quinta-feira, 2 de outubro de 2025

POEMA: O TEMPO PASSA? NÃO PASSA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: O tempo passa? Não passa

             Carlos Drummond de Andrade

O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJbpOqMJwPdUCFIVVotO0POUVkdLGfEGr1GpM4U1TZdowrami1P3sVzBnRENKMBo7qEYnME81jbTsm8jhr-CbVA4vYBO80fYUZ4GHvZUJTAmCVwncJfNq4FRYUQrnul6eBZzy0QLPxgdyrVyj-oBQqL66zp3ERVDXEWlNbUSGTon-8OdbUInEkkkJDSsE/s320/TEMPO.jpg



O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda hora.

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.

Amar se aprende amando. Rio de Janeiro, Record, 1985.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 156.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, o tempo realmente passa?

      Segundo o poema, o tempo não passa "no abismo do coração". Isso sugere que, para o eu-lírico, o tempo cronológico não afeta a essência do amor e dos sentimentos.

02 – Como o poeta descreve o efeito do tempo sobre o relacionamento do casal?

      Em vez de separá-los, o tempo os "aproxima cada vez mais, [os] reduz a um só verso e uma rima", simbolizando a união e a perfeita sintonia entre os dois.

03 – Que tipo de tempo o eu-lírico considera o mais importante?

      O poeta afirma que o "tempo é todo vestido de amor e tempo de amar", indicando que o tempo só tem valor quando é dedicado ao amor.

04 – Na penúltima estrofe, o que o poeta quer dizer com a frase "São mitos de calendário / tanto o ontem como o agora"?

      Essa frase sugere que as marcações do tempo (como dias, semanas e anos) são ilusões. O que realmente importa é a presença e a eternidade do amor, que faz com que cada momento seja um "nascer toda hora".

05 – Qual é a relação entre o amor e a eternidade para o eu-lírico?

      Para o poeta, o amor não tem idade e transcende o tempo, pois ele é a única coisa que permite ao ser humano "escutar o apelo da eternidade".

 

 

CRÔNICA: A PRIMEIRA NAMORADA - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: A primeira namorada

             Fernando Sabino

        Conheceu Letícia num passeio de bicicleta. Marcou encontro para de noite. Letícia foi. Perto da casa dela, que era perto da Rádio Emissora. Passou a encontrar-se toda noite com ela — dizia, em casa, que ia à Rádio Emissora.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7xENFROq6kUhWrjWMCL99FnAQHoo5XCw-abSYMbZaxKs7nZX5Mz9ZAFu5yTaH6Os3At9x0VTBYFwpzg4ZWP0YhFE6A_F0XZBfRg_1FfHYA0IUQUyVAdQSjiZXabQ42aRZGtLrCU8_A0AB34N4YJqwEKUb9E1F9ZCGf5wgOFy0egnoHKixNa-XEd5Ufu0/s320/BICICLETA.jpg


        — O que é que esse menino tanto faz na Rádio Emissora? — inquietava-se a mãe. Em vez de estudar, toda noite...

        Acabou indo mesmo à Rádio, em companhia de Letícia, para assistir aos programas. Depois, saía com ela de mãos dadas — beijo, não, ela não deixava, ele não insistia. Letícia era diferente, Eduardo amava Letícia.

        — Eu te amo para o resto da vida.

        — Eu também.

        — Então escreve isso aqui, na minha caderneta.

        Letícia escrevia: "eu te amo...

        — Eternamente.

        — ... eternamente para o resto da minha vida".

        — Agora assina.

        Letícia assinou.

        — Olha minha mãe na janela.

        Eduardo tinha medo, queria fugir. Mas a mãe de Letícia acenava para eles.

        — Não tenha medo.

        A mãe de Letícia era diferente, falava umas coisas engraçadas, deixava que a filha namorasse. Eduardo fazia planos para o futuro.

        — Quando eu crescer, vou ser artista.

        — Artista de quê?

        — Não sei: artista.                                 

Fernando Sabino. O encontro marcado. Rio de Janeiro, Record, 1984.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 157.

Entendendo a crônica:

01 – Como Eduardo e Letícia se conheceram?

      Eles se conheceram durante um passeio de bicicleta.

02 – O que Eduardo dizia em casa para justificar seus encontros noturnos com Letícia?

      Ele dizia à mãe que ia para a Rádio Emissora.

03 – Qual era a principal diferença entre o relacionamento deles e um namoro convencional da época, de acordo com o texto?

      O texto menciona que eles andavam de mãos dadas, mas não se beijavam, pois ela não permitia.

04 – O que Letícia escreveu na caderneta de Eduardo?

      Ela escreveu a frase "eu te amo... eternamente para o resto da minha vida".

05 – Qual foi a reação da mãe de Letícia ao ver o casal na janela?

