SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA
As questões 01 a
04 referem-se ao texto abaixo, que apareceu como legenda de uma foto no Jornal
de Londrina.
Rua
de Londrina, provavelmente final dos 30 ou começo dos 40, decerto a atual
Avenida Paraná. Um lamaçal com enxurrada e, claro, lá no fundo dois moleques
andando na enxurrada. Um homem limpa o barro dos pés num chora-paulista. Outro
homem de roupa clara (usar roupa clara parecia até um protesto elegante contra
o barro e a poeira) está na porta olhando para fora, talvez tomando coragem de
enfrentar o terror daqueles tempos, a rua embarreada cheia de armadilhas.
Podia-se atolar os sapatos ou perder as galochas sugadas pelo barro. Podia-se
levar tombo, que a terra-vermelha é escorregadia, e sujar a roupa lavada em
tanque e secada em varal quando a poeira deixava. Em todos os relatos de
pioneiros, é impressionante como falam enfaticamente do barro e da poeira como
flagelos diários. A mesma terra que dava a riqueza, dava o castigo. A História
de Londrina pode ser poeticamente dividida em tempo da clareira (o povoado),
tempo do barro, tempo do paralelepípedo e tempo do asfalto, correspondendo aos
ranchos de palmito, casas de madeira, de alvenaria e finalmente concreto ou
pré-moldados. Quatro estrelas na bandeira, quatro tempos na História.
(Domingos
Pellegrini Junior. Jornal de Londrina, 13/5/2001, p. 3C.).
01 - A que se
refere o autor com a expressão "terror daqueles tempos"?
a) À violência
que começava a aparecer na cidade.
b) À situação
política, pois a Segunda Guerra Mundial era iminente.
c) Ao lamaçal em que se
transformava a cidade quando chovia.
d) À obrigação
de as pessoas se vestirem com roupa clara num lugar de terra vermelha.
e) Às obras
que modernizariam a cidade logo em seguida.
02 - “A História de Londrina
pode ser poeticamente dividida em tempo da clareira (o povoado), tempo do
barro, tempo do paralelepípedo e tempo do asfalto...” Neste trecho, o autor
expressa:
a) Relação entre o tempo e a
matéria que o representa.
b) Analogia
entre o espaço urbano e o rural.
c) Comparações
entre as causas e consequências do desenvolvimento urbano.
d) Relação
entre o material usado e as características dos habitantes.
e) Oposição
entre ruas e casas no mesmo contexto histórico.
03 - A descrição do autor
está repleta de expressões que revelam uma avaliação ou opinião, o que torna o
texto bastante subjetivo. Assinale a alternativa que NÃO contém essas expressões de subjetividade.
a) Um lamaçal
com enxurrada e, claro, lá no fundo dois moleques...
b) ... usar
roupa clara parecia até um protesto elegante contra o barro e a poeira...
c) Em todos os
relatos de pioneiros, é impressionante como falam...
d) A História
de Londrina pode ser poeticamente dividida em...
e) Um homem limpa o barro dos
pés num chora-paulista.
04 - “Podia-se levar tombo,
que a terra-vermelha é escorregadia, e sujar a roupa lavada em tanque e secada
em varal quando a poeira deixava.” No período acima, estabelecem-se relações
de:
a) explicação
e proporcionalidade
b) concessão e
temporalidade
c) conclusão e
causalidade
d) explicação e temporalidade
e) concessão e
condicionalidade.
05 - Em relação aos quadrinhos, considere as seguintes afirmativas:
I - Brincar e
explorar o lado lúdico são expressões apresentadas como formas variantes do
mesmo significado.
II - Lúcio não
aceita o convite para brincar de astronauta porque se considera um intelectual.
III - Nas
falas de Lúcio, há, implícito, um conceito de intelectual: aquele que fala
difícil ou complica o que é simples. É correto afirmar:
a) Apenas as
afirmativas II e III são verdadeiras.
b)
Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
c) Apenas a
afirmativa I é verdadeira.
d) Apenas as
afirmativas I e II são verdadeiras.
e) Todas as
afirmativas são verdadeiras.
As questões 06 e 07 referem-se ao texto abaixo.
Não faz tanto tempo assim, a noção de
risco, como hoje a conhecemos, não existia. Doenças e mortes eram consideradas
inevitáveis consequências de um destino divinamente planejado, sobre o qual não
possuíamos controle. As pessoas não pesavam as consequências da escolha de sua
carreira, do uso de tecnologias ou das políticas sociais simplesmente porque
essas opções não existiam. O risco era uma província povoada por jogadores de
dados e cartas, aliás os primeiros a medi-lo e a manipulá-lo. A emergência do
capitalismo globalizado, junto com a ciência e a tecnologia, trouxe benefícios
inegáveis à agricultura, aos transportes e à saúde. Mas também nos transformou
em jogadores numa escala jamais vista. Durante o século XX, contemplamos o lado
negativo de avanços tecnológicos que foram instrumento de guerras e
atrocidades. Aprendemos a temer acidentes, poluição, extinção de espécies,
desmatamento, lixo atômico, além da contaminação da água e dos alimentos com
agrotóxicos. Agora, na medida em que entramos no século XXI, deparamos com
estonteantes possibilidades tecnológicas: clonagem, membros cibernéticos para
repor componentes humanos, alimentos geneticamente modificados. Naturalmente
questionamos se esse contínuo avanço tecnológico implicará riscos
imprevisíveis.
(Andrea Kauffmann-Zeh. A miopia científica, Revista
Época, 30/4/2001, p. 114.)
06 - As expressões os
primeiros e esse contínuo avanço tecnológico referem-se, respectivamente, a:
a) jogadores – componentes humanos
b) dados e cartas – clonagem
c) riscos de manipulação – membros
cibernéticos
d) usos das tecnologias – alimentos
geneticamente modificados
e) jogadores de dados e cartas –
estonteantes possibilidades tecnológicas.
07 - No texto acima, o
autor:
a) Estabelece uma comparação entre o
século XX, cujos avanços tecnológicos foram usados como instrumentos de guerra,
e o século XXI, no qual a tecnologia transformará o homem num ser cibernético.
b) Compara os riscos do século XX, que
já podemos avaliar, aos riscos certos que se originarão do avanço tecnológico
do século XXI.
c) Mostra que, apesar das atrocidades do
século XX, os avanços do século XXI trarão consequências ainda piores.
d) Alega que os séculos XX e XXI se
igualam em perigos provenientes do avanço tecnológico principalmente nas áreas
da saúde e da agricultura.
e) Compara três momentos: o primeiro, em
que não se conhecia a noção de risco; o segundo, que começa com os avanços
tecnológicos cujos riscos sabemos avaliar; o terceiro, cujos avanços poderão
trazer riscos ainda desconhecidos.
08 - Assinale a alternativa
que NÃO segue as normas cultas de
concordância.
a) Desconheciam-se as noções de risco
que se conhecem hoje.
b) Não se pesavam as consequências da
escolha de uma carreira.
c) Contemplou-se o lado negativo dos
avanços tecnológicos.
d) Aprendeu-se a temer acidentes, poluição,
extinção de espécies.
e) Questionou-se
os avanços tecnológicos com consequências desconhecidas.
As questões 09 e 10 referem-se ao texto
abaixo.
Dinheiro aos cachos Uma dinamarquesa de
83 anos deixou tudo que tinha – 60 000 dólares – de herança para seis
chimpanzés. Os macacos vivem no zoológico de Copenhague. O zoo vai utilizar o
dinheiro para fazer uma megarreforma na jaula dos chimpanzés.
(Revista Terra, outubro de 2000.).
09 - Assinale a alternativa
em que todas as palavras são formadas com o uso de um prefixo com sentido
contrário ao prefixo da palavra megarreforma.
a) hipermercado – hipersensível –
hipertensão – hipertermia
b) megalópole – megalomaníaco – megashow
– megascópio
c) microbiologia
– microscópio – microrregião – microfone d) uníssono – unilateral – unipolar –
uninominal
e) semicírculo – semiconsciência –
semideus – semidiâmetro.
