sexta-feira, 17 de outubro de 2025

POEMA: O PLENO E O VAZIO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: O Pleno E o Vazio

            Carlos Drummond de Andrade

Oh se me lembro e quanto.
E se não me lembrasse?
Outra seria minh’alma,
bem diversa minha face.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ6wQ8fPmANMEdcXQL6RTpLXF5B0yzMLk-RhuTrXqT40WmU_fMqQiF07cght5Et4CrkzYYV84NHZ2sWZgNTvI76-lOxXWtF00rtSSLwccIWD6SdXiugN6ebWgKH1gm_hErE4sumjiEYB8nIxjjk_1wmyoQaAwfX0JtqQHRAHDzOLg3rqKnX1oNS326WIY/s1600/ALMA.jpg



Oh como esqueço e quanto.
E se não esquecesse?
Seria homem-espanto,
ambulando sem cabeça.

Oh como esqueço e lembro,
como lembro e esqueço
em correntezas iguais
e simultâneos enlaces.
Mas como posso, no fim,
recompor os meus disfarces?

Que caixa esquisita guarda
em mim sua névoa e cinza,
seu patrimônio de chamas,
enquanto a vida confere
seu limite, e cada hora
é uma hora devida
no balanço da memória
que chora e que ri, partida?

Corpo. Rio de Janeiro, Record, 1984.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 194.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a principal dicotomia (oposição) explorada nos dois primeiros quartetos do poema, e como ela afeta a identidade do eu lírico?

      A dicotomia principal é entre Lembrança (Pleno) e Esquecimento (Vazio).

      Lembrar ("Oh se me lembro e quanto") implica que a memória molda a identidade ("Outra seria minh’alma, / bem diversa minha face").

      Esquecer ("Oh como esqueço e quanto") é visto como um mecanismo de sobrevivência. A falta total de esquecimento ("E se não esquecesse?") o tornaria um "homem-espanto, / ambulando sem cabeça," sugerindo que a memória total e incessante seria destrutiva, impedindo a vida.

02 – Na terceira estrofe, o eu lírico descreve o ato de lembrar e esquecer como "em correntezas iguais / e simultâneos enlaces." O que essa imagem sugere sobre o processo da memória?

      Essa imagem sugere que lembrar e esquecer não são processos opostos e excludentes, mas sim forças coexistentes e igualmente poderosas que agem ao mesmo tempo. A memória não é um reservatório estático, mas um fluxo dinâmico ("correntezas") onde o pleno e o vazio estão continuamente se misturando e se interligando ("simultâneos enlaces").

03 – Por que o eu lírico questiona: "Mas como posso, no fim, / recompor os meus disfarces?" após refletir sobre a memória e o esquecimento?

      O questionamento revela uma crise de identidade. O "disfarce" representa a persona social ou a identidade coerente que o indivíduo apresenta ao mundo. Ao constatar que a memória e o esquecimento atuam em "correntezas iguais," ele percebe que seu ser é constantemente alterado e instável. Assim, ele duvida de sua capacidade de manter uma identidade fixa e crível (o disfarce) diante da complexidade e da inconstância de sua vida interior.

04 – O que a "caixa esquisita" mencionada na última estrofe simboliza e o que ela contém?

      A "caixa esquisita" simboliza o interior do ser humano, a mente ou a psique, especificamente o local onde a memória e a consciência residem. O que ela guarda é a totalidade das experiências:

      "névoa e cinza": o esquecimento, a dor e o que foi perdido.

      "patrimônio de chamas": as lembranças intensas, a paixão e a vitalidade do que foi vivido. É o repositório paradoxal que contém a destruição e a riqueza emocional da vida.

05 – Como a última estrofe relaciona a memória ("balanço da memória") com o conceito de tempo ("cada hora / é uma hora devida")?

      A última estrofe estabelece uma relação direta entre a memória e o tempo vivido como uma dívida existencial. O "balanço da memória" é a contabilidade que a vida faz, comparando o que foi vivido com o que resta. A frase "cada hora / é uma hora devida" sugere que o tempo não é apenas passado, mas uma responsabilidade ou um compromisso com o ser. A memória, ao fazer esse balanço e estar "partida" (entre o riso e o choro), é o instrumento que nos força a enfrentar o preço emocional do tempo.

 

 

CRÔNICA: A BORBOLETA AMARELA - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: A borboleta amarela

             Rubem Braga

        Era uma borboleta. Passou roçando em meus cabelos, e no primeiro instante pensei que fosse uma bruxa ou qualquer outro desses insetos que fazem vida urbana; mas, como olhasse, vi que era uma borboleta amarela.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqjzr5iWOERo2K2W03a62cYK7t6-zpt0sneCJDmHLumkz3ua98fDp7SQzohwD9wFwjN6qWMtZJ5SRv5Fu2eUUwFZRlO6EiIgkntgRO4uL1gFasWjiVkmumVH55nmsCkvpVyqBptdc3cduaTswriR4Jke62THclDhIKSpJCwZVbS5pSM4fM1BJ_Qp4amzA/s320/BORBOLETA.jpg


        Era na esquina de Graça Aranha com Araújo Porto Alegre; ela borboleteava junto ao mármore negro do Grande Ponto; depois desceu, passando em face das vitrinas de conservas e uísques; eu vinha na mesma direção; logo estávamos defronte da ABI. Entrou um instante no hall, entre duas colunas; seria uma jornalista? – pensei com certo tédio.

