sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

CONTO: O PLANETA DO PEQUENO PRÍNCIPE PRETO - (FRAG.ADAPT) - RODRIGO FRANÇA - COM GABARITO

 Conto: O PLANETA DO PEQUENO PRÍNCIPE PRETO

        Fragmento adaptado.     

        Rodrigo França

        Em um minúsculo planeta mora um menino preto com uma árvore Baobá.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfMxiCNvwZC77N4Z59DbHC-PTKuG_txo8cDnmkQdXLq2_ejnpeGdBIMFNuWsHhLX-waFlGs1WfeIkQuD8FBIrAPhU6vT5BpqdyUzteAujSaEW-Ys9r6nsLATRhc8weT_p5n9-Nn7CcZTLrWXHSwmB2UMYQKqkcIT-UKZrG1rlpjwbfX2nD2aH98uFrQqc/s320/BAOB%C3%81.jpg


        O menino gosta muito de regar a Baobá, que é sua única companheira.

        — Vocês só estão me ouvindo, mas não conseguem me ver. Estou atrás do tronco de uma árvore, da Baobá. É uma árvore linda, imensa, gigante. Estou de braços abertos tentando envolvê-la, mas não consigo. Precisaria de duas, três, quatro... De muita gente. Abraçar a Baobá é uma troca de força, de energia. Sabe quando a bateria está fraca? Então, eu venho aqui e recarrego.

        Ah, já ia esquecendo: eu sou o Príncipe deste planeta. A Baobá disse que sou o Pequeno Príncipe. Ela é a Grande Princesa.

        Este planeta é tão pequeno que só cabemos nós dois aqui. Em breve seremos três. Comparado a um planeta chamado Terra, aqui é tão pequeno que parece um grão de areia. Existem outros planetas espalhados por esse infinito Universo. Conheço alguns, mas o meu sonho é conhecer todos, um a um. Saber quem mora nesses lugares e o que fazem. Enquanto faço isso, deixo a semente da Baobá, porque quero espalhar por aí o que tenho de mais precioso: ela e o UBUNTU.

        Foi uma promessa que fiz para a Baobá. Mas, para sair daqui preciso aproveitar as ventanias, que só aparecem de vez em quando. Então, quando elas aparecem, eu saio voando, voando.

        Eu não sei quem veio primeiro. O planeta ou a Baobá. Ela é uma árvore sagrada, milenar. Está há tanto tempo aqui…

        A Baobá gosta do solo seco, mas eu rego todos os dias com água morna. Não gosto de ver ninguém com sede. As amizades também devem ser regadas todos os dias. Nem com muita água, nem com pouca.

        Deixe-me contar um segredo: uma vez por ano, numa única noite, nasce uma solitária flor de cabeça para baixo, e a Baobá explode de vida e alegria.

        A flor dura poucas horas e fede igual a carniça, mas é linda demais. Eu acho engraçado, porque a Baobá é ao contrário. Os galhos são secos para cima, parecem raízes. As folhas só brotam quando chove. Parece até que caiu do céu, de ponta-cabeça.

        Devo tanto à Baobá, sabe? Sabedoria é comida que nos alimenta.

        Existe uma coisa chamada ancestralidade. Antes dessa árvore, existiu outra árvore, antes existiu outra árvore, e mais outra, outra e outra… Antes de mim vieram os meus pais, os meus avós, os meus bisavós, os meus tataravós, os meus ta-ta-taravós… Todos eram reis, rainhas.

        Como pode existir o hoje, o agora, se você não conhece o seu passado, a sua origem, as suas características? É assim que a gente conhece a nossa ancestralidade. Isso é sabedoria e ancestralidade

        A minha pele é da cor desse solo. Quando eu rego fica mais escuro, cor de chocolate, de café quentinho. As cores são diferentes, iguais aos lápis de cor. Tem gente que fala que existe um lápis “cor de pele”. Como assim? A pele pode ter tantos tons…

        Eu sou negro! Um pouco mais claro que alguns negros e um pouco mais escuro que outros. É como a cor verde… Tem o verde-escuro e o verde-claro, mas nenhum dos dois deixa de ser verde. Eu gosto muito da minha cor e dos meus traços.

        Minha boca é grande e carnuda.

        Olhe o meu sorriso, como é simpático e bonito!

