domingo, 5 de novembro de 2023

PEÇA TEATRAL: O RAPTO DAS CEBOLINHAS - MARIA CLARA MACHADO - COM GABARITO

 Peça Teatral: O Rapto das Cebolinhas

Maria Clara Machado

Um ato em três cenas sem intervalo

 

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzQzNiDazU2NrKWkbPnUmSw39mQwBaV3JHnnlTVWsfQy9SKBGaxoK6ci9IDHZX10Pah01SSoyJg8X5eTW5DOCwo88jhh5HoYC4BJfU1zF7CUWAaXJ0Bb1SsNDC9RdMpcZsgwMYerTdolArTTThtNALwCgjapPb9ZpngprHWfAzL9sael_RYPpHxh73WWc/s1600/cebolinhas.jpg

        Personagens: Vovó Felícia – Maneco – Lúcia – Gaspar – o cão – Florípedes – a gata – Simeão – o burro – Camaleão Alface – Médico.

        Cenário Único – O cenário representa a horta da VOVÓ FELÍCIA.  São vistos três pezinhos de planta.  Girassóis. À frente da horta, uma cerca bem baixinha. Um espantalho. Uma árvore. Um banco na frente da árvore. Uma casa de cachorro no proscênio à direita.

        Primeira Cena  

        Vovó Felícia – (entra olhando o céu) Ah que bela noite! Que sono! (bate o relógio) Nossa já são 3 horas! É hora de dormir! Todos já se recolheram, agora sou eu (boceja). Boa noite queridas cebolinhas! (fala para o público) Estas cebolinhas são preciosas! Quem as possuir é feliz para toda vida. Elas podem trazer para cada um, maravilhosos sentimentos como a CORAGEM (amarelo), a ALEGRIA (azul), o RESPEITO (verde) e o AMOR (vermelho). (A medida que fala mostra cada uma das cebolinhas de cor diferente que podem também ter o nome dos sentimentos escrito). Ah!!! (boceja) Fiquem ai direitinho minhas cebolinhas!!! Até amanhã (sai).

        (É madrugada. Vê-se passar pela cena uma figura envolta numa capa preta, com um grande chapéu. (Os passos devem ser acompanhados do barulho de lixa raspando, reco-reco e pente de arame num tambor.) Olha para todos os lados, penetra pela porteira da cerca, olha de novo para todos os lados, procura no chão, descobre o que queria, faz o gesto de arrancar, cobre o que arrancou com a capa e, pulando a cerca, desaparece de cena, sempre escondendo o rosto. Pausa. Começa a clarear, ouvem-se o galo cantar e passarinhos. A VOVÓ FELÍCIA entra cantando alegremente, carregando regador.  Entra na horta, para e grita.

        VOVÓ FELÍCIA: Roubaram! Socorro! Socorro! Roubaram o pé de cebolinha da VOVÓ FELÍCIA Felício. Roubaram! (“Pausa”.) Quem terá sido? Quem teve coragem de roubar o pé da mais preciosa cebolinha que existe no Brasil? Onde está o Gaspar? (“À parte”.) Gaspar é o vigia da horta. (“Chamando”.) Gaspar! Gaspar!...

        “Ouve-se um latido, e em seguida aparece Gaspar, um enorme cachorrão”.

        VOVÓ FELÍCIA: Gaspar, quem roubou o meu pé de cebolinha?

        GASPAR: (“que não fala, mas late com expressão humana, dando as inflexões necessárias”) Uau... uau... (“Corre até os últimos pés de cebolinha e cheira-os ruidosamente”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Foi você quem comeu a minha cebolinha? “Gaspar late que não”.

        VOVÓ FELÍCIA: Palavra de cachorro? “Gaspar late que sim”.

        VOVÓ FELÍCIA: (“à parte”) Estou na dúvida se cachorro tem ou não tem palavra. (“Para Gaspar”.) Então quem foi?

        GASPAR: (“meio apavorado”) Uau... uau... (“Indica a direita com o focinho”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Foi Florípedes?

        GASPAR: Uau... uau... (“Diz que não”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Foi Simeão?