        Mas logo saiu. E subiu mais alto, acima das colunas, até o travertino encardido. Na Rua México eu tive de esperar que o sinal abrisse; ela tocou, fagueira, para o outro lado, indiferente aos carros que passavam roncando sob suas leves asas. Fiquei a olhá-la. Tão amarela e tão contente da vida, de onde vinha, aonde iria? Fora trazida pelo vento das ilhas – ou descera saçaricante e leve da floresta da Tijuca ou de algum morro – talvez o de São Bento? Onde estaria uma hora antes, qual sua idade? Nada sei de borboletas. Nascera, acaso, no jardim do Ministério da Educação? Não; o Burle Marx faz bons jardins, mas creio que ainda não os faz com borboletas – o que, aliás, é uma boa ideia. Quando eu o mandar fazer os jardins do meu palácio, direi: Burle, aqui sobre esses manacás, quero uma borboleta amare… Mas o sinal abriu e atravessei a rua correndo, pois já ia perdendo de vista a minha borboleta.

        A minha borboleta! Isso, que agora eu disse sem querer, era o que eu sentia naquele instante: a borboleta era minha – como se fosse meu cão ou minha amada de vestido amarelo que tivesse atravessando a rua na minha frente, e eu devesse segui-la. Reparei que nenhum transeunte olhava a borboleta; eles passavam, devagar ou depressa, vendo vagamente outras coisas – as casas, os veículos – ou se vendo; só eu vira a borboleta, e a seguia, com meu passo fiel. Naquele ângulo há um jardinzinho, atrás da Biblioteca Nacional. Ela passou entre os ramos de acácia e de uma árvore sem folhas, talvez um flamboyant; havia, naquela hora, um casal de namorados pobres em um banco, e dois ou três sujeitos espalhados pelos outros bancos, dos quais uns são de pedra, outros de madeira, sendo que estes são pintados de azul e branco. Notei isso pela primeira vez, aliás, naquele instante, eu sempre passo por ali; é que minha borboleta amarela me tornava sensível às cores.

        Ela borboleteou um instante sobre um casal de namorados; depois passou quase junto da cabeça de um mulato magro, sem gravata, que descansava num banco; e seguiu em direção à avenida. Amanhã eu conto mais.

Rubem Braga. Para gostar de ler. São Paulo, Ática, 1979.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 149.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o contraste fundamental que o cronista estabelece no início do texto ao descrever a borboleta e o cenário?

      O contraste fundamental é entre a fragilidade, a beleza e a liberdade da natureza (a borboleta amarela, "fagueira," "contente da vida") e a aridez, o cinza e a pressa da vida urbana (a esquina de ruas movimentadas, o "mármore negro," os "carros que passavam roncando"). A borboleta é um elemento estranho e fascinante nesse ambiente de concreto.

02 – O cronista demonstra humor e ironia ao pensar no que a borboleta poderia ser ao entrar na ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Qual é o teor dessa ironia?

      O cronista manifesta ironia ao pensar se a borboleta "seria uma jornalista?" e sentir "certo tédio" em seguida. Isso satiriza a rotina, a seriedade e a trivialidade da vida profissional e intelectual urbana, que é vista como tediosa e oposta à beleza espontânea e livre da borboleta.

03 – A borboleta provoca uma grande mudança na percepção do cronista. Qual é o principal efeito que ela causa no seu olhar, conforme ele mesmo relata no quarto parágrafo?

      A borboleta o torna "sensível às cores" e aos detalhes do ambiente que ele antes ignorava, apesar de passar por ali diariamente. Ele nota a cor dos bancos e a presença de "namorados pobres," indicando que a borboleta o tira da alienação e aguça sua sensibilidade para a poesia e a vida ao seu redor.

04 – No quarto parágrafo, o eu lírico afirma que a borboleta era "minha." O que esse sentimento de posse inesperado sugere sobre sua conexão com o inseto?

      O sentimento de posse sugere que a borboleta despertou uma forte conexão afetiva e um desejo de contemplação exclusiva. Ao compará-la a "meu cão ou minha amada de vestido amarelo," o cronista transfere para o inseto o afeto e a fidelidade que se tem por um ser querido, elevando a borboleta a um símbolo pessoal de beleza e inspiração.

05 – Qual é a reação dos outros transeuntes à borboleta e o que essa indiferença sublinha sobre o tema da crônica?

      Os transeuntes não olham para a borboleta, passando "vendo vagamente outras coisas" (casas, veículos). Essa indiferença sublinha o tema da alienação e da cegueira urbana. O cronista é o único capaz de quebrar sua rotina e notar, e valorizar, a beleza efêmera da natureza.

