sexta-feira, 15 de agosto de 2025

POEMA CORDEL: 500 ANOS DE BRASIL - EM VERSOS DE CORDEL - JOSÉ FRANCISCO BORGES - COM GABARITO

 Poema Cordel: 500 anos de Brasil – Em versos de cordel

            José Francisco Borges

José Francisco Borges

Em abril de 1500

Quando Cabral ancorou

Na praia em Porto Seguro

Logo na terra pisou

Os índios logo cercaram

E ele assustou.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjFs_ha3OxNuUR9ljNcaOx49F0nl9cDcydWZkPseWHqoYmlVbwtok1YdTH2V5thLrVy2gc-rO9eVqm-jSdmXxLAhlAKAFdYjSqfV0Pf2GixX1H7KpY9XRPeDh291fh_4AgCCbZGvhpQMrBL07DRLCRe51YywolJkfsx8gQC6213eNvSGAtdjIXXwDbFhE/s320/bg1.png

Cabral disse aos índios

Estou cumprindo o meu papel

E eu vou provar que sou

Um forasteiro fiel

Vou mandar ler pra vocês

Uma história de cordel.

 

Os índios ao ouvir gostaram

Num tom alegre e sutil

Não precisou usar armas

A 22 de abril

Do ano de 1500

Foi descoberto o Brasil.

 

E daí continuou

A história deste país

Veio lá de Portugal

A primeira diretriz

Que até a independência

Bem poucos foram feliz.

 

O Brasil era na época

Um reino da natureza

Montanha e água limpa

Índio em sua fortaleza

As águas limpas espumando

No topo da correnteza.

 

Depois que eles voltaram

Quando chegaram em Lisboa

Disseram ao seu rei

A viagem não foi à toa

Descobrimos um país

Uma terra fértil e boa.

 

E o rei logo em seguida

Uma equipe escolheu

Para habitar as terras

sobre o domínio seu

Vieram homem e mulher

Com ordens que o rei lhes deu.

 

E todos desembarcaram

Ao chegarem na Bahia

Reinava uma esperança

De serem felizes um dia

E todos foram separados

Pra cada capitania.

 

E logo mais começou

A grande explosão

De todo minério

Prata, ouro e carvão

E todas pedras preciosas

Que havia no chão.

 

O Brasil nasceu na Bahia

Lá mesmo em Porto Seguro

E levou centenas de anos

Pra ter brasileiro puro

E os primeiros protestos

Pra melhorar o futuro.

 

O Brasil passou a ter

O domínio dos portugueses

Depois veio os espanhóis

Os alemães e ingleses

E ainda sofremos de guerra

Na invasão dos holandeses.

 

Foi mais de 300 anos

Pra vir a independência

Os brasileiros lutando

Com força e com paciência

E ainda hoje se sofre

Desses tempos a influência.

 

Falando em melhoramento

Veio a nós a ferrovia

Que transportava o minério

Gente e mercadoria

No tempo que os escravos

Sonhavam com alforria.

 

O grande Joaquim Nabuco

E a princesa Isabel

Em 1888

Vendo o sofrer cruel

Libertaram os escravos

Daquela taça de fel.

 

Depois que muitos morreram

Lutando por liberdade

A proclamação da república

Foi a grande novidade

Veio a democracia

O símbolo da igualdade.

 

E foi aí que começou

Ganância pelo poder

Os homens mais influentes

Querendo se eleger

Prometendo ao eleitor

O que não pode fazer.

 

Com o poder do voto livre

Houve grandes estadistas

Em 1930

Getúlio entre os otimistas

se elegeu presidente

lançou as leis trabalhistas.

 

Acabou com a anarquia

Com cartéis e com ladrão

Trouxe várias indústrias

Pra melhora da nação

Acabou o cangaceirismo

Que assombrava o sertão.

 

Construiu mais ferrovia

E estrada de rodagem

Fechou câmaras e senado

Acabou a malandragem

E sua história política

Merece nossa homenagem.

 

Outro grande personagem

O presidente Juscelino

Que construiu Brasília

Da onde sai o destino

desta imensa nação

do sul ao solo nordestino.

 

O grande Tancredo Neves

Que lutou pelas diretas

Defendendo os brasileiros

De todas horas incertas

Morreu pela democracia

Deixando as portas abertas.

 

Num colégio eleitoral

Foi desfeita a ditadura

Elegeram José Sarney

Ele honrou sua figura

Protegendo o artesão

O artista e a cultura.

 

Depois dele vieram outros

Desfazer o que ele fez

Durante suas gestões

Artista não teve vez

E ajuda para cultura

Pode vir, mas é talvez.

 

Apesar de muitas coisas

Mas inda dou atenção

Ao presidente atual

Que dirige esta nação

porque ele foi herói

Acabando a inflação.

 

Lançou o plano real

Enfrentando o precipício

Mas trouxe muita alegria

Para o povo no início

Mas agora o desemprego

Vem trazendo o sacrifício.

 

Aqui eu vou encerrando

Estes versinhos que fiz

Dando toques na história

Desse imenso país

Que ainda está muito longe

Para o povo ser feliz.

 

Cuidamos em belas ações

Cuidamos de trabalhar

Cuidamos de ser honestos

Cuidamos de estudar

Trabalho, estudo e cultura

Faz o Brasil avançar.

 

Neste ano de 2000

A 22 de abril

É o grande aniversário

deste torrão varonil

Brindamos 500 anos

Do nosso amado Brasil.

Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 154-155.

Entendendo o poema:

01 – Como o cordel descreve o primeiro contato de Cabral com os índios em Porto Seguro?

      O cordel descreve que, em abril de 1500, Cabral ancorou em Porto Seguro e os índios o cercaram, assustando-o. Para se apresentar como um "forasteiro fiel", Cabral "mandou ler pra vocês / Uma história de cordel", o que agradou aos índios e evitou o uso de armas.

02 – Qual era a principal característica do Brasil na época da chegada dos portugueses, segundo o poema?

      O poema descreve o Brasil daquela época como "Um reino da natureza", com "Montanha e água limpa", e os "Índio em sua fortaleza", sugerindo uma terra intocada e rica em recursos naturais.

03 – Após a volta dos portugueses a Lisboa, qual foi a decisão do rei de Portugal em relação às terras descobertas?

      Ao saberem da "terra fértil e boa", o rei de Portugal logo em seguida escolheu uma equipe de homens e mulheres para habitar as terras sob seu domínio, que desembarcaram na Bahia e foram separados para cada capitania.

04 – Que tipo de riquezas naturais foram exploradas no Brasil logo após a colonização, de acordo com o cordel?

      O cordel menciona uma "grande explosão" de minérios como "Prata, ouro e carvão", e "todas pedras preciosas / Que havia no chão", indicando a vasta riqueza mineral explorada.

