sexta-feira, 17 de novembro de 2023

CONTO-CARTA: À ESPERA DO AMOR - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

 Conto-carta: À espera do amor

                     Ignácio de Loyola Brandão 

Na porta do cinema

Cara Amália,

        O que você me pediu para contar foi simples. Aconteceu com Emílio, aquele que detestava o nome, mas o cartório se recusou a mudar. Tudo se passou assim: 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkZ-s28xamuTUdpvmCvl2-WJXCouHY0LJvKxFMRnitSQTZkAvjQNE3jN9Yjzfme9mx-92Q70dYkNdjhmFQ-pgc4umby2xfRIwQOffJz2yeNPtjjMKmm9C3AYjbPhEWaPhsrnl_JBzqzcAKQN6nOzM_TzBLKFETEiF2cgF7qLNj3_GczO3WnlIkRdFYAbQ/s320/PORTA%20CINEMA.jpg


        Aproximava-se da porteira do cinema.

        — Ela chegou?

        — Quem?

        — Minha namorada.

        — Como vou saber quem é?

        — Verdade, você não a conhece. Devem entrar aqui centenas de pessoas.

        —  Por dia? Milhares, principalmente num filme como esse! Não sei o que viram nele.

        — História de amor. Todo mundo gosta.

        — Amor! Como se alguém acreditasse no amor.

        — Eu acredito. Por isso estou aqui, à espera de minha namorada.

        — Há meses você vem todos os dias. Meses!

        Ficou por ali, com o rabo do olho na entrada do cinema.

        Terminou a primeira sessão, nada. A segunda, tudo igual. Antes da terceira – porque eram sessões corridas, normais, sempre que havia um filme de sucesso – houve uma troca de porteiros. Chegou o sujeito carrancudo que sempre desconfiava dele e, um dia, tinha chegado a chamar o segurança para expulsá-lo. O porteiro acenou:

        — Continua à espera?

        — Sempre!

        — Não entendo, juro que não entendo.

        — Porque nunca amou.

        — Quem disse?

        — Veja a sua cara! Amarrada, amargurada, tem o olhar triste e fundo. Cadê a alegria de quem ama?

        — Gosto muito.

        — Gostar não é amar.

        — Achei que era a mesma coisa.

        — Amar é tudo.

        — E gostar?

        — Gostar é gostar. Amar é amar. Gostar quer dizer trinta por cento do sentimento. Amar é cem por cento.

        — Você é estranho. Diz coisas complicadas.

        — Amar é simples.

        — Fico te olhando, você vem todos os dias, à espera dessa namorada que nunca aparece.

        — Vai aparecer.

        — Por que não liga para ela?

        — Não tenho o número!

        — Namora e não tem o número?

        — Não namoro ainda. Vou namorar.

        — O que?

        — Vou namorar. O dia em que ela chegar e entrar por essa porta, vou saber que é ela.

        — Como? Como é que se sabe? 

        — Sabendo. É olhar e sentir. O coração acelera, a gente começa a suar, o estômago sobe para a garganta, a respiração fica ofegante, as pernas ficam bambas, as unhas tremem.

        —  As unhas tremem?

        — É a melhor coisa. Tão bom viver assim. Você sente desaparecer.

        — Desaparecer?

        — Some. E quando percebe, você é outro. Está naquele que ama. Inteiro dentro, uma coisa só. Daquele momento em diante, dois viram um. Tornam-se uma só pessoa em tudo.

        — Sei, sei …

        Nesse momento, ele se afastou para deixar entrar uma jovem morena, de olhos miúdos e um riso que se esparramava pelo rosto e começou a suar.

        Os dois se olharam e ele percebeu que após meses e meses tinha acontecido. O coração acelerou.

        A espera tinha terminado. As unhas tremeram.

        Ela continuou olhando e também sentiu. O estômago subiu à garganta. E o porteiro ficou assombrado, quando em lugar de duas pessoas, viu entrar apenas uma no cinema.

        Onde estava a outra? A pessoa que entrou piscou maliciosamente para ele.

        “Entendeu?”, perguntou.

        O porteiro fez que sim… Era o amor.

Beijos do Luiz Ernesto

 © Ignácio de Loyola Brandão – Cartas, Iluminuras – 2005.  

Entendendo o conto-carta:

01 – Quem é o narrador do conto-carta?

      O narrador é Emílio, o protagonista da história.

02 – Por que Emílio estava esperando na porta do cinema?

      Ele estava à espera de sua namorada, acreditando que ela finalmente apareceria.

03 – Como Emílio descreve o sentimento de amar em comparação com gostar?

      Ele descreve que gostar é apenas trinta por cento do sentimento, enquanto amar é cem por cento, uma entrega total.

04 – Qual foi a reação do porteiro diante da situação de Emílio?

      O porteiro inicialmente estava incrédulo e confuso, mas no final, compreendeu a situação quando viu apenas uma pessoa entrar no cinema.

05 – O que Emílio esperava sentir quando sua namorada finalmente chegasse?

      Ele esperava sentir uma série de reações físicas e emocionais intensas, como coração acelerado, sudorese, estômago na garganta e tremores nas unhas.

06 – Como a narrativa revela o desfecho sobre o amor?

      O desfecho sugere que o amor verdadeiro é uma experiência transformadora, unindo duas pessoas em uma conexão tão profunda que elas se tornam uma só.

07 – Quais são as características físicas da jovem que Emílio finalmente reconhece como sua namorada?

      Ela é descrita como uma jovem morena, de olhos miúdos e com um sorriso que se espalha pelo rosto.

08 – O que o porteiro compreende no final do conto?

      Ele finalmente compreende que a pessoa que entrou no cinema sozinha representava a união de duas pessoas profundamente conectadas pelo amor.

09 – Qual é o sentimento predominante ao final do conto?

      O sentimento predominante é a realização e a revelação do poder transformador do amor.

10 – Como o conto explora a ideia de reconhecimento do amor verdadeiro?

      Ele explora a ideia de que o amor verdadeiro é reconhecido não apenas por aparências físicas, mas por uma conexão tão profunda que transcende a presença física, unindo duas pessoas em uma só.

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