domingo, 24 de janeiro de 2021

RELATO/POEMA: O SONHO - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

 Relato/poema: O sonho

                    José Paulo Paes

        Alguns anos atrás tive um sonho estranho com a casa de Taquaritinga onde vivi até os 11 anos. Sonhei que era um menino voador que fora pousar, feito passarinho, no teto da velha casa, para de lá ficar espiando o que se passava dentro dela. Escrevi então um poema a que dei o título de “A casa”.

Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas.

Na livraria, há um avô que faz cartões de boas-festas com corações de purpurina.

Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo.

Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos.

No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha.

Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão.

Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família.

Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias do outro mundo.

No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha.

E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo: trouxe-o até ali o pássaro dos sonhos.

Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa.

Antes que ele acorde e se descubra também morto.

        O sonho só me deu a base e a atmosfera fantasmagórica do poema; para o resto, recorri às lembranças que tinha dos meus familiares, quase todos mortos àquela altura. A velha casa de Taquaritinga estava, abandonada havia anos, arruinando-se.

     Quem, eu? – Um poema como outro qualquer. São Paulo, Atual, 1996.

Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p. 115-6.

Fonte da imagem- https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.lpm-blog.com.br%2F%3Fp%3D7411&psig=AOvVaw0tWCGdMA-L-6dGqf5fw1oO&ust=1611609935150000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJCXiIXBte4CFQAAAAAdAAAAABAO

Entendendo o relato/poema:

01 – O texto “O sonho” faz parte da autobiografia de José Paulo Paes de onde foi tirado também o texto “A casa”. Quando o autor teve o sonho descrito e quando escreveu o poema: na infância ou na idade adulta?

      Na idade adulta.

02 – Quem são os fantasmas da casa e o menino que os espia mencionados no poema?

      Os fantasmas são os familiares do autor, já mortos, e o menino é o próprio poeta, quando criança.

03 – Quais das personagens mencionadas no poema já haviam aparecido em “A casa”?

      O avô, o pai, a tia, a avó, o menino (o próprio poeta).

04 – No poema, as personagens aparecem caracterizadas da mesma forma como o foram no trecho escrito em prosa? Aponte semelhanças e/ou diferenças.

      Não. A caracterização no texto em prosa é mais detalhada e desenvolvida. No poema, é sintética e simbólica, havendo uma redução: cada personagem aparece no lugar da casa ao qual o poeta a associava, realizando apenas uma ação, a que ficou na memória do poeta (a mãe, no quarto, parindo; o pai, na sala de visitas, lendo, etc.).

05 – Leia:

        Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas”.

        Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa”.

a)   Em que tempo estão os verbos destacados? O que eles exprimem?

No imperativo afirmativo. Exprimem ordem ou pedido.

b)   Identifique no texto os advérbios e as locuções adverbiais que manifestam a urgência do menino em que a casa seja vendida.

Logo, depressa, antes que.

06 – Exceto o primeiro e os dois últimos versos, os outros escrevem ações dos familiares mortos e do menino. Identifique e copie no caderno os verbos empregados nesses versos. Em que tempo eles estão?

      Há, faz, imprime, lê, lustra, passa, conta, espia, está: presente do indicativo; morreu: pretérito perfeito; está parindo e (está) rachando: locuções verbais com o verbo auxiliar estar no presente e o verbo principal no gerúndio.

07 – Vimos que no texto “A casa” o tempo verbal predominante era o pretérito. No poema, o autor emprega principalmente o presente. Por quê?

      Na autobiografia ele narrava fatos antigos, de sua infância. No poema, descreve as cenas como se as estivesse visualizando no momento em que escreve.

08 – Reúna-se com um colega e escrevam no caderno um parágrafo explicando como vocês interpretam os sentimentos do poeta nos versos seguintes:

        “Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-se depressa.

         Antes que ele acorde e se descubra também morto”.

      Resposta pessoal do aluno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário