quinta-feira, 3 de agosto de 2017

CRÔNICA URBANA - TÍPICO DE CARIOCA - COM GABARITO

TEXTO: TÍPICO DE CARIOCA

        Um vídeo sobre o “jeitinho carioca” virou hit na internet por retratar manias e formas bem características de se levar a vida no Rio de Janeiro. O termômetro marca 20° e o carioca já inventa de fazer fondue. Diz para qualquer conhecido que encontra na rua “vamos marcar alguma coisa?”, mas o programa fica por isso mesmo. Reclama do trânsito, do metrô lotado e pondera: “imagina isso aqui na Copa!”. Fui na onda e pedi ajuda ao meu grupo “Agenda Carioca” no Facebook para ampliar essa lista com ideias simples e engraçadas que viessem à cabeça. O resultado dessa pesquisa foram 361 posts publicados em quatro dias. Aqui surge uma crônica escrita a centenas de mãos! 
           Cariocas não gostam de dias nublados, nem de sinal fechado, mas disso todo mundo já sabe... O que mais? Eles têm certeza de que esta é a cidade mais linda do mundo, mesmo sem conhecer nenhuma outra. Reclamam de tudo daqui, mas não admitem que ninguém fale mal do Rio. Encontram com artistas na rua e mostram cara de paisagem para não “pagar mico”. Afinal, somos todos vizinhos, né? Cariocas não mentem, mandam “caô”. Chamam todos de “meu irmão”. Falam “cara”, seja para um homem ou uma mulher. 
           Não dizem obrigado, é quase sempre um “valeu”. “Demorô” ou seria “jaé”? E o “tem, mas acabou”, um clássico do carioca! Ele nunca diz simplesmente “não temos”. Garçom é sempre “amigo” e a conta é pedida com aquele movimento de mão como se assinasse um cheque no ar. Quase todo carioca tem um garçom pra chamar de “seu”. A malandragem é uma marca registrada. Está atrasado para um encontro e liga dizendo que já está chegando, quando ainda nem saiu de casa. Compra 300 coisas que não precisa na padaria para entregarem um único cigarro! 
           Não lhes falta gentileza para dar a frente a uma mulher grávida. Eles seguram a bolsa de quem está em pé no ônibus e se unem de forma rápida e organizada para ajudar em momentos de crise. O esforço daqueles que não falam inglês em dar informações aos gringos é comovente, apesar de adorarem falar tocando nas pessoas, para desespero dos estrangeiros. O sorriso do carioca é um artigo que nunca falta quando ele chega. Impressionante a facilidade de conversar com estranhos e se meter na conversa alheia. Cariocas detestam ficar em filas formando uma reta, fazem sempre um desenho original. 
          Pessoas que andam na praia e que não se conhecem passam a se cumprimentar pela habitualidade em se cruzarem. A maioria conversa tudo com seus próprios porteiros, eles são quase parte da família. Dão dois beijinhos em paulistas e ficam sempre no ar. Vivem em contradição. Acham o Desfile das Escolas de Samba imperdível, mas passam todos os carnavais na casa de praia ou de serra. Adoram a vista do Pão de Açúcar, embora só tenham subido no bondinho uma única vez, na infância. 
              Comemoram dia de tudo quanto é santo, mas, no aniversário do Rio de Janeiro, 1º de março, tudo funciona normalmente sem grandes festas e nem feriado. Carioca cria os filhos na praia à base de água de coco e biscoito Globo. Fazem divisões imaginárias da areia, “por tribos”, e convivem com as diferenças com muita paz e alto astral. Escolhem um barraqueiro e são fiéis a ele. Pedem na maior confiança para qualquer estranho “dar uma olhadinha” nas suas coisas, enquanto dão um mergulho no mar (fazendo o sinal da cruz antes). 
             Não têm hora pra chegar e nem hora pra sair da praia e, muitas vezes, emendam o programa direto da noitada. A negociação começa na combinação do preço com o guardador “mermão”, e continua com o pedido de “chorinho” no limãozinho do mate. Seus pequenos rituais são únicos, como aplaudir o pôr do sol visto da pedra do Arpoador, marcar encontro na estátua do Bellini, no Maracanã, decretar feriado no dia de São Jorge, o santo de fé da maioria dos cariocas, tomar um açaí após corrida ou praia e combinar o almoço de domingo depois da praia. Mas se o tempo fechar, de uma hora para outra tudo muda. Basta chover e o carioca começa a cancelar compromissos. Mesmo uma chuvinha fina já causa uma onda de cancelamentos. 
                  O frio polar nos restaurantes durante o verão combina com um jeito de vestir muito peculiar. Choveu, é casacão pra cá, meia calça, bota, não importa o cheiro de naftalina nas roupas e que seja apenas uma chuva de verão (quase sempre é) e que esteja fazendo 35 graus... short e chinelo com casaco é um hit do carioca com frio, que adora uma roupa confortável e não está nem aí para o que os outros vão achar. O polêmico meião feminino que só se vê nas academias cariocas é um belo exemplo. Muitas delas retocam o cabelo de mês em mês e quando olham o resultado a frase é sempre a mesma: “Estou superloira!!!”. As cariocas não precisam subir no salto para estarem lindas. As rasteirinhas e havaianas lhes caem muito bem em qualquer situação! 
             Nosso trânsito tem suas peculiaridades. Pegar aquele engarrafamento no final de tarde, voltando para casa exausta e com um “buraco” no estômago e ter a felicidade de ser abordada por aqueles vendedores de biscoito de canudinho compridinho, que esfarela todo no carro e na roupa, fazendo com que a criatura faminta se sinta saindo de um rodízio, não tem preço. Carioca, suburbano ou da zona sul, quando vai à Região dos Lagos, nos feriados, fica concorrendo com os “colega” para ver quem fica mais tempo no engarrafamento da ponte. 
           Chamam o motorista do ônibus de “piloto” e pedem pra descer fora do ponto, normalmente no sinal fechado. Fazem da bike uma parceira, as laranjinhas do Itaú já são mais do que parte da paisagem. Cariocas não se cumprimentam, fazem festa. Adoram ir para a janela e gritar: “Gooooool”. Para o típico anfitrião carioca, convidado pontual é o cúmulo da inconveniência. O Rio é o único lugar do mundo que tem uma matemática muito própria para calcular a hora certa de se chegar a um evento: “Se está marcado às 9 é para chegar às 10, 10 e meia...”, diz o convidado. “Vou marcar às 9 que é para o pessoal chegar umas 10...”, pensa o anfitrião. Carioca diz: “eu vou ali e já volto” e fica três horas. Carioca anda com guarda-chuva debaixo da marquise, onde os ambulantes se instalam com um minuto de início de chuva. De onde eles surgem? Todo brasileiro torce por um time de futebol. O carioca tem um time de futebol. E ainda adere com alegria a um projeto como esse e, em menos de cinco minutos, consegue material para muitas crônicas.

