domingo, 5 de agosto de 2018

CONTO: CRIME MAIS QUE PERFEITO - LUIZ LOPES COELHO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Conto: CRIME MAIS QUE PERFEITO

        Quando o furgão contornou a esquina e parou diante do nº 168, Davi abriu a caderneta e anotou: Quinta-feira, chegada, 4h 15min. Assistiu ao leiteiro que, com passadas rápidas, deixou o litro de leite à porta e retornou ao furgão, posto logo em movimento. Davi escreveu: saída, 4h 20 min. Embolsou a caderneta, desprendeu-se do pilar que lhe servia de esconderijo. Planejava o crime original.
        Voltara para casa assim como saíra, invisível. Subiu a escada, parou no corredor. O quarto de tia Olga fechado, mas, no de Cláudia, a luz riscava o chão pela fresta da porta. Empurrou-a com cuidado, entrou no quarto e contemplou a irmã adormecida. Para Davi, ela seria sempre uma criança. Os olhos dele foram ficando mansos, os lábios esboçaram um sorriso... Um leve ruído: a adoração se encobriu de trevas.
        Com a mesma cautela, saiu para o corredor e logo entrou em seu quarto. A lembrança súbita de Jorge Antar dissipou a beleza deixada em seus olhos pela moça em doce sono. Aquele noivado. Revoltava-se com o amor de Cláudia pelo malandro. Conhecia-o bem: vivia de golpes financeiros, além de possuir, em segredo, um harém. O malandro visava à herança da moça, inocente e apaixonada. Não, Jorge não seria o homem de Cláudia, dessa Cláudia que ele, substituindo o pai ajudara a criar. Há dias, por isso, resolvera mudar seu comportamento, não agravar, com novas rixas, suas relações com a irmã. Recolhera conselhos, reprimira censura e ameaças, enquanto o plano diabólico progredia na ardência do cérebro, como o relógio trabalhando no interior da bomba.
        Deitado na cama leu a caderneta: “leiteiro” Segunda-feira, chegada, 4h 08 min. – saída, 4h 15 min.; Quarta-feira, chegada, 4h 05 min. – saída, 4h 12 min. Na última anotação: chegada, 4h 15 min. – saída, 4h 20 min. O furgão parava na rua das Margaridas, nº 168, sempre depois das 4 horas da madrugada, e em sua casa às 3 horas, mais ou menos. Plano feito, perfeito. E mais perfeito ainda, porque Cláudia, conforme havia dito, iria passar o fim de semana, na capital, fazendo compras e preparando seu espírito para o casamento.
        Davi já conhecia todos os hábitos de Jorge: no sábado, acordava mais cedo, tomava seu desjejum e saía de casa para o “trabalho”, antes da criada entrar em serviço. Aquele plano era exato como a sucessão das horas, infalível como a própria morte...
        Sexta-feira, a véspera da perfeição. A noite demorou, mas acabou gerando a madrugada. O motor do caminhão forçou a marcha. Era o leiteiro virando a esquina. Davi ouviu a parada em frente de sua casa; o tilintar de vidros. Os passos de retorno, a batida do portão. Sentou-se na cama, calçou o tênis. Levantou-se, foi à cômoda, abriu a gaveta e meteu o vidrinho no bolso. Apanhando a lanterna, clareou o relógio de pulso: 3h 20min. Calçou as luvas que estavam debaixo