      A mãe de Letícia acenou para eles e disse a Eduardo para não ter medo, demonstrando uma atitude compreensiva.

06 – Que planos para o futuro Eduardo fez para si mesmo?

      Ele planejava ser "artista", mas sem saber qual tipo de artista.

07 – Qual a principal característica da mãe de Letícia, que a diferenciava do que seria esperado?

      Ela era descrita como "diferente", falava "coisas engraçadas" e, ao contrário do que se esperava, deixava a filha namorar.

 

POESIA: ISSO SIM QUE É VIDA BOA - PEDRO BANDEIRA - COM GABARITO

 Poesia: Isso Sim Que é Vida Boa

              Pedro Bandeira

Eu queria ser de circo.

Ai, que vida original!

Trabalhar todas as noites, 

Divertindo o pessoal.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh21SQ87UC8WPf9UALUZu7w_HERLCRM9yhg2H-qEVctGum7Tf0xhXGCqlJsVIiiKnkd6vqjPwP8f-tcQvjxAc75EBJH6Sv2VpRNWEIMhXx0k8659NhrnrerKRFc9LrSHRzFep6plI2vXAaLObUm0CvfhB9_ZvCPLsRj52dUAnSa7VJ1e2sM_BxnvU6NCjY/s320/circo.jpg


Os aplausos da plateia, 

toda aquela vibração, 

sempre novas gargalhadas, 

sempre mais animação!

 

Eu queria ser de circo, 

conhecer os bastidores, 

que a plateia nunca vê, 

ver de perto os domadores, 

dar comida ao chimpanzé, 

ver a cama do anão, 

ver as focas adestradas, 

ver a jaula do leão, 

ver a cara do palhaço, 

sem pintura e fantasia, 

e ver se a mulher barbada 

faz a barba todo dia.

 

Lá no circo, eu imagino, 

mal termina a função, 

os artistas vão comer, 

sem pagar nenhum tostão, 

a pipoca que quiserem, 

quanto for que os contente, 

um montão de algodão-doce, 

guaraná e cachorro-quente.

Pedro Bandeira. Cavalgando o arco-íris. São Paulo, Moderna, 1984.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 137.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o desejo principal do eu-lírico no poema?

      O eu-lírico deseja ser de circo.

02 – Que tipo de trabalho o eu-lírico gostaria de ter no circo e qual é a sua motivação?

      Ele gostaria de trabalhar divertindo as pessoas todas as noites, motivado pelos aplausos e a animação da plateia.

03 – Além de ver o espetáculo, o que mais o eu-lírico tem curiosidade de conhecer sobre a vida no circo?

      Ele tem curiosidade sobre os bastidores, as coisas que a plateia não vê, como a cama do anão, a jaula do leão e o rosto do palhaço sem maquiagem.

04 – O que o eu-lírico quer saber sobre a mulher barbada?

      Ele quer saber se a mulher barbada faz a barba todos os dias.

05 – De acordo com o poema, o que acontece com os artistas do circo depois que a apresentação termina?

      O eu-lírico imagina que, após o espetáculo, os artistas podem comer o que quiserem sem pagar, como pipoca, algodão-doce, guaraná e cachorro-quente.

06 – Qual é a visão do eu-lírico sobre a vida no circo, de acordo com o título do poema?

      O título "Isso Sim Que é Vida Boa" sugere que o eu-lírico vê a vida de um artista de circo como uma vida ideal, cheia de diversão e alegria.

07 – Cite três exemplos de animais de circo mencionados no texto.

      Os animais mencionados são o chimpanzé, as focas e o leão.

 

 

 

CONTO: UMA NOVA INTERJEIÇÃO - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Uma nova Interjeição – Emília no país da gramática

            Monteiro Lobato   

        Houve um rebuliço de pânico lá dentro, e logo depois surgiram, a fugir pelas janelas, mais filólogos e gramáticos e dicionaristas do que fogem ratazanas duma despensa quando o gatão aparece. A casa da velha ficou completamente vazia.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZYoJ_Pw5RNtRxJJK9vTfTpJrHMZfqROhF8cAw5iZRDpaE4bDRHCu3aG50GUxm_Rvf154v0XhOkSXJbhE58hG8BJm0YdghcCa9au_04qivmPFytp5uG3mCEA-qO5tlke8kiykU6LKZt3v4Fnwb9mnzUTQD4cLvPcm956kSA-7niS2BlU6Ksc0n4E17Zkk/s320/INTERJEI%C3%87%C3%83O.jpg

        — Sim, senhor! O seu berro, Quindim, é que nem Flit, e merece ir para a Casa das Interjeições com um letreiro novo: Interjeição espantativa de gramáticos...

        Desimpedida que ficou a casa da velha, entraram todos, menos o rinoceronte, que não cabia na porta. Toparam a Etimologia intrigadíssima com aquele Muuu!... som jamais ouvido na zona.

        — Não conheço essa interjeição — declarou ela, assim que os meninos a rodearam. — Só conheço o Mu! dos bois, mas este que ouvi não me parece nada bovino.

        — Este é rinocerontino, minha senhora!  — explicou Emília, com toda a sapequice. — Veio da África. A senhora conhece a África?

        A Etimologia não conhece as coisas; só conhece as palavras que designam as coisas. De modo que, ao ouvir aquela pergunta, julgou que a boneca se referisse à palavra África, e respondeu:

        — Sim, é uma palavra de origem latina, ou melhor, puramente latina, porque não mudou. A propósito...

        — Espere — interrompeu Emília. — A história da palavra África não nos interessa. Preferimos conhecer a história de outras palavras mais importantes, como, por exemplo, Boneca.

        A velha riu-se da presunção da criaturinha e respondeu:

        — Boneca, minha cara, é o feminino de Boneco, palavra que veio do holandês Manneken, homenzinho. Houve mudança do M para B — duas letras que o povo inculto costuma confundir. A palavra Manneken entrou em Portugal transformada em Banneken, ou Bonneken, e foi sendo desfigurada pelo povo até chegar à sua forma de hoje, Boneco. Dessa mesma palavra holandesa nasceu para o português uma outra — Manequim.

        — Mas então o povo, isto é, os ignorantes ou incultos, influi assim na língua? — disse Pedrinho.

        — Os incultos influíram e ainda influem muitíssimo na língua — respondeu à velha. — Os incultos formam a grande maioria, e as mudanças que a maioria faz na língua acabam ficando.

        — Engraçado! Está aí uma coisa que nunca imaginei...

        — É fácil de compreender isso — observou a velha. — As pessoas cultas aprendem com professores e, como aprendem, repetem certo as palavras. Mas os incultos aprendem o pouco que sabem com outros incultos, e só aprendem mais ou menos, de modo que não só repetem os erros aprendidos como perpetram erros novos, que por sua vez passam a ser repetidos adiante. Por fim há tanta gente a cometer o mesmo erro que o erro vira Uso e, portanto, deixa de ser erro. O que nós hoje chamamos certo, já foi erro em outros tempos. Assim é a vida, meus caros meninos.

        Tomemos a palavra latina Speculum — continuou a velha. — Essa palavra emigrou para Portugal com os soldados romanos, e foi sendo gradativamente errada até ficar com a forma que tem hoje — Espelho.

        — E os ignorantes de hoje continuam a mexer nela — observou Narizinho. — A gente da roça diz Espeio.

        — Muito bem lembrado — concordou a velha. — Essa forma Espeio é hoje repelida com horror pelos cultos modernos, como a forma Espelho devia ter sido repelida com horror pelos cultos de dantes. Mas como os cultos de hoje aceitam como certo o que já foi erro, bem pode ser que os cultos do futuro aceitem como certo o erro de hoje. Eu, que sou muito velha e tenho visto muita coisa, de nada me admiro. O homem é um animal comodista. Daí a sua tendência a adotar os erros que exigem menor esforço para a pronúncia. Espelho exige menor esforço do que Speculum, e por isso venceu. Espeio exige menor esforço do que Espelho. Quem nos diz que não acabará vencendo nestes mil ou dois mil anos?

        Hoje está mais difícil a ação dos ignorantes sobre a língua, por causa do grande número de livros e jornais que existem e fixam a forma atual das palavras. Mas antigamente quem fazia a língua era justamente o ignorante.

        Dona Etimologia tomou fôlego e bebeu um golinho de chá. Emília foi cheirar a xícara para saber se era chá-da-índia ou de erva-cidreira...

        — Mas qual a sua principal ocupação nesta cidade, minha senhora? — perguntou o menino.

        — Eu ensino a origem e a formação de todas as palavras.

        — Pois então nos conte a origem de algumas.

        Dona Etimologia bebeu mais um golinho de chá (enquanto Emília cochichava para Narizinho: "É de cidreira!") e começou:

        — As palavras desta cidade nova, onde estamos, vieram quase todas da cidade velha, que fica do outro lado do mar. Lá na cidade velha, porém, essas palavras levaram uns dois mil anos para se formarem.

        — Como foi isso? Explique.

        — Nos começos, as terras em redor dessa cidade haviam sido ocupadas pelos soldados romanos, que só falavam latim.

        Esses soldados moravam em acampamento (ou Castra, como se dizia em latim), de modo que foi em redor dos acampamentos que a língua nova começou a surgir.

        — Que língua nova?

