POEMA: Ignição
Antônio Osório
Meus versos, desejo-vos na rua,
nas padiolas, pelo chão, encardidos
como quem ganha com eles a vida,
e o papel vá escurecendo ao sol,
a chuva o manche, a capa
ganhe dedadas, a companhia
aderente de um insecto,
as palavras se humildem mais
e chegue a sua vez de comoverem alguém
que compre, um faminto ajudando.
Meus versos, desejo-vos nas bibliotecas
itinerantes, gostaríeis de viajar
por aldeias, praias, escolas primárias,
despertar o rápido olhar das crianças,
estar nas suas mãos
completamente indefeso
e, sobretudo, que não vos compreendam.
Oxalá escrevam, risquem, atirem no recreio
umas às outras como pélas os livros
e sonhem, se possível, com algum verso
que súbito se esgueire pela sua alma.
António Osório, in 'Décima Autora'
https://www.citador.pt/poemas/ignicao-antonio-osorio
Entendendo o poema
1) A quem o eu lírico se dirige no início de cada estrofe?
O uso da segunda pessoa
do plural (desejo-vos) indica que o eu lírico dirige-se inicialmente aos seus
próprios versos por meio do vocativo.
2) No início da segunda estrofe, que reações contraditórias ele espera das crianças?
A partir do início da segunda estrofe, o eu lírico manifesta desejo
de que as crianças sejam leitores de seus versos, que tenham curiosidade por
eles e, contraditoriamente, que tais versos não sejam por elas compreendidos.
3) Ao final da segunda estrofe, que desejo ele manifesta a respeito do futuro da poesia?
No final da segunda estrofe o eu lírico expressa seu desejo de
despertar nas crianças a inspiração e o gosto pela poesia, para que ela, se
possível, deem continuidade à arte de fazer poesias.
4) Que sugere o título “Ignição”, após a leitura do poema?
Sugere que o eu lírico através dos versos seriam a “ignição” nas almas das crianças, os futuros poetas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário