quinta-feira, 2 de outubro de 2025

CONTO: AS FIGURAS DE SINTAXE - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: As Figuras de Sintaxe – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        Durante todo o tempo da conversa sintática, Pedrinho e Narizinho estiveram a observar, disfarçadamente, várias personagens da comitiva da grande dama. Ela, afinal, percebeu o joguinho e contou serem as tais FIGURAS DE SINTAXE.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjUs3skVoCbkQ8KLI4L2PWb44kZaZy4GRNMVG4p7LIB8fX0bfgxkMoYBJ0K8kO_pgfv7fLMHjNjvZz_cGk2jv8uKvCXvg6pJlIDpUNsVRD7Hw4UIiFgI_VB2dAk2OqwEChadAgf0iQXWxIoHF8y6IrCKtvzGwmEsHr5_2a_L0pxLydLv1QqOAn105MGxQ/s320/noticiasconcursos.com.br-conheca-as-figuras-da-sintaxe-e-saiba-diferencia-las-figuras-de-sintaxe.png


        — Figuras de Sintaxe? — repetiu Narizinho sem compreender. — Que espécie de figuras são essas?

        A grande dama explicou:

        — Eu tenho sempre comigo umas tantas Figuras que me auxiliam no trabalho de trazer bem arrumadinhas as Orações. Vou apresentá-las a vocês.

        E dirigindo-se às Figuras:

        — Senhoras Figuras de Sintaxe, permiti-me que vos apresente à grande Emília, Marquesa de Rabicó, à menina do Narizinho Arrebitado e ao Senhor Pedrinho. E ali — continuou, apontando para o rinoceronte —, um grande filólogo da Uganda, que se acha de passeio pelas terras da Gramática.

        As Figuras fizeram uma graciosa reverência. Em seguida a grande dama passou a explicar as funções de cada uma.

        — Este aqui — disse, indicando um jeitoso figurão, é o Senhor PLEONASMO, cujo serviço consiste em reforçar o que a gente diz. Quando uma pessoa declara que viu com os seus próprios olhos, está usando um Pleonasmo, porque se dissesse apenas que viu já a ideia estaria completa. Está claro que ninguém pode ver senão com os seus próprios olhos; mas falando dessa maneira pleonástica fica mais forte a expressão. O Pleonasmo tem de ser discreto e exato; se repete, ou comete uma redundância sem que a força da expressão aumente, torna-se defeito. Tudo quanto é inútil constitui defeito.

        Pleonasmo ofereceu os seus préstimos aos meninos e retirou-se, depois duma elegante curvatura.

        — Esta aqui — continuou Dona Sintaxe indicando outra. Figura — é a minha amiga ELIPSE, que suprime da frase tudo quanto pode ser facilmente subentendido. Nesta Oração: Gosto de uvas e você, de laranjas, a Senhora Elipse cortou duas palavras sem que o sentido perdesse alguma coisa. Sem esse corte a frase ficaria assim: (Eu) gosto de uvas e você (gosta) de laranjas, mais comprida e menos elegante.

        A Senhora Elipse deu um beijinho na boneca e retirou-se.

        — E esta aqui — prosseguiu Dona Sintaxe — é a Senhora ANÁSTROFE, que inverte os termos da frase. Quando uma pessoa diz: Acabou-se a festa, em vez de dizer: A festa acabou-se, está se servindo do bom gosto da minha amiga Anástrofe.

        A gentil Anástrofe quis também dar um beijo na boneca; mas Emília fugiu com o rosto, pensando lá na sua cabecinha: "Um beijo desta diaba é capaz de inverter os 'termos da minha cara', pondo a boca em cima do nariz, ou coisa parecida".

        — Pois é assim, meus meninos — concluiu Dona Sintaxe depois que a última Figura se retirou. — Estas amigas valem por ajudantes preciosos. Graças ao seu concurso consigo dar muita graça e elegância às frases.

        — A tal Senhora Anástrofe não será por acaso irmã duma tal Catástrofe? — perguntou Emília, de ruguinha na testa.

        Dona Sintaxe riu-se da lembrança e não achou fora de propósito a pergunta.

        — Perfeitamente — respondeu. — São duas palavras de formação grega bastante aparentadas. Anástrofe é formada de Ana (entre) e Strepho (eu viro). E Catástrofe é formada de Kata (debaixo) e o mesmo Strepho (eu viro)... São, pois, irmãs por parte do pai, que é o Verbo Strepho. Uma vira entre. Outra vira de pernas para o ar. Mas ambas viram...

        A boa dama ainda conversou com os meninos por longo tempo, explicando os muitos trabalhos que tinha na língua para que as frases andassem corretamente vestidas.

        — Quer dizer que a senhora é uma espécie de costureira — lembrou Narizinho.

        Dona Sintaxe achou que não.

        — Costureira propriamente não. Meu papel na língua é de arrumadeira.

        — E quanto ganha por mês? — indagou Emília.

        — Nada, bonequinha. Trabalho de graça — trabalho por amor à limpeza e ao bom arranjo deste meu povinho, que são as frases. Mas vamos agora ver outra coisa.