10 - Quanto ao título do
texto, é INCORRETO afirmar:
a) O dinheiro
foi entregue ao zoo em fardos.
b) O título manifesta a ironia do autor
em relação ao episódio.
c)
A expressão aos cachos faz referência ao volume de dinheiro doado aos
chimpanzés.
d) A expressão aos cachos foi utilizada
por permitir alusão cômica a bananas, alimento normalmente associado a macacos.
e) A expressão aos cachos poderia ser
substituída por às pencas sem prejuízo do efeito cômico sugerido pelo título.
As questões 11 a 14 referem-se ao texto
a seguir.
Mais onze planetas Ainda não somos
capazes de responder à questão crucial — se há ou não vida fora da Terra. A
existência de planetas fora do sistema solar, contudo, já deixou o plano
teórico. Na semana passada, onze novos planetas foram acrescentados aos 52
identificados nos últimos seis anos. São planetões do tamanho de Júpiter, o
maior do sistema solar. Entre as descobertas há dois sistemas planetários, cada
um com dois astros girando em torno da estrela central. Há também um planeta
que mantém uma órbita muito semelhante à da Terra em torno do Sol. O mais
fascinante é que ele está, em relação a sua estrela, dentro da chamada zona
habitável, ou seja, aquela que teoricamente reúne as condições de temperatura e
luminosidade compatíveis com a existência de vida. (...). Há outra novidade no
ramo dos planetas: astrônomos ingleses anunciaram ter encontrado evidências de
pelo menos uma dúzia deles vagando pela nebulosa de Órion. Eles os chamaram de
“planetas errantes”, cuja característica principal é não estarem presos ao
campo gravitacional de uma estrela. A maioria dos astrônomos prefere
classificá-los como estrelas anãs marrons, categoria intermediária entre as
definições de estrelas e de planetas. Eles têm o aval da União Astronômica
Internacional, que se mantém fiel à definição clássica de que um planeta é um
objeto que percorre órbita fixa em torno de uma estrela. Até a contenda ser
esclarecida os errantes estão fora da lista oficial de planetas.
(Veja,
11/04/2001.).
11 - Os chamados “planetas
errantes” trazem dificuldades para a sua classificação porque
a) não percorrem
órbita fixa em torno de uma estrela.
b) estão vagando na nebulosa de Órion,
no campo gravitacional de uma estrela.
c) a União Astronômica Internacional
ainda não tem um conceito definido de estrela.
d) pertencem a sistemas planetários
diferentes.
e) não apresentam temperatura e
luminosidade compatíveis com a existência de vida.
12 - Observe:
I - Eles têm o aval da União Astronômica
Internacional... (apoio).
II - Até a contenda ser esclarecida...
(controvérsia).
III - ... reúne as condições de
temperatura e luminosidade compatíveis com a existência de vida. (Adequados à)
As palavras entre parênteses poderiam substituir as grifadas, sem alterar o
sentido da frase, em:
a) I somente.
b) I e II somente.
c) I e III somente.
d) II e III somente.
e) I, II e III.
13 - Assinale a alternativa
em que a pontuação está correta.
a) Há duas novas descobertas no campo da
astronomia: a primeira diz respeito a novos sistemas planetários que foram
descobertos recentemente; a segunda se refere a astros que ora são
classificados como planetas, por possuírem órbita fixa, ora como estrelas.
b) Há duas novas descobertas no campo da
astronomia. A primeira diz respeito a novos sistemas planetários, que foram
descobertos recentemente; a segunda, se refere a astros que ora são
classificados como planetas por possuírem órbita fixa, ora como estrelas.
c) Há duas novas descobertas no campo da
astronomia: a primeira, diz respeito a novos sistemas planetários que foram
descobertos recentemente. A segunda se refere a astros, que ora são
classificados como planetas por possuírem órbita fixa, ora como estrelas.
d)
Há duas novas descobertas no campo da astronomia. A primeira diz respeito a
novos sistemas planetários que foram descobertos recentemente. A segunda, se
refere a astros que ora são classificados, como planetas por possuírem órbita
fixa, ora, como estrelas.
e) Há duas novas descobertas no campo da
astronomia: a primeira diz respeito a novos sistemas planetários que foram
descobertos recentemente; a segunda se refere a astros que ora são
classificados como planetas, por possuírem órbita fixa ora como estrelas.