05 – Além dos portugueses, que outras nacionalidades o poema menciona como tendo tido domínio ou envolvimento em guerras no Brasil?

      O poema cita, além dos portugueses, os espanhóis, alemães e ingleses como tendo domínio ou influência, e destaca a invasão dos holandeses como um período de guerra.

06 – Quais são os personagens históricos mencionados pelo cordel como importantes na luta pela abolição da escravatura e em que ano a abolição é citada?

      O cordel menciona o "grande Joaquim Nabuco / E a princesa Isabel" como figuras que, "em 1888", "Libertaram os escravos / Daquela taça de fel".

07 – De que forma o cordel caracteriza o período pós-proclamação da República em relação à política?

      O poema descreve que, com a República, começou a "Ganância pelo poder", com "homens mais influentes / Querendo se eleger" e "Prometendo ao eleitor / O que não pode fazer", evidenciando a corrupção e a falta de compromisso político.

08 – Quais foram as principais realizações de Getúlio Vargas, segundo o poema?

      O cordel credita a Getúlio Vargas, eleito em 1930, o lançamento das leis trabalhistas, o fim da "anarquia", "cartéis" e "ladrão", a atração de várias indústrias e o fim do cangaceirismo. Além disso, menciona a construção de ferrovias e estradas de rodagem, e o fechamento de câmaras e senado.

09 – Que feito marcante de Juscelino Kubitschek é destacado no cordel?

      O cordel destaca a construção de Brasília como o grande feito do presidente Juscelino Kubitschek, a cidade de onde "sai o destino / desta imensa nação".

10 – Com que tom o autor encerra o cordel em relação ao futuro do Brasil e quais conselhos ele oferece para o avanço do país?

      O autor encerra o cordel com um tom de ceticismo sobre a felicidade do povo, afirmando que o país "ainda está muito longe / Para o povo ser feliz". No entanto, ele oferece conselhos para o avanço do Brasil: "Cuidamos em belas ações / Cuidamos de trabalhar / Cuidamos de ser honestos / Cuidamos de estudar", resumindo em "Trabalho, estudo e cultura" como pilares para o progresso.

 

 

POEMA: HAI-AIS CLIMA - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

 Poema: Hai-Kais clima

             Paulo Leminski

Choveu

Na carta que você mandou

Quem mandou?

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIKikOhlrZfTnkGSaGxntsrGPSnfoSHb5qCgiYOP5YZTLEcF0i6asK-dMXx1a9jArKpGF0AQD2pFBWh0Rlr1pTlADKjf8yqSPn4Rnn9ty4WeODhNfyu8KgfBRs2WNPHL_VJl5EU-IDOCpB4Mpfa3EW6z5GrLnrUB0F9DqoafSPmoMwt4bAw81NtISF49Y/s320/91jUYa4TREL._UF894,1000_QL80_.jpg

Ano novo

Anos buscando

Um ânimo novo

 

Tudo dito.

Nada feito,

Fito e deito

 

Primeiro frio do ano

Fui feliz

Se não me engano

 

Cortinas de seda

O vento entra

sem pedir licença

 

Por um fio

O fio foi-se

O fio da foice.

Paulo Leminski.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 202.

Entendendo o poema:

01 – No primeiro hai-kai, "Choveu / Na carta que você mandou / Quem mandou?", qual é o jogo de palavras e o possível sentido poético?

      O jogo de palavras está na repetição sonora de "mandou" e "Quem mandou?". O sentido poético pode ser a incerteza sobre a origem da carta ou a dúvida sobre a intenção de quem a enviou, mesmo que a chuva na carta traga um elemento de melancolia ou mistério.

02 – Qual é a busca expressa no hai-kai "Ano novo / Anos buscando / Um ânimo novo"?

      O hai-kai expressa uma busca contínua por renovação e motivação ("ânimo novo") a cada "ano novo", sugerindo que essa busca é um processo que se estende por "anos" e talvez nunca seja totalmente concretizada.

03 – O que a sequência de ações "Tudo dito. / Nada feito, / Fito e deito" sugere sobre a experiência do eu lírico?

      A sequência sugere uma sensação de inação e resignação. Apesar de tudo ter sido falado ou expressado ("Tudo dito"), nada foi realizado ("Nada feito"), levando o eu lírico a uma atitude de passividade: apenas observar ("Fito") e desistir ("e deito").

04 – No hai-kai "Primeiro frio do ano / Fui feliz / Se não me engano", qual é o sentimento predominante e a incerteza que o acompanha?

      O sentimento predominante é a felicidade, associada a um momento específico (o "Primeiro frio do ano"). A incerteza expressa por "Se não me engano" adiciona um toque de melancolia ou questionamento à lembrança, talvez indicando que a felicidade é algo efêmero ou difícil de reter com clareza.

05 – O que o último hai-kai, "Por um fio / O fio foi-se / O fio da foice", representa simbolicamente?

      Simbolicamente, o hai-kai representa a fragilidade da vida ou de uma situação ("Por um fio") que se rompe inesperadamente ("O fio foi-se"), culminando em uma imagem de perigo ou morte ("O fio da foice"). A foice, instrumento de corte, intensifica a ideia de um fim abrupto ou de uma ameaça iminente.

 

NOTÍCIA: A ORIGEM DO SAMBA - ARTE EM INTERAÇÃO - COM GABARITO

 Notícia: A origem do Samba

        O Samba é a manifestação artística de origem popular mais conhecida como tipicamente brasileira. Hoje em dia existem vários gêneros e subgêneros relacionados a ele, que variam de acordo com a instrumentação, temas das letras, entre outros fatores. É muito associado ao carnaval e ao Rio de Janeiro, de onde muitos estudiosos acreditam que tenha nascido, da mistura de vários gêneros de caráter popular, entre eles o Samba de Roda. Essa prática, originária da Bahia, teria sido levada para o Rio de Janeiro. Há registros dessa prática desde metade do século XIX no Recôncavo Baiano, onde ainda é praticado. O samba de roda, que mistura música e dança, possui relações com outras manifestações de influência africana, como o candomblé, a capoeira e o maculelê, e pode acontecer em datas comemorativas ou simplesmente como um evento de diversão e lazer da vida cotidiana.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8iOq0Dfv1LDxQgay6Rq9yJxI7XgEOk4CqeTSI62lw9EoIlCrDQThE8e0M9Co7_VU8pvfD4bviH1840ar9yuSqneiLijgYIaj2CuOhbVfD-Xd0hOVHUVG6WgHEuNdBsLtvXlAsZ0WRxCWasYHadx4uiig0vvGUO41Ik8uxq2zKkok03NBWQAJicudVnl0/s320/img_tira_duvidas_5621_1.jpg


        A organização em roda remete às celebrações comuns em vários locais de origem dos africanos que vieram para o Brasil. Mesmo escravizados, eles encontraram formas de se divertir e relembrar sua terra natal, misturando assim influências africanas com as europeias, tais como o uso da viola e do pandeiro, ou da língua portuguesa nas canções.