        GASPAR: Au... au... (“Diz que não”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Gaspar, vá correndo chamar Florípedes e Simeão. Quero todo mundo aqui.

        “Sai Gaspar”.

        VOVÓ FELÍCIA: Ah! Preciso descobrir o ladrão. Quem teria a coragem de fazer uma coisa destas? (“Chamando”.) Lúcia, Maneco! Onde estão os meus netos? Maneco, anda cá, seu maroto. Lúcia, acorda, menina. O avô foi roubado!

        “Entram Lúcia e Maneco, aflitos”.

        MANECO: Você chamou, vovó?

        LÚCIA: O que é que aconteceu, você está tão nervosa!

        VOVÓ FELÍCIA: Vocês não podem imaginar o que aconteceu? Olhem lá dentro. (“Aponta para dentro da cerca. Os dois meninos entram no cercado”.)

        MANECO: Oh!

        LÚCIA: Que horror! Pobre vovó! (“Para a plateia”.) Arrancaram o pé de cebolinha. (“Para a vovó.) Quem foi?

        MANECO: Quem foi o ladrão, hem, vovó?

        VOVÓ FELÍCIA: Não sei ainda. Temos que descobrir. Ainda ficaram 3 pés. Os últimos. (“Chorando”.) Ai, meu Deus! Estou tão triste que nem posso pensar direito. Dois anos criando essas cebolinhas, e agora...

        LÚCIA: Fique mais calmo, vovó. Não se amole tanto. Mandaremos vir outras mudas iguais e elas vão crescer que nem capim.

        VOVÓ FELÍCIA: (“indignada”) Lúcia, minha neta, não torne a dizer esse absurdo. Você sabe muito bem que estas cebolinhas são diferentes. Quem toma chá dessas cebolinhas tem coragem, respeito, alegria e amor! E estas são as últimas que existem no Brasil...

        MANECO: (“interrompendo”) Fale mais baixo, vovó. Você quer que outros ladrões apareçam para roubar as 3 que sobraram?

        VOVÓ FELÍCIA: É mesmo, meu filho. Todo o cuidado agora é pouco. Irei até a cidade contratar um detetive para descobrir o ladrão. Prestem bem atenção no pessoal daqui. Todo mundo é suspeito. Vou me vestir e já volto. (“Sai”.)

        MANECO: Pobre vovó. Quem teria sido o ladrão?

        “Ouve-se um miado, um relincho e um latido, e em seguida entram os bichos”.

        MANECO: Aí vêm os bichos. Florípedes, venha cá.

        “Ela se aproxima de Maneco, dengosa”.

        MANECO: Foi você quem roubou as cebolinhas da vovó?

        “Florípedes, assustada, vai até o canteiro, olha, mia, volta para junto de Simeão e, miando com convicção, faz que não, ofendida, como dizendo: "Isso é pergunta que se faça”?".

        MANECO: Simeão, venha cá.

        “Simeão se aproxima com medo”.

        MANECO: Foi você quem roubou as cebolinhas da vovó?

        SIMEÃO: (“com receio”) Hiiiiii. (“Faz que não”.)

        MANECO: Mas vocês dormem aqui fora. Devem ter visto alguma coisa durante a noite.

        “A gatinha e o burro dão miados e relinchos significativos de que viram alguma coisa, sim”.

        MANECO: Então viram o ladrão? (“Miam e relincham que sim”.) Como era ele? (“Os dois se olham um pouco, e depois passam pela cena imitando o andar do ladrão”.) Que andar mais esquisito. E você, Gaspar, não viu nada? Não vigiou a horta durante a noite, como era o seu dever? (“Gaspar abaixa a cabeça”.)

        LÚCIA: Vamos, Gaspar, explique-se. É para o seu próprio bem. Onde é que você passou a noite?

        “Gaspar indica que passou a noite na sua casinha. Entra na casa”.

        MANECO: E não viu nada? Ninguém entrar?

        GASPAR: Uau... uau... uau... (“Faz que não, e mostra que estava dormindo”.)

        MANECO: Como assim? Dormindo! É assim que você toma conta da horta? É assim que você é amigo da vovó? (“Para a plateia”.)

        “Gaspar, aflitíssimo, dá latidos de tristeza”.

