pensar que ela estava morta, decide cravar a mesma espada em seu próprio coração. Ela o faz para demonstrar que também era corajosa e amava Píramo intensamente, afirmando que "Só a morte teria tido o poder de nos separar, mas agora deixará de ter esse poder".

10 – Que destino final tiveram os amantes após suas mortes, e o que isso simboliza?

      Após suas mortes trágicas, os deuses e os pais dos jovens se apiedaram deles. O conto afirma que suas cinzas foram contidas em uma única urna, e o fruto vermelho escuro da amoreira se tornou a eterna recordação de seu amor fiel e verdadeiro. Isso simboliza que nem mesmo a morte foi capaz de separar Píramo e Tisbe, e seu amor se tornou lendário.

 

REPORTAGEM: ELES PODEM FAZER A SUA CABEÇA - MARINA ADORNO - COM GABARITO

 Reportagem: Eles podem fazer a sua cabeça – Fragmento

        Jovens de Brasília usam a internet como meio democrático para falar do seu estilo de vida, dar dicas fitness, de beleza, de viagens, além de expressarem os próprios sentimentos. A empatia dos internautas dá a eles o status de digital influencers

Por Marina Adorno, especial para o Correio – Postado em 19/03/2017 – 08:00

        A internet se popularizou nos anos 1990, e, desde então, os meios de comunicação não param de revolucionar. A informação se tornou mais acessível e dinâmica. Recentemente, devido às proporções que o meio on-line tomou, observa-se, inclusive, uma grande mudança em algumas carreiras. Fomos apresentados às blogueiras, aos youtubers (pessoas que usam o YouTube como plataforma para apresentar o próprio trabalho). Agora, surgem os influenciadores digitais ou digital influencers. Eles são as pessoas que você segue e que são capazes de te fazer querer consumir um produto ou serviço. Bastam algumas fotos e vídeos.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMf81hOjIILCHWz9TdG-PaO32ygpggADYvqBVUEJpwgh5fBxbefNFe4Hc410mG0QJnCI0BRMMpvc0IfF7nBmL21CiX-_-iPw6LTIBsWu1DImz3REm0ULb3p2IdJ6XMpzN3zXp58C0DXgPHvpkmj10BDjEznHoO6o1tnQ2LMVg21cxS5iV8KvTfZ0LpdaM/s320/o-impacto-dos-influenciadores-digitais-na-formacao-dos-jovens.png


        A influência sempre existiu. “Todos nós somos influenciados, seja pela mídia, seja por nosso círculo de amizades. O termo ‘influenciador digital’ tem grande relevância pela rapidez do processo de influenciar”, explica o professor Renato Rosa, da pós-graduação em marketing digital do UniCeub. Segundo ele, fora do meio digital, a influência ocorre de forma mais lenta, conforme a informação transita entre as pessoas.

        Em setembro do ano passado, a YOUPIX (plataforma focada em discutir a cultura da internet e como o jovem a usa para criar movimentos culturais e sociais) com a Airstrip | Airfluencers (agência que avalia a aderência de um influenciador a temas específicos para encontrar o profissional ideal para divulgar campanhas de clientes)com a empresa de estudos de mercado GFK fizeram um estudo sobre o mercado de influenciadores digitais. Segundo a pesquisa, existem 230 mil influenciadores no mundo, dos quais 60% são homens e 40% são mulheres. A força deles é algo indiscutível: 2% dos usuários geram 54% das interações de um total de 7,2 bilhões daquelas feitas on-line. Esses parcos 2% são os digital influencers.

        [...]

        Janaína Rocha, 24 anos, cresceu ouvindo que era uma pessoa fotogênica e que deveria investir na carreira de modelo. Aos 17, ela procurou uma agência, mas se decepcionou com o tipo de tratamento que lhe foi dado na ocasião e desistiu de seguir em frente. Foi quando se dedicou aos estudos e se formou em bacharel em Direito.

        Ela ainda fez alguns trabalhos de fotografia, mas sem a ambição de se profissionalizar. Até que um dia, depois de fazer um ensaio, no fim de 2015, com um fotógrafo brasiliense para uma revista online de Paris pediu autorização para publicar as fotos. A partir disso, Janaína recebeu várias propostas do exterior para ser fotografada. “Na época, tinha 2 mil seguidores no Instagram e não levava isso tão a sério. Achava que eu simplesmente era fotogênica”, afirma.

        [...]