do travesseiro. Iluminando o caminho, chegou à sala, abriu a porta, cuidadosamente pegou o litro de leite pelo gargalo e depois seguiu para a copa. Foi à pia, retirou a tampa da vasilha, derramou um pouco de leite, substituindo pelo conteúdo do vidrinho que trouxera. Recolocou a tampa, meteu o litro de leite no bolso largo do casaco. Abotoou o casaco, saiu pela porta da cozinha. Fez sumir na lata de lixo o vidrinho lavado. Luz sobe o pulso: 3h 35 min.
        Seguiu para a casa de Jorge, atingindo-a pelos fundos. Agachando-se, escondeu sob o tanque de lavar roupas. Relógio iluminado: 4h.
        Depois de dez minutos, o furgão parou em frente à casa. Davi decifrou a jovialidade do entregador pelos passos meio dançados. De novo, os passos. O motor pulsando, a neblina tragando as luzes vermelhas do furgão.
        Sempre encostado a parede, Davi caminhou até à porta lateral da casa onde uma pequena entrada o protegia da visão da rua. Na soleira de mármore, aproximou os dois litros de leite.
        Levantou-se, enfiou no bolso do casaco o que fora deixado para Jorge, com a mesma precaução, dirigiu-se ao lugar de espera, perto do tanque. Retomou o caminho de volta, pisando sempre na parte cimentada do quintal a fim de não largar vestígios de seu tênis.
        A neblina espessa não venceu a intrepidez da caminhada de volta, última pedra do mosaico delituoso. Fechando-se na cozinha de sua casa, sentiu-se liberto. Tonificado pelo descanso de alguns segundos, repôs em seus lugares o casaco, o litro de leite e as luvas. Depois de tirar os tênis, acendeu o isqueiro, aqueceu-lhes as solas para secá-las mais rapidamente. Em seguida, limpou-os com um pano e guardou-os no lugar costumeiro. Preparado para dormir, ingeriu uma pílula. Caiu na cama, com um suspiro de alívio. Em breve o cansaço e o hipnótico trouxeram o sono que surpreendeu Davi no gozo de sua obra perfeita.
        Quando amanheceu, gritos:
        —Davi, acorda. Acorda, menino!
        E a tia Olga começou a agitá-lo.
        — O que é que há, titia?
        — Estão aí dois homens da polícia que querem falar com você.
        — Da polícia? Diga-lhes que descerei imediatamente. Enquanto as mãos trêmulas lavavam o rosto, pensou: “É impossível. Não cometi nenhum erro. Ninguém me viu”. Revisou todos os seus atos: não encontrou a menor falha. Amarrando o roupão, desceu a escada.
        — Sr. Davi Ortiz? Carlos Antunes, delegado de plantão.
        — Não estou entendendo...
        — Estou aqui em cumprimento de um dever bastante desagradável.
        — Como assim?
        — Antes de pedirmos a colaboração do senhor, no entanto...
        — Sim?
        — Jorge Antar foi encontrado morto, esta manhã, na casa em que morava.
        — Que horror!
        — Ao lado dele, também morta... a senhorita Cláudia, irmã do senhor. Acreditamos que se suicidaram, de acordo com as primeiras investigações, com veneno misturado ao leite.
                                          Luiz Lopes Coelho, A morte no envelope.

Furgão: Carro coberto, para transporte de bagagens ou pequena carga.
Fresta: Abertura estreita na parede, para deixar passar a luz e o ar.
Dissipar: dispersar, desfazer, fazer desaparecer.
Visar: Ter como objetivo; ter em vista.
Jovialidade: Alegre, prazenteiro.
Precaução: Cautela, cuidado.
Espesso: Grosso, denso.
Intrepidez: Valentia, coragem.
Mosaico: Embutido de pedrinhas de cores, dispostas de modo que formem desenhos.
Delituoso: Que constitui delito; culposo.
Tonificar: Dar vigor a; fortificar.
Hipnótico: substância que produz sono.
Gozo: prazer, satisfação.

Entendendo o conto:
01 – A frase que apresenta a ideia principal do texto é:
A) “Planejava o crime original”.          
B) “Davi escreveu: saída, 4h 20min”.  
C) “Quando o furgão contornou a esquina”.           
D) “Davi abriu a caderneta e anotou”.   
E) “Acreditamos que se suicidaram.”

02 – A intenção de Davi Ortiz ao anotar a chegada e a partida do leiteiro era:
A) saber o horário em que o leite chegava nas casas.     
B) evitar que algo desse errado em seu plano.
C) fazer anotações sobre o movimento dos furgões.            
D) conhecer todos os hábitos de Jorge.
E) anotar as casas que recebiam leite.

03 – Em “Um leve ruído: a adoração se encobriu de trevas”, o que fez Davi mudar de atitude foi o fato de:
A) Cláudia esboçar um leve sorriso.           
B) o quarto da tia Olga estar fechado.
C) ter-se lembrado do noivo de Cláudia.   
D) Cláudia se mexer na cama.   
E) estar chegando a hora de o leiteiro passar.

04 – A expressão “...além de possuir, em segredo um harém.” significa que o noivo:
A) era um sultão árabe que possuía muitas mulheres.    
B) já era casado.              
C) tinha em sua casa muitas esposas.
D) trocava constantemente de esposas.                           
E) vivia cercado de mulheres.

05 – A palavra “trabalho” escrita entre aspas, deve ser vista como uma ironia, devido ao fato de (o):
A) antagonista trabalhar em ofícios desgastantes.         
B) trabalho do personagem ser muito cansativo.
C) noivo possuir um harém.                                          
D) Jorge Antar trabalhar em ofícios não respeitáveis.
E) jovem ser responsável e ter bons hábitos.

06 – O local escolhido por Davi para observar a chegada do caminhão, antes do crime, foi:
A) o fundo do jardim.                   
B) atrás de um pilar.                         
C) embaixo do tanque de lavar.
D) pequena lateral da casa.         
E) um esconderijo na parede.

07 – É característica psicológica do protagonista o fato de ele ser:
A) relaxado.    
B) desmotivado.     
C) calculista.        
D) tímido.           
E) jovial.

08 – O personagem principal não aprovava o casamento da irmã com Jorge Antar porque
A) o noivo tinha um harém.       
B) o noivo era malandro e mentiroso.        
C) Cláudia não amava o noivo.
D) era muito ciumento.             
E) agia como pai da moça.

09 – Todas as frases abaixo são precauções para tornar o crime perfeito, exceto:
A) “... pisando sempre na parte cimentada do quintal...”            
B) “Fez sumir na lata de lixo o vidrinho lavado”.
C) “Calçou as luvas que estavam debaixo do travesseiro”.       
D) “... aqueceu-lhes as solas para secá-las mais rapidamente”.   
E) “... contemplou a irmã adormecida.”

10 – Ao saber que a polícia estava em sua casa, Davi ficou:                
A) aliviado e feliz.       
B) trêmulo e agitado.              
C) orgulhoso de seu plano.    
D) temeroso de ter sido descoberto.     
E) tranquilo, despreocupado.

11 – Apesar de não conhecer o rapaz, Davi concluiu que o entregador de leite era jovem porque:
A) entregava o leite com rapidez.                    
B) parecia dançar quando andava.
C) sabia dirigir um furgão.                               
D) a neblina tragava as luzes vermelhas do furgão.
E) acordava de madrugada todos os dias.

12 – Para não levantar suspeitas, Davi tomou algumas atitudes com relação à irmã. Uma delas foi:
A) reprimir Cláudia a toda hora.           
B) não lhe dar mais conselho.       
C) não falar mais com ela.
D) contemplar a irmã adormecida.       
E) deixá-la viajar com o noivo.

13 – A lógica do título “Crime mais que perfeito” foi fundamentada com o fato de que:
A) o personagem principal matou apenas Jorge Antar.     
B) por ironia, Davi matou também a irmã do criminoso.
C) a polícia achava que fosse suicídio.                              
D) tudo fora premeditado com muita perfeição.
E) houve uma total impunidade do protagonista.

14 – Com a frase: “Plano feito, perfeito”, o protagonista concluía que:
A) Cláudia casaria com outro homem.      
B) valeria a pena tantas noites em claro.    
C) o crime não seria descoberto.
D) o furgão pararia na rua das margaridas, nº 168.        
E) Cláudia viajaria na véspera do crime.