        No samba de roda, quem costuma tocar os instrumentos são os homens, e as mulheres dançam e acompanham com palmas. Mas elas também podem cantar e tocar instrumentos, e os homens podem sambar, não é uma regra rígida. Os instrumentos mais comuns utilizados são: atabaque, ganzá, pandeiro, viola e o “prato e faca”, que é um prato tocado com uma faca como um reco-reco, raspando o objeto na borda do prato. Muitas das canções do samba de roda são de domínio público (de livre uso comercial), e várias delas de autoria desconhecida.

        Em alguns tipos de samba de roda, várias pessoas dançam no centro ao mesmo tempo, em outros, uma só samba, e depois passa a vez outra pessoa. As sambadeiras costumam usar a vestimenta tradicional de baiana, originária dos terreiros de candomblé. Elas dançam o passo miudinho, em que movem os pés com passos curtos e, consequentemente, requebram o quadril.

        O samba de roda foi registrado pelo IPHAN como patrimônio cultural imaterial, em 2004, e como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, em 2005.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 71-72.

Entendendo a notícia:

01 – De acordo com o texto, qual é a origem mais aceita para o Samba e com o que ele é frequentemente associado?

A. São Paulo, com forte influência do chorinho.

B. Bahia, com raízes no frevo.

C. O Rio de Janeiro, associado ao futebol.

D. O Rio de Janeiro, da mistura de vários gêneros de caráter popular, incluindo o Samba de Roda.

02 – O Samba de Roda, que teria sido levado para o Rio de Janeiro, é originário de qual estado brasileiro e desde quando há registros de sua prática?

A. Rio de Janeiro, levada por imigrantes europeus.

B. Minas Gerais, no início do século XX.

C. Pernambuco, no século XVIII.

D. Bahia (Recôncavo Baiano), com registros desde metade do século XIX.

03 – Com quais outras manifestações culturais o samba de roda possui relações, conforme o texto?

A. Com outras manifestações de influência africana, como o candomblé, a capoeira e o maculelê.

B. Com festas juninas e quadrilhas.

C. Apenas com eventos de lazer e diversão da vida cotidiana.

D. Com manifestações indígenas, como a dança da chuva.

04 – Como as influências africanas e europeias se misturaram na cultura do samba, segundo o texto?

 A. Somente com elementos nativos brasileiros, como o uso do berimbau.

B. Apenas com influências europeias, sem mistura.

C. Exclusivamente com tradições africanas, sem elementos externos.

D. Com influências africanas e europeias, como o uso da viola e do pandeiro, ou da língua portuguesa nas canções.

05 – Quais são os instrumentos mais comuns utilizados no samba de roda, de acordo com o texto?

A. Cavaquinho e bandolim.

B. Atabaque, ganzá, pandeiro, viola e o “prato e faca”.

C. Flauta e violino.

D. Guitarra e bateria.

06 – Como as "sambadeiras" costumam se vestir e qual é o estilo de dança que elas praticam no samba de roda?

A. Usam fantasias de carnaval e dançam em coreografias ensaiadas.

B. Usam a vestimenta tradicional de baiana e dançam o passo miudinho, requebrando o quadril.

C. Vestem roupas de gala e dançam passos complexos de salão.

D. Vestem roupas esportivas e dançam acrobaticamente.

07 – De que forma o samba de roda foi reconhecido como patrimônio cultural, e por quais organizações e em que anos?

A. Foi registrado apenas como patrimônio cultural imaterial pela UNESCO em 2004.

B. Foi reconhecido apenas como patrimônio material pelo IPHAN em 2005.

C. Não possui nenhum registro oficial de patrimônio cultural.

D. Foi registrado pelo IPHAN como patrimônio cultural imaterial em 2004 e como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2005.

 

NOTÍCA: CHOCOLATE - MARCELO DUARTE - COM GABARITO

 Notícia: Chocolate

             Marcelo Duarte 

        Quando aportou no México, em 1519, o conquistador espanhol Hernán Cortés teve uma grande surpresa. Em vez de ser recebido por hostes de soldados astecas, prontos a defender seu território, ele foi coberto de presentes, oferecidos pelo imperador Montezuma. Para os nativos, Cortés era ninguém menos que Quetzalcóatl, o deus dourado do ar que segundo a lenda partira anos antes, prometendo voltar algum dia. De acordo com a crença, Quetzalcóatl havia plantado cacaueiros como uma dádiva aos imperadores. Com a semente extraída da planta, acrescida de mel e baunilha, os astecas confeccionavam uma bebida considerada sagrada, o tchocolatl. Para o povo asteca, o ouro e a prata valiam menos que as sementes de cacau – a moeda da época. Dez sementes compravam um coelho; cem, uma escrava.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0Xe1QHRrFcA-dhtlUTH9xfrW4UfWrMRfp4f2HXBpVkazsYMQe4AgHpA5NguPSDizMoA2ScFtOCY57ulAnfE2WJs79pKtuxg3jiB5IV2ltiakxhKci-jeIBhcNx4qOzSbIXP1W_CU6oaf9XBUC8-dWSjtx4chL4Quu2p21C351-6R3G0eu7dZfa8jrQ28/s1600/images.jpg


        De volta à Espanha, em 1528, Cortés levou consigo algumas mudas de cacaueiro, que resolveu plantar pelo caminho. Primeiro no Caribe – no Haiti e em Trinidad – e, depois, na África. Chegando à Europa, ofereceu a Carlos V um pouco da bebida sagrada asteca, o bastante para que o rei da Espanha ficasse extasiado. Não tardou para que o tchocolatl se tornasse apreciado por toda a corte. Graças às plantações iniciadas por Cortés, seu país pôde manter o monopólio do produto por mais de um século. A receita, aprimorada com outros ingredientes (açúcar, vinho e amêndoas), era guardada em segredo pelos zelosos espanhóis. Apenas mosteiros previamente escolhidos eram autorizados a produzir o tchocolatl, já com o nome espanhol chocolate. Pouco a pouco, porém, os monges passaram a distribuí-lo entre os fiéis.

        O chocolate era uma pasta espessa e de gosto amargo, apesar do açúcar que lhe haviam adicionado os espanhóis. Foi justamente para amenizar a inconveniência da massa granulada, difícil de digerir, que o químico holandês Conraad Johannes van Houten começou a se interessar por um novo método de moagem das sementes. Em 1828, van Houten inventou uma prensa capaz de eliminar boa parte da gordura do vegetal. Como resultado, obteve o chocolate em pó, solúvel em água ou leite e, consequentemente, mais suave e agradável ao paladar.

