sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

CRÔNICA: EM CÓDIGO- FERNANDO SABINO - COM GABARITO

CRÔNICA: EM CÓDIGO
 Fernando Sabino

 Fui chamado ao telefone. Era o chefe de escritório de meu irmão:
 – Recebi, de Belo Horizonte, um recado dele para o senhor. E uma mensagem meio esquisita, com vários itens, convém tomar nota. O senhor tem um lápis aí?
Tenho. Pode começar.
Então lá vai. Primeiro: minha mãe precisa de uma nora.
Precisa de quê?
De uma nora.
Que história é essa?
Eu estou dizendo ao senhor que é um recado meio esquisito. Posso continuar?
Continue.
Segundo: pobre vive de teimoso. Terceiro: não chora, morena, que eu volto.
Isso é alguma brincadeira.
Não é não. Estou repetindo o que ele escreveu. Tem mais. Quarto: sou amarelo, mas não opilado. Tomou nota?
Mas não poliado – releti, tomando nota. – Que diabo ele pretende com isso?
Não o sei não senhor. Mandou transmitir o recado, estou transmitindo.
Mas você há de concordar comigo que é um recado meio esquisito.
Foi o que eu preveni ao senhor. E tem mais. Quinto: não sou colgate,mas ando na boca de muita gente. Sexto: poeira é a minha penicilina. Sétimo: carona, só de saia. Oitavo...
Chega! – protestei estupefato. – Não vou ficar aqui tomando nota disso, feito idiota.
Deve ser carta em código, ou coisa parecida – e ele vacilou: Estou dizendo ao senhor que também não entendi, mas enfim... Posso continuar?
Continua. Falta muito?
Não, está acabando: são doze. Oitavo: vou, mas volto. Nono: chega à janela, morena. Décimo: quem fala de mim tem mágoa. Décimo primeiro: não sou pipoca, mas dou meus pulinhos.
Não tem dúvida, ficou maluco.
Maluco não digo, mas como o senhor mesmo disse, a gente até fica com ar meio idiota...Está acabando, só falta um. Décimo segundo: Deus, eu e o Rocha.
Que Rocha?
Não sei. É capaz de ser a assinatura.
Meu irmão não se chama Rocha, essa é boa!
E, mas que foi ele que mandou, isso foi.
Desliguei, atônito, fui até refrescar o rosto com água, para poder pensar melhor. Só então me lembrei. Haviam-me encomendado uma crônica sobre essas frases que os motoristas costumam pintar, como lema, à frente dos caminhões. Meu irmão, que é engenheiro e viaja sempre pelo interior fiscalizando obras, prometera ajudar-me, recolhendo em suas andanças farto e variado material. E ele viajou, o tempo passou, acabei esquecendo completamente do trato, na suposição de que o mesmo lhe acontecera.
Agora, o material ali estava. Era só fazer a crônica. Deus, eu e o Rocha! Tudo explicado! Rocha era o motorista, Deus era Deus mesmo, e eu, o caminhão.

I – Marque com um X o sinônimo da palavra ou expressão destacada.
1. Em: “É uma mensagem meio esquisita, com vários itens, convém tomar nota...” . A expressão em negrito pode ser substituída por:
a) (     ) assinalar       b) (     ) observar      c) (  X  ) escrever     d) (    ) guardar

2. Na frase: “Que história é essa?”, a palavra em negrito significa:
a) ( X ) fato                b) (     ) complicação   c) (    ) chateação  d) (    ) anedota

3) Em:”...pobre vive de teimoso”, a expressão em negrito pode ser substituída por:
a) ( X ) porque é persistente          b) (     ) porque é desobediente
c) (    ) porque é rebelde                d) (     ) porque é corajoso

4) Em: “Isso é alguma brincadeira.” a palavra em negrito significa:
a) ( X ) piada       b) (    ) passatempo   c) (    ) jogo    d) (    ) divertimento

5) Em: “Foi o que eu preveni ao senhor”, a palavra em negrito significa:
a) (    ) chegar antes de
b) ( X ) avisar com antecedência
c) (    ) impedir que se realize
d) (    ) aconselhar com consideração

II – RESPONDA:
6) Após receber o recado, como se sentiu o narrador, o que fez e para que o fez?
     Atônito. Foi lavar o rosto, para poder pensar melhor.

7) O narrador queria pensar melhor sobre o quê e para quê?
     Sobre as frases. Para poder entender o significado.

8) Ao dizer, no final do texto, que seu irmão havia prometido conseguir “farto e variado material”, a que material se refere o narrador e a que se destinava esse material?
     Frases. Para fazer uma crônica.

9) A que se refere o narrador ao dizer “Tudo explicado” e o que lhe foi explicado?
     Ao lembrar da sua solicitação ao irmão. Que o material estava ali, era só fazer a crônica.



CONTO: EU, ADOLESCENTE? ESTOU FORA, MEU.- LOURENÇO DIAFÉRIA - COM GABARITO

 CONTO: EU, ADOLESCENTE? ESTOU FORA, MEU
                   Lourenço Diaféria


       Conheço várias pessoas que juram que nunca tiveram adolescência. E acredito. Eu mesmo sou uma delas. Por favor, não me olhem desse jeito como se eu fosse anormal. Não foi culpa minha. Tive catapora, sarampo, caxumba, duas fraturas de cúbito e rádio, cheguei a ter espinhas, mas nunca fui além disso. Adolescência mesmo, que eu me lembre, não tive. E se tive, eu estava muito ocupado para perceber.

         Acho que foi mais ou menos o que aconteceu com o Napoleãozinho, filho da dona Letícia. Na idade em que todo garoto gosta de brincar de mocinho e bandido, Napoleãozinho enfiava um chapéu de papel na cabeça e ficava brincando de guerra. Dona Letícia punha as mãos na cintura:
       - Eta, guri. Se continuar desse jeito vai acabar general. – Dito e feito. O menino entrou na escola e com 16 anos já era oficial de artilharia. Daí pra frente ninguém mais segurou o Napoleão Bonaparte.
         O Monet foi outro. Vocês devem ter ouvido falar do Monet. Em vez de ser adolescente como qualquer adolescente de 15 anos, ficava o tempo todo fazendo caricaturas. Deu no que deu. Foi obrigado a passar o resto de sua vida pintando quadros que impressionavam os críticos e marchands.
          Porém, o caso mais impressionante de falta de adolescência aconteceu no Brasil com um garoto chamado Pedrinho. Esse foi demais da conta. O menino não tinha nem seis   aninhos, coitado, foi obrigado a largar as brincadeiras, a babá, as bolinhas de gude, o ioiô, e foi proclamado imperador. O garoto era tão pequeno que teve de dar um tempo, tomar vitaminas, para ficar forte e aguentar o peso da coroa na cabeça. Resultado: quando envelheceu foi morrer em Paris, num quarto de hotel, chateado da vida.
         Meu caso foi diferente. Eu não fui adolescente porque no meu tempo ninguém era adolescente. Os adolescentes estavam todo em colégio interno e desfilando de uniforme no Dia da Pátria. A gente era moleque, só isso. Mesmo que alguém, vamos dizer, cismasse de fazer alguma adolescentice, era obrigado a fazer lá fora, no quintal. E se voltasse para casa com os pés sujos entrava na chinelada. Era uma droga. Os pais não entendiam a gente. E o pior é que a gente também não entendia os pais da gente. Essa foi a razão por que eu não via a hora de fugir de casa e largar meus pais se descabelando de desespero, implorando para eu voltar, e eu nem tchum. Pegava minha mochila, penteava os cabelos, calçava as alpargatas e ia embora de uma vez por todas. Nem avisava na escola para a professora tirar meu nome do livro de chamada. Sumia, pronto. Me esqueçam. Na hora da janta eu mudava os planos. Então meus pais aproveitavam para se vingar de mim. Me obrigavam a engolir a horrível sopa de legumes e depois me forçavam a comer o horrível bife de fígado acebolado. Era uma droga sem tamanho.
          Mesmo o Piolho, não sei bem se ele foi adolescente. O que sei é que ele queria ser o diferente da turma. O Piolho tinha esse apelido porque era loiro como um piolho. Morava na mesma rua que a gente e de repente a voz dele começou a ficar meio grossa, meio fina. Uma hora parecia o Hugo de Carril, outra hora parecia o Pato Donald. Acho que era porque ele fumava escondido do pai, da mãe, da avó e dos tios. Um dia o pai dele virou a esquina bem na hora em que o Piolho estava dando uma demonstração de fumaça pelo nariz, o Piolho apagou o Aspásia na hora, engoliu o cigarro com nicotina e tudo. Nesse dia a voz do Piolho engrossou de vez[...].
        Outro cara diferente foi o Gasosa. Além da coleção do Suplemento Juvenil ele juntava revistas de porcaria. Vivia mostrando escondido. Quando passava alguém o Gasosa disfarçava, fazia de conta  que  a gente estava vendo os quadrinhos do Dick Tracy. O Gasosa também quebrava vidraças. Ninguém quebrou mais vidraças do que ele. Era conhecido como o moleque-sem-vergonha. Os donos das vidraças tinham ódio do Gasosa. Até que um dia deu-se o seguinte: o Gasosa morreu atropelado. Foi uma coisa muito inesperada. E foi até engraçado. Todo mundo que achava que o Gasosa era moleque-sem-vergonha foi ver ele morto no caixão. Parecia outro. Quieto, pálido, nem de perto lembrava o bicho-carpinteiro que tinha sido. As pessoas olhavam, jogavam água-benta, murmuravam: “Descansou”.
        Pensando melhor, talvez eu tenha tido adolescência, mas sem saber que era adolescência. Devia ser um mistério com outro nome. Ou uma mágica, cujo truque os pais conheciam, e passavam uns aos outros, em longas conversas, nas noites propícias para trocar ideias e experiências, e ouvir a própria voz humana, acima dos ruídos do mundo, como se ouvia o canto dos galos nas madrugadas. Seja como for, seja como tenha sido,   bem que gostaria de dizer: eu, adolescente? Estou fora, meu. Fazer de conta que parti com minha mochila às costas. Tirar meu nome da lista de presença. Contudo, a cada passo que ensaio nessa imaginária fuga, mais me vejo sitiado de bonês de abas viradas, reggaes, tênis de cano alto, games, dance misics, clips, fast foods, e alguns olhares cheios de perguntas mudas.  E confesso: sempre fico na dúvida entre dizer- Que droga! – ou contar algumas coisas que aprendi no meu quintal.
 (Lourenço Diaféria. Pais& Teens, ano1, nº 1.)


COMPREENSÃO  E  INTERPRETAÇÃO


1.Na introdução do texto, o narrador afirma que, no passado, teve catapora, sarampo, caxumba, fraturas de ossos, mas adolescência   não. Portanto, ele situa a adolescência em qual destes campos semânticos: fases da vida, doenças ou relacionamentos?
Fases da vida.

2.Segundo o narrador, assim como ele, outras   pessoas não tiveram adolescência. E cita como exemplos três pessoas ilustres que não tiveram adolescência.
a)      Quem são essas pessoas?
       Napoleão Bonaparte, Monet e o garoto Pedrinho.

       b)  Que efeito produzem, no contexto, os diminutivos Napoleãozinho  e Pedrinho? Por quê?
       Adolescente. Porque tinha na faixa de 15 anos.

 3.O narrador faz referência ao seu relacionamento com os pais.
a)      Como era esse relacionamento?
Era ruim, a falta de entendimento.

       b) O que fugir de casa representava para ele? Justifique sua resposta.
              Liberdade. Ter o direito de ser adolescente.

  4.  No final do texto, o narrador revela uma dúvida que tem ao ver os jovens de hoje:  dizer ”Que droga!” ou contar algumas coisas que aprendeu no seu quintal Interprete.
a)      Por que diria “Que droga!”?
Pelas frustações passadas.

b)      Que tipo de coisas poderia contar aos jovens atuais?
As experiências tidas na adolescência.

    5.Ao longo do texto, o narrador muda seu ponto de vista sobre a possibilidade de ter tido adolescência.
a)      O que foi narrado entre o início e o fim do texto?
A não existência da adolescência.

b)      Logo, que papel cumpre esse relato que retoma fatos vividos no passado?
O papel de como deve ser tratado a adolescência nos dias de hoje.


INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

1) A forma como se inicia um conto pode ser fundamental para prende  a  atenção do leitor ou para fazê-lo desistir de ler. Observe o primeiro parágrafo desse conto: ele prende nossa atenção de imediato? Explique por quê.
Sim. Porque fala de uma fase da vida.

2) O narrador não participa dos acontecimentos, mas ele conta a história como se visse os fatos pelos olhos do menino e sentisse tudo o que ele sente.
     a) Copie do texto um exemplo que mostra que o narrador conhece os sentimentos do menino.
     Adolescência mesmo, que eu me lembro, não tive.

     b) O fato do narrador “entrar na pele” do menino reflete a linguagem usada por ele – cheia de termos coloquiais – para contar a história. Retire do texto exemplos deste modo de falar.
     Eta, guri. Se continuar desse feito vai acabar General.

3) O menino tem um conceito negativo sobre as pessoas adultas que conhece. Copie do texto uma passagem que comprove esta afirmação.
     Os donos das vidraçarias tinham ódio do moleque-sem-vergonha.

4) Desfecho é o encerramento, a conclusão de um conto, de um romance. Comente o desfecho deste conto. Que outro desfecho você daria para ele?
     Resposta pessoal.





MÚSICA(ATIVIDADES):TEMPOS DIFÍCEIS - OS RACIONAIS - COM GABARITO

MÚSICA(Atividades):Tempos Difíceis 

(de Edy Rock e KL Jay) Os Racionais

 Eu vou dizer porque o mundo é assim.
Poderia ser melhor mas ele é tão ruim.
Tempos difíceis, está difícil viver.
Procuramos um motivo vivo, mas ninguém sabe dizer.

Milhões de pessoas boas morrem de fome.
E o culpado, condenado disto é o próprio homem.
O domínio está em mão de poderosos, mentirosos.

Que não querem saber.
Porcos, nos querem todos mortos.
Pessoas trabalham o mês inteiro.
Se cansam, se esgotam, por pouco dinheiro.
Enquanto tantos outros nada trabalham.
Só atrapalham e ainda falam.
Que as coisas melhoraram.
Ao invés de fazerem algo necessário.
Ao contrário, iludem, enganam otários.
Prometem 100%, prometem mentindo, fingindo, traindo.

E na verdade, de nós estão rindo.

Tempos... Tempos difíceis! (4x)

Tanto dinheiro jogado fora.
Sendo gasto por eles em poucas horas.
Tanto dinheiro desperdiçado.
E não pensam no sofrimento de um menor abandonado.

O mundo está cheio, cheio de miséria.
Isto prova que está próximo o fim de mais uma era.
O homem construiu, criou, armas nucleares.
E o aperto de um botão, o mundo irá pelos ares.
Extra, publicam, publicam extra os jornais
Corrupção e violência aumentam mais e mais.
Com quais, sexo e droga se tornaram algo vulgar.
E com isso, vem a arte pra com todos liquidar.
A morte, enfim. Vem destruição, causam terrorismo.
E cada vez mais o mundo afunda num abismo.

Tempos... Tempos difíceis! (4x)

Menores carentes se tornam delinquentes.
E ninguém nada faz pelo futuro dessa gente.
A saída é essa vida bandida que levam.
Roubando, matando, morrendo.
Entre si se acabando.
Enquanto homens de poder fingem não ver.
Não querem saber.
Faz o que bem entender.
E assim... aumenta a violência.
Não somos nós os culpados dessa consequência?
Destruíram a natureza e o que puseram em seu lugar

jamais terá igual beleza.
Poluíram o ar e o tornaram impuro.
E o futuro eu pergunto, confuso: "como será?"
Agora em quatro segundos irei dizer um ditado:
"Tudo que se faz de errado aqui mesmo será pago"
O meu nome é Edy Rock, um rapper e não um otário.

Se algo não fizermos, estaremos acabados.

KL Jay! Tempos difíceis!
Tempos difíceis!

Interpretando o texto

1) Releia a primeira estrofe. O que o letrista se propõe?
     Aceitar o mundo como está.

2) A quem ele atribui a situação apresentada?
     Ao próprio homem.

3) Leia a estrofe depois do primeiro refrão. Quais os problemas apontados nessa estrofe que, segundo o letrista, contribuem para que os tempos sejam difíceis?
     Abandono, miséria e a falta de uma melhor administração do dinheiro.

4) A estrofe que segue o segundo refrão trata das causas do aumento da violência. Que causas são apontadas?
     A corrupção, a violência e que só traz a destruição da população.

5) Para encerrar, o rapper cita um ditado popular e faz uma proposta. Qual é esse ditado? Qual é essa proposta?
     “Tudo que se faz de errado aqui mesmo será pago”.
     Mudar a situação dos tempos difíceis.


CRÔNICA: A VELHA CONTRABANDISTA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

CRÔNICA:  A VELHA CONTRABANDISTA
                       STANISLAW PONTE PRETA


          Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.    
         Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
           - Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?  
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo e respondeu:
        - É areia!  Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente.
        Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez.
       
Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia. Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
        - Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista. Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
        - Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
          - O senhor promete que não “espaia”? – quis saber a velhinha.      
          - Juro.
          - Respondeu o fiscal.
              É lambreta.                                                  (Stanislaw Ponte Preta)


Interpretação do texto

1) O que a velhinha carregava dentro do saco, para despistar o guarda?
     Areia.

2) O autor quis dizer o que com a expressão “tudo malandro velho”?
     Que era funcionário antigo.

3) Leia novamente o 4º parágrafo do texto e responda:
Quando o narrador citou os dentes que “ela adquirira no odontólogo”, a que tipo de dentes ele se referia?
     Dentadura.

4) Explique com suas palavras qual foi o truque da velhinha para enganar o fiscal.
     O saco de areia.

 5) Quando a velhinha decidiu contar a verdade?
     Quando o fiscal prometeu não revelar a verdade.

6) Qual é a grande surpresa da história?
     É o contrabando de lambreta.

7) Quando e por qual motivo a velhinha decidiu contar a verdade?

Ela contou a verdade pois o fiscal prometeu que não iria espalhar para ninguém.  

8) Qual é a grande surpresa da história?

A grande surpresa foi que a velhinha era uma contrabandista de verdade e que ela contrabandeava lambretas.

9) Qual é a sequência correta dos acontecimentos de acordo com o texto “A velha contrabandista”.

( 3 ) O fiscal verificou que só havia areia dentro do saco.

( 2 ) O pessoal da alfândega começou a desconfiar da velhinha.

( 7 ) Diante da promessa do fiscal, ela lhe contou a verdade: era contrabando de lambretas.  

( 1 ) Todo dia, a velhinha passava pela fronteira montada numa lambreta, com um saco no bagageiro.