        Hoje, a modelo tem 12,4 mil pessoas que acompanham o perfil dela no Instagram. Com o crescimento rápido nas redes sociais, Janaína passou a receber mais convites profissionais para trabalhar com grifes que sempre admirou. Inclusive, foi capa de uma revista de noivas no ano passado – algo que ela considera um marco da sua trajetória. “Fiquei muito chocada com o crescimento do meu perfil on-line e ainda me surpreendo. As pessoas realmente me acompanham e interagem por meio dos comentários e de mensagens”, ressalta.

        A influência que Janaína Rocha tem sobre seus seguidores é perceptível e as marcas que se aliam à imagem dela têm retornos positivos. A modelo tem parcerias com grifes de moda, saúde, beleza e estética da cidade. Em uma ocasião, ela divulgou uma maquiadora nas redes sociais e a profissional ganhou 50 seguidores, instantaneamente, no Instagram. “Eles comentam que determinada roupa que eu usei vendeu rapidamente e, quando posto algum tratamento estético, recebo muitas mensagens pedindo telefone e endereço”, orgulha-se.

        A servidora pública Mariana Nóbrega, 32 anos, frequenta academia desde os 15 e sempre foi do tipo que gosta de praticar vários esportes. Com o passar do tempo, as pessoas com quem ela se encontrava começaram a perguntar o que ela fazia, o que comia e chegavam, inclusive, a pedir para irem malhar na companhia dela. Então, passou a compartilhar sua rotina com os amigos mais próximos, que tinham interesse no estilo de vida saudável que ela sempre levou.

        Até que, em janeiro do ano passado, os mesmos amigos sugeriram que ela postasse algumas dicas no Instagram para que mais pessoas se beneficiassem dos conselhos dela. “Resolvi tentar, mas levando isso como uma brincadeira. De repente, ganhou uma proporção muito maior”, conta. Os amigos estavam certos quando fizeram a sugestão: o interesse pelo dia a dia dessa influenciadora digital é perceptível. Hoje, ela já tem 32,5 mil seguidores no Instagram.

        Mariana acredita que o grande diferencial do perfil é o fato de ela ser uma pessoa que se esforça para conciliar a academia com a rotina de trabalho, como tantas outras pessoas. “Tenho uma hora por dia para malhar, também trabalho, faço supermercado, cuido da casa, tenho família, namorado e animal de estimação. Mostro que é possível conciliar tudo, basta querer”, explica a influenciadora.

        Aos poucos, a responsabilidade de manter os seguidores motivados se tornou um incentivo pessoal. Em um só dia, Mariana recebe mais de 100 mensagens de compartilhamento de fotos, dividindo os resultados e agradecendo a inspiração.

        Mesmo com uma carreira digital recente, a musa fitness tem consciência do peso das informações que passa e toma muito cuidado antes de postar. “Sou apenas uma servidora pública que gosta de treinar e comer bem. Não sou nutricionista ou profissional de educação física. Apenas posto a minha rotina nas redes sociais”, defende.

        A exposição e a popularidade on-line nunca foram sua ambição. Mariana é formada em direito, trabalha há nove anos como servidora e confessa ser apaixonada pelo trabalho. Largar a carreira, pela qual ela se dedicou tanto, definitivamente não é uma opção.

        Ser reconhecida na rua pela sua contribuição com informações de esporte e de alimentação é algo que ela nunca imaginou, mas, durante o último ano, a situação já se repetiu algumas vezes. “A primeira vez, eu estava em uma festa quando uma menina passou e me olhou. Pouco tempo depois, veio falar comigo, disse que era minha fã e que não acreditava que tinha me encontrado. Conversamos por 40 minutos, trocamos telefone e até combinamos de treinar juntas”, relembra. O elo criado com as seguidoras é algo que ainda a surpreende. Mariana atribui o sucesso dessa relação a um fator: ela é verdadeira. “Não adianta tentar ser alguém, o segredo é ser você mesma e mostrar a sua personalidade”, aconselha.

        A escrita sempre foi a maneira encontrada por João Doederlein, 20 anos, de se expressar. Em datas comemorativas, como Natal, ano-novo e Dia das Crianças, ele se dedicava a fazer posts temáticos para seu perfil pessoal do Facebook. Os amigos aguardavam ansiosamente pelos textos comemorativos assinados por ele. Atualmente, um número maior de pessoas acompanham suas produções. Quase um milhão delas seguem os perfis no Facebook e no Instagram do estudante de publicidade da Universidade de Brasília, para ler os novos textos do jovem poeta.