06 – O cronista passa algum tempo especulando sobre a origem da borboleta (morro de São Bento, Tijuca, jardim do Ministério da Educação). O que essa especulação reforça no texto?

      A especulação reforça o mistério, a efemeridade e a natureza imprevisível da beleza. Ao não saber de onde a borboleta veio, o cronista enfatiza que a inspiração e a poesia são dádivas que irrompem inesperadamente na rotina, vindo de um lugar desconhecido, puro e incontrolável (a natureza).

07 – De que forma a atitude do cronista de "correr" para não perder a borboleta ilustra uma característica fundamental do gênero crônica?

      O ato de correr para não perder de vista o objeto de sua atenção ilustra a característica da observação minuciosa do cotidiano e a valorização do efêmero. A crônica transforma um fato banal (uma borboleta na rua) em um momento de reflexão e poesia, mostrando a capacidade do cronista de capturar a beleza passageira do dia a dia antes que ela desapareça.

POEMA: DIANTE DE UMA CRIANÇA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Diante de uma criança

          Carlos Drummond de Andrade

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsU9664caxkVv94aYKysYoYdcSW1NOhDylsu6Tc2DYfCmNhpot2zfimi7oOFGc1QjfN2VU0tpfPBmHpXal9C7nSDeVeiyAyGkQqzzTln01On1RPhYNvroMonTj4jwfG1VBp1lYnaO13Y0OUJ6BrOIR-y47fNx3TwluWhzD99IOBxtAQobUXWvAlKdO7H4/s320/CRIAN%C3%87A.jpg



vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidas sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Submeter-me à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E, se depois de tanto mimo
que o atraia, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.

Carlos Drummond de Andrade. Farewell. Rio de Janeiro, Record, 1996.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 76.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a "interrogação" central que confronta o eu lírico e como ele caracteriza a sua própria capacidade intelectual de responder a ela no início do poema?

      A interrogação central é: "Como fazer feliz meu filho?" O eu lírico, que se define como um "vaidoso intelectual" cheio de "saber" e "brilho," reconhece que todo esse conhecimento "vacila" diante da simplicidade e da profundidade da questão. Isso estabelece a falha da razão pura frente ao problema existencial e afetivo.

02 – Que técnica estrutural Drummond utiliza nas estrofes 2 a 5 para abordar as possíveis "receitas" de felicidade, e qual é o efeito dessa técnica?

      Drummond utiliza a técnica da enumeração e da interrogação retórica. Ele lista exaustivamente soluções materialistas e permissivas ("Bola, bombons," "mesadas," "liberdade alheia a limites") e as apresenta em forma de perguntas, como se estivesse testando e, implicitamente, refutando cada uma delas. O efeito é construir um argumento progressivo que demonstra o esgotamento das soluções superficiais.

03 – Cite três exemplos de soluções materiais ou permissivas que o eu lírico questiona no poema e qual é o risco final dessas atitudes.

      Bens materiais: "Bola, bombons, patinação" ou "milhões de coisas desejadas."

      Excesso de mesada: "Imprevistas, fartas mesadas."

      Permissividade: "Liberdade alheia a limites," "perdão de erros, sem julgamento."

      O risco final é que a criança se sinta "pobre, sem paz e sem arrimo, alma vazia, amargamente," ou seja, o vazio existencial provocado pela superabundância material e pela falta de limites.

04 – Na quinta estrofe, o eu lírico pergunta se deve dar ao filho "tudo aquilo que há / de entontecer um grão-vizir." Qual é o significado dessa metáfora?

      A metáfora do "grão-vizir" (alto dignitário de um império oriental, associado a poder e riqueza absolutos) é usada para expressar a ideia de opulência e poder excessivos. O eu lírico questiona se deve entregar ao filho um nível de privilégios e submissão que seria suficiente para "entontecer" (tornar tolo, desorientar) até mesmo uma figura habituada ao máximo de riqueza.

05 – Nas estrofes 8 e 9, de onde vem a resposta para o dilema do eu lírico, já que a razão falhou? Qual metáfora ele usa para descrever essa revelação?

      A resposta não vem da mente, mas sim do "coração," que "acode" (socorre) o eu lírico. O coração oferece a lição "como uma flor," uma metáfora que sugere que a verdade é simples, pura, espontânea e delicada, contrastando com a complexidade e a aridez das "receitas" intelectuais que foram previamente descartadas.

06 – Qual é a "doçura desta lição" oferecida pelo coração e qual a sua relação com a "fagulha de confiança" da criança?

      A lição central é a importância irrefutável do amor incondicional, resumida na frase: "dar a meu filho meu amor." O amor é apresentado como o único elemento capaz de acender a "fagulha de confiança" na criança, preenchendo o vazio existencial que nem os bens materiais nem a permissividade conseguiram suprir.

07 – De acordo com a estrofe final, quais são os quatro grandes poderes do amor na natureza humana?