        Quero que vocês conheçam os Vícios de Linguagem, que eu conservo aqui por perto, presos em gaiolas.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Quem são as "Figuras de Sintaxe", qual é a função delas na Oração, e por que Dona Sintaxe as utiliza?

      As Figuras de Sintaxe são personagens que auxiliam Dona Sintaxe no trabalho de trazer as Orações bem arrumadinhas. Elas são utilizadas para conferir graça e elegância às frases. Sua função principal é permitir desvios sutis ou reforços na estrutura gramatical padrão, sem prejudicar a clareza da mensagem.

02 – Defina Pleonasmo e explique quando essa Figura de Sintaxe é considerada um auxílio para a expressão e quando se torna um defeito. Cite o exemplo dado no texto.

      O Pleonasmo é a Figura de Sintaxe cujo serviço consiste em reforçar o que se diz por meio da repetição de uma ideia já expressa ou implícita.

      É um auxílio quando a redundância aumenta a força da expressão e torna a comunicação mais enfática (exemplo: viu com os seus próprios olhos).

      É um defeito quando a repetição é inútil ou constitui uma redundância que não acrescenta força à expressão, tornando-se apenas um "vício".

03 – Qual é o papel da Elipse? Exemplifique como essa figura atua para tornar a frase "mais curta e menos elegante" sem perder o sentido.

      A Elipse é a Figura de Sintaxe que suprime (corta) palavras da frase que podem ser facilmente subentendidas (deduzidas) pelo contexto. O exemplo dado é: "Gosto de uvas e você, de laranjas". Nessa oração, a Elipse cortou as palavras "Eu" e "gosta" que seriam necessárias para a estrutura completa: "(Eu) gosto de uvas e você (gosta) de laranjas".

04 – O que faz a Anástrofe e como Emília reage à sua presença? Qual é a relação etimológica que o conto estabelece entre Anástrofe e Catástrofe?

      A Anástrofe é a Figura de Sintaxe que inverte os termos da frase, alterando a ordem direta, como em "Acabou-se a festa" em vez de "A festa acabou-se". Emília reage à Anástrofe com desconfiança e medo, fugindo do beijo da Figura por achar que um beijo dessa "diaba" seria capaz de "inverter os termos da minha cara". O conto explica que Anástrofe (Ana, que significa 'entre', + Strepho, que significa 'eu viro') e Catástrofe (Kata, que significa 'debaixo', + Strepho) são irmãs por parte do pai, o Verbo Strepho, pois ambas se referem a algum tipo de inversão ou virada.

05 – De que forma Dona Sintaxe define seu papel no domínio da língua e como ela se difere da função de uma "costureira", conforme sugerido por Narizinho?

      Dona Sintaxe define seu papel na língua como de uma arrumadeira. Embora Narizinho a compare a uma costureira (alguém que veste as frases), Dona Sintaxe discorda sutilmente. Sua função não é apenas vestir, mas sim arrumar, fiscalizar e dar ordem às palavras e frases. Ela trabalha "por amor à limpeza e ao bom arranjo" da sua população (as frases), garantindo que a clareza seja mantida, através do controle da concordância e da colocação.

 

 

CONTO: OS VÍCIOS DE LINGUAGEM - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Os Vícios de Linguagem – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato     

        Logo depois Dona Sintaxe disse:

        — Vou agora mostrar a vocês os vícios DE LINGUAGEM.

        — Quê?! Andam soltos pela cidade, esses monstros?

        — Não, menina. Os Vícios, eu os conservo em jaulas, como feras perigosas. Vamos vê-los.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO3QAqlzXIuYw3cgYqeAz1FdvYus_BQq7D69wY6J_Zr37qDgNtGr6asJV3SepPOsWdBOT-aKoJQQD6tcte2bQiJJGy4iIIr0VP59EAZQqJVWc2SptNVmWGJ2wWzduZgtFJvFyKBhhxkbmlJpexe2fbL1JIp4oivxYveklycOv-sAhrCHOuVKJw9UAXGDI/s1600/VICIO.jpg


        A grande dama tomou a frente e os meninos a acompanharam até a uma cadeia com grades nas janelas e toda dividida em cubículos, também gradeados. Dentro desses cubículos estavam O BARBARISMO, O SOLECISMO, a ANFIBOLOGIA, a OBSCURIDADE, O CACÓFATO, O ECO, O HIATO, a COLISÃO, O ARCAÍSMO, O NEOLOGISMO e O PROVINCIANISMO.

        Pedrinho notou que havia ainda um cubículo sem nenhuma fera dentro.

        — E o Vício aqui desta gaiola?                 

        — Esse já se reabilitou e anda solto pela cidade nova. Só não tem licença de aparecer na cidade velha.                       

        — Quem era ele?

        — O BRASILEIRISMO...

        Emília espiou para dentro do primeiro cubículo, onde um monstro cabeludo estava a roer as unhas. Era o BARBARISMO.

        — Que mal faz ao mundo este "cara-de-coruja"? — perguntou ela. 

        — Gosta de fazer as pessoas errarem estupidamente na pronúncia e no modo de escrever as palavras. Sempre que você ouvir alguém dizer poribir em vez de proibir, sastifeito em vez de satisfeito, púdico em vez de pudico, percurar ou percisa em vez de procurar ou precisa, saiba que é por causa deste cretino. Emília passou ao cubículo imediato, onde havia outro "cara-de-coruja" ainda mais feio.

        — E este? — perguntou.

        — Este é o tal SOLECISMO, outro idiota que faz muito mal à língua. Quando uma pessoa diz: Haviam muitas moças na festa, em vez de Havia muitas moças, está cometendo um Solecismo. Fui na cidade em vez de Fui à cidade, Vi ele na rua, em vez de Vi-o na rua, Não vá sem eu, em vez de Não vá sem mim, são outras tantas "belezas" que saem da cachola deste imbecil.

        Emília botou-lhe a língua e passou ao terceiro cubículo. Viu lá dentro um vulto de mulher com duas caras.

        — E esta "bicarada"? — perguntou.

        — Esta é a ANFIBOLOGIA, que faz muita gente dizer frases de sentido duplo, ou duvidoso, como: Ele matou-a em sua casa. Em casa de quem, dele ou dela? Quem ouve fica na dúvida, porque a matança tanto pode ter sido na casa do matador como da matada.

        Emília passou a espiar o quarto cubículo, onde estava presa uma negra muito feia, preta que nem carvão.

        — E esta pretura? — perguntou.

        — Esta é a OBSCURIDADE, que faz muita gente dizer frases sem nenhuma clareza, dessas que deixam quem as ouve na mesma.

        Emília passou ao quimo cubículo, onde viu um sujeito sujo e de cara cínica.

        — E este porcalhão?

        — Este é o CACÓFATO, que faz muita gente ligar palavras de modo a formar outras de sentido feio, como aquele sujeito que ouviu no teatro uma grande cantora e foi dizer a um amigo: Ela trina que nem um sabiá...

        Emília tapou o nariz e dirigiu-se ao sexto cubículo, onde estava um maluco muito barulhento.

        — E este, com cara de cachorro? — indagou.

        — Este é o ECO, que faz muita gente formar frases cheias de latidos, ou com desagradável repetição de sons. Quem diz: O pão de sabão caiu no chão late três vezes numa só frase, tudo por causa desta bisca.

        Emília passou ao sétimo cubículo, onde havia um freguês com cara de gago.

        — E este pandorga? — perguntou.

        — Este é o HIATO, que faz muita gente formar frases com acentuação incômoda para os ouvidos. Quem diz: A aula é lá fora está sendo vítima deste Senhor Hiato.

        Emília passou ao oitavo cubículo, onde estava presa uma mulher, toda requebrada.

        — E esta ciciosa? — perguntou.

        — Esta é a COLISÃO, que faz muita gente dizer frases cheias de consonâncias desagradáveis. Zumbindo as asas azuis é uma frase com o vício da Colisão.

        Emília passou ao nono cubículo, onde estava um velho de cabelos brancos, todo coberto de teias de aranha.

        — Este Matusalém?

        — Este é o ARCAÍSMO, que faz muita gente pedante usar palavras que já morreram há muito tempo e que, portanto, ninguém mais entende.

        — Já estive no bairro das palavras Arcaicas e travei conhecimento com algumas — observou Narizinho. — Mas por que está preso o pobre velho? Ele não tem culpa de haver palavras arcaicas.

        — Mas tem culpa de botar essas velhas corocas nas frases modernas. Para que não faça isso é que está encarcerado.

        Emília passou ao décimo cubículo, onde estava preso um moço muito pernóstico.

        — E este aqui, tão chique? — perguntou.

        — Este é o NEOLOGISMO. Sua mania é fazer as pessoas usarem expressões novas demais, e que pouca gente entende.

        Emília, que era grande amiga de Neologismos, protestou.

        — Está aí uma coisa com a qual não concordo. Se numa língua não houver Neologismos, essa língua não aumenta. Assim como há sempre crianças novas no mundo, para que a humanidade não se acabe, também é preciso que haja na língua uma contínua entrada de Neologismos. Se as palavras envelhecem e morrem, como já vimos, e se a senhora impede a entrada de palavras novas, a língua acaba acabando. Não! Isso não está direito e vou soltar este elegantíssimo Vício, já e já...

        — Não mexa, Emília! — gritou Narizinho. — Não mexa na Língua, que vovó fica danada...

        — Mexo e remexo! — replicou a boneca batendo o pezinho, e foi e abriu a porta e soltou o Neologismo, dizendo: — Vá passear entre os vivos e forme quantas palavras novas quiser. E se alguém tentar prendê-lo, grite por mim, que mandarei o meu rinoceronte em seu socorro. Quero ver quem pode com o Quindim...

        Dona Sintaxe ficou um tanto passada com aquele rompante da Emília, mas nada disse. Quindim estava perto, de chifre pronto para entrar em cena ao menor sinal da boneca...

        — Como está ficando despótica — murmurou a menina para Pedrinho. — Ainda acaba fazendo uma revolução e virando ditadora...

