domingo, 24 de janeiro de 2021

REPORTAGEM: A PLANTA DA FELICIDADE - JOGENDRA SAKSENA - COM GABARITO

 Reportagem: A planta da felicidade            

Jogendra Saksena

     Na Índia, uma arte popular para todas as estações

        Na Índia as artes populares tradicionais inspiram-se frequentemente nas crenças religiosas. No estado de Rajasthan, a sudoeste de Délhi, nas férteis planícies pontilhadas pelos célebres palácios e fortalezas rajput, a arte do mehndi – pintura de mãos para mulheres – integra-se no ciclo de festas e cerimônias.

        Durante séculos as mulheres da Índia e do Oriente Médio usaram mehndi (ou henê) para decoração, mas as mulheres da comunidade Vaixía, do Rajasthan, destacam-se por usá-lo para cobrir de desenhos artísticos as palmas das mãos, os dedos dos pés e até os pés. Esses enfeites variam conforme a ocasião – casamentos, nascimentos ou festas como o Holi e o Gangur.

        O henê é uma planta muito cultivada na África e no sudoeste da Ásia para ornamento e para tintura. É empregado para tingir os cabelos, para pintar animais e tingir peles. Também serve como adstringente nas doenças da pele, em queimaduras e contusões.

        Desde os tempos bíblicos s mulheres do Egito e da Índia usam o creme de henê para pintar de vermelho-alaranjado as unhas e diversas partes das mãos e dos pés, a fim de realçar sua beleza. A cor se mantém por três ou quatro semanas.

        [...]

        Acredita-se que a pintura de mehndi tivesse chegado à Índia com os muçulmanos, mas na verdade começou muito antes, antes mesmo do período Gupta (350 a.D.). As antigas pinturas murais de Ajanta-Ellora mostram cenas de decoração com mehndi; numa cena vê-se uma princesa de Pataliputra repousando semi-adormecida sob uma árvore, enquanto uma amiga lhe decora os pés e as mãos com desenhos feitos com mehndi.

        [...] Hoje essa ornamentação corporal tornou-se um complexo de desenhos geográficos e florais que continua a ser indispensável em algumas regiões, mas que em outras já desapareceu.

        O mehndi, sob a forma de folhas, é amassado, reduzindo a pó e misturado com caldo de limão, água açucarada e algumas gotas de óleo de parafina. O resultado é uma pasta escura, cuja cor persiste muito tempo. As mãos e os pés são muito bel lavados com besan (farinha de grão-de-bico) ou sabão.

        Os belos desenhos são feitos com palito, com arame fino ou mesmo com o dedo indicador. A pasta é aplicada em riscos delgados, e a pessoa que a aplica não de tocar a pele que está pintando. Quando o desenho está pronto, espera-se que seque e penetre na pele.

        Aplicando-se pasta de calcário sobre henê vermelho obtêm-se desenhos brancos em fundo vermelho: é o método batik. Para manter a intensidade da cor vermelha, as mãos são esfregadas com óleo de sésamo ou de mostarda e depois lavados. Os desenhos mantêm-se por duas ou três semanas. Há também desenhos já prontos, que podem ser aplicados com rapidez, mas desaparecem mais depressa. É preciso tempo e dedicação para fazer pintura com mehndi; o trabalho leva de quatro a oito horas no caso de uma noiva.

        O mehndi dá sorte no casamento. Quanto mais escuro o vermelho na palma da mão de uma mulher, mais ela é amada pelo marido. Como a arte do mehndi simboliza a durabilidade do amor entre marido e mulher, só pode ser praticada por mulheres casadas, para as quais é símbolo do estado matrimonial. Solteiras e viúvas não podem ostentar esses desenhos, mas as mulheres mortas são ornadas com mehndi como se fossem noivas. Moças e rapazes solteiros não podem untar os pés com mehndi porque dá azar. Mulher grávida não pode usar o mehndi.

        Acredita-se que Lakshimi, deusa da sorte e da felicidade, esteja presente nos desenhos feitos com mehndi. Um sinal feito com mehdi na fronte de uma pessoa atrai boa sorte, como também dá sorte oferecer mehndi aos deuses e deusas para aplica-los, pedir-lhes favores ou afastar maus espíritos. As decorações com mehndi são indispensáveis nas mãos e nos pés das noivas durante a cerimônia do casamento.

        [...]

        Os desenhos de mehndi dividem-se em várias categorias: estações, festas, cerimônias e miscelânea. Esta última categoria serve para enriquecer os desenhos específicos e limitados que se fazem para as festas e cerimônias. Neles são representados muitos costumes e crenças populares.