15 – Cláudia Ortiz disse ao irmão que viajaria na sexta-feira para a capital. No entanto, ela se encontrava no(a):
A) companhia do noivo.      
B) shopping, fazendo compras.        
C) quarto de tia Olga.
D) casa de uma amiga.       
E) seu quarto, dormindo.

16 – Em “A noite demorou, mas acabou gerando a madrugada”, representa que a(o)(s):
A) noite passava com rapidez.          
B) madrugada demorou a chegar.    
C) era véspera do dia do casamento.
D) horas passaram despercebidas.   
E) tempo estacionou.

17 – O fato surpreendente no desfecho da história foi:
A) tia Olga gritando desesperadamente.                                           
B) a chegada da polícia na casa de Cláudia.
C) Cláudia não estar preparando o espírito para o casamento.        
D) Jorge Antar ter sido encontrado morto.
E) a morte acidental de Cláudia.





ARTIGO DE OPINIÃO: OS EXTRATERRESTRES PODERIAM FAZER A NOSSA FELICIDADE - JOÃO UBALDO RIBEIRO - COM GABARITO

Artigo de Opinião: Os extraterrestres poderiam fazer a nossa felicidade
         João Ubaldo Ribeiro


   Uma das minhas maiores frustações é nunca ter visto um disco voador. Até porque conheço gente que já viu, às vezes em circunstâncias portentosas. Um desses felizardos, conceituado médico e amigo de minha família, estava dirigindo numa estrada deserta, quando um forte clarão, acompanhado por uma espécie de frufrulhar (ele usou esta palavra, que nos remeteu ao Aurélio, como a vocês agora), surgiu acima do carro, cujo motor morreu instantaneamente. Tudo deixou de funcionar, os faróis se apagaram, o rádio desligou-se. Em cima, persistiam o frufrulhar e uma luz eucrômica (ele também usou esta palavra, que não achamos no Aurélio, mas adivinhamos de qualquer forma e não demos o braço a torcer, porque estava na cara que ele tinha uma fonte para provar que a palavra existia e ninguém era besta para abrir o jogo; com baiano, palavra difícil é questão de honra).
        Quanto tempo isso durou, ele não sabia bem, pois até seu Rolex parou, mas devia ter sido coisa de uns dez mesmerizantes minutos. Inopinadamente, contudo, o frufrulhar tornou-se um cicio e a luz eucrômica um inconstante bruxuleio. Tudo no carro voltou a funcionar, inclusive o Rolex. Ele, apesar do choque, manteve a atenção vigilante. A pouca distância de seu para-brisas, em baixa altura, viu um objeto piriforme (esta não fez sucesso, não foi preciso Aurélio), que girava em torno de si mesmo. Pairou alguns instantes e, com o cicio já promovido a silvo, partiu tão célere em direção ao espaço que desapareceu num segundo.
        Não tenho razões para duvidar do relato. Tratava-se de pessoa idônea a quem a sorte (ou a Providência, quem sabe, há sempre os eleitos) escolhera para ver o disco voador, ou melhor, um objeto voador não-identificado, porque, sendo piriforme, não era disco. Mas só podia ser OVNI mesmo, é claro. Fico injuriado com essa discriminação. Que pelo menos me fosse dado ver uma fita cassete voadora, ou outro objeto, mesmo que não piriforme ou não emitindo luz eucrômica.
        Mas, ai de mim, nunca vi nada. Nem em fotografias. Fotos de OVNIs têm o curioso dom de parecer qualquer coisa, desde a consequência de haverem esfregado uma panqueca na lente da câmara, ao flagrante de um traseiro de galinha logo após a postura. São como as fotos do Abominável Homem das Neves ou do monstro do Lago Ness. O Abominável lembra invariavelmente uma mancha de chantili numa gravata pied-de-poule e o monstro do lago evoca o close desfocado de uma minhoca com problemas de obesidade. Houve as fotos publicadas na antiga revista O Cruzeiro, que eram claras e tão bem-produzidas que, ao que parece, o consenso hoje é que não se tratava de coisa autêntica.
