Entrevista: Quero
batalhar igual minha mãe, mas ter uma vida melhor, diz
Vitória, 11. – Fragmento
Vitória olha com admiração para a
história da mãe, e da avó, que vende temperos na feira e é apontada como sua
confidente. Quer ser batalhadora como as duas, mas espera para si um futuro
melhor. “Acho que a gente tem que pensar em coisas grandes”, diz. “Eu acho
muito fundamental as pessoas que têm oportunidade de estudar, olhar assim pro
caderno e ver uma fonte de aprendizagem”.
Aluna do 6º ano da escola municipal de
ensino fundamental do CEU Três Pontes, no Jardim Romano, zona leste de São Paulo,
Vitória Railane Nobre Santos tem 11 anos. Mora no mesmo bairro com a mãe, avó e
a irmã mais velha.
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLv9zfSfPFgmZrkzhoCRIRMVaFAgcJn7YGA7Ds1ngsJ1hWX_EDfM2NDGBvAZz1hWCCKJtnkdy0eep2MqfHa8k3_Af0cdflBpBYICFs1UOfwMuSBY2R8vs4zXAJuzTeVYvBg2WerXVNIt4vfpz4yQpa0nP4uqaVdRNYYXH66LKQRHjgLgECeSdgnpG0Oyk/s1600/CEU.jpg
[...] Para ela, a educação é um caminho
para uma vida melhor da de seus familiares – mas também uma oportunidade de
entender o mundo atual e poder intervir mais na sociedade. [...]
Vitória, me conta um pouco
sobre a sua rua, seu bairro, sua casa. Você gosta de morar aqui?
Eu moro aqui mesmo no Jardim Romano e
adoro por causa das minhas colegas, das amizades que eu tenho na rua, mas
dentro de casa é mais diferente, porque eu tenho uma irmã de 14 anos, que se
acha “adultona”, quer mandar em mim. Um modo de eu me distrair é aqui mesmo, na
escola, com as minhas amigas, ou quando eu passo na rua e converso com alguma
pessoa que eu gosto.
[...]
Mas você nasceu no Ceará?
Não, eu fui para o Ceará quando tinha 1
ano de idade. Aí eu fiquei lá até os meus seis. Eu me considero uma cearense,
no caso. O meu pai veio do Ceará, minha mãe veio do Ceará, a família todinha do
meu pai veio do Ceará, então sangue de cearense está aqui em mim, né? Às vezes,
minha mãe reclama porque o meu jeito de falar é igual ao deles. Mas foram seis
anos num lugar aprendendo a viver da maneira daquele estado. É muito difícil
chegar aqui e, de uma hora para outra, aprender a falar igual eles fazem.
Mas eu acho bonito o sotaque
do Ceará. Você acha? Tem orgulho dele?
Sim, eu uso todo dia, então é difícil
não achar bonito. É uma maneira de expressar um lugar muito humilde, que eu
gosto e onde eu queria ter nascido. A minha vida praticamente foi feita lá.
[...]
Você queria opinar sobre o que
vai ser ensinado [na escola]?
Eu queria que a gente aprendesse um
pouco mais sobre eras antigas e sobre deputados, essas coisas. Quando os
deputados a gente começar a aprender, mas isso é o que a gente não aprende.
Por que você acha importante?
Porque se a gente aprendesse mais
coisas sobre a política, ia pensar e falar com os nossos pais antes de votarem.
É fácil chegar lá, digitar o número e votar. Agora, quando os políticos começam
a acabar com o nosso Brasil, as pessoas só colocam a culpa neles, mas não
pensam em quem vota. Então, acho que era fundamental aprender. Eu vi lá na TV
que eles roubam R$ 1,6 bi da gente por ano. É dinheiro que eles podiam doar
para um orfanato ou um daqueles tipos de casa para morador de rua. Mas não,
eles gastam com iate, dessas coisas porque minha mãe levanta muito cedo para
trabalhar, minhas tias trabalham muito, suam muito para ganhar R$ 100 por mês.
Trabalha de doméstica, então eu vejo como ela sofre para ganhar um pouco de
dinheiro para os deputados fazerem isso.