        Eu tenho nariz de batata. Eu adoro batata e adoro meu nariz.

        Meus olhos são escuros como a noite. Também existem olhos claros, mas gosto dos meus olhos como eles são. Porque são meus.

        Meu cabelo não é ruim. Ele não fala mal de ninguém. Antes eu cortava meu cabelo bem baixinho, mas agora estou deixando crescer. Quero que fique para cima igual aos galhos da Baobá. Vai crescer, crescer, crescer… Vai ficar forte, brilhoso, volumoso. Olhe para o céu! Ele será o limite.

Rodrigo França. O Pequeno Príncipe Preto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2020.

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP052 – Mpo054.

Entendendo o conto:

01 – Quem é o narrador da história?

a)   A Baobá.

b)   A Grande Princesa.

c)   O Pequeno Príncipe.

02 – Quem faz companhia ao menino no planeta em que ele habita?

a)   O pai e a mãe do príncipe.

b)   Uma árvore grande e sagrada.

c)   Vários reis e rainhas, avós do príncipe.

03 – É possível perceber que a Baobá é, de fato, enorme porque:

a)   O Pequeno Príncipe não consegue envolver a árvore com os braços abertos.

b)   Apenas uma pessoa conseguiria envolver a árvore com os braços abertos.

c)   Baobás costumam ser árvores não muito grandes.

04 – A árvore chama o menino de Pequeno Príncipe porque:

a)   Esse é o apelido que outras árvores deram ao menino.

b)   Ele é o único príncipe que já existiu no planeta.

c)   Ele é uma criança de quem ela gosta muito.

05 – Quem veio primeiro: a árvore ou o planeta?

a)   O menino não sabe se quem veio primeiro foi a árvore ou o planeta.

b)   O menino tem uma certeza de que o planeta veio primeiro.

c)   O menino acha que foi a árvore, pois ela está há muito tempo no planeta.

06 – Como é a Baobá e o Pequeno Príncipe? Reconte como o menino descreve a si mesmo e a árvore.

      A Baobá é uma árvore linda e imensa, gosta de solo seco, é uma árvore sagrada, milenar. O menino é negro, tem boca grande e carnuda, sorriso simpático e bonito, nariz de batata, olhos escuros e cabelos que “não é ruim”.

07 – Releia o trecho em que o menino fala de amizade.

        “A Baobá gosta do solo seco, mas eu rego todos os dias com água morna. Não gosto de ver ninguém com sede. As amizades também devem ser regadas todos os dias. [...]”. Como o menino alimenta a amizade que tem com a árvore Baobá?

      Ele a rega todos os dias com água morna para demonstrar seu afeto.

08 – No trecho: “Meu cabelo não é ruim. Ele não fala mal de ninguém.”, podemos dizer que a segunda afirmação é inusitada porque faz uma crítica. O que o menino está criticando?

      O menino está criticando o modo preconceituoso como muitas se referem ao cabelo das pessoas negras, dizendo que é “ruim” por ser crespo ou encaracolado.

09 – Releia o trecho abaixo: “A Baobá gosta do solo seco, mas eu rego todos os dias com água morna”. Reescreva esse trecho, substituindo as palavras destacadas por sinônimos.

      A Baobá gosta do solo árido/desértico, contudo eu rego todos os dias com água morna.

10 – Releia o trecho abaixo: “A minha pele é da cor desse solo. Quando eu rego fica mais escuro, cor de chocolate, de café quentinho. As cores são diferentes, iguais aos lápis de cor. Tem gente que fala que existe um lápis “cor de pele”. Como assim?

a)   Em que situações costumamos empregar o verbo regar?

Usa-se o verbo regar ao falar da ação de molhar ou umedecer as plantas e a terra.

b)   Por que o menino não concorda com a existência de um lápis “cor de pele”?

Porque ele sabe que há muitos tons de pele, e o chamado lápis “cor de pele” refere-se a apenas um tom.

 

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CRÔNICA: O AMOR DEIXA MUITO A DESEJAR - ARNALDO JABOR - COM GABARITO

 Crônica: O amor deixa muito a desejar

               Arnaldo Jabor

[...]