        — A portuguesa. Os moradores das terras ocupadas pelos romanos, ou Aborígines, eram bárbaros incultíssimos, que foram aprendendo o latim lá à moda deles — isto é, estropiadamente, todo errado e com muita mistura de termos e modos de falar locais. Tanto estropiaram o pobre latim, que ele virou um Dialeto ou uma variante do latim puro. Depois os romanos se retiraram, mas o dialeto ficou vivendo a sua vidinha, e foi evoluindo, ou mudando, até tornar-se o que chamamos hoje língua portuguesa.

        — Então a língua portuguesa não passa dum dialeto do latim?

        — Perfeitamente. E também a língua francesa, a espanhola e a italiana não passam de outros tantos dialetos do mesmo latim. No começo, esses dialetos eram muito pobres em palavras e modos de dizer. Com o tempo, entretanto, as palavras foram aumentando enormemente e também foram aparecendo novos jeitos de combinar entre si as palavras. E desse modo essas línguas enriqueceram-se.

        — Mas as palavras foram aumentando como? Donde vinham? Quem era o fabricante? — quis saber a menina.

        — Umas nasciam lá mesmo, inventadas pelo povo; outras eram criadas pelos eruditos, que são os sabidões; outras eram importadas dos países estrangeiros.

        — Mas o povo? Como é que o povo forma palavras?

        — Muito simplesmente. O povo combina entre si palavras já existentes e forma novas.

        — Isso lá no sítio se chama "tirar cria" — lembrou Pedrinho.

        — Em Gramática se chama DERIVAÇÃO, querendo dizer que uma palavra sai de outra, ou deriva de outra. Neste processo de Derivação há umas certas palavrinhas, sem sentido próprio, que possuem uma função muito importante. São os PREFIXOS e SUFIXOS. Os prefixos grudam-se no começo da palavra, e os sufixos grudam-se no fim. Estes constituem verdadeiros rabinhos, que por si nada dizem, mas que, pregados a outras palavras, servem para dar-lhes uma forma nova e um sentido novo.

        — Espere! — gritou Emília. — Conheço um rabinho desses muito usado na fabricação de Advérbios — o tal Mente. Basta pregá-lo no traseiro dum Adjetivo para aparecer um lindo Advérbio novo. É Sufixo o tal Mente?

        — Sim, bonequinha — respondeu a velha, admirada da esperteza da Emília. — Mente é um sufixo só de uso para fazer Advérbios. Existem inúmeros outros, como Ária, Ado, Agem, Ume, etc. Este Ária, por exemplo, é um Sufixo precioso, que permitiu a formação de grande número de Substantivos novos. Ária em si não quer dizer coisa nenhuma, não passa dum simples rabinho. Mas, ligado a uma palavra, cria outra nova, com ideia de quantidade. Ligado ao Substantivo Cavalo, por exemplo, dá Cavalaria, que quer dizer muitos cavalos.

        — Não, senhora — protestou Emília. — Cavalo com o Ária atrás vira Cavaloaria, e não Cavalaria.

        A velha riu-se da exigência daquele espirro de criatura.

        — Bom, minha filha — respondeu ela pachorrentamente —, confesso que errei. Eu devia ter explicado que, antes de colocar um desses rabinhos, é necessário primeiro cortar a DESINÊNCIA da palavra. Senão o Sufixo não pega, ou não solda. Cada palavra se divide em duas partes — a RAIZ e a DESINÊNCIA. Raiz é a parte fixa da palavra; Desinência é a parte final, mudável. Reparem que, em todas as palavras formadas de Cavalo, a Raiz é Cavai, e notem que essa Raiz nunca muda. Cavaleiro, Cava-laria, Caval-gadura, Caval-hada...

        — Caval-ência — ajuntou Emília.

        — Essa palavra eu não conheço — disse a velha, com expressão de surpresa nos olhos.

        — É minha! — berrou a boneca. — Foi inventada por mim com a invençãozinha que Deus me deu. Faz parte dos meus "neologismos".

        A velha fez uma careta igual à de Tia Nastácia lá no sítio, quando pendurava o beiço e dizia — Credo!...

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual foi o efeito do berro ("Muu!") de Quindim no início do capítulo, e que nome Emília sugere para essa "nova Interjeição"?

      O berro causou um rebuliço de pânico, fazendo com que os filólogos, gramáticos e dicionaristas fugissem da casa da Etimologia. Emília sugere o nome "Interjeição espantativa de gramáticos" para o som.

02 – Qual é a origem da palavra "Boneca", de acordo com a Senhora Etimologia?

      A palavra "Boneca" (feminino de "Boneco") veio do holandês "Manneken" (homenzinho). Ela entrou em Portugal como "Banneken" ou "Bonneken" e foi desfigurada pelo povo (troca do M para B) até chegar à forma atual.

03 – Qual é o papel do povo inculto (os ignorantes) na evolução da língua, segundo a Etimologia?

      Os incultos influíram e ainda influem muitíssimo na língua porque formam a grande maioria. As mudanças e erros cometidos por eles, ao serem repetidos por muitas pessoas, acabam se tornando Uso e, consequentemente, deixam de ser erro e passam a ser considerados a forma correta.

04 – Qual é a origem da língua portuguesa segundo a explicação da Etimologia?

      A língua portuguesa não passa de um Dialeto do latim (falado pelos soldados romanos). Os moradores originais (aborígines) aprenderam o latim de forma errada e com misturas locais, o que fez com que ele evoluísse, através dos séculos, até se tornar o que hoje é o português (assim como o espanhol, o francês e o italiano).

05 – O que o processo de formação de palavras chamado Derivação representa, e quais são as "palavrinhas" (sem sentido próprio) que possuem uma função importante nele?

      Derivação é o processo em que uma palavra "tira cria", ou sai de outra já existente. As palavrinhas importantes nesse processo são os Prefixos (que grudam no começo da palavra) e os Sufixos (que grudam no fim).

06 – O que é a Raiz e a Desinência de uma palavra, e por que é necessário cortar a Desinência ao juntar um Sufixo?

      A Raiz é a parte fixa e imutável da palavra (ex: Caval-). A Desinência é a parte final, mudável. É necessário cortar a Desinência antes de colocar um Sufixo, pois, se não for feito, o Sufixo "não pega, ou não solda".

07 – Que neologismo (palavra nova) Emília afirma ter inventado, e como a Senhora Etimologia reagiu a essa nova palavra?

      Emília inventa o neologismo "Caval-ência". A Senhora Etimologia reage com surpresa por não conhecer a palavra e, ao descobrir que foi uma invenção de Emília, faz uma careta de espanto ou descrença.

 

CONTO: A SENHORA ETIMOLOGIA - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: A Senhora Etimologia – Emília no país da gramática

          Monteiro Lobato

        Depois que se despediu do Verbo Ser, Emília foi correndo em procura dos companheiros. Encontrou-os na Praça da ANALOGIA, rodeados de várias palavras. O Visconde conversava com duas absolutamente iguais na forma, embora de sentido diferente — as palavras Pena (dó) e Pena (de escrever).

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6qFPuroXaSZAp8lYB5I4vpsuJMs2ahqSdi8s-sZXTBcIRvFQmckNP0wzxT_xfie4meKp69x_bDQ56UllyncRAEJTnDyhrY554TnUyxA5Rh9cGSGREw64u8_pVV10teQWuTOgd3viY8IYqkr54xwfd1pFMIWHSe0ifKhr732u2zYW13zVJd8DfEk38A9A/s320/ANALOGIA.jpg

        — Não acho isso direito — dizia o Visconde para a primeira Pena —, se a senhora significa uma coisa tão diversa da significação da sua companheira por que não muda, para evitar confusões?

        — Sim — disse Emília, chegando e metendo a sua colherzinha torta na conversa. — Por que não usa um sinal — uma cruz na testa ou uma peninha de papagaio na cabeça, por exemplo?

        — Nós, palavras, não temos a liberdade de nos mudar a nós mesmas — respondeu Pena (dó). — Unicamente o uso lá entre os homens é que nos muda, como acaba de suceder a esta minha HOMÔNIMA, a Senhora Pena (de escrever.) Ela já teve dois NN e agora tem um só.

        — Pare! — gritou Emília. — Que "Homônima" é essa, que apareceu sem mais nem menos?

        — Pena (de escrever) é minha Homônima. Homônima quer dizer uma palavra que tem a mesma forma de outra, embora de significado diverso. Nós duas aqui somos Homônimas, do mesmo modo que grande número de outras palavras desta cidade. Cesta (balaio) e Sexta (número), por exemplo; Cela (quartinho) e Sela (de cavalo), Bucho (estômago) e Buxo (árvore), Cartucho (de espingarda) e Cartuxo (frade) são palavras Homônimas.

        E há ainda outras diferencinhas. Se somos iguais unicamente no som, os gramáticos nos chamam HOMÓFONAS, como essas que citei. E se somos iguais na forma escrita, eles nos chamam HOMÓGRAFAS.

        — Então você, Pena (dó), é Homônima, Homófona e Homógrafa de Pena (de escrever) — disse Emília, que tinha prestado toda a atenção. — Que judiaria! Tão pequenininha e xingada pelos gramáticos de tantos nomes esquisitos.

        — Mas isso de vocês terem a mesma forma ou o mesmo som — observou Narizinho — há de atrapalhar muito aos homens. Quando eles se encontram diante de palavras Homônimas, Homófonas e Homógrafas devem ficar tontos.