14 - “Eles os chamaram de
'planetas errantes', cuja característica principal...” O uso de cujo está se
restringindo quase que exclusivamente à língua escrita. Por isso, os falantes
apresentam, cada vez mais, desconhecimento no emprego dessa forma. Todas as
sentenças abaixo estão em desacordo com a norma culta. Assinale a única em que,
segundo essa norma, deveria haver o uso de cujo.
a) Os alunos que as matrículas foram
indeferidas entraram com novo requerimento.
b) Ganhei vários livros os quais não
gostei.
c) Recebi uma proposta que não
concordei.
d) Relatei o processo que todos se
referiram na última reunião.
e) O guarda se irritou com a turma que
ele discutiu.
As questões 15 e 16 referem-se aos
textos que seguem.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Confidência do Itabirano.
In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 101.) CHE GUEVARA (1967).
Que
boina, que belo, que barba... Que sonho, que sanha, que santo... O olhar que,
na foto célebre, escruta ao longe, e espreita, e espia, confirma-o como
inigualável sentinela da utopia. (...) CHE GUEVARA (2001) É apenas um pôster na
parede. Mas como dói.
(TOLEDO,
Renato Pompeu de. Epigramário dos náufragos dos anos 60, Veja, 21/2/2001, p.
150.)
15 - O final do texto de
Toledo
a) faz um plágio do texto de Drummond, o
que é um sinal de desonestidade e incapacidade criativa do autor.
b) coincide acidentalmente com o texto
de Drummond: como ambos retratam situações semelhantes, usam também textos
análogos.
c) evoca intencionalmente o conhecido
poema de Drummond, para marcar a semelhança de sentimentos.
d) faz uma paródia do poema de Drummond,
imitando-o em um texto que se caracteriza pelo sentimentalismo.
e) apresenta uma paráfrase do poema de
Drummond, com o propósito de divulgá-lo entre os leitores da revista em que
está publicado.
16 - Comparando-se o início dos textos dos
dois autores, observa-se que:
a)
Embora com algumas diferenças nos elementos selecionados, ambos fazem
referência a um passado marcado pela luta por um ideal político.
b) Para Drummond, lembrar Itabira dói,
devido à saudade de sua juventude; para Toledo, lembrar Che Guevara dói, devido
à descrença atual nos ideais dos anos 60.
c) Ambos gostariam de voltar ao passado,
representado, no poema de Drummond, pela foto de sua cidade natal e, no texto
de Toledo, pelo pôster de um herói de sua juventude.
d) Há uma semelhança no início dos dois
textos, pois os autores retratam o mesmo período da história do Brasil.
e) Ambos têm como tema principal a
tristeza pela perda da juventude.
17 - Em painéis colocados
estrategicamente nas saídas de Londrina, uma propaganda em que se destaca a
logomarca de uma empresa de telecomunicações apresenta o seguinte texto: Agora
você já sabe por que todo mundo fala bem de Londrina. A respeito da ambiguidade
desse texto publicitário, considere as seguintes afirmações:
I - A ambiguidade da sentença decorre do
fato de todas as expressões usadas terem sentido genérico.
II - Os locais onde foram afixados os
painéis e o fato de se tratar de anúncios de uma empresa de telecomunicações
constituem o contexto que facilita a percepção de diferentes leituras.
III - Existe uma interpretação mais
ligada ao serviço de telefonia. Nessa, a expressão de Londrina deve ser
entendida como lugar de procedência da chamada telefônica. Sobre as afirmativas
acima, é correto afirmar:
a) Apenas as afirmativas I e III são
verdadeiras.
b) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
c) Apenas a afirmativa II é verdadeira.
d) Apenas as afirmativas I e II são
verdadeiras.
e) Apenas as afirmativas II e III são
verdadeiras.