        Antes que comece a receber cartas revoltadas de ufologistas radicais (é engraçado como quem vê um disco voador pegar freguesia e vê muitos outros; esse médico mesmo acabou vendo vários, só que em condições não tão espetaculares), apresso-me a esclarecer: como muita gente, inclusive cientistas respeitáveis, também acho improvável que, neste Universo inimaginavelmente vasto, só o nosso planetinha abrigue vida. Todo mundo já ouviu esse raciocínio e não aceita-lo parece tornar-nos meio ptolemaicos, achando que a Terra é o centro do Universo. Apenas ninguém, que se saiba ao certo, tem provas de que haja vida fora da Terra e, muito menos, de que outras civilizações deem passeios por aqui.
        Existe o pessoal que tem certeza de que o Pentágono e a Nasa dispõem de dados concretíssimos e mantêm tudo guardado a sete chaves. Agora mesmo, voltam a publicar velhas fotos de Marte, mostrando indícios de civilizações, a escultura de um rosto humano, pirâmides e outros (eu próprio, do mesmo jeito que como Abominável, não vejo nada, mas admito que enxergo mal), para sublinhar como é suspeito o fato de a nova sanda que ia mapear Marte pifar bem na hora de começar o serviço. Deve ter sido mesmo um acidente, como tantos outros que já ocorreram no espaço. Mas, como os governos mentem muito, há um certo direito de duvidar do que dizem. Faz alguns dias, não saiu nos jornais que os propalados êxitos do programa reaganista “Guerra nas Estrelas” foram blefes para assustar os então soviéticos?
      O problema é que a maior parte dos ufólogos, pelo menos dos que conheço, tem mais espírito religioso do que científico. Há uma necessidade de acreditar nos OVNIs, pois somente o contato com civilizações superiores poderia orientar esta Humanidade enlouquecida. Pois sim. Uma civilização capaz de viajar à vontade dezenas ou centenas de anos-luz teria tanto interesse em nossas mazelas quanto um biólogo em indagar dos sentimentos dos paramécios que vê em seu microscópio. Mas a certeza de que eles virão, ou estão vindo, persiste. A ufologia é uma vocação que deve trazer grande apelo à alma brasileira. Já que D. Sebastião não volta (o Dr. Sarney talvez volte), mais dia menos dia um disco voador aterrissa aqui, acaba a inflação, cura o câncer e a Aids, transforma os meninos de rua em harvardianos e estabelece a felicidade geral. Pode até ser. Mas, por enquanto, o único objeto exótico com cuja aparição podemos contar é o fusca 94 – e com o Dr. Itamar ao volante.
                                    João Ubaldo Ribeiro. O Estado de São Paulo.
Entendendo o texto:
01 – O que é frustação?
      É não ter conseguido o que desejava.

02 – Quando as circunstâncias são portentosas?
      Quando são maravilhosas, prodigiosas, assombrosas.

03 – Qual o significado de conceituado?
      De bom conceito, afamado.

04 – O que frufrulhar?
      É produzir um rumor de folhas.

05 – A palavra eucrômino é formada pelo prefixo grego eu, que bom, belo, e o radical crôn. que é cor, seguido pelo prefixo ico. Como você interpreta o significado de luz eucrômica?
      Luz de bela cor.

06 – O que significa não dar o braço a torcer?
      Não se considerar vencido.

07 – Qual o sinônimo de besta em: ninguém era besta?
      Bobo.

08 – Rolex é marca de quê?
      Relógio.

09 – Se mesmerizar é hipnotizar, o que quer dizer mesmerizantes minutos?
      Minutos hipnotizantes.

10 – Inopinadamente é de modo inopinado. O que é inopinado?
      Imprevisto.

11 – Que é cicio?
      Barulho fraco, rumor brando.

12 – Explique o significado de inconstante bruxuleio.
      Brilho oscilante de modo não constante.

13 – Piriforme é o mesmo que periforme. O que ambas significam?
      Em forma de pera.

14 – O que é pairar?
     Mover-se com lentidão no alto.

15 – Um sinônimo de célere.
      Rápido.

16 – Existem duas palavras parecidas (parônimas): descriminação e discriminação. Que significam?
      Descriminação: ato de inocentar de um crime.
      Discriminação: ato de distinguir, separar.

17 – No texto, há palavras estrangeiras, como a francesa pied-de-poule (pé de galinha), a inglesa close, parte de close-up (fotografia de objeto próximo). Há, também, uma palavra francesa aportuguesada pelo autor. Em francês é chantilly. Como o autor usou? O que esta palavra designa?
      Chantili – designa um saboroso creme.

18 – Desfocado é um vocábulo comum em fotografia. Como é uma foto desfocada?
      Fora de foco, não é nítida.

19 – Quando há consenso no seu grupo?
      Quando todos concordam.

20 – Ufologista é o mesmo que ovniologista. E qual é o significado?
      Estudioso dos objetos voadores não identificados.

21 – O que caracteriza uma pessoa radical?
      É inflexível, durona.

22 – O sistema ptolemaico é geocêntrico. O que é geocêntrico?
      É o que considera a Terra como centro do Universo.

23 – Quais são as atribuições do Pentágono e da Nasa?
      Pentágono é o que trata da defesa militar dos E.U.A.
      Nasa é agência do programa espacial.

24 – Que significa guardar a sete chaves?
      Guardar muito bem guardado.

25 – De um sinônimo de pifar.
      Quebrar, deixar de funcionar.

26 – O que é propalar êxitos?
      Divulgar bons resultados.

27 – Reaganista é relacionado com Ronald Reagan, que foi presidente de um país da América do Norte. Que país é?
      Estados Unidos da América.

28 – Qual o sentido de blefe?
      Engano, logro.

29 – Que são mazelas?
      Feridas, doenças, aborrecimentos.

30 – João Ubaldo usou a palavra paramécios, que são protozoários. O que é protozoário?
      É um animal unicelular.

31 – Harvardiano é adjetivo relacionado com Harvard University, uma famosa universidade norte-americana. Fica em que país?
      Nos Estados Unidos da América.

32 – Dê um sinônimo de exótico.
      Estranho, incomum.



TEXTO: MEDO, MEDINHO, MEDÃO - EDSON GABRIEL GARCIA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: Medo, medinho, medão