( 4 ) Mas, desconfiado, o fiscal passou a revistar a velhinha todos os dias.

( 5 ) Durante um mês, o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

( 6 ) Então, ele prometeu que não contaria nada a ninguém, mas pediu à velhinha que lhe dissesse qual era o contrabando que fazia.

   10) Que adjetivos (qualidades) você daria à velhinha:(Respostas pessoais)

(     ) ingênua       (     ) otimista

(  x   ) esperta      (     ) pessimista

(     ) caduca        (     ) boba

(     ) cansada      (  x   ) inteligente

  



CRÔNICA: O MENINO E O ARCO-ÍRIS - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

CRÔNICA: O MENINO E O ARCO-ÍRIS
                      Ferreira Gullar

       Sobre a minha mesa, na redação do jornal, encontrei-o, numa tarde quente de verão. É um inseto que parece um aeroplano de quatro asas translúcidas e gosta de sobrevoar os açudes, os córregos e as poças de água. É um bicho do mato e não da cidade.
       Mas que fazia ali, sobre a minha mesa, em pleno coração da metrópole?
Parecia morto, mas notei que movia nervosamente as estranhas e minúsculas mandíbulas. Estava morrendo de sede, talvez pudesse salvá-lo.
      Peguei-o pelas asas e levei-o até o banheiro. Depois de acomodá-lo a um canto da pia, molhei a mão e deixei que a água pingasse sobre a sua cabeça e suas asas. Permaneceu imóvel. É, não tem mais jeito — pensei comigo. Mas eis que ele se estremece todo e move a boca molhada. A água tinha escorrido toda, era preciso arranjar um meio de mantê-la ao seu alcance sem, contudo afogá-lo. A outra pia talvez desse mais jeito.
      Transferi-o para lá, acomodei-o e voltei para a redação.
Mas a memória tomara outro rumo. Lá na minha terra, nosso grupo de meninos chamava esse bicho de macaquinho voador e era diversão nossa caçá-los, amarrá-los com uma linha e deixá-los voar acima de nossa cabeça. Lembrava também do açude, na fazenda, onde eles apareciam em formação de esquadrilha e pousavam na água escura.
     Mas que diabo fazia na avenida Rio Branco esse macaquinho voador? Teria ele voado do Coroatá até aqui, só para me encontrar? Seria ele uma estranha mensagem da natureza a este desertor? Voltei ao banheiro e em tempo de evitar que o servente o matasse. “Não faça isso com o coitado!” “Coitado nada, esse bicho deve causar doença.”
    Tomei-o da mão do homem e o pus de novo na pia. O homem ficou espantado e saiu, sem saber que laços de afeição e história me ligavam àquele estranho ser. Ajeitei-o, dei-lhe água e voltei ao trabalho. Mas o tempo urgia, textos, notícias, telefonemas, fui para casa sem me lembrar mais dele.

(GULLAR, Ferreira. O menino e o arco-íris e outras crônicas. Para gostar de ler, 31.
São Paulo: Ática, 2001. p. 88-89)

1 - Ao encontrar um inseto quase morto em sua mesa, o homem
a) colocou-o dentro de um pote de água.
b) escondeu-o para que ninguém o matasse.
c) pingou água sobre sua cabeça.
d) procurou por outros insetos no escritório.
e) não lhe deu muita importância.

2 - O homem interessou-se pelo inseto porque
a) decidiu descansar do trabalho cansativo que realizava no jornal.
b) estranhou a presença de um inseto do mato em plena cidade.
c) percebeu que ele estava fraco e doente por falta de água.
d) resolveu salvar o animal para analisar o funcionamento do seu corpo.
e) era um inseto perigoso e contagioso.

3 - A mudança na rotina do homem deu-se
a) à chegada do inseto na redação do jornal.
b) ao intenso calor daquela tarde de verão.
c) à monotonia do trabalho no escritório.
d) à transferência de local onde estava o inseto.
e) devido ao cansaço do dia.