        Mas isso não era tudo. Faltava saber o que fazer com a gordura sólida que sobrava na prensagem. A resposta seria dada somente vinte anos depois, pela firma inglesa Fry & Sons. Os técnicos da indústria adicionaram pasta de cacau e açúcar à massa gordurosa e confeccionaram a primeira barra de chocolate do mundo – tão amarga, porém, quanto a bebida que lhe deu origem. Tempos depois, o suíço Henri Nestlé (1814-1890) contribuiu para que o doce começasse a se parecer com os tabletes de hoje. De uma de suas experiências resultou um método de condensação do leite, processo até então desconhecido, que seria utilizado em seguida por outro suíço, Daniel Peter (1836-1919). Fabricante de velas de sebo, Peter passou a se interessar pela produção de chocolates quando percebeu que o uso do petróleo para iluminação estava, aos poucos, minando sua fonte de renda. Por sorte, ele morava no mesmo quarteirão de Nestlé e, ao ficar sabendo de sua descoberta, ocorreu-lhe misturar o leite condensado para fazer a primeira barra de chocolate ao leite.

Marcelo Duarte. O livro das invenções. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 65-66.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 230.

Entendendo a notícia:

01 – Como o conquistador espanhol Hernán Cortés foi recebido pelos astecas no México e por quê?

      Hernán Cortés foi recebido com uma grande surpresa e coberto de presentes pelo imperador Montezuma. Os astecas o consideravam Quetzalcóatl, o deus dourado do ar que, segundo a lenda, havia prometido retornar.

02 – Qual era o valor das sementes de cacau para o povo asteca e como elas eram utilizadas?

      Para os astecas, as sementes de cacau valiam mais que ouro e prata, funcionando como moeda da época (dez sementes compravam um coelho; cem, uma escrava). Eles as utilizavam para confeccionar uma bebida sagrada, o tchocolatl, feita com sementes de cacau, mel e baunilha.

03 – Como a Espanha conseguiu manter o monopólio do chocolate por mais de um século na Europa?

      A Espanha manteve o monopólio graças às plantações iniciadas por Cortés (no Caribe e na África) e ao segredo da receita, aprimorada com açúcar, vinho e amêndoas, que era guardada pelos espanhóis e produzida apenas por mosteiros autorizados.

04 – Qual foi a contribuição do químico holandês Conraad Johannes van Houten para a produção de chocolate?

      Em 1828, van Houten inventou uma prensa capaz de eliminar boa parte da gordura das sementes de cacau. Isso resultou na obtenção do chocolate em pó, que era solúvel em água ou leite, tornando a bebida mais suave e agradável ao paladar.

05 – Quem foi o responsável pela criação da primeira barra de chocolate ao leite e como ele chegou a essa inovação?

      A primeira barra de chocolate ao leite foi criada por Daniel Peter, um suíço que era fabricante de velas de sebo. Ele se interessou pela produção de chocolates quando percebeu que seu negócio estava em declínio. Morando no mesmo quarteirão que Henri Nestlé, Peter soube da descoberta do leite condensado por Nestlé e teve a ideia de misturá-lo à pasta de cacau e açúcar para criar a barra de chocolate ao leite.

 

 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

ENTREVISTA: SCOTT WEEMS - FRAGMENTO - VEJA - ABRIL - COM GABARITO

 Entrevista: Scott Weems – Fragmento

        “O riso é tão importante para nossa vida quanto a inteligência ou a criatividade”

        Rir nos torna mais inteligentes, criativos e saudáveis, segundo o neurocientista cognitivo Scott Weems. Nesta entrevista, ele conta como isso acontece e explica de que maneira algumas gargalhadas revelam crenças e preconceitos e oferecem soluções inéditas para nossos problemas.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEQefxug9Ar56e628I2u2MiPTrGP1hPK7IYq9c3CSIPv9vLaZ4IoONcmgoqeotmotWxI22uugpdxT-VMTSBADTyGQ8O6fFvQPU7ktH8upJ54vYc6WwoWcz1TvqT3GSFLv_xp8CsNyrXoTM11EylY8djuJHy84D1PyhqnAwlEQKeuM61_8fhXYGvjdmf98/s320/bg2.png


        [...]

        Analisando a piada

        Em suas pesquisas, Weems descobriu que o humor é o segredo de pessoas inteligentes e criativas para suas associações rápidas e inesperadas. [...]. Nesta entrevista site da Veja, Weems explica por que não levamos o humor a sério e conta como piadas e anedotas são a chave para atingir pensamentos sofisticados e nos tornar mais saudáveis e criativos. [...]

        Por que costumamos explodir em risadas frente a situações constrangedoras? 

        Nossa mente transforma ambiguidade e confusão em prazer. O cérebro é lugar cheio de conexões e ideias competindo por atenção. Isso nos leva a raciocinar, mas também traz conflito, pois às vezes temos duas ou mais ideias inconsistentes sobre o mesmo assunto. Quando isso acontece, nosso cérebro só tem uma coisa a fazer: rir.

        E isso resolve alguma coisa? 

        Gostamos de trabalhar em meio a essa confusão e rimos quando chegamos a uma solução. O humor traz respostas súbitas, que chegam por vias diferentes do pensamento lógico e analítico. Cada vez que rimos de uma piada é como se tivéssemos um pequeno insight, pois pensamos algo inédito. E isso só dá certo porque o processo nos alegra — uma mente entediada é uma mente sem humor.

        [...].

Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/o-riso-e-tao-importante-para-nossa-vid-quanto-a-inteligencia-ou-a-criatividade. Acesso em:26 fev. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 7º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 313-314.

Entendendo a entrevista:

01 – Qual é a principal afirmação de Scott Weems sobre o riso em relação a outras qualidades humanas?

      Para Scott Weems, o riso é tão fundamental para a vida quanto a inteligência ou a criatividade. Ele defende que rir nos torna mais inteligentes, criativos e saudáveis.

02 – Como o humor se relaciona com a inteligência e a criatividade, de acordo com as pesquisas de Weems?

      Em suas pesquisas, Weems descobriu que o humor é o segredo de pessoas inteligentes e criativas para suas associações rápidas e inesperadas, sendo a chave para atingir pensamentos sofisticados.

03 – Por que, segundo Weems, costumamos rir diante de situações constrangedoras?

      Nossa mente transforma ambiguidade e confusão em prazer. Quando o cérebro lida com ideias inconsistentes sobre o mesmo assunto, a única coisa que ele pode fazer é rir.

04 – O riso é capaz de resolver problemas? Se sim, como?

      Sim, o riso pode resolver problemas. O humor traz respostas súbitas que chegam por vias diferentes do pensamento lógico e analítico. Cada vez que rimos de uma piada, é como ter um pequeno insight, pois pensamos algo inédito.

05 – Qual a importância da alegria no processo de resolução de problemas através do humor?

      A alegria é crucial porque o processo de chegar a uma solução através do humor nos alegra. Uma mente entediada é, segundo Weems, uma mente sem humor, o que sugere que o prazer é um catalisador para esses insights.

