Música (Atividades): A Tua Presença Morena
Caetano Veloso
A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença

É negra, negra, negra
Negra, negra, negra
Negra, negra, negra
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença
Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza
A tua presença
Mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
Morena, morena, morena
Morena, morena, morena
Morena.
Compositor: Caetano Veloso.
Fonte: Gramática da
Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil
S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 104.
Entendendo a música:
01
– Qual é a figura de linguagem central utilizada na música e como a sua
repetição no início de quase todos os versos contribui para o tema?
A figura central
é a Anáfora, a repetição da expressão "A tua presença". Essa
repetição é essencial para o tema, pois enfatiza a onipresença, a persistência
e o efeito avassalador dessa presença na vida e na percepção do eu lírico,
quase como uma obsessão ou uma verdade incontestável.
02
– De que forma a presença da pessoa amada é descrita como uma experiência
sensorial total no início da música?
A presença é
descrita como invadindo o eu lírico por todos os canais sensoriais, mencionados
metaforicamente como os "sete buracos da minha cabeça," e
explicitamente como "Pelos olhos, boca, narinas e orelhas." Isso
sugere que a percepção do eu lírico é dominada e absorvida completamente pela
presença, sem escapatória.
03
– De que maneiras a "tua presença" afeta o sentido de tempo e a
identidade do eu lírico?
A presença tem um
efeito paradoxal e transformador: ela "paralisa meu momento em que tudo
começa" (suspende o tempo e a confusão, mas marca um novo e decisivo
início) e "Desintegra e atualiza a minha presença" (destrói o eu
antigo e incompleto para, em seguida, construir um novo eu, transformado e
renovado).
04
– Analise o significado da sequência de cores utilizada na canção ("branca
verde, vermelha azul e amarela" e, em seguida, "negra, negra,
negra").
A primeira
sequência, que mistura diversas cores, simboliza a totalidade, a plenitude e a
diversidade da presença, como a soma de todas as luzes. A subsequente repetição
intensa de "negra, negra, negra" confere a essa totalidade uma
intensidade, profundidade, mistério e uma força fundamental e radical,
sugerindo uma beleza que transcende a superfície.
05
– A música utiliza a hipérbole (exagero) para descrever o efeito da presença no
mundo externo. Cite dois exemplos que ilustram como a presença transcende o eu
lírico e afeta a realidade.
Exemplos de
hipérbole que transcendem o eu lírico:
A presença "Silencia os
automóveis e as motocicletas," sugerindo que a sua força e beleza são
capazes de anular o barulho, o caos e a agitação do mundo moderno.
A presença "Se espalha
no campo derrubando as cercas," simbolizando a abolição de barreiras,
limites e convenções, tanto sociais quanto geográficas.
06
– O que os versos "A tua presença / É tudo que se come, tudo que se
reza" e "Coagula o jorro da noite sangrenta" sugerem sobre a
função da presença na vida do eu lírico?
Esses versos
elevam a presença a uma função universal e vital. Ela é o sustento ("tudo
que se come"), a fé e a esperança ("tudo que se reza"), e o
elemento ordenador e pacificador ("Coagula o jorro da noite
sangrenta" - estanca o caos, o perigo ou a turbulência da vida). A
presença é, portanto, a base da existência.
07
– O poema culmina com o adjetivo repetido "Morena." Qual o
significado ou importância desse adjetivo na construção da identidade e do tema
da canção?
"Morena"
é o adjetivo que finaliza, materializa e personaliza toda a força cósmica e
universal descrita. Ele ancora a intensidade espiritual e sensorial a uma
identidade feminina, brasileira e concreta, transformando o conceito abstrato
da "presença" em uma figura física de grande importância cultural,
estética e afetiva para o eu lírico.