                                        (Crônica Urbana – Antônia Leite Barbosa –
                                                                  Magazine Casa shopping).

Após a leitura atenta do Texto I, realize as questões propostas. 

1ª QUESTÃO: De acordo com o texto, que finalidade a autora da crônica tinha ao pedir ajuda ao seu grupo no Facebook?
       A – ( ) Dessa maneira faria seu grupo trabalhar um pouco.
       B – ( ) Ficaria sabendo o que seu grupo pensava sobre os cariocas.
       C – (X) Tinha em mente ampliar sua lista de manias engraçadas dos cariocas.
       D – ( ) Não sabia o que escrever e por isso precisou da ajuda do grupo.
       E – ( ) Queria que o grupo participasse efetivamente da crônica.

2ª QUESTÃO: “Encontram com artistas na rua e mostram cara de paisagem...”  A expressão destacada quer dizer que:
       A – ( ) estão reconhecendo.
       B – ( ) não reconhecem.
       C – ( ) não querem falar.
       D – (X) fingem não estar ligando.
       E – ( ) não gostam do artista.

3ª QUESTÃO: O que faz com que as pessoas que caminham na praia e não se conhecem se cumprimentem?
       A – ( ) A intenção de tornar os estranhos pessoas da própria família.
       B – (X) O fato de se encontrarem todos os dias caminhando.
       C – ( ) A vontade de aumentar o círculo de amizade.
       D – ( ) Querem passar uma boa imagem dos moradores da cidade.
       E – ( ) O fato de gostarem dos cumprimentos.

4ª QUESTÃO: “Acham o Desfile das Escolas de Samba imperdível, mas passam todos os carnavais na casa de praia ou de serra.” A palavra destacada dá ideia de:
       A – ( ) adição.
       B – ( ) finalidade.
       C – ( ) causa.
       D – ( ) consequência.
       E – (X) oposição.

5ª QUESTÃO: Leia as afirmativas e, em seguida, marque a opção correta:
I – O texto “Típico de carioca” foi escrito em forma de prosa.
II – O texto não possui discurso direto.
III – Há no texto marca da oralidade.
       A – ( ) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
       B – ( ) Apenas a afirmativa III está correta.
       C – ( ) Só a afirmativa I está correta.
       D – (X) A afirmativa II é a única errada.
        E – ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

6ª QUESTÃO: Identifique a opção cuja palavra destacada não pertença à mesma classe gramatical da grifada na frase destacada abaixo. “...mas o programa fica por isso mesmo.”
       A – ( ) “Fui na onda e pedi...”
       B – (X) “Cariocas não gostam de dia nublado, ...”
       C – ( ) “...que ninguém fale mal do Rio.”
       D – ( ) “A malandragem é uma marca registrada.”
       E – ( ) “...em pé no ônibus...”

7ª QUESTÃO: Assinale a opção em que a correlação entre o termo destacado e sua respectiva explicação dentro dos parênteses está errada:
       A – ( ) “Cariocas não gostam de dia nublado, ...” (A palavra Cariocas é um adjetivo pátrio de quem nasce no estado do Rio de Janeiro.)
       B – (X) “A maioria conversa tudo com seus próprios porteiros...” (A palavra próprios pertence à classe dos pronomes.)
       C – ( ) “Vivem em contradição.” (Contradição é mesmo que atitude oposta.)
       D – ( ) “O sorriso do carioca é um artigo que nunca falta quando ele...” (A palavra artigo refere-se ao sorriso.)
       E – ( ) “Escolhem um barraqueiro e são fiéis a ele.” (A palavra fiéis pode ser substituída pela palavra leais sem sofrer alteração no sentido da frase.)


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