        Pororoca ainda não havia entendido por que teria de passar por aquele estranho teste para fazer parte definitivamente da turma do Balau, na rua da sua casa.
        – É hoje à noite, Pororoca. Hoje ou nunca.
    Pororoca fez um resumo rápido das suas lembranças: tinha mudado com sua família (ele, o pai, a mãe, a avó e sua irmã Terê) para aquela rua há três semanas. A casa era grande e gostosa, tinha até quintal no fundo e jardim na frente. Aos poucos foi se acostumando com a nova escola, que não era tão nova assim, com os novos colegas da classe, com os novos conhecidos da simpática rua onde viera morar. De pouco em pouco, ele foi conhecendo a turma da rua: Rodrigo, Mané, Chico Santos, Paulo Gabriel. Era uma turma alegre, brincalhona. De cara ele ganhou o apelido de Pororoca, certamente por causa das muitas sardas no rosto. Gostou do apelido e nem se incomodou com isso. Afinal o apelido que ele tinha na outra escola, também por causa das pintas no rosto, era Mata-Borrão.
        Bem ... Pororoca já se sentia um membro da turma, e foi com surpresa que recebeu a informação de Chico Santos:
        – Olha aqui, Pororoca, se você quer fazer parte da nossa turma terá de passar por um teste.
        Pororoca achou engraçado, mas topou. Ele já tinha feito vários testes na sua vida e um a mais ou a menos não afetaria nada. Por isso topou na hora.
        – Eu topo, Chico. É só marcar. Me avisa uns dias antes pra eu me preparar.
        – Que preparar o quê, Pororoca! Se você quiser, o teste é amanhã à noite. Só preciso de tempo pra avisar todo mundo.
        – À noite!?
        – É, à noite, cara. De dia não tem graça e não dá pra fazer o teste.
        Pororoca, sem entender muito bem, pediu mais esclarecimentos:
        – Bem ... mas que tipo de teste é esse?
        – Teste de coragem, meu amigo. Precisamos saber se você tem medo ou não.
        – Medo? Medo do quê?
        – Do escuro, de assombração, de fantasma, de almas do outro mundo ...
        – Mas... por quê?
        – Olha aqui, Pororoca, não vou ficar dando entrevista. Ou você quer ou não quer!
        Pororoca não teve outro jeito, mesmo sabendo que medo era uma coisa que ele tinha de sobra. Mas pior que isso era ficar desenturmado.
        – Eu topo. Pode marcar o teste.
        – Amanhã eu te aviso o local e a hora.
        Pois bem, o local e a hora foram marcados: nove horas da noite, no fim da rua tranquila, perto de uma praça.
        Na hora combinada, lá estavam Pororoca e os futuros colegas de turma.
        – Bem ... Qual é o teste?
        – É simples! - começou explicando o Balau. - Naquela rua ali, depois da praça, no número 83, tem uma casa. Faz mais de trinta anos que ela está abandonada. As pessoas mais velhas daqui dizem que ali um casal sem filhos se suicidou logo depois do casamento. Depois disso ninguém nunca mais morou na casa. Também dizem que toda noite o casal volta e fica vagando pela casa, feito alma penada que ainda não sabe que morreu.
        – Arre! E o que tem isso a ver com o teste?
        – Tem tudo. O teste é lá.
        – Lá? Você está louco!?
        – Eu não. Se você não quer, voltamos e fim de papo.
        – Bem ...
        – Está com medo?
        Pororoca estufou o peito, morrendo de medo, e respondeu:
        – Nem medo, nem medinho, nem medão! Estou pronto.
        – Ok. O teste é o seguinte: hoje de manhã eu joguei uma laranja dentro da casa. Você deverá ir lá, entrar na casa, achar a laranja e trazer de volta. Nós esperamos aqui.
        – E onde você jogou a laranja?
        – Lá dentro, ué.
        Pororoca pensou em desistir. Mas aí ficaria sem turma ali na rua e todo mundo o chamaria de Pororoca, o medroso. Por isso decidiu ir de qualquer jeito. Não tinha outra saída: era ir ou ... ir.
        A casa era simples, pequena, abandonada, mas se não fosse a história de Balau, ninguém pensaria que era mal-assombrada. O mato crescia por todos os lados e as duas janelas estavam parcialmente arrebentadas e abertas. A porta da frente, depois do pequeno alpen­dre, também estava meio aberta. Era por ali que ele iria entrar. Pororoca juntou os cacos de coragem e entrou na casa ...
        Mas foi a conta de entrar, e um treco mole e fedido encostou-se na cabeça e no rosto dele. Isso bastou para que Pororoca arregalasse os olhos, suspendesse a respiração. No mesmo instante, deu meia volta e disparou na maior carreira da sua vida.
        Chegou quase morto onde os meninos esperavam por ele.
        -- Não deu certo ... não deu ... ufa! Não deu ... me faltou coragem, fiquei com medo! ...
        Todos os amigos caíram na risada. E foi o próprio Balau quem puxou a palavra:
        -- Ainda bem, Pororoca, que você teve medo.
        -- Ainda bem, Balau? E você ainda fica me gozando?
        -- Não. Nada disso. Você está aprovado no teste.
        -- Como aprovado???
        -- Aprovado! Isso mesmo. A gente só aprova quem tem medo.
        -- Só quem tem medo?
        -- É, nessa turma todo mundo tem medo da casa abandonada. Imagine se a gente ia deixar entrar alguém que seja corajoso!
        -- Pô, Balau! Quer dizer que com medo e tudo eu já sou da turma?
        -- Já! Nessa turma só entra quem tem medo.
        E foram embora da praça, todos os amigos, a turma do medo com mais um membro.