        — É de tanta ganja que vocês lhe dão — observou o menino com uma ponta de inveja.

        Emília encaminhou-se para o último cubículo, onde estava preso um pobre homem da roça, a fumar o seu cigarrão de palha.

        — E este pai da vida que aqui está de cócoras? — perguntou ela.

        — Este é o PROVINCIANISMO, que faz muita gente usar termos só conhecidos em certas partes do país, ou falar como só se fala em certos lugares. Quem diz naviu, menino, mecê, nhô, etc. está cometendo Provincianismos.

        Emília não achou que fosse caso de conservar na cadeia o pobre matuto. Alegou que ele também estava trabalhando na evolução da língua e soltou-o.

        — Vá passear, Seu Jeca. Muita coisa que hoje esta senhora condena vai ser lei um dia. Foi você quem inventou o Você em vez de Tu e só isso quanto não vale? Estamos livres da complicação antiga do Tuturututu. Mas não se meta a exagerar, senão volta para cá outra vez, está ouvindo?

        O Provincianismo agarrou a trouxinha, o pito, o fumo e as palhas e, limpando o nariz com as costas da mão, lá se foi, fungando. Tão bobo, o coitado, que nem teve a ideia de agradecer à sua libertadora.

        — Não há mais nenhum? — perguntou Emília logo que o Jeca se afastou.

        — Felizmente, não — respondeu Dona Sintaxe. — Estes já bastam para me deixar tonta.

        Terminada a visita aos Vícios de Linguagem, os meninos ficaram sem saber para onde ir.

        — Esperem! íamo-nos esquecendo do Visconde. Temos de continuar na "campeação" dele — disse Emília, mordendo o lábio e olhando firme para a Sintaxe, a ver que cara ela faria diante daquela "campeação".

        — Isso depois — opinou Pedrinho. — Estou com vontade agora de ver como as Orações se formam.

        — Pois vamos a isso — concordou Dona Sintaxe. — Há aqui perto um jardim muito frequentado pelas Senhoras Orações.

        — Quem são essas damas?

        — São frases que formam sentido, ou que dizem uma coisa que a gente entende.

        — E a frase que não forma sentido? — perguntou Emília.

        — Isso não é nada. É bobagem. . . — respondeu Dona Sintaxe, afastando-se dali. 

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:  

01 – Qual é o Vício de Linguagem que estava com o cubículo vazio, e por que Dona Sintaxe permitia que ele andasse livremente na "cidade nova"?

      O Vício que estava com o cubículo vazio era o Brasileirismo. Dona Sintaxe permitia que ele andasse livremente na "cidade nova" (o Brasil) porque ele já havia se reabilitado. Isso sugere uma aceitação da variação e evolução da língua local em contraste com a rigidez da "cidade velha" (Portugal).

02 – Explique a diferença entre os Vícios de Linguagem Barbarismo e Solecismo, citando um erro comum de cada um conforme o texto.

      O Barbarismo é o vício que faz as pessoas errarem na pronúncia ou na escrita das palavras (erro de forma/morfologia). Exemplo: dizer "poribir" em vez de proibir.

      O Solecismo é o vício que faz as pessoas errarem na estrutura e concordância da frase (erro de sintaxe). Exemplo: dizer "Haviam muitas moças" em vez de Havia muitas moças.

03 – O que são Anfibologia e Obscuridade? Qual é o problema principal que ambos causam na comunicação?

      A Anfibologia é o vício que faz as frases terem sentido duplo ou duvidoso, gerando confusão sobre o agente ou o lugar da ação (Exemplo: "Ele matou-a em sua casa").

      A Obscuridade é o vício que torna as frases sem nenhuma clareza, deixando o ouvinte sem entender nada (representada pela "negra muito feia, preta que nem carvão"). Ambos causam o problema principal da falta de clareza, indo contra o maior mandamento de Dona Sintaxe.

04 – Defina os vícios de sonoridade Cacófato e Eco. Cite o exemplo de erro para o Cacófato que faz Emília "tapar o nariz".

      O Cacófato é o vício que resulta da ligação de palavras de modo a formar uma terceira palavra com sentido feio ou ridículo. O exemplo que faz Emília se envergonhar é a formação da palavra "trina que nem um sabiá" (caco de trinakenema).

      O Eco é o vício que causa a repetição desagradável de sons ou terminações semelhantes (rima involuntária), gerando frases com "latidos". Exemplo: "O pão de sabão caiu no chão".

05 – Emília liberta o Neologismo da cadeia. Qual é o argumento principal que ela usa para justificar que as palavras novas são essenciais e não um vício a ser aprisionado?

      Emília defende que o Neologismo não é um vício, mas sim uma necessidade para a evolução da língua. Ela argumenta que, como as palavras antigas envelhecem e morrem, é preciso haver uma "contínua entrada de Neologismos" para que a língua possa aumentar e não "acabar acabando", comparando-os às crianças que garantem a continuidade da humanidade.

06 – Por que o Arcaísmo é considerado um Vício de Linguagem, mesmo que se refira a palavras que já existiram legitimamente?