18 - A palavra bem pode
assumir diferentes significados de acordo com o contexto. Assinale a
alternativa em que bem expressa uma circunstância de modo.
a) Quem se cuida
vive bem.
b) A educação é o maior bem da
humanidade.
c) Era uma tarde quente, bem quente para
os dias outonais.
d) Bem! De agora em diante falaremos de
outro assunto.
e) Não diga isso do rapaz, ele é gente
bem.
19 - A forma pronominal onde
é usada segundo as normas do português padrão na alternativa:
a) Parte da população brasileira vive na
indigência, sem família, sem documentos, onde se submete a serviços desumanos
para ganhar um salário.
b) Um levantamento foi feito onde diz
que cerca de 20% da população brasileira vive na indigência.
c) O desemprego é um grave problema
social, onde os pais de classe baixa não têm oportunidade de conseguir um
trabalho.
d) No Brasil, onde a política só
favorece a elite, há uma grande exclusão social.
e) A tecnologia hoje está bem avançada
onde se deve a vários meios de comunicação.
20 - Observe:
I - A Austrália é a sensação do momento.
Se você gosta de natureza e esporte, a terra dos cangurus é o passeio indicado.
II - Se você se encaixa no segundo caso,
há opções de cursos variados em universidades com excelente padrão de ensino.
III - Esta simpática ilha do tamanho de
um continente é habitada por um povo caloroso que recebe bem quem chega lá para
passear ou estudar.
IV- Os preços dos cursos de inglês,
especialmente, são muito atraentes nesta época. De qualquer forma, você pode
aproveitar tudo a que tiver direito. A Austrália é o que você imagina e muito
mais. A sequência que organiza os trechos acima num texto coerente é:
a) III – II – I – IV
b) I – IV – II – III
c) IV – I – III – II
d) I – III – II
– IV
e) III – I – IV – II.
21 - Leia os poemas abaixo.
O engenheiro
A luz, o sol, o ar livre
Envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
Superfícies, tênis, um copo de água.
O lápis, o esquadro, o papel;
O desenho, o projeto, o número:
O engenheiro pensa o mundo justo,
Mundo que nenhum véu encobre.
(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).
A luz, o sol, o ar livre
Envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
Superfícies, tênis, um copo de água.
O lápis, o esquadro, o papel;
O desenho, o projeto, o número:
O engenheiro pensa o mundo justo,
Mundo que nenhum véu encobre.
(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).
A água, o vento, a claridade, De um lado o rio, no alto as nuvens, Situavam na natureza o edifício Crescendo de suas forças simples.
(MELO NETO, João Cabral de. Obra
completa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1995. p. 69-70.)
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(ANDRADE,
Oswald de. Poesias reunidas. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
[s.d.]. p. 177.)
Sobre os poemas, é INCORRETO
afirmar:
a) O primeiro poema contém um rigor
formal e semântico, em que se percebem versos com a enumeração de substantivos,
sem o acompanhamento de adjetivos, o que é próprio do estilo de João Cabral de
Melo Neto.
b) Predomina no segundo poema uma forma
de expressão irônica, o que é um traço marcante na produção poética de Oswald
de Andrade, a exemplo de outros poemas do autor como “Erro de português” e
"O capoeira”.
c) Ao falar do sonho do engenheiro, João
Cabral revela também a sua concepção sobre a criação poética, que se traduz
pelo afastamento do sentimentalismo e da emotividade. Essa tendência à
objetividade acentua-se em seu livro Psicologia da composição, escrito em 1947.
d) “O engenheiro” pertence à 3a fase do
Modernismo, e “Pronominais”, à 1a fase. Evidência disso é o fato de o primeiro
poema ser escrito em versos de métrica regular, típicos da Geração de 45,
enquanto o segundo é composto de versos livres, comuns no período da Semana de
Arte Moderna.
e) No poema “Pronominais”, ao
estabelecer a distinção entre a fala culta e a fala popular, o poeta pôs em
destaque uma das principais lutas dos modernistas: a valorização da oralidade e
do coloquialismo na produção literária, em oposição à linguagem empolada dos
parnasianos e academicistas.