Como você vê o seu futuro? Você quer
ser igual a sua mãe ou a sua vó?
Tipo, quero ser batalhadora
igual a minha mãe, a minha avó, sim. Só que eu queria ter um futuro melhor do
que o delas. Acho que a gente tem que pensar em coisas grandes. Minha mãe não
pôde estudar porque trabalhava das 5h até de tarde, lá no Parque Dom Pedro, no
Brás. Eu acho muito fundamental as pessoas que têm oportunidade de estudar,
olhar assim para o caderno e ver uma fonte de aprendizagem porque tem muita
gente que não estudou, não sabe ler, não sabe escrever. Inclusive, fui eu que
ensinei minha avó a assinar o nome dela porque ela não sabia. Como a coitada trabalhava
muito, não tinha tempo de ir para a escola. a minha mãe estudou até o sétimo
ano, mas foi muitas poucas coisas que ela aprendeu.
SALDANA, Paulo. Tem
coisas que a escola não ensina, a gente aprende na vida, diz Beatriz. 13 fev.
2019. Folha de S. Paulo. Disponível em: http://temas.folha.uol.com.br/crianca-do-dia/educacao/tem-coisas-que-a-escola-não-ensina-a-gente-aprende-na-vida-diz-Beatriz-11.shtml.
Acesso em: 20 abr. 2021.
Fonte: Maxi: Séries
Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas
de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 19-20.
Entendendo a entrevista:
01
– Qual a principal aspiração de Vitória para o futuro?
Vitória deseja ter um futuro
melhor do que o de seus familiares, com mais oportunidades de estudo e
trabalho. Ela valoriza a educação como ferramenta para transformar sua vida e a
vida da comunidade.
02
– Como Vitória descreve sua relação com a família?
Vitória tem uma
relação próxima com sua mãe e avó, admirando a força de trabalho e a luta
delas. No entanto, ela também descreve as dificuldades de conviver em casa,
como a diferença de idade com sua irmã.
03
– Qual a importância da educação para Vitória?
A educação é
vista por Vitória como um caminho para a ascensão social e para a transformação
da sociedade. Ela acredita que o conhecimento é fundamental para entender o
mundo e poder intervir nele.
04
– Qual a visão de Vitória sobre a política?
Vitória demonstra
preocupação com a política e a corrupção. Ela acredita que a educação política
é fundamental para que as pessoas possam tomar decisões mais conscientes e
exigir dos seus representantes.
05
– Como Vitória se sente em relação à sua origem e cultura?
Vitória tem
orgulho de suas raízes cearenses e valoriza a cultura de sua família. Ela vê
seu sotaque como parte de sua identidade e como uma forma de expressar sua
história.
06
– Quais são os desafios que Vitória enfrenta em sua comunidade?
Vitória vive em
uma comunidade com desafios como a falta de oportunidades, a desigualdade
social e a corrupção. Ela observa as dificuldades que seus familiares enfrentam
e busca soluções para melhorar a vida de todos.
07
– Qual a importância das amizades para Vitória?
As amizades são
um refúgio para Vitória, um espaço onde ela se sente acolhida e pode se
divertir. As relações interpessoais são importantes para ela, tanto dentro
quanto fora de casa.
08
– Qual a influência da história de vida de sua família na visão de futuro de
Vitória?
A história de
luta e superação de sua família serve de inspiração para Vitória. Ela deseja
seguir os passos de suas parentes, mas com mais oportunidades e conhecimentos.
09
– Quais são os temas que Vitória gostaria de aprender mais na escola?
Vitória demonstra interesse
em aprender mais sobre história, política e cidadania. Ela acredita que esses
conhecimentos são essenciais para entender o mundo e poder participar
ativamente da sociedade.
10
– Qual a mensagem que Vitória transmite com sua história?
Vitória transmite
uma mensagem de esperança e determinação. Apesar dos desafios, ela acredita no
poder da educação e da união para construir um futuro melhor. Sua história
inspira outras pessoas a lutarem por seus sonhos e a fazer a diferença em suas
comunidades.