      O Arcaísmo é considerado um Vício porque faz as pessoas pedantes usarem palavras que já morreram há muito tempo e que ninguém mais entende. O problema não é a existência de palavras arcaicas, mas sim o ato de "botar essas velhas corocas nas frases modernas", prejudicando a clareza da comunicação.

07 – Emília também liberta o Provincianismo (o "Seu Jeca") e o aconselha. Qual é o grande feito do Provincianismo que Emília usa para justificar sua libertação e qual é o conselho que ela lhe dá?

      Emília justifica a libertação do Provincianismo alegando que ele também está trabalhando na evolução da língua, e seu grande feito é ter inventado o "Você" em vez do "Tu", livrando a língua da "complicação antiga do Tuturututu". O conselho que ela lhe dá é para não exagerar, ou seja, não abusar dos regionalismos que só são conhecidos em certos lugares, sob pena de voltar para a prisão.

 

 

domingo, 21 de setembro de 2025

FILME(ATIVIDADES): VIDAS SECAS - BASEADO NA OBRA DE GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

 ATIVIDADES AVALIATIVAS SOBRE O  Filme: Vidas Secas


01. Qual é o nome do personagem que é o chefe da família, que se sente inferior por não saber falar de forma complexa como as pessoas da cidade?

A. Sinhá Vitória

B. O Menino Mais Velho

C. O Soldado Amarelo

D. Fabiano

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM1-WbUtGrdgcPfeEt8_T8ndaajmjJ2_SVUDgVPMC0uRcDo7Jrrf6jU9fWh1OkFXFUBtSaBZPi04srErVCr3NjWw7dSoMsYzdDPsuAyDx4zm1TwqZPO8LxKKQ34atPob61I6PBSLAflgV8UvC6HsD1i8ps29QN3gnK4DIWPDoJ5dPWuxeUjp0HmVzcsow/s1600/VIDAS%20SECAS.jpg


02. O filme retrata a dura realidade de uma família de retirantes. O que eles estão buscando ao longo da história?

A. Uma fazenda para trabalhar e condições para fugir da seca.

B. Uma escola para educar seus filhos e escapar da ignorância.

C. Um local para construir uma nova casa e viver em paz.

D. Uma vida luxuosa em um grande centro urbano.

03. Qual dos personagens da família tem um papel importante, mesmo sendo um animal, e morre de forma simbólica, marcando um momento de grande tristeza?

A. A cabra

B. O boi

C. O papagaio

D. A cachorra Baleia

04. A história de 'Vidas Secas' se passa em qual região do Brasil, conhecida pelas condições de seca e miséria?

A. As favelas do Rio de Janeiro.

B. O sertão nordestino.

C. A região Sul, no Pampas.

D. A Amazônia, na floresta tropical.

05. Qual dos personagens do filme tem como maior desejo ter uma cama de couro, algo que representa um sonho distante e um conforto inatingível?

A. Fabiano

B. O Menino Mais Velho

C. O Menino Mais Novo

D. Sinhá Vitória

06. A família é constantemente desafiada pela seca. No filme, a seca é representada como uma força da natureza que não apenas destrói a plantação, mas também:

A. Faz a família enriquecer com a exploração de minérios.

B. Aumenta a produção de alimentos e água na região.

C. Aproxima a família e fortalece os laços afetivos.

D. Causa a desumanização dos personagens, que vivem como animais.

07. O Menino Mais Velho, um dos filhos de Fabiano, demonstra um grande desejo por qual tipo de conhecimento?

A. O desejo de aprender a domar cavalos e ser um vaqueiro como seu pai.

B. O desejo de ser um soldado e ter poder sobre as pessoas.

C. O desejo de entender as palavras e aprender a se expressar.

D. O desejo de se tornar um grande músico.

08. No final do filme, a família decide partir novamente. O que motivou essa decisão?

A.O patrão os expulsou da fazenda.

B. Eles encontraram um tesouro e ficaram ricos, podendo então viajar.

C. Eles foram convidados a se mudar para a cidade grande por um amigo.

D. A seca retornou e as condições de vida se tornaram insustentáveis novamente.

09 – Quais são os personagens principais de Vidas Secas?

      A. Fabiano, Sinhá Vitória Irmão mais velho, Irmão mais novo, Baleia e o papagaio.

      B.  Leonardo Pataca, Leonardinho, Comadre, Compadre, Major Vidigal, Maria das Hortaliças, Dona Maria, Luisinha, Vidinha e José Manuel.

      C.  João Ramão, Miranda, Bertoleza, Jerônimo, Rita Baiana, Leónie, Pombinha, Estela, Zulmira, Piedade e Capoeirista Firmo.

  D. Zezé (José), Totoca (Antônio), Jandira, Glória (Godóia) e Luís, O Portuga (Manuel Valadares).

10.  Na cena em que Fabiano é preso na cidade, a humilhação que ele sente diante do Soldado Amarelo é um reflexo de qual tema central do filme?