      O amor é apresentado como a força suprema que: Resgata a pobreza (espiritual); Vence o tédio; Ilumina o dia; Instaura em nossa natureza a imperecível alegria.

 

POEMA: RITMO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Ritmo

          Cecília Meireles

O ritmo em que gemo
doçuras e mágoas
é um dourado remo
por douradas águas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7o8TUBjndPY8HY1Rx4CUIcHI-ahSXFC0eyDYSpFC2-IJ-Wy430entaelch4E1Mc1oQBF5EN0NZwFEEX26AjvlTaxfYrvOPS3Mb7rkWtu2OJ4IKJJeM3wTO2sfXQlqttMJAryCAxDWFz6mwgDPgIip4UjIkDS3mLweP6KSofPHj5Lm26QKxjQV7US0rjY/s1600/RITMO.jpg



Tudo, quando passo,
olha-me e suspira.
– Será meu compasso
que tanto os admira?

Cecília Meireles. Vaga música. Obra Poética. Aguilar, 1972.

Fonte: Gramática da Língua Portuguesa Uso e Abuso. Suzana d’Avila – Volume Único. Editora do Brasil S/A. Ensino de 1º grau. 1997. p. 73.

Entendendo o poema:

01 – Na primeira estrofe, o "ritmo" em que o eu lírico "gemo doçuras e mágoas" é comparado a um "dourado remo por douradas águas." O que esta metáfora sugere sobre a natureza desse ritmo?

      A metáfora sugere que o ritmo com que o eu lírico expressa suas emoções (alegrias e tristezas) é controlado, harmonioso e artisticamente belo. O "remo" nas "águas" indica um movimento constante e medido (o ritmo), e o uso do adjetivo "dourado" confere a essa expressão uma qualidade nobre, preciosa e poética, transformando até o "gemido" em arte.

02 – Qual é o tema central explorado na relação entre o título do poema ("Ritmo") e o conteúdo da primeira estrofe?

      O tema central é a forma ou o modo como a subjetividade e a emoção são transformadas em expressão. O poema sugere que o que define o eu lírico não é apenas o que ele sente ("doçuras e mágoas"), mas o ritmo, a cadência ou a harmonia com que essas emoções, por mais contraditórias que sejam, se manifestam no mundo.

03 – Identifique e analise o recurso estilístico utilizado nos versos da segunda estrofe: "Tudo, quando passo, / olha-me e suspira."

      O recurso é a Personificação (ou Prosopopeia). O mundo inanimado ou a totalidade das coisas ("Tudo") é dotado de características e emoções humanas, como a capacidade de "olhar" e "suspirar". Isso eleva o ritmo e o movimento do eu lírico a um nível de encanto ou fascínio universal, sugerindo que sua cadência poética emociona a própria natureza.

04 – Na segunda estrofe, o eu lírico utiliza o termo "compasso" na pergunta. Qual é a relação semântica entre "compasso" e "ritmo" no contexto do poema?

      No contexto do poema, "compasso" é sinônimo de "ritmo" ou "medida". A palavra reforça a ideia de que a admiração do mundo se deve à regularidade, harmonia e à cadência do movimento do eu lírico. O compasso é o princípio estruturante, quase musical, que organiza poeticamente a expressão das suas emoções.

05 – Qual é a reflexão principal que o eu lírico faz na segunda estrofe, após notar a reação do "Tudo" ao seu redor?

      A reflexão principal é um autoquestionamento sobre o valor e a fonte do seu encanto. O eu lírico reconhece o fascínio que exerce sobre o mundo ("olha-me e suspira") e indaga se a razão dessa admiração está na organização estética, na harmonia inerente ou na beleza rítmica de sua expressão ("Será meu compasso que tanto os admira?").

 

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

POESIA: VELHA CASA - MARILDA PAULÍNIA - COM GABARITO

 Poesia: Velha casa

            Marilda Paulínia

A casa é velha,

      pesada,

           chata,

                 branca.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja2PASUwxar6hyphenhyphenbN6RDMhCurzQNs75soCjazDtYL-PNbiVRjR_q6qIXIpA192ah05S2EWbz0bpzRgvx_JEic-BhOKKD9-odPEqKcj7T41WcJhPyRsRtvqQJi-SPxah2TI6SBtdlnNYsGTa27dLApqkKs2W_28PViRzkQqj67hspzrEBx_Kf_ZJguRdD1I/s320/CASA.jpg


Olha o rio,

       olha a ponte,

             olha as árvores

                   com os olhos apagados e vazios das janelas abertas.

Quando a noite abre

      um grande guarda-sol preto sobre a terra,

            começa a melopeia sonora dos sapos.

Outras vezes,

      no terreiro varrido do céu,

            correm vaga-lumes,

                 piscam-piscam,

                      e se apagam.

Outras vezes,

      chove luar.

Uma chuva

      mansa e luminosa,

           que enche de pó-de-arroz a face branca da velha casa

           e enverniza de prata as águas do rio

           e as folhas verdes das árvores.