        A carreira dele começou de maneira despretensiosa, há seis anos. João era apenas um menino que tinha prazer em escrever e, certa vez, postou um texto na internet “para ver no que ia dar”. Como resultado, ele ganhou algumas curtidas e uns poucos comentários, mas isso foi motivação suficiente para ele criar um blog na plataforma Tumblr, quando tinha 13 anos. Aos poucos, começou a conquistar seguidores e receber feedbacks positivos. “Gostei de saber que as pessoas liam o que eu escrevia, e que a minha mensagem estava chegando a algum lugar”, destaca. No Tumblr, João contabilizou 2 mil seguidores e, na época, isso foi algo que o impressionou.

        Aos 16 anos, ele decidiu se arriscar em outra plataforma e criou a primeira página no Facebook. Com a página “Contos Mal Contados”, ele conseguiu uma liberdade maior para escrever textos mais compridos e foi nesse espaço que o hobby começou a ganhar novas proporções. Nos três primeiros anos, ele ganhou 10 mil seguidores, mas ele fechou 2016 com 600 mil. Um crescimento que João classifica como gigantesco. Esse resultado é um reflexo da dedicação dele. “Sempre me empenhei com muito afinco nesse trabalho. Buscava novos formatos e mais qualidade nos textos. Observava o crescimento dos youtubers e sabia que isso que eu estava fazendo era algo sério”, argumenta.

        Diante desse boom, alguns amigos sugeriram que ele estendesse suas postagens poéticas para o Instagram. O perfil @akapoeta era o espaço pessoal onde ele compartilhava fotos com amigos e familiares e não lhe parecia apropriado para publicar pensamento. Foi quando criou o primeiro texto de ressignificado, no qual escolhe uma palavra e discorre sobre ela, muitas vezes atribuindo novas características e expressando seus sentimentos naquele momento.

        No Facebook o resultado foi positivo e ele desconfiou que também poderia funcionar no Instagram. “Interesse” foi a palavra escolhida para o novo formato e não decepcionou. “Naturalmente, esse formato de texto começou a ter mais curtidas do que as outras fotos e comecei a postar só isso. Fui profissionalizando meu perfil, apaguei muitas fotos que não tinham nada a ver com a nova proposta e me comprometi com a frequência de publicação. Pelo menos uma vez por dia, coloco um novo texto”, conclui.

        João esclarece que o processo de criação foi muito natural. Ele testava modelos e tomava as decisões de maneira instintiva. “Estava em busca de algo único, meu. Independentemente de saber se funcionaria ou não. Acredito até que existem formatos mais virais, mas foi com esse que me identifiquei. A forma do meu primeiro post, em março do ano passado, é o mesmo até hoje”, comemora o poeta. No período de um ano, desde a primeira publicação, ele passou de 1.500 para 340 mil seguidores no Instagram – dos quais 87% são mulheres – e já redefiniu mais de 300 palavras.

        Com o sucesso na internet, João já conquistou várias realizações profissionais. Ele já recebeu propostas de trabalho em vários segmentos, como marcas de café, joias e colégios, e, em breve, vai realizar um grande sonho: publicar seu primeiro livro. Nos planos dele estão uma coletânea de novas palavras, mas também outros gêneros literários. “Observando a trajetória de alguns youtubers, vi que a internet poderia ser um caminho. Não sabia aonde ele ia chegar, não via como algo garantido, mas nem por isso deixaria de tentar”, conclui.

        Os 42,8 mil seguidores que ele possui no perfil do Instagram são apenas reflexo de muita dedicação. Para o maquiador Lázaro Resende, 24, natural de Luís Eduardo Magalhães (BA), o sucesso on-line não chegou por acaso. Ele sempre acreditou no potencial das novas plataformas para disseminar seu trabalho e conquistar novas oportunidades. O empreendedorismo deu certo e, de recepcionista em um salão na cidade natal, Lázaro virou um maquiador premiado e conhecido internacionalmente.

        O profissional da beleza define que sua trajetória começou na raça. Há seis anos o salão no qual ele trabalhava, na Bahia, precisou de um maquiador e Lázaro se ofereceu. “Não tinha prática nenhuma. Movido pela necessidade, descobri um dom.” A partir desse momento, ele começou a trabalhar como maquiador, buscou um curso profissionalizante e, há dois anos, foi convidado para trabalhar em um salão da capital.