        LÚCIA: (“indignada”) Não ofende o Gaspar, Maneco; quem sabe não deram remédio para ele dormir?

        “Gaspar, ao ouvir isso, anima-se e dá saltos significando que sim”.

        MANECO: (“intrigado”) Será possível? Então o caso está se tornando mais grave. Muito mais grave.

        LÚCIA: (“ao ouvido de Maneco”) Florípedes e Simeão viram tudo.

        MANECO: (“dirigindo-se para os dois”) Florípedes e Simeão, respondam: o ladrão era alto ou baixo? (“Os dois olham-se espantados, pensam um pouco; e depois, ao mesmo tempo, Florípedes sobe no banco e faz um gesto, indicando que o ladrão era muito alto, miando prolongado, e Simeão se abaixa relinchando, indicando que o ladrão era muito baixo”.) Que negócio é este? Cada um viu diferente? (“Os dois se olham, percebem a contradição e desmancham rapidamente o gesto. Florípedes desce do banco”.)

        LÚCIA: Era gordo ou magro?

        “Novamente os dois ao mesmo tempo indicam, Florípedes que era muito gordo e Simeão que era muito magro; hesitam um pouco e se olham com medo, percebem o erro e, muito sem graça, desmancham o gesto”.

        MANECO: Vocês estavam era sonhando. Ora essa, vocês não servem para nada. Vão-se embora.

        “Florípedes dá miados aflitos procurando chamar a atenção dos meninos para lhes dizer algo”.

        LÚCIA: (“notando Florípedes”) Espera, parece que Florípedes quer dizer alguma coisa.

        “Florípedes diz que sim”.

        MANECO: Vamos, Flor, explique-se.

        “Junto com Lúcia, corre para a gatinha. Os dois meninos a animam exageradamente. Florípedes, vendo-se dona da situação, afasta-se e começa a mímica. Imita o andar do ladrão e depois finge que desmaia, dando miadinhos finos”.

        LÚCIA: Você desmaiou quando viu o ladrão? (“Florípedes diz que sim, e Simeão mostra ao mesmo tempo que correu para socorrê-la”.) Ah, e você correu para socorrê-la quando ela desmaiou? (“Simeão faz que sim, levanta Florípedes e os dois saem correndo”.)

        MANECO: E... depois foram embora correndo?

        “Simeão faz que não, volta sozinho ao meio do palco, tenta mostrar por mímica que quem saiu correndo foi o ladrão”.

        LÚCIA: Ah!... e o ladrão fugiu?

        “Os dois respondem que sim”.

        MANECO: (“ao ouvido de Lúcia”) Ih!... Estou muito desconfiado. (“Para Florípedes e Simeão.) Podem ir agora. (“Florípedes e Simeão saem”.) Mas tratem de abrir bem os olhos e os ouvidos. (“Gaspar sai. Maneco grita na direção em que os bichos saíram”.) Todo mundo aqui é suspeito!  E essa história que os dois contaram não combinava nada. É bom espiar bem esses bichos. Eles são muito sabidos.

        VOZ DE FORA: Ó de casa!

        MANECO: (“para a plateia”) É o vizinho novo, seu Camaleão Alface.

        “Entra Camaleão Alface, de culote, chapéu de explorador e grandes bigodes. Leva nas costas uma mochila de onde tirará os objetos necessários para a ação.

        CAMALEÃO: (“ainda de fora”) Onde está a VOVÓ FELÍCIA? (“Vai entrando muito aflito”.) Onde está a VOVÓ FELÍCIA? Preciso falar com a VOVÓ FELÍCIA.

        LÚCIA: Vovó está se vestindo, seu Camaleão Alface. Ele vai à cidade para...

        CAMALEÃO: O que aconteceu?

        MANECO: Roubaram um dos pés de cebolinha.

        CAMALEÃO: (“correndo para o local do roubo”) Não é possível! Como foi isso?

        MANECO: Não sabemos ainda de nada. Vovó vai à cidade contratar um detetive.

        CAMALEÃO: Detetive?