Eu devia ter uns 6 anos, no máximo. Foi meu primeiro dia de aula no colégio, lá no Meier, onde minha mãe me levou, pela Rua 24 de Maio, coberta de folhas de mangueira que o vento derrubava. Fiquei sozinho, desamparado, sem pai nem mãe no colégio desconhecido. No pátio do recreio, crianças corriam. Uma bola de borracha voou em minha direção e bateu em meu peito. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqdAKCTLUIUo-tYcpZ6jErz5FtKwyKKEihJOsB5XEeCfCcjLsVl3-f_K9fAhTnCVB4KSQNAi4CNhdah3PnsZeozTImGpBZNJoG14BxlfbaYv9Lqay90Y-c_wFTAac1kaWJ1fNR70KLaip6LTZiKvUKXvZ-xNtpbW_UHj4CsKHXwK_2EJn4754T3eq7k4c/s3750/O%20Primeiro%20Dia%20de%20Aula%20de%20Matheus!.jpg


Olhei e vi uma menina morena, de tranças, com olhos negros, bem perto, me pedindo a bola e, nesse segundo, eu me apaixonei. Lembro-me de que seu queixo tinha um pequeno machucado, como um arranhão com mercúrio-cromo, lembro-me que ela tinha um nariz arrebitado, insolente e que, num lampejo, eu senti um tremor desconhecido, logo interrompido pelo jogo, pela bola que eu devolvi, pelos gritos e correria do recreio. Ela deve ter me olhado no fundo dos olhos por uns três segundos mas, até hoje, eu me lembro exatamente de sua expressão afogueada e vi que ela sentira também algum sinal no corpo, alguma informação do seu destino sexual de fêmea, alguma manifestação da matéria, alguma mensagem do DNA. Recordando minha impressão de menino, tenho certeza de que nossos olhos viram a mesma coisa, um no outro. Senti que eu fazia parte de um magnetismo da natureza que me envolvia, que envolvia a menina, que alguma coisa vibrava entre nós e senti que eu tinha um destino ligado àquele tipo de ser, gente que usava trança, que ria com dentes brancos e lábios vermelhos, que  era diferente de mim e entendi vagamente que, sem aquela diferença, eu não me completaria. Ela voltou correndo para o jogo, vi suas pernas correndo e ela se virando com uma última olhada.

Misteriosamente, nunca mais a encontrei naquela escola. Lembro-me que me lembrei dela quando vi aquele filme Love Story, não pelo medíocre filme, mas pelo rosto de Ali McGraw, que era exatamente o rosto que vivia na minha memória. Recordo também, com estranheza, que meu sentimento infantil foi de “impossibilidade”; aquele rosto me pareceu maravilhoso e impossível de ser atingido inteiramente, foi um instante mágico ao mesmo tempo de descoberta e de perda. Escrevendo agora, percebo que aquela sensação de profundo “sentido” que tive aos 6 anos pode ter marcado minha maneira de ser e de amar pelos tempos que viriam. Senti a presença de algo belíssimo e inapreensível que, hoje, velho de guerra, arrisco dizer que talvez seja essa a marca do amor: ser impossível. [...]

(Disponível em: http://pensador.uol.com.br/cronica_do_amor_arnaldo_jabor/. Acesso em: 20/11/2015.)

 

Entendendo o texto

01. Qual a idade do narrador no primeiro dia de aula no colégio descrito na crônica?

      A) 10 anos.

      B) 6 anos.

      C) 12 anos.

      D) 8 anos.

  02. Como o narrador se sentiu ao ser atingido pela bola de borracha?

     A) Assustado.

     B) feliz.

     C) Apaixonado.

     D) Desinteressado.

03.  O que chamou a atenção do narrador na menina que ele pediu a bola?

      A) Cabelos loiros.

      B) Olhos azuis.

     C) Tranças.

     D) Roupas coloridas.

04. Qual é a lembrança específica do narrador do rosto da menina?

     A) Um pequeno machucado no queixo.

     B) Olhos verdes.

     C) Nariz pequeno.

    D) Lábios finos.

05.  Como o narrador descreveu a sensação que teve ao olhar nos olhos da menina?

     A) Desinteresse.

     B) Medo.

    C) Tremor desconhecido.

    D) Raiva.

06. O que o narrador sentiu ao ver a menina pela primeira vez?

     A) Amor à primeira vista.

     B) Curiosidade.

     C) Indiferença.

     D) Nostalgia.

07.  Qual foi o fato da menina ao olhar nos olhos do narrador?

     A) Sorriu.

    B) Ficou assustado.

    C) Ficou indiferente.

    D) Correu para longe.

08. Como o narrador descreve a sensação ao gravar da menina ao assistir ao filme Love Story?

     A) Tristeza.

     B) Alegria.

     C) Desprezo.

     D) Estranheza.

09. Qual é a conclusão do narrador sobre o amor ao longo da crônica?

      A) O amor é fácil de compreender.

     B) O amor é belo, mas alcançá-lo é impossível.

     C) O amor é passageiro.

     D) O amor é uma ilusão.

 


 

 

CRÔNICA: AMAI O PRÓXIMO, ETC... MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Crônica: Amai o próximo, etc... 

               Marina Colasanti

Atendo o telefone na minha casa. “Victor está?” diz a voz do outro lado sem sequer um alô, um por favor, nada. Eu, amável, informo que Victor não está nem pode estar porque não mora aqui. O outro bate o telefone na minha cara. Dois minutos, e o telefone toca novamente. “Quero falar com Victor” vem a mesma voz. “O senhor é muito mal-educado”, ataco logo para não lhe dar tempo de desligar. “Acabou de ligar, nem me agradeceu, nem me pediu desculpas, e bateu com o telefone. Como já lhe disse, Victor não mora aqui.” A voz se faz mais mansa, “A senhora, desculpe. Muito obrigado.” E desliga.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguGwyGMXUH_zwlkVpxnQlnhHzjEfN-xVyXMNSdwwW0wwYUECVsWWr4TfCh5Dc8VS4-IpaJys7myF3I6I7qxiUUCQESu0Vo0NGYKR_Gb0G_Hy2ytUu39zo6s2aY41-3ufvP_ZueO3RriTLkjP50K3Iz3PiBDKj4BqVOURqSGUR2SuuTJ20VA5oLPpJJv3w/w212-h227/boas-maneiras.jpg


Exulto. Ponto a favor da educação. Pois, se com medo de infringir-lhe as regras, sempre me abstenho de reprimendas desse tipo, é justamente para mantê-las vivas – as regras, não as reprimendas – que convém fazê-las.

Digo obrigada à caixa do supermercado, que não me responde. Peço por favor ao funcionário do guichê que nem levanta os olhos para a minha pessoa. Dou bom-dia ao sujeito do açougue que parece não entender de que dia ou de que qualidade estou falando. Sou uma otária? Não, sou uma resistente.

Minha amiga Claudine de Castro, socialite das mais elegantes, publicou um livro de etiqueta. Uma graça o livro, bem-humorado,  prático.  Fui  ao  lançamento.  Todos  ali  éramos  veteranos  praticantes  daquilo  que  se  chamava  “boas maneiras”. Um bando de micos-leões-dourados, pensei. Ameaçados de extinção. Uma amiga comum comentou que daria o livro ao sobrinho, ela não precisava. “Os jovens”, acrescentou, “andam muito mal-educados”.

Os jovens? Não  era  jovem o  senhor  bem vestidérrimo que quase  me segurou no  meio  da rua,  interrompendo minha marcha célere, para pedir orientação a respeito de um endereço. Orientação fornecida, o cavalheiro, que certamente não fazia jus à definição, partiu sem dizer água vai. E fiquei eu, no resto da manhã, irritada pela brutalidade.

No Japão, a primeira expressão que me ensinaram quando cheguei foi sumi-masen. Equivale ao nosso por favor. Para ajudar-me a gravar essa chave fundamental em qualquer situação, sugeriram que lembrasse da nossa tão frequente corrupção e dissesse em português: sumiu mais cem. Cravou-se, indelével, na minha memória. E dela lancei mão infinitas vezes, com aquela segurança com que se saca um ás da manga. Nunca conheci povo tão bem-educado. Todos te atendem sorridentes. Todos te ajudam. Ninguém te esbarra. Ninguém te esbarra mesmo em meio à multidão. E multidão é coisa frequente no Japão. Sem grandes antropologismos, podemos deduzir que a viver em tantos em país tão pequeno ou se entredevoravam ou se educavam. Preferiram educar-se.