22 - Leia a estrofe inicial,
transcrita abaixo, do soneto “Braços”, do poeta simbolista Cruz e Sousa, e
assinale a alternativa correta: Braços nervosos, brancas opulências, Brumais
brancuras, fúlgidas brancuras, Alvuras castas, virginais alvuras, Lactescências
das raras lactescências.
a) O elemento descrito, os braços,
torna-se fluido, na medida em que a descrição do mesmo ocorre através de um
processo de justaposição de imagens e de reiteração de adjetivos, que tenta
fundir o concreto e o abstrato.
b) Cruz e Sousa, neste poema, ainda não
conseguiu se afastar das influências do Romantismo, estética literária que
antecede o Simbolismo, haja vista a descrição minuciosa e objetiva que faz dos
braços femininos.
c)
A predominância do branco na descrição dos braços deixa entrever a valorização
do homem branco e o preconceito contra o negro, traço marcante da poesia de
Cruz e Sousa.
d) Há uma gratuidade musical e
imagística nesta estrofe do poema, pois a repetição de palavras sinônimas como
“brancas”, “brancuras”, “alvuras” e “lactescências” e de sons como os das
letras “b” e “s” não apresenta propriamente um sentido, mas se transforma em
mero jogo linguístico.
e) Há a tentativa de descrição precisa e
clara dos braços, o que pode ser observado na enumeração sucessiva de adjetivos
usados para caracterizá-los.
23 - Os textos abaixo fazem
parte de duas obras clássicas do Romantismo brasileiro: o texto 1 é o início do
romance Iracema, de José de Alencar, publicado em 1865; o texto 2 é uma estrofe
do canto VIII do poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias, do livro
Últimos cantos, de 1851.
Texto 2: "Tu choraste em presença
da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és! Possas tu, descendente maldito De uma tribo de
nobres guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de vis
Aimorés."
Assinale a alternativa INCORRETA.
a) O romance Iracema, de José de
Alencar, ficou conhecido como "lenda da formação do estado do Ceará",
que se deu pela união do homem branco português com a mulher indígena
brasileira. O poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias, é considerado
um "hino" em louvor à tradição guerreira da civilização indígena
brasileira.
b) A forma como o narrador localiza a
história e descreve a personagem feminina, no primeiro texto, revela uma leveza
de estilo que é própria da poesia; no segundo texto, ao contrário, há uma força
dramática nos versos que se constrói pela fala exaltada do pai ao filho.
c) As duas obras idealizaram o índio
enquanto uma raça forte que contribuiu para a formação da nação brasileira, num
momento que se definia pela defesa do nacionalismo e pelo culto à natureza.
Neste sentido, pode-se dizer que elas representaram autonomia estética no
âmbito literário e autonomia política no âmbito social para um país em
formação, como se apresentava o Brasil naquele momento histórico.
d) No primeiro texto o discurso
narrativo é pleno de metáforas e alegorias, a mostrar uma mulher meiga e cheia
de encantos, pela comparação com elementos da natureza. No segundo texto as
sílabas fortes dos versos marcam a cadência do discurso poético, de forma a
revelar a ira do pai contra o filho, o que mostra a bravura da raça indígena,
em que é preciso ser guerreiro e vencer a luta contra o inimigo.
e) A mesma concepção idealizada e
significação política atribuídas à raça indígena no Romantismo foi retomada
pelos escritores modernistas e contemporâneos, que exaltaram a beleza e a força
indígena em obras como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Maíra, de Darcy
Ribeiro.
24 - O texto abaixo
apresenta uma passagem do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, em que
Fabiano é focalizado em um momento de preocupação com sua situação econômica.
Escrito em 1938, esta obra insere-se num momento em que a literatura brasileira
centrava seus temas em questões de natureza social.
"Se pudesse economizar durante
alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não
se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta
do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa
aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em
seco."
(In: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 55. ed. Rio de
Janeiro: Record, 1991.)
