FÁBULA: O
MACACO E O GOLFINHO
ESOPO
Na antiguidade, os navios eram pequenos
barcos a remo ou à vela, e as viagens, é claro, uma grande aventura. O tempo
não contava: ao embarcar, era impossível prever a duração da viagem...
Para se
entreterem nessas grandes travessias, os viajantes recorriam a tudo o que
fossem capazes de imaginar: uns jogavam dados ou xadrez, outros dormiam todo o
tempo, alguns conversavam entre si ou com a tripulação, e ainda havia os que
levavam consigo seus bichos de estimação para fazer companhia: cachorros,
macacos ou corvos amestrados.
Um mercador ateniense emigrado da Sicília – que,
na época, chamava-se Magna Grécia – fizera fortuna em poucos anos. E decidira
regressar à pátria para gozar a riqueza. Enquanto esperava que carregassem sua
bagagem para o interior do navio, reparou em um marinheiro fenício que passava
por ali com um macaco ao ombro.
— Ei, moço! – chamou. – O
que esse seu simpático bichinho sabe fazer? O outro achou graça:
— Khala? Esse é o mais
esperto macaco da face da Terra! Trepa no mastro do navio e me avisa quando
avista alguma embarcação. Além disso, sabe dançar quando ouve música. Quer ver?
Sem esperar resposta, tirou uma flauta do bolso e começou a tocar uma música
típica do seu país.
Khala saltou, imediatamente, para o chão e começou a
dançar, dando várias cambalhotas e até um salto mortal.
— Quanto você quer por ele?
– perguntou o mercador, sem muito interesse, para o preço não vir. Muito alto.
— Uma mina ateniense não
bastaria, pois, além de ele ser muito esperto, gosto demais dele ... – o outro
se fez de rogado, para fazer seu produto valer mais.
Depois de alguma
discussão, o marinheiro deu o preço:
— Cem dracmas.
— Cem dracmas! – exclamou o
mercador, roxo e gago, de raiva. – Você deve estar maluco!
Depois de regatear,
as cem dracmas reduziram-se a quatro e logo uma moeda de prata trocada de mãos,
ao mesmo tempo em que o macaco trocava de dono.
— Adeus, Khala! – suspirou o
fenício. – Odeio me separar de você, mas é preciso...– e, passando a cordinha
no pescoço do macaco, entregou-o ao mercador, acrescentando: — É um bichinho muito
especial, você vai ver. Boa viagem!
— Adeus, marinheiro, e
obrigado!
E os dois, o macaco e o mercador, começaram a subir a prancha que
servia de ponte entre o navio e o cais.
Khala era obediente e não reclamou.
O
fenício tinha razão: já no primeiro dia, Khala tornara-se o grande divertimento
da tripulação e dos passageiros: saltava, dançava, trepava no mastro e apanhava
comida das mãos das pessoas. Não parava um minuto.
Naquele mês de julho, o
tempo estava maravilhoso. O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria
agradável, sem atropelos.
No décimo dia, porém, quando o navio preparava-se
para dobrar o último cabo, um forte vendaval levantou-se, com vento a noroeste,
e o céu cobriu-se de nuvens negras. A pequena embarcação balançava
terrivelmente. Todos receavam que ela não fosse aguentar ou que, a qualquer
momento, batesse nos rochedos.
O capitão mandou que todos os passageiros fossem
para o porão.
Ao preparar-se para obedecer, o mercador percebeu que não via
Khala.
— Onde você está, Khala? –
chamou, apreensivo. – Khala! Khala!
Em cima do mastro, Khala, animadíssimo,
fazia seu melhor número. Por não ter medo da tempestade, saltava, corri,
dançava, parecendo muito alegre com aquilo que lhe parecia uma festa...
O
mercador nem teve tempo de abrir a boca, uma onda mais violenta ainda abateu-se
sobre a popa do navio, que se empinou, permanecendo suspenso sobre a crista da
onda, voltando a cair de popa. Ouviu-se um estrondo: o mastro partira-se,
caindo de lado sobre a ponte. Quebrou os cabos que o prendiam e perdeu-se na
fúria das águas. Khala caiu de cabeça para baixo e, por um longo momento, ficou
parado, bebendo água, bebendo, bebendo...
Estava quase morto, quando ouviu uma
voz que dizia:
— Suba nas minhas costas.
Ele só entendeu por ter sido
criado por marinheiros e estar habituado à linguagem do mar, pois era um
golfinho que assim lhe falava, naquela estranha mistura de ruídos e assobios.
Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em obedecer:
Como é bom
respirar! Agora, sim, o macaco voltara à superfície e podia conversar com o
amigo que lhe salvara a vida:
— Obrigado! Eu não sei o que teria acontecido
comigo, se não fosse você...Ou melhor, até sei! – disse Khala.
