quarta-feira, 22 de novembro de 2023

CONTO: MARABÁ - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Marabá

            Monteiro Lobato

        Ela não tinha a face da cor do jambo maduro, nem seus olhos eram escuros como as amoras da selva, e nem seu cabelo negro e corredio como o das outras virgens do sertão.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwyRRZsO7EIIYfDg1wstDkz45f-ih0cJlAdr-JLbqyyPq_VXofoY372OMzdNXAZSXMpZRFaceZb8mSg_C9zjRa89H23DTijlFQnAT8hyYys4BnhJYSSt68BepNw-PsieysRQqmgZcmxi2fX9BwFFlImNulhyphenhyphenGrZAqGg24LLQvmXir5aadgYu1UQJpi-hk/s320/URUMBELA.jpg


        — Branca e loura era à flor dos cactos, a formosa rainha da noite, que tem a face de neve e a coma de pálido ouro. Seus olhos azuis quais mimosas graciolas do prado, eram brilhantes de vida como as estrelas de uma noite escura.

        Não era mais alvo o jasmim da mata do que a sua branca tez, nem a flor do Pequiá mais vermelha que sua boca mimosa, e nem o cacho do coqueiro mais dourado que sua opulenta cabeleira.

        Mas a virgem Marabá não tinha sorriso...

        Era a branca flor da urumbeba que desabrocha entre espinhos!

        Se, gentil como a graça da ribeira, ela ia banhar-se à corrente, apenas a grande estrela aparecia no Céu, a formosa princesa das águas, a linda napê-jaçanau que abre nas ilhas verdejantes do igapê do rio, invejava-lhe a brancura dos seios, e, quando o sol nascente feria com suas setas de ouro as sossegadas águas, a flor rodeava de amargura e zelos, que no cristalino espelho sempre se via menos bela do que a virgem da floresta.

        Um dia a Marabá voltou pensativa...

        Ela vira a grande Igara do guerreiro do mar.

        E o guerreiro branco era formoso e sorria; e o guerreiro da tribo desprezava-a porque era Marabá!

        Ele tinha o rosto levemente tostado pela brisa dos mares; seus cabelos, suavemente ondeados, tinham a cor mais escura que a do fruto do castanheiro, porém não eram negros e ásperos como os das filhas do sertão.

        Os olhos, da cor dos cabelos, brilhavam como o fulgor da glória e enlanguesciam com o quebranto do amor.

        E o guerreiro branco sorria fitando-a...

        Mas a virgem selvagem fugiu como a gazela gentil.

         No outro dia, a beira do rio, a Marabá cantou o triste e meigo canto da mestiça; era um queixume terno e melodioso como o gemer da juriti sem companheiro.

        Ela suspirava assim:

Sou branca e linda como a açucena,

sou, como ela, pura e gentil;

tenho os cabelos em cachos de ouro,

tenho nos olhos a cor do anil.

 

Sou bela e triste e sou chorosa

qual entre espinhos a flor que abriu;

meus olhos garços só sentem lágrimas

como o rocio que a flor cobriu.

 

não tem meus lábios doce sorriso,

não tem meu peito fogo de amor;

mas, ah! bem sinto, no seio virgem,

De estranho anelo prazer e dor!

        O guerreiro do mar ouviu o canto da virgem infeliz...

        Uma tarde a Igara chegou pertinho; o guerreiro branco sorria; já tantas vezes sorria assim...

        Ele colheu a napê-jaçanan que se levanta das águas, beijou-a, apertou-a ao peito; depois, atirou-a a virgem formosa, e o guerreiro falou: — Vem!

        O som do boré estrugio na mata; os filhos da selva iam chegar.

        Assustada, a virgem selvagem lançou-se as águas serenas do rio...

        Um momento após a desventurada sobre o valente coração do guerreiro branco, já sorria feliz!

        E a grande igara partiu, mais veloz do que a uirá do guerreiro tupi.

               Escrito Iba Mendes às 14:19 – conto brasileiro. Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

Entendendo o conto:

01 – Quem é Marabá?

      Marabá é uma jovem virgem da floresta descrita como branca e loura, sendo diferenciada das outras virgens do sertão por sua aparência.

02 – Qual é o contraste entre Marabá e a "formosa rainha da noite"?

      Enquanto a "formosa rainha da noite" é descrita com uma pele escura e cabelos negros, Marabá é descrita como branca e loura, destacando-se por sua aparência única na selva.

03 – Por que Marabá é desfavorecida em comparação com a "napê-jaçanau"?

      A "napê-jaçanau", uma flor das ilhas verdejantes do igapê do rio, invejava a brancura dos seios de Marabá. No entanto, quando o sol nascente refletia nas águas, a flor se via menos bela do que a virgem da floresta.

04 – O que acontece quando Marabá encontra um guerreiro branco da tribo do mar?

      Marabá se depara com um guerreiro branco da tribo do mar, que parece demonstrar interesse nela. No entanto, ela foge, agindo como uma gazela gentil.

05 – Como o guerreiro branco da tribo do mar reage ao canto triste de Marabá?

      O guerreiro branco da tribo do mar parece ser tocado pelo canto triste de Marabá e, em uma tarde, se aproxima dela em sua Igara, sorrindo como já havia feito antes.

06 – Qual é o desfecho entre Marabá e o guerreiro branco?

      O guerreiro branco colhe a napê-jaçanau das águas, beija-a e depois a atira para Marabá. Ele a convida, e, assustada com a aproximação dos filhos da selva, Marabá lança-se às águas do rio.

07 – Qual é a conclusão do conto em relação a Marabá e ao guerreiro branco?

      Após um momento tenso e assustador, Marabá sorri feliz, deitada sobre o peito do guerreiro branco, enquanto a grande igara parte velozmente pelo rio, sugerindo um desfecho de união entre os dois personagens.

 

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