E a velha casa

      cerra os olhos apagados das janelas

          e adormece.

Gilberto de Mendonça Teles (org.). A poesia em Goiás. Goiânia, UFG, s/d.

Fonte: Português – 1º grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 195.

Entendendo a poesia:

01 – Como o eu lírico descreve a casa no início do poema e qual o efeito da disposição gráfica dos adjetivos?

      A casa é descrita com adjetivos que sugerem peso, monotonia e falta de vida: "velha, / pesada, / chata, / branca." A disposição gráfica em que os adjetivos são isolados, um abaixo do outro, enfatiza cada característica, tornando-as mais contundentes e definitivas. Isso reforça a impressão de que a casa é um lugar de carga, enfado e estagnação.

02 – Que figura de linguagem o poema utiliza ao descrever a casa olhando para a paisagem ("Olha o rio, / olha a ponte...")? O que isso sugere sobre a relação da casa com o mundo exterior?

      O poema utiliza a personificação ou prosopopeia, pois atribui à casa a ação humana de "olhar." No entanto, esse olhar é feito "com os olhos apagados e vazios das janelas abertas." Isso sugere uma relação passiva e melancólica com o mundo exterior. A casa está ali, presente, observando a vida que passa (o rio, a ponte), mas o seu olhar é desprovido de emoção ou vitalidade, refletindo um estado de solidão ou desinteresse.

03 – Quais são os três fenômenos noturnos descritos pelo eu lírico, e o que eles trazem para a atmosfera do poema?

      Os três fenômenos noturnos são:

      A abertura de um "grande guarda-sol preto" (a escuridão da noite).

      A "melopeia sonora dos sapos" (um som repetitivo e noturno).

      A corrida e o pisca-pisca dos vaga-lumes.

      A "chuva de luar" mansa e luminosa.

      Juntos, eles criam uma atmosfera de tranquilidade e mistério. A natureza assume o protagonismo, e os fenômenos, especialmente a "chuva de luar," adicionam um toque de magia e beleza sutil à monotonia da casa.

04 – O que a metáfora da "chuva de luar" que "enche de pó-de-arroz a face branca da velha casa" significa?

      A "chuva de luar" é uma imagem sinestésica e altamente poética, que associa a luminosidade do luar (visual) à ideia de uma chuva suave (tátil/auditiva). A metáfora do "pó-de-arroz" evoca a ideia de um leve adorno, maquiagem ou disfarce. Sugere que o luar não apenas ilumina, mas também embeleza e suaviza a aparência gasta da casa, conferindo-lhe um aspecto mais etéreo ou digno na noite.

05 – Por que a "velha casa / cerra os olhos / apagados das janelas / e adormece" no final do poema?

      O ato de "cerrar os olhos" (fechar as janelas) e adormecer representa o descanso e a conclusão de um ciclo. Depois de absorver as impressões passivas do dia e ser banhada pela beleza suave da noite (a chuva de luar), a casa (personificada) se recolhe. O adormecer simboliza a aceitação da sua condição silenciosa e isolada, encontrando paz em seu próprio vazio.

 

 

CONTO: GENTE DE FORA - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Gente de fora – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        — Pois é isso, meninada! — disse logo depois a velha. — Vocês já sabem como se formam as palavras da língua. Grande número veio diretamente do latim. Foi o começo, a primeira plantação. Depois começaram a reproduzir-se lá entre elas, ou a derivar-se umas das outras. Depois houve muita entrada de palavras exóticas, isto é, procedentes de países estrangeiros. Depois houve invenção de neologismos — e desses vários modos a língua foi crescendo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWkGP9ucQZKhOEnqldrM8c2lRzS8LIP0LZsdYhSECgbLNHmzRnMxywfHXPOQPo9WTn39hrxNBAuXTkXx18ZjpW6dxzNaXdisflNDhoqQN0PItVeNcpd9hqFq0cxxXARmwRLCfXY2RPGaAOWGyC4jD2ntgSdc0_HaQsh2GlFHpyXiQAWoj0ard0gg5a7H0/s1600/PAISES.jpg


        Aqui na cidade nova as palavras vindas da cidade velha misturaram-se com inúmeras de origem local, ou palavras índias, que já existiam nas terras do Brasil quando os portugueses as descobriram. A maior parte dos nomes de cidades, rios e montanhas do Brasil são de origem índia, como Tremembé, Itu, Niterói, Itatiaia, Goiás, Piauí, Pirambóia, etc.

        Ita é uma palavra da língua tupi que quer dizer Pedra, e tem servido de Prefixo para a formação de muitos Nomes. Temos em São Paulo a cidadezinha de Itápolis, formada de Ita, que é indígena, e Polis (cidade), que é grega.

        Pira (peixe) é outra palavra tupi muito usada. Piracicaba, Piraquara, Guapira.

        — Eu gosto muito das palavras tupis e lamento que o Brasil não tenha um nome tirado dessa língua — disse Pedrinho.