Edson Gabriel Garcia. Meninos & meninas: traquinagens,
Brincadeiras e emoções na rua. São Paulo, Loyola, 1992.

Entendendo o texto:
01 – Onde se passa a história que você leu?
      Na rua para a qual Pororoca recentemente havia se mudado com a família.

02 – Quanto tempo durou a história? Explique o que você observou para responder.
      Cerca de dois dias. Pororoca tinha se mudado havia três semanas, os fatos da história começam quando Pororoca é desafiado a passar por um teste no dia seguinte à noite.

03 – Por que Pororoca teria de fazer o teste?
      Para fazer parte de uma turma de amigos.

04 – Se você fosse Pororoca, aceitaria fazer esse teste? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Em que momento Pororoca sentiu mais medo?
      Pororoca sentiu mais medo quando um treco mole e fedido encostou em sua cabeça e em seu rosto dentro da casa mal-assombrada.

06 – Que sentimento o desfecho da narrativa provocou em você?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Crie outro título para esse texto e escreva no espaço abaixo.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Em sua opinião, o que teria acontecido se o teste fosse para valer, isto é, se Pororoca realmente tivesse de provar que era corajoso? Os amigos iriam aceita-Io na turma? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Releia um trecho da história.
        "Aos poucos, foi se acostuman­do com a nova escola, que não era tão nova assim."
O que você entendeu por meio da expressão destacada?
      Essa expressão explica que a escola, apesar de ser nova para Pororoca, já tinha algum tempo de existência e funcionamento.

10 – Retire do texto:
a)   Uma frase pontuada com reticências.
“— Bem... mas que tipo de teste é esse?”
b)   Uma frase pontuada com três pontos de interrogação.
“— Mas... por quê???” / “Como aprovado???”.
c)   Uma frase pontuada com ponto de exclamação e de interrogação.
“— À noite!?”

11 – Numere os fatos de acordo com a ordem em que aparecem no texto.
(7) Todos os amigos foram embora da praça.
(1) Pororoca deveria passar por um teste estranho.
(3) Pororoca topou fazer o teste.
(6) Pororoca foi aprovado no teste.
(5) Pororoca pensou em desistir.
(2) De cara ele ganhou o apelido de Pororoca.
(4) Balau explicou o teste.

12 – Reescreva as frases de acordo com a indicação do tempo verbal dos parênteses.
·        Todos os amigos caíram na risada. (Futuro)
Todos os amigos cairão na risada.
·        Pororoca fez um resumo rápido de suas lembranças. (Presente)
Pororoca faz um resumo rápido de suas lembranças.
·        De cara ele ganhou o apelido de Pororoca. (Futuro)
De cara ele ganhará o apelido de Pororoca.

13 – Utilize os verbos do quadro para completar as frases abaixo. Observe o tempo solicitado nos parênteses.

                 CORRER        BRINCAR      LER          DANÇAR
                 NADAR          RIR           ESCREVER    DIGITAR
 
 




·        Os meninos corriam atrás das meninas na hora do intervalo. (Pretérito)
·        A professora lerá um livro para os alunos durante a aula. (Futuro)
·        João dança muito no clube. (Presente)
·        Maria digitou muito no seu trabalho. (Pretérito)
·        As meninas brincarão na festa do colégio. (Futuro)
·        Meninos e meninas nadam na competição. (Presente)
·        Carlos escreveu em seu caderno novo. (Pretérito)
·        As crianças rirão do palhaço. (Futuro).