4 - Em “Não faça isso com o coitado!”, a palavra sublinhada sugere sentimento de
a) maldade
b) crueldade
c) desprezo
d) esperança
e) afeição

5 - A presença do inseto na redação do jornal provocou no homem
a) curiosidade científica.
b) sensação de medo.
c) medo de pegar uma doença.
d) lembranças da infância.
e) preocupação com o próximo.

6 - Com base na leitura do texto pode-se concluir que a questão central é
a) a presença inesperada de um inseto do mato na cidade.
b) a saudade dos amigos de infância
c) a vida pacifica da grande cidade.
d) a preocupação com a proteção aos animais.

e) o cuidado que se deve ter com todos os insetos.

TEXTO: A MENINA QUE FEZ A AMÉRICA - ILKA BRUNHILDE LAURITO - COM GABARITO


TEXTO: A MENINA QUE FEZ A AMÉRICA

        Eu vou morrer um dia, porque tudo que nasce também morre: bicho, planta, mulher, homem. Mas histórias podem durar depois de nós. Basta que sejam postas em folhas de papel e que suas letras mortas sejam ressucitadas por olhos que saibam ler. Por isso, aqui está para vocês o papel da minha história: uma vida-menina para as meninas-dos-seus-olhos.

        Vou contar...
        Eu nasci no ano de 1890, numa pequena aldeia da Calábria, ao sul da Itália. E onde fica a Itália?...É só olhar um mapa da Europa e procurar uma terra em forma de bota, que dá um pontapé no Mar Mediterrâneo e um chute de calcanhar no Mar Adriático.
       É lá.
       Lá, nessa terra entre mares, foi que eu nasci num dia de inverno, quando as flores silvestres que perfumavam o ar puro dos campos da minha aldeia estavam à espera do florescer da primavera. Saracema: este era o nome do lugar pequenino onde eu nasci. Eu disse “era”, embora o lugar ainda existia e tenha crescido, como eu também cresci. Mas, como nunca mais voltei para lá, acho que não pode se mais o mesmo que conheci e onde vivi até os dez anos de idade. A Saracena de 1890 era aquela sem a comunicação do telefone, os sons do rádio e as imagens da televisão nas casas; sem o eco dos carros e das motocicletas nas estradas ou o ronco dos aviões sobre telhados. A música que andava no ar, nos tempos da minha infância, vinha do canto dos pássaros, do chiar das rodas das carroças, das batidas dos cascos dos cavalos, do burburinho do risos das crianças e do lamento dos sinais das igrejas. Essa era a voz da terra onde começava a minha vida e terminava o meu mundo.
      Nunca cheguei a conhecer meu pai, Domenico Gallo. Só em retrato: um homem alto, bonito, de finos bigodes. Dizem que ele ficou muito feliz quando eu e meu irmãozinho Caetano nascemos. Ah, esqueci de dizer que meu nome é Fortunata e que, quando menina, me chamavam de Fortunatella.

(Laurito, Ilka Brunhilde. A menina que fez a América. São Paulo, FTD)

  INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1)-Quando e onde a menina nasceu?  
     Nasceu em 1890, na Aldeia da Calábria.

 2) Até que idade ela viveu em Saracena?
     Até aos 10 anos.

3) Como a menina se chamava? Como a menina era chamada quando pequena?
    O nome é Fortunata. Era chamada de Fortunatella.

4) Quem era Caetano e Domenico?
    Caetano era o irmão. Domenico era o pai.

5) De que modo Fortunatella conhecia seu pai?
    Só em retrato.

6) Você acha que a menina teve uma infância feliz? Por quê?
    Resposta pessoal.

7) Se você tivesse de dar outro título ao texto, qual seria? Por quê?
    A Bota entre mares. Porque a Aldeia era em formato de uma bota.