        — Em compensação muitos Estados do Brasil possuem nomes indígenas, como Pará (rio grande), Pernambuco (quebra-mar), Paraná (rio enorme), Paraíba (rio ruivo), Maranhão (mar grande) e outros.

        O tupi conseguiu encaixar na língua portuguesa grande número de palavras de uso diário, como Taba, Moranga, Jaguar, Araçá, Jabuticabal, Capim, Carioca, Marimbondo, Pipoca, Pereba, Cuia, Jararaca, Urutu, Tipiti, Embira, etc. —  E também muitos Nomes Próprios — advertiu Narizinho. — Conheço meninas chamadas Araci, Iracema, Lindóia, Inaiá, Jandira...

        — E eu conheço um menino chamado Ubirajara Guaporé de Itapuã Guaratinguaçu, filho dum turco que mora perto do sítio do Tio Barnabé -— lembrou Pedrinho.

        — Pois é isso — continuou a velha. — Todas as línguas vão dando palavras para a língua desta cidade. O grego deu muitas. O hebraico deu várias, como Messias, Rabino, Satanás, Maná, Aleluia.

        O árabe deu, entre outras, Alfândega, Alambique, Alface, Alfaiate, Alqueire, Álcool, Algarismo, Arroba, Armazém, Fatia, Macio, Matraca, Xarope, Cifra, Zero, Assassino.

        A língua francesa deu boa quantidade, como Paletó, Boné, Jornal, Bandido, Tambor, Vendaval, Comboio, Conhaque, Champanha.

        A língua espanhola deu menos do que devia dar. Citarei Fandango, Frente, Muchacho, Castanhola, Trecho, Savana.

        A língua italiana deu muito mais. Ágio, Bancarrota, Bússola, Gôndola, Cantata, Cascata, Charlatão, Macarrão, Tenor, Piano, Violino, Carnaval, Gazeta, Soneto, Ópera, Fiasco e Polenta são palavras italianas.

        O inglês está dando muitas agora. Das antigas posso citar Cheque, Clube, Tilburi, Trole, Esporte, Rosbife, Sanduíche; e entre as modernas há várias trazidas pelo cinema e pelo futebol.

        — Eu sei uma! — gritou Pedrinho levantando o dedo.

        — Diga.

        — Okey, que também se escreve com duas letras, OK. Quer dizer que está tudo muito bem.

        — Eu sei outra! — disse a menina. — Conheço a palavra It, que quer dizer um "quezinho" especial.

        — Isso mesmo — confirmou a velha. — Esse novo sentido do velho pronome inglês It foi inventado por uma escritora que o botou como título dum seu romance. Pessoa que tem It significa pessoa que exerce atração sobre as outras. Emília, por exemplo, é um pocinho de It...

        A boneca fungou de gosto e Dona Etimologia prosseguiu:

        — Também vieram muitas palavras da África, trazidas pelos negros escravizados, como Banze, Cacimba, Canjica, Inhame, Macaco, Mandinga, Moleque, Papagaio, Tanga, Zebra, Vatapá, Batuque, Mocotó, Gambá.

        Da Rússia vieram Caleça, Cossaco, Soviete, Bolchevismo, etc.

        Da Hungria vieram Coche, Cocheiro, Sutche, Hussardo.

        Da China vieram Chá, Chávena, Mandarim, Leque.

        Da Pérsia vieram Bazar, Caravana, Balcão, Diva, Turbante, Tabuleiro, Tafetá.

        Da Turquia vieram Tulipa, Odalisca, Paxá, Bergamota, Quiosque.

        A velha parou na Turquia, para tomar mais um gole de chá.

        E assim se foi formando, e se vai formando, a língua. Uma língua não pára nunca. Evolui sempre, isto é, muda sempre. Há certos gramáticos que querem fazer a língua parar num certo ponto, e acham que é erro dizermos de modo diferente do que diziam os clássicos.     

        — Que vem a ser clássicos? — perguntou a menina.

        — Os entendidos chamaram clássicos aos escritores antigos, como o Padre Antônio Vieira, Frei Luís de Sousa, o Padre Manuel Bernardes e outros. Para os Carrancas, quem não escreve como eles está errado.

        Mas isso é curteza de vistas. Esses homens foram bons escritores no seu tempo. Se aparecessem agora seriam os primeiros a mudar ou a adotar a língua de hoje, para serem entendidos. A língua variou muito e sobretudo aqui na cidade nova. Inúmeras palavras que na cidade velha querem dizer uma coisa aqui dizem outra. Borracho, por exemplo, quer dizer bêbado; lá quer dizer filhote de pombo — vejam que diferença! Arrear, aqui é selar um animal; lá, é enfeitar, adornar.

        — Então lá há moças bem arreadas? — perguntou Emília.

        — Sim — respondeu à velha. — Uma dama bem arreada não espanta a ninguém lá do outro lado. Aqui, Moço significa jovem; lá, significa serviçal, criado.

        Também no modo de pronunciar as palavras existem muitas variações. Aqui, todos dizem Peito; lá, todos dizem Paito, embora escrevam a palavra da mesma maneira. Aqui se diz Tenho e lá se diz Tanho. Aqui se diz Verão; lá se diz V'rao.

        — Também eles dizem por lá Vatata, Vacalhau, Baca, Vesouro — lembrou Pedrinho.

        — Sim, o povo de lá troca muito o V pelo B e vice-versa.

        — Nesse caso, aqui nesta cidade se fala mais direito do que na cidade velha — concluiu Narizinho.

        — Por quê? Ambas têm o direito de falar como quiserem, e portanto ambas estão certas. O que sucede é que uma língua, sempre que muda de terra, começa a variar muito mais depressa do que se não tivesse mudado. Os costumes são outros, a natureza é outra — as necessidades de expressão tornam-se outras. Tudo junto força a língua que emigra a adaptar-se à sua nova pátria.

        A língua desta cidade está ficando um dialeto da língua velha. Com o correr dos séculos é bem capaz de ficar tão diferente da língua velha como esta ficou diferente do latim. Vocês vão ver.

        — Nós vamos ver? — exclamou Narizinho, dando uma risada. — Então pensa que somos como a senhora, que vive toda a vida e mais séculos e séculos?

        — Vocês também viverão séculos e séculos por meio de seus futuros filhinhos e netos e bisnetos — replicou a velha.

        — Menos eu! — gritou Emília. — Já me casei e me arrependi bastante. Felizmente, não tive filhos — e como não pretendo casar-me de novo, não deixarei "descendência" neste mundo...

        — E se aparecer um grande pirata, como aquele Capitão Gancho da história de Peter Pan? — cochichou Narizinho no ouvido dela.

        — Isso é outro caso... — respondeu Emília, cujo sonho sempre fora ser esposa dum grande pirata — para "mandar num navio"...

        — Por falar em pirata... Onde andará o Visconde? — indagou Pedrinho. — Depois que tirou Quindim da sala não o vi mais.

        — O Visconde está armando alguma — disse a boneca, que andava desconfiada de qualquer coisa. — Vamos procurá-lo, já, já, antes que lhe aconteça alguma.

        E como tinham de procurar o Visconde, despediram-se de Dona Etimologia, que prometeu aparecer no sítio de Dona Benta.

        Logo que se viram na rua, Pedrinho perguntou à primeira palavra que ia passando se não vira um Visconde assim, assim.

        — Um de palhinha de milho no pescoço? Vi, pois não. Passou por aqui inda agora, com um Ditongo debaixo do capote. Ia esperneando, o coitadinho.

        — Eu não disse? — berrou Emília. — Eu não disse que o Visconde andava tramando alguma? Mas que quererá ele com um Ditongo, Santo Deus?...

        Puseram-se em marcha, com o rinoceronte atrás. Logo adiante viram um ajuntamento na frente de certa casa.

        — Será alto-falante com resultado de futebol?

        Não era isso. Era uma curiosidade de museu que ali estava em exibição pública. Um grande letreiro dizia: A palavra mais comprida da língua. Entrada franca.     

        Os meninos precipitaram-se para ver o fenômeno e de fato viram, num cercado de arame, espichada no chão que nem jiboia, a palavra Anticonstitucionalissimamente.

        — Irra! — berrou a boneca. — Uma, duas, três, quatro. . . Vinte e nove letras tem este formidável Advérbio!...

        — Treze sílabas! Cáspite!... — acrescentou Pedrinho.

        Um guarda ali presente deu informações a respeito daquela sucuri verbal. Era uma pobre palavra que não tinha outra ocupação na língua senão exibir-se como curiosidade. Vivia do seu tamanho, como certos gigantes de circo. Uma coitada que nem andar podia, de tanta letra a pesar-lhe nas costas. Mais que o alfabeto inteiro...

        — Inda agora esteve aqui conversando com ela um grande fidalgo de fora, que a escreveu direitinho no seu caderno de notas.

        — Como era esse fidalgo? Não reparou se usava umas palhinhas no pescoço?

        — Isso mesmo.

        — Sem cartolinha na cabeça?

        — Sem nada na cabeça.

        — Um ar de... de sabugo de milho?

        — Isso mesmo.

        — Um tanto embolorado?

        — Isso mesmo. Verdinho de bolor.

        — Pois é o grande Visconde de Sabugosa, que andamos catando como se cata agulha em palheiro. E para onde se dirigiu ele?

        — Depois que acabou de tomar as suas notas, disse-me: "Passe bem!" e sumiu-se. Percebi que levava um Ditongo debaixo do capote. Ia esperneando, o pobrezinho...

        Emília ficou seriamente apreensiva com a história daquele Ditongo esperneante.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Como Dona Etimologia descreve o processo histórico de formação e crescimento da língua que se fala na "cidade nova" (o Brasil)?