        — Puro engano — respondeu Pena (dó). — Seria assim se os homens nos encontrassem soltas como andamos aqui. Mas lá entre eles só aparecemos metidas em frases, e então é pelo Sentido que os homens nos distinguem. Quem ouve a frase: Estou escrevendo com uma pena de bico chato, vê logo que se trata da minha amiga Pena de escrever. Mas quem ouve exclamar: Que pena tenho dela! percebe imediatamente que se trata de mim. É pelo sentido da frase que se conhecem as palavras.

        — Muito bem — disse Emília. — A senhora é uma grande sabidinha. E quem são aquelas que ali estão de prosa, duas a duas?

        — Oh, aquelas são as palavras SINÔNIMAS e ANTÔNIMAS.

        — Explique-nos isso — pediu a menina.

        — Palavras Sinônimas — disse Pena (dó) — são as que significam a mesma coisa, ou quase a mesma coisa, embora tenham forma diferente. Lábio e Beiço, por exemplo; Habitar e Morar; Cavalo e Corcel; Olhar e Ver; são palavras Sinônimas.

        — E as Antônimas?

          Palavras Antônimas — respondeu Pena (dó) — são as que têm sentido oposto, como Noite e Dia; Sim e Não; Com e Sem; Ódio e Amor; Bom e Mau.

        — Engraçado! — berrou Emília. — Então Dona Benta é Antônima de Tia Nastácia!...

        — Que absurdo é esse, Emília! — exclamou Narizinho.

        — Sim, sim — insistiu a boneca —, porque uma é branca, e outra é preta.

        — As cores delas é que são Antônimas, boba, e não elas...

        Durante toda a conversa o rinoceronte manteve-se afastado, de beiço caído, refletindo distraidamente. Emília deu-lhe um beliscão.

        — Acorde, boi sonso! Que nostalgia é essa?

        — Estou pensando em coisas passadas — respondeu o excelente paquiderme. — Estou pensando na velhice destas palavras. Vieram de muito longe, sofreram grandes mudanças e continuam a transformar-se, como essa Pena de escrever, que acaba de perder um N. A maioria delas já morou na antiga Roma, dois mil anos atrás. Depois espalharam-se pelas terras conquistadas pelos romanos e misturaram-se às palavras que existiam nessas terras. E vieram vindo, e vieram vindo, até chegarem ao que hoje são.

        Enquanto vocês estavam de prosa com Pena (dó), eu pus-me a recordar a forma dessa palavra no tempo dos romanos. Escrevia-se Poene. E antes ainda de escrever-se assim, escrevia-se Poine, no tempo ainda mais antigo em que ela morava na Grécia.

        — Que divertimento interessante não deve ser o estudo de cada palavra! — exclamou Pedrinho. — Hão de ter cada uma o seu romance, como acontece com a gente...

        — E assim é — confirmou o rinoceronte. — Esse estudo chama-se Etimologia.                                   

          Quem está falando aí em Etimologia? — gritou Pena (dó), que estivera distraída a ouvir a boneca narrar as aventuras da viagem ao céu; e vendo que era o rinoceronte, acrescentou: — A Senhora Etimologia reside aqui perto. Por que não dão um pulinho até lá, para visitá-la?

        — Boa ideia! — exclamou Pedrinho. — Mas não é muito rabugenta, essa dama?

        — Nada! — respondeu Pena (dó). — É até uma excelente criatura — e sabidíssima, upa!... Conhece a vida de todas nós, uma por uma, nos menores detalhes. Sabe onde nascemos, de quem somos filhas e de que modo vimos mudando através dos séculos. Constantemente aparecem por aqui filólogos, gramáticos e fazedores de dicionários para consultar Dona Etimologia a propósito de mil coisinhas.

        — Pois vamos vê-la — propôs o Visconde, já assanhado. Velhas eram com ele, que também já estava velho e embolorado. Só Emília discordou. Preferia visitar a Senhora PROSÓDIA, que ensina o modo de pronunciar as palavras. Emília errava muito na pronúncia e queria aprender.

        — Prefiro saber como é que se pronuncia uma palavra a saber onde, como e quando ela apareceu. Sou "prática"...

        Mas Narizinho empacou.

        — Agora, não, Emília. Depois. Depois visitaremos Dona Prosódia. Neste momento eu resolvo que se visite a Etimologia. Você não manda.

        E como o caso fosse assim despoticamente resolvido, dirigiram-se todos para a residência da Senhora Etimologia.

        Encontraram lá uma velha coroca, de nariz recurvo e uma papeira — a papeira da sabedoria. Encontraram-na com a casa entupida de filólogos, gramáticos e dicionaristas. Foi o que disse a criada que os atendeu da janela.

        Pedrinho espiou pelo buraco da fechadura.