A. A crítica à falta de segurança nas áreas urbanas.

B. A valorização da vida no sertão em contraste com a vida urbana.

C. A desumanização e a opressão do homem do campo diante da autoridade.

D. A importância da educação para ascender socialmente.

 

“A literatura é a arte que nos permite viajar para outros mundos, viver outras vidas e, no processo, nos ajuda a compreender melhor a nós mesmos e a complexidade do ser humano.”

Profe Jaqueline

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

NOTÍCIA: COMO O LANCE VIRTUAL PODE SE TORNAR REAL - FRAGMENTO - REVISTA TODATEEN - COM GABARITO

 Notícia: Como o lance virtual pode se tornar real – Fragmento

        Dicas para o bate-papo das redes sociais ter futuro na vida real

        No bate-papo, vocês se dão superbem. Nas redes sociais, então, parece que nasceram um para o outro. Mas cara a cara, o lance não sai do lugar. A gente te dá algumas dicas para não perder mais tempo e garantir que esse lance do mundo virtual pode, sim, virar algo concreto.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjG9qgxZt_St123rvp8tBvoVXQrnNFHYJl0RzmsDJJtJVnoicK_PbqU-3uucNxhcgxBqpQG2G9pqf3E16894uC-utFz0upYQAVRm5zVv9aVEHd0bWjhsOz-2GZP05fLICyRx3eUTay1i9USbLCqkBh-fp5IiSUxQdEZTWdL-FyjP4gEVZR4_RmgbLCH_QQ/s320/content_hands-1851218_1920.jpg


        Nunca o vi pessoalmente

        Aquela história: ele é amigo de um amigo, você sabe que ele existe, mas vocês nunca se viram na vida! E agora? Se o seu lance rola exclusivamente pela internet e você ainda não viu o boy, o cuidado deve ser redobrado! Antes de investir nesse lance, vale suuuper a pena saber tudinho sobre esse tal príncipe: ele é mesmo quem diz ser? Se ele for mesmo o lindo que você está imaginando, é hora de ele descobrir que tanta afinidade também pode dar certo no dia a dia.

        Se você for mestra em segurança, vale a pena abrir o coração e mandar logo a real. Agora se pintar insegurança, dá para pedir uma ajudinha para os amigos dele, já que vocês se conhecem. [...]

Revista Todateen. Disponível em: http://todateen.uol.com.br/papo-bff/como-o-lance-virtual-pode-se-tornar-real/. Acesso em: 20 mar. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Ensino Fundamental – Anos finais. São Paulo, 3ª edição, 2015. p. 253-254.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é o principal desafio abordado no texto sobre relacionamentos virtuais?

      O texto aborda o desafio de fazer com que um relacionamento que funciona bem no ambiente virtual, como em redes sociais, se torne algo concreto e funcione também na vida real, no contato cara a cara.

02 – Por que o texto sugere "cuidado redobrado" quando se trata de um "lance" que rola exclusivamente pela internet e a pessoa nunca foi vista pessoalmente?

      O texto sugere esse cuidado porque é importante verificar se a pessoa é realmente quem ela diz ser. A internet pode criar uma falsa impressão, e é essencial ter certeza da identidade e das intenções antes de aprofundar a relação.

03 – Qual é a primeira etapa recomendada pelo texto para quem está em um relacionamento exclusivamente virtual e ainda não conheceu a pessoa?

      A primeira etapa recomendada é saber tudo sobre o "príncipe", ou seja, investigar e ter certeza de que ele é quem afirma ser.

04 – O que o texto sugere para quem sente insegurança em se abrir e "mandar a real" para a pessoa virtual?

      Para quem sente insegurança, o texto sugere pedir ajuda aos amigos em comum para se aproximar da pessoa, já que, no cenário do texto, os dois se conhecem por meio de amigos.

05 – Qual é o objetivo final das dicas apresentadas no texto?

      O objetivo final das dicas é ajudar o leitor a fazer com que um relacionamento que existe apenas no mundo virtual se torne algo concreto e com futuro na vida real.

 

NOTÍCIA: SAIBA QUAIS AS COXINHAS MAIS GOSTOSAS DE SP; VEJA O RANKING DO GUIA - FRAGMENTO -SAULO YASSUDA - COM GABARITO

 Notícia: Saiba quais as coxinhas mais gostosas de SP; veja o ranking do Guia – Fragmento

        Uma dentada rompe a casquinha crocante. Um naco tenro de massa chega ao paladar. O bocado de frango desfiado e bem temperado aparece junto. Deleite na certa.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGQL6KLUgoYzivwgxb4Q2a_of58-U1wfs14KR4Rxak8DMjq_hdAe2qXSVuxSVzPoFyFiE9Bjck1rRnvbaE8qt63NoyOEP4sfGv95DhP31N_-WEwrXMkDzAt-Gb0bB7Dj53SRnsg9UK8UI2wrqey2ghSvTTZUraJNL7NPtc_aS_Fm2HWgKluPVfU9OYDqw/s320/COXINHA-FIT.jpg


        Essa profusão de sabores e texturas revela a coxinha perfeita.

        Completam os requisitos um modelado uniforme e uma fritura que não encharca o guardanapo.