        Bicchu (escorpião) é um símbolo do amor e um desenho muito popular, especialmente no verão. O papagaio também é um símbolo importante nas canções populares de Rajasthan; representa o mensageiro das heroínas. O pavão, notável por suas muitas cores, é o companheiro querido das mulheres sepradas dos maridos. Também são representados objetos da vida cotidiana: gulodices, roupas, flores e objetos usados em jogos, como chakaris (brinquedos que giram como piões). Os keris (mangas verdes), as castanhas-d’água e o lótus são motivos frequentes.

        Desenhos onde aparecem o sol, a lua, estrelas e keri representam o casamento perfeito que dura a vida inteira. As flores simbolizam a felicidade; as mangas verdes são a virgindade e a chegada do verão. O pavão, o papagaio e o escorpião são símbolos do amor.

        As estações do ano na Índia são o verão, as chuvas e o inverno. O verão e a estação das chuvas duram das festas Holi às festas Deepavali, ou seja, de março a outubro. O mehndi é apropriado ao verão porque refresca e amacia as mãos. Tem também propriedades medicinais apreciadas durante a estação chuvosa. Os bijanis (leques), em centenas de variedade, são motivo popular próprio para o verão, por simbolizarem o ar fresco e um alívio para o calor.

        Na estação das chuvas os desenhos são mais numerosos, mais trabalhados e até mais exuberantes do que no verão e no inverso. É a época em que a decoração com mehndi atinge sua maior beleza. Desenham-se keri e chopar (jogo parecido com o gamão). Laharia – onda do mar ou de rio – reflete os sentimentos de alegria e excitação próprios da época e do espírito da estação. É também a estação do mela, das feiras, dos festivais; muitas mulheres passam tempo no jardim, brincando em balanços. Os sentimentos próprios dessa estação se exprimem nas vestimentas vibrantes, onde se misturam as cores do arco-íris, e nas formas do laharia e dos keni. Tudo isso se encontra nos desenhos feitos com mehndi. Vários desenhos são inspirados no ghevar, espécie de guloseima que os irmãos oferecem às irmãs nos dias de festa.

        Como o mehndi tem características refrescantes, o inverno é a estação que lhe é menos favorável. Nessa época há menos desenhos. [...]

        A arte do mehndi está profunda e intimamente ligada à vida popular e até originou provérbios. “Mão pintada com mehndi” refere-se a uma pessoa que procura fugir do trabalho. Também se diz que “o mehndi só produz cor quando é amassado sobre uma pedra”. Isso quer dizer que só com sofrimento se adquire experiência da vida.

        O mehndi fornece um quadro verdadeiro da vida do povo e esclarece aspectos de sua mentalidade. A beleza, o encanto e a riqueza dessa tradição estão muito bem resumidos nestes versos de um poeta urdu: “Resolvi agora escrever os desejos do meu coração sobre as folhas do mehndi. Quando ela vier colher estas folhas, colocará a mão sobre elas, lerá minha mensagem e saberá meu segredo”.

   O Correio. Rio de Janeiro, ano 5, n. 4, 1977.

Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p. 233-6.

Entendendo a reportagem:

01 – Para que você possa compreender bem a origem da pintura corporal de que fala o texto lido, faça as seguintes atividades:

a)   Em um atlas geográfico mundial, localize a Índia e Délhi, uma importante cidade desse país.

Resposta pessoal do aluno.

b)   Em um mapa da Índia, localize o estado de Rajasthan, que fica a sudoeste de Délhi.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Compare os resultados de sua pesquisa com os encontrados por um colega.

Resposta pessoal do aluno.

02 – Dividimos a seguir o texto em seis partes. Escreva em seu caderno quais parágrafos podem constar de cada parte:

·        Localização no espaço e no tempo da arte do mehndi – pintura de mãos para mulheres;

Do 1° ao 6° parágrafos.

·        A técnica do mehndi;

Do 7° ao 9° parágrafos.

·        As crenças associadas ao mehndi;

10° e 11° parágrafos.

·        As categorias e os símbolos do mehndi;

Do 12° ao 14° parágrafos.

·        Mehndi e as estações do ano;

Do 15° ao 17° parágrafos.

·        Mehndi e a cultura popular.

18° e 19° parágrafos.

03 – Pesquise em um dicionário as palavras do texto cujo significado você desconhece. Lembre que você poderá encontrar mais de um significado para cada palavra procurada. Anote apenas o significado mais adequado, considerando a frase em que ela está.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – O título e a chamada de reportagem estão adequados à reportagem? Comente um pouco sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O título e a chamada são uma síntese das ideias expressas na reportagem.

05 – Vamos fazer uma nova divisão do texto, desta vez em três partes:

·        Apresentação do assunto (do 1° ao 66° parágrafo);

·        Desenvolvimento (do 7° ao 17° parágrafo);

·        Conclusão (18° e 19° parágrafos).

        Crie um intertítulo para a segunda e outro para a terceira parte. Compare seus intertítulos com os criados por seus colegas.

      Resposta pessoal do aluno.

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