        VOVÓ FELÍCIA: (“aparece pronto para sair e emenda a fala com a do Camaleão.) ... um detetive para descobrir o raio do ladrão que levou minha cebolinha. (“Pega a mão do Camaleão e começa a sacudi-la vigorosamente enquanto fala”.) Como vai o senhor? Como vai a Associação Protetora das Plantas?

        “Camaleão tenta falar, mas não consegue”.

        VOVÓ FELÍCIA: O senhor continua o presidente? Farei uma comunicação do roubo na próxima reunião. Agora vou à cidade contratar um detetive. (“Sai andando”.)

        CAMALEÃO: Um detetive? (“Corre atrás do VOVÓ FELÍCIA e o detém”.) Um detetive para quê, minha amiga? (“Com ar de grande superioridade”.) Então não sabe que eu sou formado detetive?

        VOVÓ FELÍCIA: O senhor?

        CAMALEÃO: (“andando lentamente no palco e muito convencido”) Passei três anos numa universidade dos Estados Unidos. (“Parado, para a plateia, e com malícia”.) Sou especialista em raptos de verduras, brotinhos, coisinhas tenras e desprotegidas.

        MANECO: Mas o senhor tem diploma, seu Camaleão?

        CAMALEÃO: Aqui está.

        “Puxa ostensivamente da mochila um enorme diploma. Maneco e Lúcia começam a abri-lo. É tão grande o diploma que Maneco precisa trepar no banco e Lúcia se ajoelhar no chão para abri-lo completamente. A VOVÓ FELÍCIA passa os olhos, encantado, pelo documento e o lê em inglês ruim. Enquanto isso, Camaleão, se transforma num detetive tirando da mochila capa com estrela, gravata borboleta e uma enorme lente”.

        VOVÓ FELÍCIA: Seu diploma é enorme, seu Camaleão Alface. (“Vai para junto dele”.) O senhor está nomeado meu detetive. Pagarei o que quiser.

        CAMALEÃO: Não cobrarei nada do senhor (“Adulador”.) Só quero a sua amizade. (“Empunha a lente e vai para o canteiro”.) Vejamos primeiro as pistas. (“Consigo mesmo, examinando o local”.) Comecemos pelo... começo. Vamos agir. Todos são suspeitos. (“Examina a avó e, logo depois, as duas crianças, que levam grande susto”.) Todos, ouviram? (“Passeia pelo palco examinando tudo com a lente, e acaba observando a ponta de sua própria bota. Vai subindo com a lente e, quando percebe o que está fazendo, diz”:) Quase todos! (“Para a VOVÓ FELÍCIA”.) Vamos, tenho um plano. (“Para os meninos”.) Que ninguém saia de casa esta noite. Ordem do detetive Camaleão Alface. (“Quase desaparecendo”.) Ninguém!

        “Os meninos examinam o diploma. Camaleão torna a aparecer e tira o diploma dos meninos”.

        CAMALEÃO: Com licença, meninos. (“Para a plateia”.) É o diploma que faz o detetive. (“Sai, solene”.)

        “Lúcia e Maneco saem atrás, Maneco irritado, Lúcia com grande admiração. Voltam logo depois”.

        MANECO: Não gostei nada dele. Achei tudo muito esquisito. Você acha que um detetive anda sempre de diploma, medalha? Ele estava com cara de quem já sabia de tudo. Mas também tenho um plano. Ainda ficaram 3 pés de cebolinhas. O ladrão na certa voltará para roubar o resto.

        LÚCIA: Ué, por que é que ele há de voltar, ora!

        MANECO: (“categoricamente”) Um ladrão volta sempre ao local do crime, Lúcia. (“Baixo”.)

        LÚCIA: É mesmo, Maneco. (“Espantada”.) Então ele é capaz de voltar esta noite. O que é que vamos fazer? Quantos suspeitos você já tem?

        MANECO: (“pensativo”) Florípedes e Simeão podem ser os ladrões. Gaspar também. Seu Camaleão Alface também pode ser o ladrão. Todo mundo pode ser o ladrão.

        LÚCIA: Ah, isso é que não! Não consigo ver o Gaspar roubando cebolinhas. Tão bom que ele é... Nem Florípedes, nem Simeão, nem seu Camaleão Alface... (“Para a plateia”.) Afinal, ele é um grande detetive!