        Apesar de aparentemente simples, acertar no salgado não é fácil. É por isso que, munido de bloquinho e caneta na mão –, o Guia saiu à caça das melhores coxinhas de São Paulo.

        Para a escolha dos locais testados (bares, lanchonetes e confeitarias), coletamos dicas de leigos e especialistas no assunto. A coxinha tinha de estar na boca do povo. [...]

        20º) [...] – Ruim.

        Ao contrário do salgado servido com Catupiry, a versão sem o queijo (R$ 3,90) estava dourada demais, com gosto de queimado na casca, ofuscando o sabor da massa. Vem com uma charmosa pontinha, que imita um osso de galinha. [...]

Saulo Yassuda. Guia Folha, 10 fev. 2012. Disponível em: http://guia.folha.com.br/guloseimas/1046653-saiba-quais-as-coxinhasmais-gostosas-de-sp-veja-o-ranking-do-guia.shtml. Acesso em: 20 abr. 2015.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Ensino Fundamental – Anos finais. São Paulo, 3ª edição, 2015. p. 252.

Entendendo a notícia:

01 – Quais são as três principais características de uma coxinha perfeita, segundo o texto?

      De acordo com o texto, a coxinha perfeita deve ter uma casquinha crocante, uma massa tenra e um recheio de frango desfiado e bem temperado.

02 – Além das características de sabor e textura, quais outros dois requisitos são mencionados para uma coxinha ideal?

      O texto também cita que uma coxinha ideal deve ter um modelado uniforme e uma fritura que não encharca o guardanapo.

03 – Qual foi a metodologia usada pelo Guia para encontrar os melhores lugares para comer coxinha?

      O Guia coletou dicas de leigos e especialistas para escolher os bares, lanchonetes e confeitarias que teriam as coxinhas mais populares e "na boca do povo".

04 – Descreva a coxinha que ficou em 20º lugar no ranking, segundo a crítica do Guia.

      A coxinha do 20º lugar foi considerada ruim. O texto diz que ela estava dourada demais, com gosto de queimado na casca, o que ofuscou o sabor da massa.

05 – Qual é a diferença entre as duas versões da coxinha do 20º lugar, e qual delas foi avaliada de forma negativa?

      Uma versão da coxinha vinha com Catupiry, enquanto a outra não. A versão sem o queijo foi a que recebeu a crítica negativa e foi classificada como ruim no ranking.

 

PIADA: O DESTINO SURPRESA - COM GABARITO

 Piada: O Destino Surpresa

        -- O sujeito estava chegando na rodoviária e viu o ônibus partindo naquele instante. Não teve dúvidas, ajeitou as malas nas costas e saiu em desabalada carreira atrás do ônibus. Correu mais de cinquenta quilômetros até conseguir alcançar o ônibus. Estava totalmente esfrangalhado, o sujeito. Sentou numa poltrona e comentou com o companheiro do lado:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPlXp5TEjEydL9mIxAO8v0E6c_lMbUWpW4IDws-R59ayBq1AX5AwdnMtYPib3gv7ksyeZ38dU7b-1Y9FQUMP5w1NIhtOHRuq1Z6i55wXnjvRkk8rwV-cPUdQKfO0EyXJ7l6Z6Dxa9qf-X_oSTGNY1EbKi0VsrTLq1Xt_NnTDnib43zQGGXdpjn7CTOPk0/s1600/ONIBUS.jpg


        -- Se eu perdesse este ônibus pra Bahia, só ia ter outro a semana que vem.

        Ao que o outro observou:

        -- Só que este aqui está indo para Porto Alegre! Tchê!​

As melhores piadas e anedotas da praça, nº 1. São Paulo, Green Editora, s/d.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 20.

Entendendo a piada:

01 – Qual foi a ação inicial do sujeito ao ver o ônibus partindo?

      Ao ver o ônibus saindo, o sujeito ajeitou as malas nas costas e saiu correndo desesperadamente atrás dele.

02 – Por quanto tempo ou distância o sujeito correu para alcançar o ônibus?

      Ele correu por mais de cinquenta quilômetros até conseguir alcançar o veículo.

03 – Qual era o destino que o sujeito acreditava que o ônibus estava indo?

      Ele pensou que o ônibus estava indo para a Bahia.

04 – Por que o sujeito estava tão determinado a não perder aquele ônibus?

      O sujeito estava tão determinado porque, segundo ele, se perdesse aquele, só teria outro ônibus para a Bahia na semana seguinte.

05 – Qual foi a revelação do outro passageiro que torna a situação cômica?

      O outro passageiro revelou que o ônibus que ele correu tanto para pegar não estava indo para a Bahia, mas sim para Porto Alegre.

 

CRÔNICA: O BANHO - FRAGMENTO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Crônica: O Banho – Fragmento

              Clarice Lispector

        [...]