— De nada! Você vai para
Atenas? – perguntou o golfinho.
— Vou.
— Você é ateniense?
— Ateniense? –
surpreendeu-se o macaco. – Acho que esse idiota pensa que eu sou um homem... –
e continuou, em voz alta: - Sim, sou. E ateniense de
uma das melhores famílias!
— Ah, sim? – o golfinho não
parecia muito surpreso. – E a quem tenho a honra de transportar na minha
garupa?
— Filostrato, filho de
Pisandro, neto de Timóteo, bisneto de Electeu e de Licurgo.
— Estranho... – pensou o
golfinho. — Nunca tinha ouvido
falar... – e perguntou em voz alta: — E o que você faz na vida?
— Vivo de rendas. Possuo
casas, terrenos e navios. Ah, estava me esquecendo: também sou animador...
— Animador? – pensou o
golfinho. – Não deveria ser “armador”? Hum, deve ser algum espertinho... Espere, que já vamos ver ... – e em voz alta
perguntou: — Se você é animador, deve
conhecer bem o Pireu, não é verdade?
Já envolvido por suas próprias mentiras,
Khala nem parou para pensar, pois, se o tivesse feito, teria se lembrado de que
Pireu é o nome do porto de Atenas. Com grande entusiasmo, exclamou:
— Pireu!
Pireu! Você também conhece aquele grande malandro? Uma pessoa fantástica,
divertidíssima... Sabia que ele não anda bem ultimamente?
— Sério? Você tem certeza? –
o golfinho fingiu interesse.
— Absoluta! – respondeu o
macaco.
— Pois eu tenho certeza é de
outra coisa! – disse, com raiva, o golfinho, diante de tamanho descaramento. –
Tenho certeza é de que você, se quiser voltar a ver o seu querido amigo Pireu,
vai ter de ir a nado!
E o golfinho sacudiu as costas, derrubando Khala na água
e desaparecendo num mergulho rápido, sem ouvir os desesperados pedidos de
socorro do macaco.
Moral: Os ignorantes têm a
mania de tentar enganar quem sabe mais do que eles, mas isso quase nunca á
certo.
(LIVRO FÁBULAS DE ESOPO – EDITORA PAULUS) VOCABULÁRIO:
Dracmas: nome
do dinheiro usado na época.
Fenício:
natural ou habitante da antiga Fenícia, região litorânea da atual Síria.
Ateniense:
natural ou habitante da cidade de Atenas (Grécia).
Armador:
construtor de navios.
1ª
QUESTÃO: Para se distraírem em suas viagens, os marinheiros
faziam várias atividades. Marque a opção que apresenta uma atividade que não
foi citada no texto:
A – ( ) Eles jogavam dados.
B – ( ) Alguns dormiam.
C – ( ) Outros conversavam.
D – (X) Jogavam cartas.
E – ( ) Levavam seus animais de
estimação.
2ª
QUESTÃO: “O capitão mandou que todos os passageiros fossem para
o porão.” O capitão deu essa ordem
porque ...
A – ( ) o sol estava muito forte e os
passageiros passavam mal.
B – ( ) os marinheiros estavam jogando e
precisavam de espaço.
C – (X) a embarcação corria risco de
naufragar.
D – ( ) a comida seria servida no porão.
E – ( ) era norma do navio.
3ª
QUESTÃO: “Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em
obedecer:” A palavra destacada poderá
ser substituída, sem alterar o sentido da frase, por:
A – ( ) agitado.
B – (X) desmaiando.
C – ( ) disposto.
D – ( ) esperto.
E – ( ) atento.
4ª QUESTÃO: Marque a opção
correta:
A – (X) “O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria
agradável...” Na frase acima, o mar foi personificado.
B – ( ) “Em cima do mastro, Khala,
animadíssimo, fazia seu melhor número.” O adjetivo animadíssimo encontra-se no
grau comparativo de igualdade.
C – ( ) “Khala saltou, imediatamente,
para o chão e começou a dançar...” Imediatamente é o mesmo que nervosamente.
D – ( ) “Tenho certeza é de que você, se
quiser voltar a ver o seu...” O vocábulo é classifica-se como monossílabo
átono.
E – ( ) “— Ei, moço!...” A vírgula foi
usada para separar a palavra que indica uma explicação.
5ª QUESTÃO: De acordo com o
Texto , o macaco conseguiu entender o que o golfinho dizia, porque:
A – ( ) ele falava a língua dos
golfinhos.
B – ( ) entendia qualquer idioma.
C – (X) estava habituado à linguagem do mar.
D – ( ) viveu algum tempo entre os
golfinhos.
E – ( ) era o rei do mar.
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