        As redes sociais sempre foram vistas pelo empreendedor como uma ferramenta de trabalho tão importante quanto os pincéis e os produtos de beleza. Lázaro começou publicando seu portfólio no Facebook e dois anos atrás migrou para o Instagram. “Precisava captar cliente e não tinha recursos para divulgar meu trabalho. Mas tinha à minha disposição uma ferramenta gratuita que é o Instagram.” Na rede social de compartilhamento de fotos, ele pôde usar das hashtags para se destacar e aumentar a clientela.

        Visionário, Lázaro Resende aposta no crescimento do mercado digital e define metas para se manter motivado. Atualmente, ele traçou como objetivo atingir 100 mil seguidores até o fim deste ano. Segundo o profissional, em tempos de internet e interação on-line, a rede social é o primeiro contato que ele estabelece com a cliente, de apresentar o trabalho que executa e o tratamento que oferece àquelas que o procuram.

        O maquiador ministra cursos presenciais e se prepara para lançar cursos virtuais. Em outubro, vai para Miami realizar um workshop; em maio, vai disponibilizar um site e uma linha com 12 produtos de maquiagem assinados por ele. O retorno pela influência que conquistou não é apenas financeiro. “Tenho parcerias com marca de pincéis, empresas que oferecem brindes para minhas clientes e profissionais com os quais faço permuta, como dentista, endocrinologista e coach”, finaliza. Desde que começou a usar o Instagram de maneira profissional, a renda de Lázaro Resende aumentou em 300%.

        [...]

ADORNO, Marina. Eles podem fazer a sua cabeça. Correio Braziliense, 19 mar. 2017. Disponível em: https://wwww.correiobraziliense.com.br. Acesso em: 21 abr. 2021.

Entendendo a reportagem:

01 – De acordo com o texto qual o significado das palavras abaixo:

-- Boom: expansão ou crescimento muito rápido e abrangente.

-- Coach (ou coacher): profissional que promove coaching, técnicas de desenvolvimento pessoal e profissional.

-- Endocrinologista: médico especialista em glândulas.

-- Na raça: com muita coragem e disposição.

-- Parco: escasso; em baixo número ou quantidade.

-- Permuta: troca.

-- portfólio: conjunto (em material impresso ou on-line) dos trabalhos de um profissional, para divulgação.

-- Visionário: aquele que acredita em ideias, que tem visões ou projetos grandiosos.

-- Workshop: curso intensivo, de curta duração.

02 – Em suas palavras, com base no que a revista brasiliense apresenta, o que significa ser influenciador digital?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: São pessoas ligadas as redes sociais que influenciam as outras pessoas.

03 – Também com suas palavras, e sem o uso de números e porcentagens, explique o que significa o trecho a seguir, extraído da reportagem.

        “[...] A força deles é algo indiscutível: 2% dos usuários geram 54% das interações de um total de 7,2 bilhões daquelas feitas on-line. Esses parcos 2% são os digital influencers.”

      Respostas pessoal do aluno. Sugestão: Os influenciadores possuem uma grande porcentagem na mídia.

04 – Explique qual é a relação ente os seguidores, o consumo e os influenciadores digitais.

      Os influenciadores digitais fazem seus seguidores a consumir os produtos, apresentados por eles na mídia.

05 – Na reportagem, principalmente na apresentação dos influenciadores, prevalecem dois tempos verbais: o pretérito e o presente do indicativo. Justifique esses empregos com base no tipo de reportagem apresentada.

      Esses dois tempos verbais, pois a reportagem fala sobre o passado e o presente dos influenciadores.

06 – Observe as seguintes palavras que aparecem no texto:

      Fitness – digital influencers – internet – on-line – blogueiras – youtubers – mídia – blog – marketing – posts – feedbacks – habby – boom – hashtags – workshop – coach.

A – Como você as classificaria, ao procurar identificar nelas uma característica em comum?

      Estrangeirismo, palavras estrangeiras usadas no português e linguagem digital.

B – Para a maioria dessas palavras, há, no texto, trechos ou reformulações que cumprem o papel de exemplificar, explicar, retomar ou ampliar o significado delas. Cite exemplos dessas ocorrências.

      Marketing: divulgação de campanhas.

      Workshop: curso intensivo, de curta duração.

      Digital influencers: influenciadores digitais.

07 – No texto, são mencionadas algumas práticas digitais. Identifique-as, distinguindo quais fazem parte da atuação dos influenciadores e quais pertencem à ação dos seguidores.

      Influenciadores: compartilhar, publicar, responder, postar.

      Seguidores: curtir, comentar, acompanhar. Seguir, compartilhar.

08 – Há algum influenciador digital que você acompanha e que influenciaria você a fazer algo? Por quê?

      Respostas pessoal do aluno.