        Antes estava fechada, opaca. Mas, quando me levan­tei, foi como se tivesse nascido da água. Saí molha­da, a roupa colada à pele, os cabelos brilhantes, sol­tos. Qualquer coisa agitava-se em mim e era certa­mente meu corpo apenas. Mas num doce milagre tudo se torna transparente e isso era certamente mi­nha alma também. Nesse instante eu estava verda­deiramente no meu interior e havia silêncio. Só que meu silêncio, compreendi, era um pedaço do silên­cio do campo. E eu não me sentia desamparada.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjozuBsQPF6oeMIukpkim4qkhBqmbIwk6Zh-tQtTzr5PPw7z5Oyyz03iy9OadlunsSvoeQ4njcSV325Uxztyu_s5hrOqFQ4N8umHXlbauzvFFvgORtRVWaQ05rDgfrsl3l7zfyI7xjx4k5djAqhqQ9FUObOSRaORSEEmI3Pve8ZuYMlHkXJk8eTieIcCl8/s320/nilo-amazonas-1.bx_.jpg 

O cavalo de onde eu caíra esperava-me junto ao rio. Montei-o e voei pelas encostas que a sombra já inva­dia e refrescava. Freei as rédeas, passei a mão pelo pescoço latejante e quente do animal. Continuei a passo lento, escutando dentro de mim a felicidade, alta e pura como um céu de verão. Alisei meus bra­ços, onde ainda escorria a água. Sentia o cavalo vivo perto de mim, uma continuação do meu corpo. Am­bos respirávamos palpitantes e novos. Uma cor maciamente sombria deitara-se sobre as campinas mor­nas do último sol e a brisa leve voava devagar. É preciso que eu não esqueça, pensei, que fui feliz, que estou sendo feliz mais do que se pode ser. Mas es­queci, sempre esqueci.

        Eu estava sentada na Catedral, numa espera distraída e vaga. Respirava opressa o perfume roxo e frio das imagens. E, subitamente, antes que pu­desse compreender o que se passava, como um cataclisma, o órgão invisível desabrochou em sons cheios, trêmulos e puros. Sem melodia, quase sem música, quase apenas vibração. As paredes compridas e as altas abóbadas da igreja recebiam as notas e devol­viam-nas sonoras, nuas e intensas. Elas transpassavam-me, entrecruzavam-se dentro de mim, enchiam meus nervos de estremecimentos, meu cérebro de sons. Eu não pensava pensamentos, porém música. Insensivelmente, sob o peso do cântico, escorreguei do banco, ajoelhei-me sem rezar, aniquilada. O órgão emudeceu com a mesma subitaneidade com que ini­ciara, como uma inspiração. Continuei respirando baixinho, o corpo vibrando ainda aos últimos sons que restavam no ar num zumbido quente e translú­cido. E era tão perfeito o momento que eu nada te­mia nem agradecia e não caí na ideia de Deus. Que­ro morrer agora, gritava alguma coisa dentro de mim liberta, mais do que sofrendo. Qualquer ins­tante que sucedesse àquele seria mais baixo e vazio. Queria subir e só a morte, como um fim, me daria o auge sem a queda. As pessoas se levantavam ao meu redor, movimentavam-se. Ergui-me, caminhei para a saída, frágil e pálida.

Clarice Lispector – Literatura comentada. São Paulo, Nova Cultural, 1988.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 8.

Entendendo a crônica:

01 – Como a narradora se sentia antes de tomar banho e como sua percepção de si mesma muda após o ato?

      Antes de tomar banho, a narradora se sentia "fechada, opaca". Após o banho, ela descreve um sentimento de renascimento, como se tivesse "nascido da água". Ela passa a se sentir mais conectada com o próprio corpo e com a natureza ao seu redor.

02 – Qual é a relação da narradora com a natureza após o banho, e o que o cavalo representa nesse momento?

      A narradora se sente em total sintonia com a natureza, percebendo seu silêncio como parte do silêncio do campo. O cavalo, do qual ela havia caído, a esperava e se torna uma "continuação do meu corpo", simbolizando a renovação e a sensação de liberdade.

03 – No segundo momento da crônica, o que acontece na Catedral que provoca uma reação intensa na narradora?

      Na Catedral, um órgão invisível começa a tocar de forma súbita, com sons cheios e vibrantes, que não se assemelhavam a uma melodia. Essa música a transpassa e a faz se ajoelhar, sentindo-se aniquilada e tomada por uma emoção avassaladora.

04 – Após a música na Catedral, qual é o desejo mais profundo da narradora e por que ela se sente assim?

      A narradora deseja morrer naquele exato momento, porque o instante era tão perfeito que qualquer outro momento que o sucedesse seria "mais baixo e vazio". A morte seria a única forma de preservar o auge daquela experiência sem ter que enfrentar a "queda" de volta à realidade comum.

05 – O texto apresenta duas experiências extremas: o banho na natureza e o som do órgão na Catedral. Qual é a emoção central que a narradora busca e que ambas as experiências, de certa forma, proporcionam?

      A emoção central que a narradora busca é a plenitude, um momento de felicidade e de conexão profunda consigo mesma e com o mundo. Tanto o banho quanto a música do órgão a levam a um estado de êxtase onde ela se sente completa, liberta e em perfeita sintonia, seja com a natureza ou com o sublime do som.