 

ENTREVISTA: CAETANO VELOSO - CONCEDIDA A MONIQUE DEHEINZELIN - COM GABARITO

 Entrevista: Caetano Veloso

 

        Monique — Caetano, a ideia central desta proposta de educação infantil — tratada no livro “A fome com a vontade de comer” — é que as transformações têm a chave do saber e que essas transformações se dão quando existe uma interação entre o que a pessoa é, o que ela sabe, os seus conhecimentos prévios, e aquilo que é ensinado a ela. Essa é a função da escola, ensinar algumas coisas para as pessoas, não é? Aqui no estado da Bahia a gente tem uma diversidade enorme de modos de vida e cultura, e essa diversidade está, me parece, mais fundada atualmente nas coisas de uma cultura popular que se mantém pela preservação das tradições, do que uma cultura popular que se transforma. Algumas pessoas acreditam que não se pode, ao mesmo tempo, ser um ouvinte de rock and roll e preservar a tradição dos ternos de Reis, por exemplo. Como é que você vê essa questão, dessa diversidade do estado em relação a essa questão da cultura popular e daquilo que pode ser trazido como contribuição pela educação? Eu fico pensando que educação é exatamente o lugar de acesso ao conhecimento, aos bens culturais que são daquele lugar, mas que também dão acesso às pessoas que são daquele lugar a qualquer outra coisa, de qualquer outro lugar do mundo. Como é que você vê essa questão?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6UqYzdjwoxZBiAnmYlv0CsVl1huefg_Aj6tGtQ5EHvllZzqUG_uJ2XI5cmv2h1cFez26E0kSDIc7-Eh2nv3vWTD7HcAcDOao-aOA2kJgsLWfL1nwk5IrPDdpqxV5rnME-Vqdfqq4q-KQQVGgJIx4Ax0ujtG-G4nzysaOlerIB3aQxHmWBV3u_e3QsoH0/s320/Caetano_Veloso.jpg


        Caetano — Bom, até onde a minha cabeça pode chegar, eu concordo sobretudo com a sua conclusão, esta última parte do que você falou, o conhecimento local como meio de acesso para o conhecimento universal, não sendo uma defesa contra o contato com o conhecimento exterior àquela área, mas como na verdade uma instrumentação maior para você entrar em contato, para fazer conexões com os outros círculos de saber, eu concordo sobretudo com isso. Quando você menciona a posição de algumas pessoas que creem que o fato de as pessoas ouvirem rock and roll impede que elas mantenham contato com tradições como um terno de Reis, ou um samba de roda, que essas coisas não podem conviver, eu tenho a experiência pessoal que essas coisas convivem. Agora, não sei por quanto tempo, nem em que termos, qual dessas duas expressões culturais, digamos o rock and roll e o samba de roda, vai ser dominante, ou estar mais ligada ao futuro das pessoas que participam dela e qual a que ficaria com apenas um resíduo do passado; se é assim que o rock and roll e o samba de roda se contrapõem em sociedades onde essas duas coisas podem conviver, ou se pelo contrário uma ou outra coisa vai nascer da audição de rock and roll por pessoas que cresceram praticando samba de roda e que não deixaram, por ouvir rock and roll, ou fox-trot, ou boleros mexicanos, ou tangos, não deixaram de praticar samba de roda. É o caso do Recôncavo da Bahia: em Santo Amaro, por exemplo, o samba de roda continua sendo uma prática normal, não uma prática assim programada por grupos de preservação do folclore: é uma prática normal. Quando tem uma festa na minha casa em Santo Amaro, tem samba de roda, e assim em muitas outras casas em Santo Amaro.

        Monique — Pois é exatamente isso, e você eu acho que é um excelente exemplo que responde essa questão, porque você traz, conserva no sentido de guardar, todas essas tradições e ao mesmo tempo cria sempre novas coisas. Mas você foi uma pessoa que teve dentro de casa uma situação muito especial, de acesso a uma série de informações sobre o mundo. Quando você diz que lia a revista Senhor, ou que você tinha uma professora de português que te sugeriu a leitura de poemas de João Cabral de Melo Neto, isso deu a você possibilidades, que talvez você não tivesse, se permanecesse na situação estrita do samba de roda.

        Caetano — É claro.

        Monique — Então o que eu acho é que a escola é o lugar de acesso ao João Cabral, ao que é o existencialismo...

        Caetano — É, eu acho.

        Monique — Enfim, que a escola é o lugar...

        Caetano — A escola é o lugar de acesso democrático ao conhecimento universal, quer dizer, que tem valor em qualquer lugar. Agora, eu não sei o que é que preocupa você propriamente nisso. Essa definição me parece muito boa, e a sua posição me parece boa e nesse exemplo do rock and roll com as coisas tradicionais eu pude falar alguma coisa. Em trechos da sua conversa eu poderia ter pensado em alguma outra coisa, mas não sei assim no todo o que é que preocupa você, o que é que une essas coisas todas.

        Monique — É o seguinte: a chamada educação tradicional, que vem sendo revista e criticada, ela dava acesso aos bens culturais, não é? Então, quando você diz "para a escola pública eu ia, não só porque em casa não teríamos condições de ir a outra...

        Caetano — Porque eram melhores, é.

        Monique — ...mas porque era a melhor que tinha". A escola pública ensinava os objetos do conhecimento, os elementos da cultura. Houve, nos últimos 25 anos, um movimento de crítica à escola tradicional no que se refere ao comportamento, às normas, de ser uma escola muito restritiva, de propor uma aprendizagem mecânica, repetitiva. Essa crítica, me parece, tem sua razão de ser por aí. Mas foi uma crítica que fez com que muitos educadores passassem a descartar o ensino intencional dos objetos de conhecimento. Assim, a escola chamada nova, renovada, ela não tem a intenção de transmitir o conhecimento. Então, você tem crianças que podem ser muito espontâneas, muito criativas, muito alegres...

        Caetano — ...e pouco informadas, é.

        Monique — ...mas muito pouco informadas! E paralelamente a isso houve um movimento de recuperação da cultura local, uma intenção de trabalhar a partir das realidades dos sujeitos. Propõe-se então um trabalho gerado pelos interesses dos alunos, por temas geradores vinculados a determinados modos de vida e cultura das pessoas envolvidas. Essa forma de trabalho pedagógico é extremamente interessante, mas existe a ideia que só se pode trabalhar a partir desses elementos. Então, a rigor, aqui no estado da Bahia, o pessoal do Recôncavo só teria acesso à cultura local, o do sertão idem, e assim por diante. O que me preocupa é que dessa forma a escola não seja o lugar de acesso democrático ao conhecimento, que haja uma intenção, consciente ou não, de impedir esse acesso.