Entre nós, os livros de etiqueta como o de Claudine vendem feito pão. Ânsia de educar-se para sobreviver? Não, necessidade de aprender as regras para ascender. Os recém-chegados às mesas de muitos talheres – e há sempre levas novas que chegam e mesas novas são postas – querem saber que garfo pegar. Pena que o garfo certo não seja fundamental, ou sequer importante, para a boa educação. Boa educação sendo, por exemplo, aquela que as pessoas da roça, de tão poucos talheres e tão pouca comida no prato, praticam com doçura e naturalidade. Cumprimentar o desconhecido com quem se cruza na trilha, coar café ou oferecer água ao visitante que chega. Dar atenção.

Dar atenção é a essência da boa educação. Só isso. Em vez do humilde “por favor”, deveríamos dizer: peço a sua atenção. Pois não é favor algum atender o semelhante que precisa de nós. E nenhum contato pode ser gentil sem atenção. No entanto, em todas as línguas, quando se quer ser educado é por favor que se pede, ou desculpas, pois está estabelecido que necessitar do outro, tirar o outro do seu rumo por instantes é algo quase inconveniente, pelo qual devemos nos penitenciar. Convenhamos, há um erro de base. Ou, se quisermos ir um pouco mais além no sentido desses mínimos encontros, há uma lamentável regra de desamor.

(In: Manuel da Costa Pinto, org. Crônica brasileira contemporânea. São Paulo: Moderna, 2005. p. 176-9.)

Vocabulário

célere: ligeiro, veloz.

exultar: exprimir grande alegria.

indelével: o que não se pode apagar ou eliminar.

Entendendo o texto

01.A crônica é um gênero que, como afirma o crítico Manuel da Costa Pinto, explora “fatos do dia a dia [...], acontecimentos que propiciam momentos de nostalgia, enternecimento ou indignação”.

a.   Qual é o fato do dia a dia que serve de tema para a crônica lida?

              É a falta de educação das pessoas.

b.   Como a narradora se sente diante do comportamento das pessoas?

              Ela se sente indignada.

02. As reflexões da narradora sobre a atitude das pessoas no dia a dia permitem fazer inferências sobre o que ela considera ideal, em termos de relacionamento social. Deveria ter cumprimentado a pessoa que atendeu, com uma saudação como bom dia ou boa tarde, ou dizer quem era e o que desejava

a.   Como deveria ter agido a pessoa que ligou para a casa da narradora?

Deveria ter cumprimentado a pessoa que atendeu, com uma saudação como bom dia ou boa tarde, ou dizer quem era e o que desejava e ter agradecido pela resposta atenciosa.

b.   Como a narradora esperava que os interlocutores reagissem diante das palavras gentis proferidas por ela no supermercado, no guichê e no açougue?

Esperava que as pessoas respondessem com expressões como de nada, bom dia, etc. e, principalmente, tivessem dado atenção a ela.

03. Uma amiga da narradora afirma: “Os jovens andam muito mal-educados”.

a.   Que exemplo a narradora usa para refutar a opinião da amiga?

              O exemplo de um senhor bem-vestido que pediu a ela uma informação na rua e não agradeceu.

b.   Releia este trecho: “Orientação fornecida, o cavalheiro, que certamente não fazia jus à definição, partiu sem dizer água vai.”

             A afirmação de que o homem partiu “sem dizer água vai” quer dizer, no contexto, que ele saiu de supetão, sem avisar ou agradecer, o que não corresponde ao comportamento de um verdadeiro cavalheiro.

04.  Qual é a atitude inicial da narradora ao atender o telefone?

     A) Desliga imediatamente.

     B) Informa que Victor não está com educação.

     C) Pede desculpas ao interlocutor.

05.  Por que a narradora se sente exultante após o segundo telefonema?

      A) Victor retornou a ligação.

      B) A pessoa agradeceu educadamente.

     C) Ela repreendeu a falta de educação.

06.  Como a narradora define a si mesma ao tratar pessoas sem educação?

     A) Otária.

     B) Educada.

     C) Resistente.

07.  O que a amiga Claudine de Castro publicou sobre etiqueta?

       A) Um livro de receitas.

       B) Um livro de poesias.

       C) Um livro de etiqueta.

08.  Por que a narradora chama as pessoas no lançamento do livro de "micos-leões-dourados"?

      A) Elegância.

     B) Extinção.

     C) Boas maneiras.

09. Segundo a amiga da narradora, quem anda muito mal-educado?

     A) Os jovens.