        — Xi!... — exclamou. — Está "assim" de carrancas lá dentro. Impossível que ela nos receba hoje. Os carrancas estão de óculos na ponta do nariz e lápis na mão, tomando notas. Até que ela atenda a todos...

        Puseram-se a escutar. A velha explicava a um daqueles homens como é que certa palavra havia passado do grego para o latim.

        — Ché!... — exclamou Emília. — Ainda estão no grego e no latim, imaginem! O melhor é espantarmos esses gramáticos e tomarmos conta da velha só para nós.

        E voltando-se para o rinoceronte:

        — Vamos, Quindim! Bote o focinho aqui no buraco da fechadura e solte um daqueles berros que os paquidermes dão nas "plagas africanas", quando o leão aparece na "fímbria do horizonte".

        O rinoceronte não quis obedecer, achando aquilo impróprio e nada gramatical; mas Emília resolveu o caso dizendo que um berro era uma Interjeição e, portanto, uma coisa perfeitamente gramatical. Quindim então obedeceu. Ajustou o focinho ao buraco da fechadura e desferiu uma formidável Interjeição que abalou a casa:

        — Muuu!

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a definição de uma palavra Homônima, de acordo com a explicação da palavra Pena (dó) para o Visconde e Emília?

      Homônima é uma palavra que tem a mesma forma de outra, embora possua um significado diverso.

02 – Segundo a palavra Pena (dó), de que forma os homens conseguem distinguir palavras Homônimas (que têm a mesma forma) quando as encontram no dia a dia?

      Os homens conseguem distinguir as palavras pelo Sentido (significado) da frase em que elas estão inseridas.

03 – Além de serem Homônimas, a palavra Pena (dó) explica outras duas classificações dadas pelos gramáticos. Quais são os nomes dados às palavras que são iguais unicamente no som e às que são iguais na forma escrita?

      Se são iguais unicamente no som, são chamadas Homófonas. Se são iguais na forma escrita, são chamadas Homógrafas.

04 – O que são palavras Sinônimas e o que são palavras Antônimas, e qual exemplo é dado para cada uma delas no texto?

      Sinônimas são as que significam a mesma coisa ou quase a mesma coisa, como "Lábio e Beiço". Antônimas são as que têm sentido oposto, como "Noite e Dia".

05 – Qual é o nome do estudo que o rinoceronte Quindim menciona, que examina a origem, a história e as transformações de cada palavra ao longo do tempo (como ele fez com a palavra "Pena")?

      Esse estudo chama-se Etimologia.

06 – Qual é a descrição física da Senhora Etimologia que Pedrinho consegue observar pelo buraco da fechadura?

      Ela é descrita como uma "velha coroca, de nariz recurvo e uma papeira — a papeira da sabedoria".

07 – Para que Quindim ajude a espantar os filólogos da casa da Senhora Etimologia, Emília pede que ele solte um berro. Que ação ele realiza, e que parte da gramática Emília usa para justificar que a ação era "perfeitamente gramatical"?

      Quindim solta uma formidável Interjeição (o berro "Muu!"). Emília justifica a ação dizendo que "um berro era uma Interjeição e, portanto, uma coisa perfeitamente gramatical".

 

 

CONTO: A CASA DA GRITARIA - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: A Casa da Gritaria - Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        — Que barulhada! — exclamou Emília, ao aproximar-se da Casa das INTERJEIÇÕES. — Será algum viveiro de papagaios?

        — São elas. Aquilo lá dentro parece um hospício, porque as Interjeições não passam de gritinhos.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_dk5DW6SmBJP4q9S2U2OQv1xmWddBaDEpcpsD-HjrtKnG0AF0eEB9Td6wF8DJg0s6JI-bSvzE4FhTv6D8xiZcNz9jm1ZdU004PRVZcyKh1o0kYwYfP4pz_h_JmqlafvTjCupVBEDpJImOqcRNQt9NsUN8KS-TCNX43wuX_e3c731p7EA9vL8U2Wl6AKQ/s320/INTERJEI%C3%87%C3%83O.jpg


        — Gritos de quê?

    — De tudo. Gritos de Dor, de Alegria, de Aplauso...

        A Casa das Interjeições parecia mesmo um viveiro de papagaios. Assim que entrou, Emília viu passarem correndo dois gemidinhos de DOR, as Interjeições Ai! e Ui! Logo em seguida viu, a dar pulos, três gritinhos de ALEGRIA: — Ah! Oh! Eh! Depois viu três de nariz comprido, as Interjeições de DESEJO: — Tomara! Oh! Oxalá! E viu três num entusiasmo doido — as Interjeições de ANIMAÇÃO: — Eia! Sus! Coragem! E viu quatro de APLAUSO, batendo palmas: — Viva! Bravo! Bem!