        Caetano — É uma reação contra a verdadeira democratização do conhecimento, da educação, da própria alfabetização no Brasil. Agora, pelo que você está dizendo aí, essa reação se mostra como uma atitude mais ou menos consciente, em pessoas que nos querem preservar a injustiça social que é muito gritante no Brasil. Por outro lado, pessoas de muito boas intenções terminam contribuindo para isso também, não é, com a ideia de renovação da escola e de uma educação mais espontaneísta, isto é, com menos conhecimento do que seja disciplina. Eu tive uma experiência pessoal que talvez lhe sirva um pouco. Quando Moreno, meu filho mais velho foi se matricular numa escola do Rio, ele saiu de uma escola primária e foi para um ginásio. Então eu fui na reunião de pais e mestres, a primeira para a entrada dos alunos. Os professores explicando como era a escola, davam muita ênfase à diferença entre o que eles faziam nessa escola e o que as escolas tradicionais faziam. Eles demonstravam — o diretor e algumas professoras enfatizavam muito o fato de que eles faziam do aprendizado uma coisa muito agradável, divertida, que aquela ideia que estudar era uma coisa maçante, difícil, era ultrapassada, era uma ideia antiga. Eu acompanhava com simpatia aquilo, mas cresceu demais nessa direção e todos, os professores e os pais, pareciam concordar que a escola deveria ser algo agradável, divertida e atraente para a criança. Eu não discordava disso, mas comecei a temer que estivesse faltando ali uma noção de disciplina. Aí eu me levantei e disse assim: "eu fico um pouco preocupado porque tenho a impressão que vocês estão querendo negar que alguma coisa no ensino e no estudo, e tem que ser chata". Eles ficaram um pouco chocados e as pessoas também, alguns pais. Moreno ficou até meio duvidoso, ele estava com onze anos de idade, dez para onze anos, e veio falar comigo: "pai, algumas pessoas falaram que você foi careta na reunião", ... e eu contei a ele...

        Monique — É muito difícil você procurar conhecer as coisas, custa muito esforço, não é? Não tem outro jeito e é bom que seja assim...

        Caetano — Não, eu disse o seguinte: "para vocês, disciplina tem um aspecto que tem que ser maçante? Em algum momento a escola dá ideia de disciplina? Estou falando assim até por ciúme, porque não quero que meu filho ache que a escola é mais divertida do que o parque de diversão e nem mais amorosa do que a minha casa. A escola é uma outra coisa na vida dele, não pode ser tão amorosa quanto os pais e tão divertida quanto o Tivoli Park! Eu acho que justamente na escola é que deve haver alguma coisa onde... em casa também se aprende isso, mas na escola sobretudo, onde se aprende mais que você tem que passar por coisas em princípio maçantes para chegar a ter capacidade de ter prazeres superiores". Eu disse assim, "até pra tocar pandeiro, que é uma coisa muito difícil", e ficaram aqueles professores me olhando, "tocar pandeiro é uma das coisas mais difíceis que existem? Então, você vê um cara tocando pandeiro, se divertindo na esquina, se ele está tocando bem, o que ele passou de maçada, para chegar àquela técnica mínima de tocar pandeiro, de treinamento, de autodisciplina, é incomensurável; é isso que vocês devem ensinar na escola, mais do que a criança ser espontânea ou a escola ser divertida". É claro que quanto mais divertida a escola puder ser, melhor, quanto mais atraente, mais amorosa, melhor, quanto menos repressiva precise ser, melhor. Porém, que não se perca de vista que a escola é que deve ensinar pessoas a aceitar o lado chato da vida, entendeu? É o lugar, de todos os lugares onde uma criança vai, frequentemente, até crescer, onde mais se deve ensinar como enfrentar o chato, ou seja, ficar horas diante de um livro estudando, obedecer ordens, ter tarefas a cumprir, tarefas que são difíceis, que ele deve treinar para ser capaz de executar, isso de alguma forma, em algum momento é, ou tem que ser, ou parecer chato para a criança e a escola tem que reconhecer que é também o seu papel, não é? Então a escola tradicional que era repetitiva e repressiva, que tinha hipertrofiado, digamos assim, mas tinha isso, não é? A escola deve ensinar a estudar também, não apenas ensinar o que já é sabido. Eu acho que deve, eu estou dizendo isso como opinião de um pai que viu essa questão no processo de educação do filho, na minha história com Moreno nessa escola. Onde aliás ele se deu até bem, aprendeu até algumas coisas, mas era toda uma série de negações das repressões e da disciplina sem uma nova formulação da ideia de disciplina, entendeu? Agora, não sei se já é a sua segunda pergunta, mas saiu um pouco da primeira. Porque a primeira era mais essa questão da área cultural e acesso à cultura universal. Mas eu acho que você tem a resposta melhor. A formulação conclusiva da sua pergunta traz a melhor resposta a ela. Você ouça de novo gravada, você vai ver: eu concordo com aquilo, essa é minha opinião. A formulação conclusiva da sua pergunta traz a melhor resposta à sua pergunta.

        Monique — Então, diante dessa questão que a gente não está nomeando, e que está no final da minha pergunta, a gente tem a seguinte situação: a educação infantil é uma profissão quase estritamente feminina: são raríssimos os homens que estão nesta profissão.

        Caetano — É verdade, é engraçado isso não é?

        Monique — Então, eu fico pensando o seguinte: as mulheres, ou esse aspecto mais feminino nelas, ele é maternal, tem como possibilidade uma tentativa de quase substituir a casa, e essa coisa que você falou que não queria ser substituído...

        Caetano — É eu não quero mesmo.

        Monique — ...no seu amor de pai. Tanto é assim, que as professoras de educação infantil são chamadas de tias, como se fossem não uma profissional, mas uma pessoa da família. Então você tem nessas profissionais uma coisa ao mesmo tempo de uma dedicação que às vezes é espantosa, isso que Dolores nos dizia de professoras que têm um amor a essa causa e a esse trabalho com as crianças, uma dedicação, um ânimo pra coisa que é extraordinário, sobretudo se você for pensar nas condições de trabalho, que são muito ruins.

        Caetano — Eu fico espantado como ainda há professores no Brasil. É um gosto mesmo, porque não há estímulo não é verdade?

        Monique — Exatamente...

        Caetano — Eu fico apaixonado quando uma pessoa diz que é professora, ou professor, de escola primária, é inacreditável. Porque a pessoa deveria ser muito bem assistida. Deveria ter um bom salário, e muitas regalias na sociedade brasileira para estimular a educação, o ensino. Mas os professores não têm isso, ao contrário.

        Dolores — A Monique coloca um exemplo que eu acho vital: a gente vai ao médico, a gente confia no médico, não pode dar palpite. Mas quando chega a hora das professoras, ela não pode fazer o que acredita, porque diretor, pai, mãe, todo mundo dá palpite. É aí que ela insiste na coisa de a gente poder se profissionalizar.

