SONETO: Suave Mari Magno
Machado de Assis
Lembra-me que, em certo dia,
Na rua,
ao sol do verão,
Envenenado
morria
Um pobre
cão.
Arfava,
espumava e ria,
De um
riso espúrio e bufão,
Ventre e
pernas sacudia
Na
convulsão.
Nenhum,
nenhum curioso
Passava,
sem se deter,
Silencioso,
Junto ao
cão que ia morrer,
Como se
lhe desse gozo,
Ver
padecer.
Glossário:
Espúrio: não genuíno, ilegítimo, ilegal, falsificado.
Entendendo
o poema
Ao mesmo tempo em que
‘arfava’, ‘espumava’ e ‘sacudia o ventre e as pernas’ – reações esperadas no
caso de um animal em convulsão causada pelo veneno -, o cão,
surpreendentemente, ‘ria’ ‘um riso espúrio e bufão’.
2. Por que se pode afirmar que os passantes, diante dele, também agem de forma paradoxal?
Pode-se afirmar que os
passantes também agem de forma paradoxal porque seria de se esperar deles algum
compadecimento diante do animal. No entanto, o que se nota é que ‘todo’
passante detinha-se, em silêncio, com quem experimenta um prazer ao observar o
padecimento do animal que ia morrer.
O título do poema
indica o sentimento de prazer dos passantes que se comportam como se estivessem
imunes ao sofrimento de que padece o cão, muito embora ninguém esteja livre da
dor e da morte.
Por isso, o riso
espúrio e bufão do animal agonizante parece assinalar a ironia diante dessa
pretensa isenção por parte daqueles que o observam com perversa curiosidade.
4. A maioria das palavras empregadas é de substantivos concretos? Isso determina que o texto é figurativo ou abstrato?
O texto é figurativo,
pois faz uso de vários substantivos concretos. É um texto que representa o
mundo.
5. Há presença de paradoxos no texto de Machado de Assis?
Utiliza-se da figura de
um cão para analisar as ações humanas e seus acontecimentos. São vários os
substantivos concretos que denotam as reações paradoxais do cão: dia, rua, sol
de verão, cão, riso, ventre, pernas, convulsão. Tais elementos determinam o
paradoxo que consiste na coexistência da dor com o riso no momento da morte.
6. Qual a reação dos curiosos que passavam por ali?
Concomitantemente, os
curiosos que por ali passavam também agiam de forma paradoxal, pois se detinham
junto ao cão, silenciosamente, em atitude contemplativa que sugere muita
atenção. O paradoxo, nesse caso, consiste no prazer diante da dor alheia.
7. O que se pode concluir da análise do poema?
O eu lírico faz uso de
vários substantivos concretos para criar uma atmosfera abstrata que traduz uma
alegoria em que a dor de um cão moribundo desperta prazer nos passantes. A dor
alheia causa prazer porque quem a contempla não a está sentindo.
Muito boa análise desse poema. Boa escolha. Um poema sofrido.
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