        Apoiado! E viu mais quatro com caras de horror e nojo, que eram as Interjeições de AVERSÃO: — Ih, Xi! Irra! Apre! E viu algumas de APELO, chamando desesperadamente alguém:

        — Olá! Psiu! Alô! E viu duas de SILÊNCIO, encolhidinhas, de dedo na boca: — Psiu! Caluda! E viu uma bem velhinha, de ADMIRAÇÃO — Cáspite! 

        — Que baitaquinhas! — comentou Emília, tapando os    ouvidos. — Já estou tonta, tonta...

        — E há ainda aqui — disse o Verbo Ser — esta pequena caixa com as ONOMATOPÉIAS, OU Interjeições IMITATIVAS de certos sons.

        Emília viu nessa caixinha as Onomatopeias Chape!, que imita o som do animal patinhando n'água. E viu Zás-Trás!, que imita movimento rápido. E viu também o célebre Nhoque!, muito usado por Pedrinho para imitar bote de cachorro bravo,  E viu Tchibum! — que imita barulho duma coisa que cai  n'água. E viu Trrrlin!, que imita som de esporas no assoalho,  E viu Tique-Taque, som de relógio. E ToqueToque, som de batida em porta. E viu Coin, Coin, Coin, som de Rabicó quando leva pelotadas do bodoque de Pedrinho.

        — Sim, senhor! — disse Emília, retirando-se. — São muito galantinhas, mas deixam uma pessoa atordoada. Lá no sítio usamos muito algumas destas interjeições, e ainda várias outras inventadas por nós. Tia Nastácia é uma danada para inventar Interjeições. Danada para tudo, aquela negra...

        E, mudando de tom:

        — Por que Vossa Serência não aparece por lá, um dia, para uma visita a Dona Benta? Por ser muito velho? Ora, deixe-se disso!... Estamos lá acostumados com a velhice. Dona Benta é velha e Tia Nastácia também. Cachorro bravo?... Oh, é bicho que nunca houve no sítio. Só temos Rabicó, que é um marquês que não morde, e a Vaca Mocha, que não tem chifre — e agora este Quindim, que é a pérola dos gramáticos.

        — E há ainda mais coisas por lá — continuou Emília, depois duma pausa. — Há os famosos bolinhos de Tia Nastácia, feitos de polvilho, leite, uma colherzinha de sal, etc. Depois ela frita. Quando Rabicó sente de longe o cheiro desses bolinhos, vem na volada. Mas não pilha um só. É comida de gente e não de... marquês.

        E finalizou, com uma piscadinha marota:

        — Dona Benta é viúva. Vá, que até pode sair casamento...

        O Verbo Ser olhava para Emília com os olhos arregalados. Ele não sabia a história da célebre torneirinha de asneiras...

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Por que a Casa das Interjeições é chamada de "Casa da Gritaria" e com que tipo de lugar Emília a compara ao se aproximar?

      A casa é barulhenta porque as Interjeições "não passam de gritinhos" que expressam diversos sentimentos. Emília, ao se aproximar, compara-a a um viveiro de papagaios (ou um hospício, segundo o Verbo Ser).

02 – O texto apresenta Interjeições que expressam diferentes sentimentos ou intenções. Cite dois exemplos de Interjeições de Aversão (horror e nojo) e dois exemplos de Interjeições de Apelo (chamado).

      Aversão: Ih, Xi, Irra, ou Apre! (quaisquer dois).

      Apelo: Olá!, Psiu!, ou Alô! (quaisquer dois).

03 – O que são Onomatopeias e qual o outro nome dado a elas no conto?

      Onomatopeias são Interjeições que imitam certos sons. No conto, elas também são chamadas de Interjeições Imitativas.

04 – Cite três exemplos de Onomatopeias mencionadas no texto e o que cada uma imita.

      O texto menciona várias, por exemplo:

      Chape!: imita o som do animal patinhando n'água.

      Zás-Trás!: imita movimento rápido.

      Tique-Taque: imita som de relógio.

      Toque-Toque: imita som de batida em porta.

      Tchibum!: imita barulho de coisa caindo n'água.

      Nhoque!: imita bote de cachorro bravo.

      Coin, Coin, Coin: imita o som de Rabicó. (Quaisquer três dessas duplas estariam corretas.)

05 – No final do trecho, a boneca Emília faz uma sugestão ousada ao Verbo Ser. Qual é essa sugestão e que argumentos ela usa para encorajá-lo?

      A sugestão de Emília é que o Verbo Ser visite Dona Benta no sítio, insinuando que poderia resultar em casamento ("pode sair casamento..."). Os argumentos que ela usa são que a velhice não é problema (Dona Benta e Tia Nastácia também são velhas) e que não há perigos, como cachorro bravo, no sítio.