Sobre este trecho do romance, somente está
INCORRETO o que se afirma na alternativa:
a) Este trecho resume a situação de
permanente pobreza de Fabiano e revela-se como uma crítica à economia
brasileira e às relações de trabalho que vigoravam no sertão nordestino no
momento em que a obra foi criada. Isso pode ser confirmado pelas orações:
"... Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta
do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes..."
b) A oração: "Se pudesse economizar
durante alguns meses, levantaria a cabeça" tanto pode ser o discurso do
narrador que revela o pensamento de Fabiano, quanto pode ser o próprio
pensamento dessa personagem. Esse modo de narrar também ocorre com as demais
personagens do romance.
c) A oração: "... Resmungava,
rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se,
engolia em seco" indica a voz do narrador em terceira pessoa, ao mostrar o
estado de agonia em que se encontra a personagem.
d) A expressão “Forjara planos”, típica
da linguagem culta, é seguida no texto por um provérbio popular: “quem é do
chão não se trepa”. Essa mudança de registro linguístico é reveladora do método
narrativo de Vidas secas, que subordina a voz das classes populares à da elite.
e)
O texto tem início com a esperança de Fabiano de mudanças em sua situação
econômica; a seguir, passa a focalizar a realidade de pobreza em que a
personagem se encontra, e finaliza com sua revolta e angústia diante da
condição de empregado, sempre em dívida com o patrão.
25 - O trecho transcrito
abaixo pertence à obra Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, escrito
em 1936, e se constitui em uma análise histórico-sociológica da organização da
sociedade brasileira.
“À frouxidão da estrutura social, à
falta de hierarquia organizada devem-se alguns dos episódios mais singulares da
história das nações hispânicas, incluindo-se nelas Portugal e Brasil. Os
elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente, com a cumplicidade ou
a indolência displicente das instituições e costumes.”
(HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do
Brasil. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975. p. 5.).
Com base nas afirmações de Holanda,
assinale a alternativa que estabelece a melhor correspondência com o romance
Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, escrito em
1853.
a) Escrito no momento em que movimentos
em prol da República cresciam no Brasil, o romance faz uma crítica à estrutura
social monárquica e desorganizada e vê no regime republicano um modelo ideal a
ser adotado no país.
b) Juntamente com a obra As minas de
prata, de José de Alencar, também um autor romântico, o romance de Manuel
Antônio de Almeida pode ser considerado um romance histórico, na medida em que
faz um traçado da história do Brasil imperial, cuja desorganização social
mostrava-se um reflexo da incapacidade político-administrativa da época.
c) Embora escrito durante o Romantismo,
marcado pelas idealizações e pela visão eufórica da pátria, o romance de Manuel
Antônio de Almeida apresenta um retrato fiel da elite dirigente brasileira do
século XIX, cuja falta de estratégia na administração pública levava à anarquia
social e de valores, aspecto que o romance retrata com clareza na descrição das
festas e no comportamento imoral das personagens.
d) Sendo uma obra de engajamento social,
o romance critica a sociedade escravocrata brasileira do século XIX, ao mostrar
o autoritarismo e a crueldade da personagem D. Maria no tratamento rigoroso que
dispensava às suas escravas.
e) Ao narrar as peripécias do jovem
Leonardo, o romance apresenta, com olhar crítico e bem humorado, os costumes da
sociedade brasileira da época de D. João VI, marcada por uma certa lassidão de
valores, o que permitia às personagens transitar pelo universo da ordem e da
desordem, de acordo com as conveniências, o que reflete a falta de estruturação
social do Brasil no século XIX.
26 - Sobre Contos novos, de
Mário de Andrade, é correto afirmar que esse livro:
a) representa obra da fase madura do
autor, desligando-se dos ideais estéticos modernistas de 22 e retomando
atitudes românticas.
b) representa uma evolução da prosa de
ficção realista e crítica, assemelhando-se ao regionalismo do romance de 30,
inclusive no âmbito temático.
c) reúne intimismo e crítica social,
firmando-se como uma obra de caráter reflexivo do modernismo e discutindo
diversos preconceitos, como o homossexualismo e o tabu da morte no âmbito
familiar.
d) recorre, em diversos textos, à
personagem Juca, que, ora como narrador, ora como personagem, se constitui na
defesa do presente e no desprezo pelo passado.
e) contraria um traço expressivo da obra
poética do autor, ao repudiar a oralidade valorizada nos poemas da primeira
geração modernista.