     B) Os adultos.

     C) Todos.

10.  Qual é a expressão japonesa equivalente ao "por favor"?

     A) Konnichiwa.

    B) Sayonara.

    C) Sumi-masen.

11.  O que a narradora compara a "sumi-masen" em português para ajudá-la a lembrar?

     A) "Sumiu mais cem."

     B) "Comi bastante."

     C) "Sai mais cedo."

12.  Como a narradora descreve o povo japonês em relação à educação?

     A) Educado.

     B) Agressivo.

    C) Desinteressado.

13.  Qual é a essência da boa educação, segundo a narradora?

      A) Cumprimentar formalmente.

     B) Usar talheres corretamente.

     C) Dar atenção ao semelhante.

 

RELATO DE MEMÓRIA: MACAMBOEZIO - WILLIAN BONNER - COM GABARITO

 Relato de Memória: Macambœzio

            Willian Bonner

Eu tinha seis anos e uma timidez paralisante. Morava no Tatuapé e era alfabetizado na Penha, na zona leste de São Paulo. Ia e voltava num ônibus escolar, daqueles que tinham uma porta só, na frente, ao lado do motor barulhento. Não os vejo mais nas ruas. Foram fracionados em vans coreanas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsrWQXMUkucubTPrcDsoHiSWYAsdAskU49xr2qr853eb1lZ72IZx_CPUYyfugRJxtvJZUxL-7pPOgKAi-NaWyQJc_o4XhKp6pmA-5Me4vJKOhLlQvXp4A0FnWFCw8842miC8ipcQeY0b6m1XJmt1oz1oIokb6Htd-FAVbW6QZYNPAM-od3J4QbMwAwGUw/s1600/ONIBUS.jpg


Num trajeto de ida, eu já estava num banco, quieto como uma ostra, quando entrou no ônibus um garoto branquinho e sardento, do meu tamanho. Sentou-se ao meu lado e começou a tagarelar. Contou uma piada e eu sorri. Contou outra, sorri de novo. Contou uma terceira piada que eu nem ouvi, enquanto revirava a memória, à procura de algo engraçado para retribuir. Ele terminou a terceira história e eu emendei, orgulhoso, o que me ocorreu de mais hilariante. Tinha ouvido de minha irmã mais velha:

— Meu amor, minha vida, minha privada entupida!

O garoto ergueu as sobrancelhas, arregalou os olhos e levou uma das mãos à boca.

Ele, escandalizado. Eu, petrificado. O ronco do ônibus, amplificado, ensurdecedor.

— Eu vou contar para a Diretora que você disse isso!

Entrei em pânico. Ele notou.

— Se você não me der uma bala eu vou contar para a Diretora! — ameaçou.

A chantagem foi enfática e imediata. Eu não tinha a bala. Nem o dinheiro. Prometi entregar o produto extorquido no dia seguinte. E cumpri. Fiz isso mais vezes, nos dois ou três dias que vieram depois.

Mas, em casa, à noite, aos olhos de meu pai, minha introspecção tornou-se um mistério que nem a timidez explicava. Eu não contei nada, constrangido com a barbaridade que tinha proferido a um colega. E das consequências desastrosas que aquilo teria se chegasse aos ouvidos da Diretora. Meu pai:

— Cuco (é como me chama), você anda meio macambúzio (é como se refere ao sentimento de tristeza). O que aconteceu?

Por vergonha, tentei disfarçar. Mas ele insistiu e eu contei. Foi a primeira vez na vida em que experimentei a sensação física de “botar os demônios pra fora”. No dia seguinte, quando o ônibus da escola se aproximou da casa do menino chantageador, não me vieram a taquicardia, a angústia. Ao me estender a mão, em cobrança da bala extorquida, ele ouviu meu primeiro discurso de improviso. Duas frases, apenas:

— Meu pai me disse que hoje não tem bala. E que eu e você vamos contar tudo isso para a Diretora.

A extorsão acabou. E começou um novo ciclo de minha infância. Todos os que ouviram essa história, nos últimos 40 anos, dividem a perplexidade entre minha ingenuidade e a precocidade do menino chantagista.

Para mim, hoje, pai de três crianças, o mais relevante ainda é o olhar de meu pai.

(William Bonner. In: Luís Colombini. Aprendi com meu pai. São Paulo: Saraiva. p. 235.)

