sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

CRÔNICA: QUEM MATOU ABEL? ALEXANDRE AZEVEDO - COM GABARITO

 CRÔNICA: QUEM MATOU ABEL?   

                        Alexandre Azevedo

         O inspetor escolar, para verificar o conhecimento geral dos alunos, entra na sala de aula. Interrompe a professora de Ensino Religioso e pergunta:

          -- Alguém sabe me dizer quem matou Abel?

          A sala permanece em silêncio. Ninguém se atreve a responder. O inspetor insiste na pergunta, agora dirigindo-se a um aluno:

          -- Pedrinho, quem matou Abel?

          O Pedrinho, suando frio, responde:

          -- Juro pro senhor que eu não fui. Ando com esse canivete no bolso, mas é só pra apontar o lápis!

          O inspetor, surpreso com a resposta do aluno, dirige-se à professora:

          -- Dona Marlene, a senhora ouviu o que ele disse?

          -- Ouvi sim senhor, seu Percival, mas eu conheço o Pedrinho desde que nasceu. Se ele disse que não matou, é porque não matou! Esse guri aí não mente, pode ter certeza.

          Indignado, o inspetor sai da classe e se encaminha à diretoria:

          -- Dona Gertrudes, eu exijo uma explicação!

          A diretora, estranhando o procedimento do inspetor, pergunta:

          -- O que aconteceu, seu Percival?

          -- Eu fui à sala da professora Marlene e perguntei a um aluno quem é que tinha matado Abel. E sabe o que ele respondeu? Que não tinha sido ele. E o pior de tudo é que a professora concordou!

          A diretora coloca a mão no ombro do inspetor, tentando acalmá-lo:

          -- Olha, inspetor, eu não conheço muito bem o menino, mas, se a professora disse que não foi ele, o senhor pode ficar tranquilo. E, no mais, aquele menino é uma criança, ele não faria uma coisa dessas.

          Enfurecido, o inspetor vai à Secretaria de Educação. No gabinete do secretário, relata, tintim por tintim, toda a história:

          -- E foi isso que aconteceu. Dá pra acreditar?

          O secretário, abismado com o acontecido, não quis acreditar:

          -- O senhor tem certeza? É muito difícil acreditar que uma criança tenha cometido tal crime! Talvez fosse melhor entregar o caso à polícia. Tenho certeza de que o delegado tomará as providências necessárias.

           Desesperado, o inspetor invade a sala do governador. Ele, por sua vez, ouve toda a história. No final, tenta tranquilizá-lo:

           -- Pode ficar tranquilo, senhor Percival. Nós acharemos o verdadeiro culpado. A justiça falha, mas não tarda! Quero dizer, tarda, mas não falha! Pode ter certeza de que quem matou Abel será punido, eu prometo!

            O inspetor está agora totalmente transtornado:

            -- Pelo amor de Deus! Eu não posso acreditar no que estou ouvindo!

            Sem se preocupar com o local, ele grita:

            -- Caim e Abel eram filhos de Eva! O senhor nunca leu a Bíblia?!

            O governador, aliviado, dá uma bronca no inspetor:

             -- Ah! Está na Bíblia, é? Ora, então já devem ter arquivado o processo! Eu tenho mais o que fazer, passar bem!

                                        Alexandre Azevedo. O vendedor de queijos e outras crônicas. São Paulo: Atual, 1991.

                               Fonte: Livro – Português – 5ª série- Palavra Aberta- Isabel Cabral – São Paulo: Atual, 1995, p. 89, 90 e 91.


Entendendo o texto

1.   Vamos observar as personagens do texto.

a)   Quais são as personagens que participam da história?

O inspetor escolar, a professora, os alunos, a diretora, o secretário de Educação e o governador.

b)   Quem é a personagem mais importante? Por quê?

O inspetor de alunos. A história gira em torno dele.

c)   O narrador também é personagem?

Não.

2.   O inspetor escolar queria verificar o conhecimento geral dos alunos e ficou surpreso ao perceber que eles não conheciam a história de Caim e Abel.

a)   De acordo com o texto, o que significa não conhecer essa história bíblica?

Significa que o conhecimento geral dos alunos era péssimo.

b)   Apenas os alunos não tinham bom conhecimento geral? Quem mais confundiu a morte de Abel com um crime comum?

Não. A professora, a diretora, o secretário de Educação e o governador.

c)   Podemos afirmar que, utilizando o humor, o autor critica todos os que participam do funcionamento das escolas? Retire dois trechos do texto que comprovem a sua resposta.

Sim, pois ocorre o contrário do esperado: que as pessoas que se relacionam às escolas tenham um bom conhecimento geral. “[...] se a professora disse que não foi ele, o senhor pode ficar tranquilo” / “É muito difícil acreditar que uma criança tenha cometido tal crime!”.

3.   Todos os conhecimentos que temos são aprendidos na escola? Por quê?

              Resposta pessoal do aluno.

 

       

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