        MANECO: (“implicando”) Você é muito boazinha, Lúcia. Por isso não serve para detetive. Um detetive tem que ser que nem eu: durão!

        LÚCIA: Ah seu bobo! Como é que você pode desconfiar dos pobres bichinhos da vovó (dá-lhe uma corrida e Maneco sai e Lúcia se esconde ao ouvir barulhos, entra Gaspar. Fareja todos os lados, dirige-se para o canteiro, cheira as cebolinhas com grande cuidado e sai. Lúcia observam-no escondidos”.

        LÚCIA: Oh!!!

        (Entra Florípedes puxando Simeão pela mão. Sobe no banco e com pequenos miados e grandes gestos procura convencer Simeão, falando-lhe ao ouvido. Simeão não parece concordar. Por fim, fica irritado e sai para o meio do palco, mostrando claramente que não concorda. Florípedes não desiste e vai atrás dele, puxando-o pelo rabo até o canteiro. Argumenta novamente. Simeão vira-lhe as costas mostrando de novo que não concorda. Florípedes tenta mais uma vez convencê-lo, usando de seus encantos felinos. Mas nada demove Simeão de sua decisão. Afinal, Florípedes, irritada, desiste, e resolve executar seu projeto sozinha. Simeão, apavorado de perdê-la, sai correndo atrás dela”.

        LÚCIA: (“que assistiu a toda a cena escondida) Oh, oh!... (“Sai correndo, chamando”.) Maneco... Maneco... Maneco...

        Segunda Cena

        Escurece bastante. É noite. Entra Maneco envolvido por uma grande capa preta, até o chão, e por um grande chapéu preto. Pé ante pé (exageradamente), com grandes flexões de joelho, olhando para todos os lados, para um momento diante da cebolinha e, fazendo que ouve um barulho (barulho do camaleão), corre e se esconde atrás do espantalho. Logo depois entra Camaleão Alface, vestido da mesma maneira, andando identicamente. Vai até a cebolinha, para um instante, atravessa a cena e ouvindo barulho dos bichos esconde-se no lugar de onde saiu. Em seguida, entram Florípedes e Simeão, ela na frente, vestidos também como os outros. Andando sempre como Maneco e Camaleão Alface, dirigem-se os dois para a cebolinha, param um instante e encaminham-se para trás da árvore, onde se escondem. Torna a voltar Camaleão, vai novamente até a cebolinha, arranca uma disfarçadamente e continua a volta pelo palco. Ao passar pelo espantalho é seguido, sem o saber, por Maneco; este, por Florípedes e Simeão. Os quatro dão uma volta por todo o palco no mesmo ritmo. A certa altura ouve-se o coaxar de um sapo. Param todos ao mesmo tempo (estão em fila indiana) e olham cada um por sua vez para trás. Recomeçam a andar e depois de uns instantes ouvem novamente o sapo. Param juntos. Camaleão volta-se e dá com os outros. Grande confusão e correria, gritos, miados, relinchos. Todo o andar dos personagens deve ser seguido do barulho de lixa, reco-reco, tambor etc.

        MANECO: Peguei o ladrão!

        CAMALEÃO: Me larga, menino, sou Camaleão, o detetive, e o ladrão é você.

        “Mais gritos, miados e relinchos até que entra a VOVÓ FELÍCIA, de ceroulas, segurando um lampião e dando a mão a Lúcia. A cena se ilumina e VOVÓ FELÍCIA vê o detetive agarrado em Maneco. Florípedes e Simeão, morrendo de medo, observam num canto”.

        VOVÓ FELÍCIA: (“entra gritando”) Que barulho medonho é este? Parem de gritar. (“Vendo a cena”.) Meu Deus, quantos ladrões! (“Ilumina cada ladrão com o lampião. Lembra-se das cebolinhas e corre para o canteiro.) Roubaram o meu segundo pé de cebolinha!! (“Senta-se desolada no banco”.)

        CAMALEÃO: (“tirando o disfarce”) Pode ficar certa, VOVÓ FELÍCIA, que o ladrão está por aqui. Pus este disfarce para ver se confundia o larápio, e o senhor há de perceber que aqui há dente-de-coelho.