Entendendo o texto

01. O texto lido é o relato de um episódio vivido pelo narrador.

a.   Em que fase da vida do narrador o episódio ocorreu?

Na infância.

b.   Em que cidade ele aconteceu?

Em São Paulo.

c.   Onde se passaram os eventos que fizeram parte do episódio?

              No ônibus escolar e na casa do narrador.

02. Releia estes trechos do texto:     

I. “Morava no Tatuapé, [...] Ia e voltava num ônibus escolar”

         II. “Não os vejo mais nas ruas.”

         III. “Contou uma piada e eu sorri.”

        IV. “ eu emendei, orgulhoso, o que me ocorreu de mais hilariante. Tinha ouvido de minha irmã mais velha”

        V. “Eu vou contar para a Diretora”

         VI. “Consequências desastrosas que aquilo teria se chegasse aos ouvidos da Diretora”

         Indique, em seu caderno, o trecho em que a(s) forma(s) verbal(is) destacada(s) se refere(m):

 IV a. a uma ação passada, ocorrida antes de outra, também passada;

III e IV b. a ações começadas e terminadas pontualmente no passado;

V. c. a uma ação futura;      

VI. d. a uma ação que depende do cumprimento de uma condição;

 II e. a uma ação no presente;

 I f. a ações passadas que ocorreram durante um período mais longo de tempo.

03. Na fala do pai do narrador que é reproduzida no relato, há dois trechos que estão entre parênteses. Veja:

“‒ Cuco (é como me chama), você anda meio macambúzio (é como se refere ao sentimento de tristeza). O que aconteceu?”

a.   Quais formas verbais indicam que esses trechos estão no presente, em relação ao narrador? é, chama, refere explicar o sentido de termos que ele julga serem desconhecidos.

b.   Qual a função desses comentários do narrador, no relato? dos leitores: seu apelido e uma palavra pouco usada atualmente.

c.   Levante hipóteses: Por que essas afirmações se referem ao presente e não ao passado?

         Porque provavelmente, quando o autor escreveu o relato, o pai ainda o chamava pelo apelido e ainda costumava utilizar a palavra macambúzio.

04. O relato em estudo foi escrito em uma linguagem de acordo com a norma-padrão, mas, em alguns momentos, o narrador procura se aproximar do interlocutor, lançando mão de determinados recursos. Identifique, nos trechos abaixo, a estratégia utilizada pelo autor para se aproximar de seus leitores.

a.   “Ia e voltava num ônibus escolar, daqueles que tinham uma porta só, na frente, ao lado do motor barulhento.”

             Por meio do uso do termo ônibus que supõe ser do conhecimento do leitor, o narrador faz uma referência a um modelo daqueles que tinham uma porta só, na frente, ao lado do motor barulhento.

b.   “eu já estava num banco, quieto como uma ostra” Ao se comparar a uma ostra, o narrador faz uma espécie de confissão ao leitor, ao mesmo tempo que procura criar um efeito de humor pela comparação inusitada.

c.   “começou a tagarelar”  

               A palavra tagarelar remete a um contexto informal.

05. Releia este trecho:

            Foi a primeira vez na vida em que experimentei a sensação física de “botar os demônios pra fora”.

            Trata-se de uma expressão que foi utilizada em sentido figurado e que é própria de outros contextos, em geral na descriação de situações dramáticas. No relato em estudo, a situação é relativamente pouco significativa, mas dramática do ponto de vista do narrador quando criança, dada a sua ingenuidade. Daí a adequação do uso das aspas.

         Levante hipóteses: Por que a expressão botar os demônios pra fora está entre aspas?

06. O penúltimo parágrafo do texto se inicia com a afirmação “A extorsão acabou”. Discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses: O que fez com que a chantagem tivesse fim?

Os dois meninos podem ter ido conversar com a diretora, ou o outro menino, com medo da diretora, se sentiu ameaçado e parou de fazer chantagem.

07. O texto lido foi extraído de um livro intitulado Aprendi com meu pai. Discuta com os colegas e o professor: O que o narrador desse relato aprendeu com o pai?

         Sugestões: Aprender a importância de falar sempre a verdade; a ter coragem para enfrentar as consequências dos atos praticados; a tomar cuidado para não se revelar a pessoas desconhecidas.