      Dona Etimologia explica que o processo começou com a "primeira plantação", ou seja, palavras vindas diretamente do Latim. Em seguida, houve a reprodução e derivação das palavras entre si, a entrada de inúmeras palavras "exóticas" (estrangeiras) de países como Grécia, Arábia, França e Inglaterra, a mistura com palavras indígenas (locais), e a invenção de neologismos.

02 – Qual é a importância da língua Tupi para a formação do vocabulário brasileiro, segundo o texto? Cite dois tipos de nomes e dois exemplos de palavras do cotidiano de origem Tupi.

      O Tupi tem grande importância por ser a língua local, cujas palavras se misturaram com o português. Ele forneceu:

      Nomes geográficos: A maior parte dos nomes de cidades, rios e montanhas do Brasil (ex: Piauí, Itatiaia, Niterói).

      Palavras de uso diário: Grande número de palavras que se encaixaram na língua portuguesa (ex: Pipoca, Carioca, Moranga, Capim, Jararaca).

03 – Explique o que Dona Etimologia quer dizer ao afirmar que "uma língua não pára nunca" e como ela rebate a opinião dos gramáticos chamados "Carrancas".

      Ao dizer que "uma língua não pára nunca", Dona Etimologia expressa o conceito de que a língua está em constante evolução e mudança. Ela rebate os gramáticos "Carrancas" (aqueles que querem que a língua pare no modo como os clássicos escreviam) argumentando que isso é "curteza de vistas". Ela defende que, se os próprios escritores antigos vivessem hoje, eles seriam os primeiros a adotar a língua atual para serem entendidos, pois a língua precisa se adaptar e variar.

04 – Cite e explique, com base no texto, a diferença de significado de duas palavras quando comparamos a "cidade velha" (Portugal) com a "cidade nova" (Brasil).

      O texto oferece vários exemplos de variação semântica:

      Borracho: Na cidade velha significa 'filhote de pombo'; na cidade nova, significa 'bêbado'.

      Arrear: Na cidade velha significa 'enfeitar, adornar' (daí a surpresa de Emília sobre 'moças bem arreadas'); na cidade nova, significa 'selar um animal'.

      Moço: Na cidade velha significa 'serviçal, criado'; na cidade nova, significa 'jovem'.

05 – Quais são as evidências de variação na pronúncia que a velha menciona entre a "cidade velha" e a "cidade nova"?

      As variações na pronúncia incluem:

      Ditongos e vogais: Na cidade nova, dizem 'Peito' e 'Tenho'; na cidade velha, dizem 'Paito' e 'Tanho'.

      Redução de sílabas: Na cidade nova, dizem 'Verão'; na cidade velha, dizem 'V'rao'.

      Troca de consoantes: O povo da cidade velha troca muito o 'V' pelo 'B' e vice-versa (ex: 'Vatata' por Batata, 'Baca' por Vaca).

06 – Qual foi o principal fator que contribuiu para o ingresso de uma grande quantidade de palavras de origem africana no português brasileiro? Cite dois exemplos de palavras dessa origem.

      O principal fator foi a vinda dos negros escravizados para o Brasil, que trouxeram suas línguas de origem para a colônia. Dois exemplos citados no texto são: Canjica, Moleque, Mocotó, Vatapá, Batuque ou Gambá (quaisquer dois).

07 – Qual é a nova conotação da palavra inglesa "It", de acordo com a explicação de Dona Etimologia, e a quem essa nova conotação foi atribuída?

      A palavra inglesa "It", que originalmente era um pronome, ganhou um novo sentido especial. Pessoa que tem "It" significa pessoa que exerce atração sobre as outras. Essa nova conotação foi inventada por uma escritora (o texto não cita qual) que usou a palavra como título de um romance.

08 – Explique por que a língua na "cidade nova" (Brasil) está se tornando um dialeto da "língua velha" (Portugal) e qual o destino que Dona Etimologia prevê para essa variação.

      A língua se torna um dialeto porque, ao emigrar, ela começa a variar muito mais depressa devido às novas necessidades de expressão, aos costumes e à natureza diferentes da nova pátria. A velha prevê que, com o correr dos séculos, a língua brasileira pode se tornar tão diferente da língua velha quanto o português atual se tornou diferente do Latim, sugerindo uma possível autonomia linguística no futuro.

09 – O que é o fenômeno visto pelos meninos no ajuntamento na rua e qual é a palavra mais comprida da língua exposta ali? Qual classe gramatical a boneca Emília atribui a essa palavra?

      O fenômeno visto pelos meninos é a exibição pública da 'palavra mais comprida da língua'. A palavra exposta é Anticonstitucionalissimamente. Emília a classifica como um Advérbio.

10 – Qual é a 'tramóia' ou o ato misterioso que o Visconde de Sabugosa é acusado de cometer, e de que modo os meninos descobrem a natureza desse ato?

      O Visconde é acusado de ter levado um Ditongo debaixo do capote, em um ato de 'tramóia' que Emília suspeita. Os meninos descobrem a natureza do ato ao perguntar às palavras na rua e a um guarda, que confirmam ter visto o Visconde com um Ditongo 'esperneando' debaixo do casaco.