        MANECO: (“também tirando o disfarce”) Também pus o disfarce para o ladrão se confundir, vovó.

        VOVÓ FELÍCIA: (“irônico, levanta-se e dirige-se aos bichos”) É, e vocês dois aí no canto, também puseram o disfarce para ver se pegavam o ladrão mais facilmente, não é?

        “Florípedes e Simeão, aterrorizados, meneiam a cabeça dizendo que sim”.

        VOVÓ FELÍCIA: (“senta-se novamente e diz, lamuriosa”) É assim que me ajudam? O que vocês estão fazendo é ajudar o ladrão. Com isso ele roubou minha segunda cebolinha.

        CAMALEÃO: (“indo para o meio do palco e tomando conta da situação”) Todos os presentes são suspeitos. Desobedeceram à minha ordem de não sair à noite. Vamos, quero vocês aí enfileirados para uma inspeção. (“Todo amável com o VOVÓ FELÍCIA”.) A cebolinha raptada não deve estar muito longe.

        “Maneco recusa-se a obedecer.  Lúcia empurra o Maneco para o lugar e este fica emburrado”.

        CAMALEÃO: Abram a boca e Mostrem as mãos. (“Ele examina. Puxa a VOVÓ FELÍCIA para o centro do palco e diz-lhe confidencialmente:”). Talvez o suspeito tenha engolido a cebolinha na hora da confusão, e o cheiro deixado na boca será uma pista preciosa. (“Volta aos bichos e cheira a boca de Simeão e Florípedes. Torna a cheirar Florípedes, Florípedes mia de medo. Ouvem-se latidos sofredores cada vez mais fortes”.)

Entendendo a peça teatral:

01 – Qual é o cenário da peça?

      O cenário da peça é a horta da Vovó Felícia.

02 – Quem são os personagens principais da peça?

      Os personagens principais são Vovó Felícia, Maneco, Lúcia, Gaspar (o cão), Florípedes (a gata), Simeão (o burro) e Camaleão Alface (o detetive).

03 – Por que as cebolinhas da Vovó Felícia são consideradas especiais?

      As cebolinhas da Vovó Felícia são especiais porque são capazes de transmitir sentimentos como coragem, alegria, respeito e amor para quem as possui.

04 – O que acontece na primeira cena da peça?

      Na primeira cena, a Vovó Felícia percebe que uma de suas cebolinhas especiais foi roubada, e ela convoca seus netos, Maneco e Lúcia, para ajudar a descobrir quem foi o ladrão.

05 – Quem são os suspeitos iniciais do roubo?

      Os suspeitos iniciais do roubo são os animais da horta: Gaspar, Florípedes e Simeão.

06 – Quem é o detetive que se oferece para ajudar a Vovó Felícia a descobrir o ladrão?

      Camaleão Alface se oferece para ser o detetive e ajudar a resolver o caso.

07 – Por que os suspeitos começam a usar disfarces na segunda cena?

      Os suspeitos, incluindo Maneco e Camaleão Alface, usam disfarces para tentar confundir o ladrão e capturá-lo.

08 – Como a Vovó Felícia reage à confusão criada pelos suspeitos?

      A Vovó Felícia fica desolada e frustrada com a confusão e a falta de ajuda dos suspeitos, já que a segunda cebolinha também é roubada.

09 – Qual é a sugestão do detetive Camaleão Alface para encontrar a cebolinha roubada?

      Camaleão Alface sugere que todos os suspeitos sejam inspecionados, inclusive suas bocas, para verificar se a cebolinha foi ingerida durante a confusão.

10 – Como os suspeitos reagem à inspeção do detetive?

      Os suspeitos reagem com desconfiança e relutância em cooperar com o detetive durante a inspeção.

11 – Por que os animais da horta começam a latir e miar durante a cena noturna?

      Durante a cena noturna, os animais começam a latir e miar devido a algum barulho ou movimento suspeito que percebem na horta.

12 – O que acontece com a segunda cebolinha roubada no final da segunda cena?

      A segunda cebolinha é roubada durante a confusão e não é encontrada, agravando a situação e deixando a Vovó Felícia ainda mais triste.

 

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