        Caetano — É, eu acho. Olha, isso daí eu acho importante.

        Monique — É exatamente minha segunda pergunta. Porque você tem uma profissão feminina que tem essa dedicação, tem esse desvelo, mas tem uma precariedade imensa de conhecimento de ofício: as pessoas são, no máximo, muito boas reprodutoras de procedimentos que já vêm de muitos e muitos anos, com aqueles mesmos textos: essas são as boas professoras. Mas a educação é um terreno, assim, maravilhoso de investigações. Se formos pensar como um ser humano aprende, por exemplo, só por aí você tem coisas extraordinárias; toda questão da arte, toda questão da constituição das linguagens. Raríssimos são os professores que têm acesso a essas coisas e que se preocupam com elas, que buscam se profissionalizar nesse sentido. Quero dizer que se perguntam: "que base científica eu preciso para exercer essa profissão, o que é que eu preciso saber?". Então, eu queria saber como é que você vê essa questão, eu pergunto, por ser uma profissão feminina é que existe na educação essa dificuldade de tomar o ofício mais a sério?

        Caetano — Eu não sei, eu não sei. Talvez o fato de ser predominantemente feminino o contingente de professores de crianças pequenas contribua, ou seja, mesmo uma condição para que essa função seja exercida de uma maneira muito menos profissional, de uma maneira quase pessoal, familiar. Em vez de profissional, e sem muita tendência profissionalizante. Talvez seja porque junto com várias coisas arcaicas tem aí também a própria ideia de que a mulher não é, nem deve, nem precisa ser muito intelectualmente desenvolvida. Eu acho que está embutido aí, talvez, uma velha visão da mulher, também, talvez esteja. Eu vejo, quando você descreve essas questões...

        Monique — Que visão da mulher você tem em relação a isso? Porque você é bem ambíguo, muitas vezes, assim, publicamente...

        Caetano — Ah! Sou, sou, intimamente mais ambíguo ainda! Intimamente mais ambíguo ainda. Eu acho que evidentemente tem coisas boas nesse fato de ser sobretudo mulheres que ensinam as crianças, tem coisas boas no fato de as mulheres não serem muito boas profissionais também, não terem uma tendência, ou um convite da sociedade para que elas sejam intelectualmente muito responsáveis. Isso leva coisas boas também no trato das professoras de crianças na primeira fase.

        Monique — Que tipo de coisas?

        Caetano — Eu não sei, talvez esse próprio calor personalizado, maternal, confundido com a família, tenha em si mesmo algumas vantagens que se a gente...

        Monique — Mas você disse na escola do Moreno que você não queria...

        Caetano — Não queria e não quero... eu estou dizendo apenas que embora..., eu não quero, mas eu acho que deve ter coisas boas, que é o que mantém isso. Eu acho que deve ter, porque eu vejo que tem. Eu acho o seguinte: essas pessoas que se desvelam nessa profissão são pessoas maravilhosas e não é o fato de haver um equívoco dessa natureza em relação a isso que diminui aos meus olhos a beleza do perfil psicológico da professora da criança pequena, entendeu? Eu digo assim, a ideia geral que eu faço da moça que ensina as crianças na primeira fase é uma ideia benigna, em primeiro lugar, uma ideia boa. Essas características pouco profissionais devem conter alguma coisa de muito boa, eu acho, porque tudo isso, a mera existência de professoras já é uma coisa muito boa, entendeu, quando não há estímulo profissional para que haja professoras. Então eu queria apenas estar dizendo uma coisa carinhosa que elas merecem. O que não quer dizer que eu ache que as coisas devam permanecer assim, ao contrário: eu acho que quanto maior desenvolvimento intelectual e consciência do que elas estão fazendo por essas pessoas, sobretudo mulheres, puderem ganhar, melhor será para elas e para a profissão e melhor será para o ensino no Brasil. Até mesmo para aquela visão mais geral de que a gente estava falando sobre a necessidade de democratização do ensino público no Brasil...

        Monique — Exatamente.

        Caetano — Então, a minha posição é nitidamente favorável a uma superação de uma fase amadorística, embrionária do ensino para crianças pequenas. Mas, quando eu disse que deve haver coisas boas é porque eu suponho que há alguma coisa muito delicada, muito profunda nessa questão da ambição moderna de equiparar o homem à mulher nas suas potencialidades como sujeitos sociais, entendeu? Eu acho que esse é um assunto que me interessou desde a minha primeira infância, uma coisa que me interessa desde que eu era criança, que os assuntos que são assuntos do feminismo são assuntos meus...

        Monique — A terceira pergunta é a seguinte: você, como pai do Zeca, se você pudesse fazer uma escola dos seus sonhos, o que você gostaria que a escola oferecesse?

        Caetano — Olha, uma escola dos meus sonhos não teria dificuldade de ser posta em funcionamento, é muito simples: uma escola que ensinasse, fosse limpa, organizada... Não achei basicamente muito difícil educar o meu primeiro filho em escolas, aquela questão que eu enfrentei, eu a descrevi, mais não cheguei a ter grandes dificuldades, nem quando ele foi para uma escola muito careta, ele chegou a ter dificuldades, serviu para ele de complementação, de experiência, de aprendizado também de como as coisas são. Então, não posso dizer que eu particularmente tenha tido dificuldades com escolas, e não penso que venha a ter com o Zeca, necessariamente, porque eu acho, se não houver problemas sérios, as escolas são basicamente fáceis em me satisfazer. É verdade, é fácil para uma escola me satisfazer como pai, porque para mim basta que haja um nível razoável de informação, que os professores se comportem bem, ensinem. Eu não tenho uma ideia muito criativa de como uma escola deve ser, nem preciso ter como pai. O que me preocupa mais é a possibilidade de muitas outras crianças, que nasceram nessa mesma altura que o Zeca nasceu, poderem ter acesso a um ensino razoável, a algum ensino, não é? O maior problema de Zeca para mim não está nem com ele, nem na escola que ele poderá encontrar, eu acho que está mais no número imenso de companheiros de geração dele que não chegarão a nenhuma escola, ou chegarão apenas a frequentar uma sub-escola por um ano e meio ou dois, e depois terem que sair, ou terminarem saindo. Eu acho que esse é que vai ser o maior problema para Zeca, porque a escola em si, para uma pessoa com os meus meios, no Brasil, eu acho que dificilmente chega propriamente a ser um problema: eu não senti isso com meu primeiro filho e não vejo que eu venha a sentir com o segundo. Eu ouço muito dizer entre pessoas da minha área, quer dizer, até entre pessoas da classe artística, mas sobretudo entre pessoas de alto poder aquisitivo no Brasil, ouço dizer, e tenho visto eles se decidirem por isso, que preferem botar os filhos para estudar em escolas estrangeiras. Então uns estudam em escolas alemãs, outros na americana, outros na escola inglesa. Eu não tenho desejo nenhum de fazer isso, eu até reajo um pouco contra isso. Primeiro porque não sinto problema — como se houvesse uma deficiência nas escolas em que meu filho mais velho estudou —, e depois porque eu tenho um pouco de desconfiança, e até de repulsa mesmo por essa atitude. É mais um agravante da disparidade social brasileira e econômica, esses atos das pessoas de alto poder aquisitivo no Brasil, praticamente só usarem o Brasil para sugar o dinheiro dele, para sugar posses, para poder gastar em outros países e ainda por cima botar os filhos em escolas de outros países. Então, parece que o Brasil como país não existe, gradativamente vai se tornando apenas um lugar que algumas pessoas, muito poucas, sugam de onde as pessoas retiram tudo para gastar em outros lugares. Então eu tenho esse problema; mas a escola, é claro que eu quero, por exemplo, que o Zeca tenha uma escola não muito repressiva, com uma capacidade de permitir que ele desenvolva a individualidade dele, que expresse a personalidade individual dele, mas não acho que isso seja muito difícil de encontrar hoje em dia. Eu gostei das escolas que eu frequentei. Sei que houve uma queda muito grande na questão da qualidade de ensino e de manutenção de escolas públicas no Brasil — o que eu acho uma tragédia —, e porque eu estudei em escolas públicas, se pudesse haver uma reversão desse quadro eu adoraria; se Zeca já pudesse se beneficiar disso, para mim isso sim seria um sonho.

        Monique — Eu tenho até um sonho...

        Caetano — Mas eu espero até que você tenha, porque é da sua profissão. Eu estou falando com você porque eu adoro esse assunto e para estimular seu próprio pensamento. É por isso que eu estou falando, para você também, eu acho que vale a pena. Mas eu acho que eu próprio não posso contribuir com ideia nenhuma para essas coisas. Eu acho que talvez a nossa conversa sirva a você, mas eu não posso trazer ideias novas a uma atividade à qual eu não estou ligado.

        Monique — Assim como eu não poderia trazer ideias novas para uma canção sua...

        Caetano — É, talvez. Mas você sabe que eu queria ser professor, eu queria ser professor. Eu já lhe disse isso, não é? Se eu não fosse artista, eu ia ser professor. Está bom?

        Monique — Está ótimo!

Concedida a Monique Deheinzelin em Salvador, em 18 de janeiro de 1993. Extraída de Trilha: educação, construtivismo, de Monique Deheinzelin, Petrópolis/RJ: Vozes, 1996. Participou da entrevista a educadora baiana Maria Dolores Coni Campos. Petrópolis, Editora Vozes, 1994.

Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p. 239-245.

Entendendo a entrevista:

01 – Qual é a ideia central da proposta de educação infantil que Monique menciona, baseada no livro "A fome com a vontade de comer"?

      A ideia central é que as transformações têm a chave do saber e que essas transformações ocorrem por meio da interação entre o que a pessoa é, o que ela sabe (conhecimentos prévios) e aquilo que lhe é ensinado.

02 – Como Caetano Veloso se posiciona em relação à convivência entre a cultura local (ex.: samba de roda) e influências externas (ex.: rock and roll)?

      Caetano Veloso afirma que, por sua experiência pessoal, essas coisas convivem sim. Ele não sabe por quanto tempo ou em que termos, mas cita o Recôncavo da Bahia, em Santo Amaro, onde o samba de roda continua sendo uma prática normal, mesmo para pessoas que ouvem outros gêneros musicais.

03 – Qual é o papel principal da escola, segundo a conclusão de Monique e a concordância de Caetano Veloso?

      A escola é o lugar de acesso democrático ao conhecimento universal, onde o conhecimento local serve como meio para acessar e fazer conexões com outros círculos de saber, não como uma defesa contra o que é exterior.

04 – Que crítica Monique faz à "escola nova" ou "renovada" em contraste com a escola tradicional?

      Monique critica que, ao descartar o ensino intencional dos objetos de conhecimento, a escola nova, apesar de formar crianças espontâneas, criativas e alegres, as deixa "muito pouco informadas". Além disso, a ênfase excessiva na cultura local pode impedir o acesso democrático ao conhecimento universal.

05 – Qual foi a experiência pessoal de Caetano Veloso com a escola de seu filho Moreno que o fez questionar a "escola divertida"?

      Em uma reunião de pais e mestres, a escola de Moreno enfatizava demais o quão agradável e divertida a aprendizagem deveria ser. Caetano se levantou e expressou sua preocupação de que a escola estivesse negando que "alguma coisa no ensino e no estudo, e tem que ser chata", defendendo a importância da disciplina e do esforço para alcançar prazeres superiores.

06 – Como Caetano Veloso justifica a necessidade de aceitar o "lado chato da vida" na educação, usando o exemplo de tocar pandeiro?

      Ele explica que, para tocar pandeiro bem e se divertir na esquina, é preciso um "maçada incomensurável" de treinamento e autodisciplina. A escola, portanto, deve ensinar a criança a enfrentar o que é difícil e chato para adquirir capacidades e habilidades, mais do que apenas ser espontânea ou divertida.

07 – Qual a visão de Monique sobre a profissão de educador infantil no Brasil, especialmente por ser predominantemente feminina?

      Monique observa que é uma profissão com grande dedicação e desvelo, mas com uma imensa precariedade de conhecimento de ofício. Ela questiona se o fato de ser uma profissão feminina contribui para essa dificuldade em levá-la mais a sério, com menor busca por base científica e profissionalização.

08 – Como Caetano Veloso interpreta o fato de a educação infantil ser predominantemente feminina e ter um aspecto "pouco profissional"?

      Ele sugere que, talvez, isso contribua para que a função seja exercida de uma maneira menos profissional, mais pessoal/familiar, e que isso pode estar relacionado a uma "velha visão da mulher" que não a vê como intelectualmente desenvolvida. No entanto, ele também acredita que esse "calor personalizado, maternal" tem suas vantagens que mantêm a beleza do perfil psicológico dessas professoras.

09 – Qual seria a "escola dos sonhos" de Caetano Veloso para seu filho Zeca?

      Ele descreve uma escola simples, limpa, organizada e que ensinasse com um "nível razoável de informação", onde os professores se comportassem bem. Para ele, o maior problema não está na escola para seu filho, mas sim no acesso de muitas outras crianças à educação de qualidade no Brasil.

10 – Por que Caetano Veloso reage à atitude de pais de alta poder aquisitivo que mandam seus filhos para escolas estrangeiras?

      Ele vê essa atitude como um agravante da disparidade social e econômica brasileira, onde o país é "sugado" para que o dinheiro seja gasto em outros lugares e os filhos estudem no exterior. Ele sente "desconfiança e até repulsa" por essa prática, pois parece que "o Brasil como país não existe" para essas pessoas.