TEXTO - UMA
PROFESSORA MUITO MALUQUINHA
Era
uma vez uma professora maluquinha. Na nossa imaginação, ela entrava voando pela
sala (como um anjo) e tinha estrelas no olhar. Tinha voz e jeito de sereia e
vento o tempo todo nos cabelos (na nossa imaginação). Seu riso era solto como
um passarinho. Ela era uma professora inimaginável. Para os meninos, ela era
uma artista de cinema. Para as meninas, a Fada Madrinha. […]
Como todos sabem,
os três mosqueteiros eram quatro. Só que nós — a turminha que vai contar a
história — éramos cinco: Athos, Porthos, Aramis, Dartagnan e Ana Maria
Barcellos Pereira, a chefa.[…]
Nós tínhamos acabado de descobrir o segredo das
letras e das sílabas; já sabíamos escrever nossos nomes, ler todos os letreiros
das lojas, os cartazes do cinema, as manchetes dos jornais e os títulos dos
anúncios nas revistas, quando ela chegou em nossas vidas.
Quando ela entrou
pela primeira vez na nossa sala e falou que ia ser nossa professora naquele
ano, todas as meninas quiseram ser lindas e todos os meninos quiseram crescer
na mesma hora para poder casar com ela.
A primeira chamada que ela fez foi
assim: mandou cada um de nós escrever o nome de outro aluno. O nome por
inteiro. “Grande vantagem saber escrever seu próprio nome!” — ela brincou. Depois,
embaralhou os nomes de todos nós e mandou que a gente arrumasse tudo direitinho
na exata ordem do ABC.
Ela conquistou tão depressa todos nós que, logo, logo,
já havia meninas chorando no seu colo. Os meninos não entendiam nada. Havia
segredos que pertenciam somente a elas, e eram tantos que a professora acabou
inventando um código para trocar bilhetinhos secretos com as meninas. […]
Com
ela não tinha castigo. Tinha julgamento. Se um lá fizesse alguma coisa que
parecesse errada, ela convocava o júri. Um aluno para a acusação, outro para a
defesa. O resto da turminha era o corpo de Jurados… A gente
adorava julgamentos. No final do ano, quando já líamos tudo, ela achou melhor
que as defesas e as acusações fossem feitas por escrito. É que o júri era muito
barulhento. […]
Quando as aulas começaram, no ano seguinte, não era ela que
estava sentada na cadeira, atrás da mesa, sobre o estrado, diante do quadro
negro. Era uma doce senhora de olhos severos e com a voz de quem comandava um
pelotão.
Logo no primeiro dia de aula, a turma ficou toda de castigo. A
professora havia apanhado um menino lendo um livro de histórias em plena aula e
resolveu olhar embaixo da carteira de cada um. […]
Tivemos todos que ficar
depois da aula e escrever cem vezes, cada um, a frase: “Prometo prestar atenção
nas lições e não ficar me distraindo na hora da aula”. […]
Meu Deus, quantos
anos se passaram! Nós todos, seus alunos, somos hoje, muito, muito mais velhos
do que aquela professorinha. Estamos todos, agora, com idade bastante para ser
seus avós, se ela tivesse ficado, para sempre, do jeitinho que está fotografada
em nossa memória, aprisionada no tempo. Aqui estamos nós de volta, quase todos.
Alguns foram nos deixando pelo caminho, até mesmo na infância, pois sobreviver
não era muito fácil no meio da pobreza da nossa pequena cidade. Os outros —
cujos pais tinham emprego e salário — chegaram até esse dia, com jeito e cara
de vitoriosos, e estão aqui, digamos, dentro deste livro — os Mosqueteiros do
Rei à frente —, prontos para matar todas as saudades…
Ziraldo.
Uma professora muito maluquinha.
São Paulo, Melhoramentos, 1995.
A partir da leitura atenta
do Texto I, faça as questões propostas.
1ª QUESTÃO: “Seu riso era
solto como um passarinho.”
O vocábulo grifado transmite ideia de
comparação e só não seria substituído adequadamente por:
A - ( ) semelhante a.
B - ( ) tal qual.
C - ( ) que nem.
D - (X) diferente
de.
2ª QUESTÃO: Uma
característica que não pode ser atribuída à professora maluquinha é a de ser:
A - ( ) confidente.
B - ( ) sorridente.
C - (X) idosa.
D - ( ) encantadora.
3ª QUESTÃO: “… ela achou
melhor que as defesas e as acusações fossem feitas por escrito.”
Com que objetivo a professora propôs tal mudança?
A - ( ) Permitir que todas as acusações
fossem consideradas.
B - (X) Amenizar o barulho produzido pelo
júri.
C - ( ) Gastar mais tempo durante os
julgamentos.
D - ( ) Selecionar apenas as defesas
para serem lidas.
4ª QUESTÃO: Sobre os alunos
da professora maluquinha, é inadequado afirmar que:
A - (X) todos tiveram uma infância farta e feliz.
B - ( ) inicialmente, enfrentaram
dificuldade de se concentrarem na aula da professora que a substituiu.
C - ( ) alguns conseguiram se reunir
após a fase adulta e serem personagens de um livro cheio de recordações.
D - ( ) eternizaram a lembrança da
professora maluquinha ainda bem jovem em suas memórias.
Gostei
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