27 - O poema que segue faz
parte do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia, publicado
em 1930, e tem como título "Cidadezinha qualquer". Leia o poema e
assinale a alternativa correta.
Casas entre bananeiras Mulheres entre
laranjeiras Pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.
a) O poema denuncia de forma irônica e
com uma linguagem sintética a monotonia e o tédio que predominam em pequenas
cidades do interior.
b)
O poema mostra com sentimento piedoso o desajuste existencial do homem diante
da vida.
c) O poema retrata de modo triste e
melancólico a desventura amorosa do poeta na cidade de Itabira, onde nasceu.
d) Predomina no poema um sentimento de
nostalgia do passado, por meio de uma linguagem muito simples e pouco elaborada
esteticamente.
e) Há no poema uma preocupação de ordem
social e política que sintetiza o "sentimento do mundo" do eu lírico.
28 - Leia o poema abaixo, de
Gregório de Matos Guerra, que faz parte da poesia lírica barroca, com temática
religiosa.
A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei,
Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque
quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a
vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido; Que a mesma culpa,
que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e
já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra
história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor
divino, Perder na nossa ovelha a vossa glória.
Sobre o poema, é INCORRETO afirmar:
a) O poema apresenta-se em forma de
soneto, com uma linguagem plena de artifícios de versificação, o que faz
ressaltar o conteúdo temático, que é o arrependimento do eu lírico de seus
pecados, em busca do perdão de Jesus Cristo.
b) A forma de expressão poética do eu
lírico, neste poema, é marcada pela tensão e reflete os conflitos do homem do
período barroco, que vivia as contradições entre o teocentrismo medieval e o
antropocentrismo clássico.
c) Percebe-se neste poema a preocupação
com a forma característica ao período barroco, em que o poeta faz uso de muitos
processos técnicos e expressivos, dentre eles a rima bem marcada dos versos e o
uso frequente de antíteses e inversões sintáticas.
d) O poema apresenta ideais divergentes
entre o humano e o divino em decorrência da oposição que havia, na época, entre
a mentalidade pagã da burguesia portuguesa e a religiosidade católica da
sociedade brasileira.
e) O poema todo estrutura-se como uma
evocação lírico-religiosa, em que o eu lírico confessa ser um pecador, no
início do poema, para a seguir estabelecer um confronto de ideias entre a culpa
do pecador e a clemência de Jesus, e somente no final, como último apelo,
nomear-se uma "ovelha desgarrada", evocando o perdão divino.
29 - Indique a alternativa
em que a afirmação sobre a obra O Barão,
de Branquinho da Fonseca, NÃO
encontra correspondência no trecho literário transcrito imediatamente a seguir.
a) O Barão representa o passado, o
autoritarismo e a decomposição do poder: "Era um senhor medieval,
sobrevivendo à época, completamente inadaptado, como um animal de outro
clima."
b) A narrativa enfatiza mais a atmosfera
nebulosa e a vida interior das personagens e menos a ação exterior: "Fui
de comboio até à cidade mais próxima, onde depois tomei uma camioneta de
carreira que me deixou, já de noite, numa aldeia cujo nome não me lembra."
c) Nesta obra é possível perceber uma
forte contradição entre Deus e o Diabo, o que mostra a tensão e a insegurança
vividas pelas personagens: "Quantas pessoas, porém, tenho encontrado que
são como eu, quase como eu: negadas a si próprias, paradas no encontro das
forças contrárias, afinal sem a decisão de quem simplesmente caminha para algum
sítio onde pensou chegar."
d) Grande parte da narrativa é marcada
pelo intimismo e pelo psicologismo, principalmente pela reflexão da personagem
que representa o inspetor das escolas de instrução primária: "Além de que
estes momentos de espontânea revelação em que abrimos quanto podemos todas as
portas e alçapões de nós próprios, estes momentos são tão difíceis de atingir,
por cobardia e por orgulho e pela incompreensão que nos rodeia, que..."
e) Uma característica muito marcante
neste romance é a fusão do simbólico com o real: "[O Barão] levantou-se
lentamente, viu subir, pareceu-me que crescia, que aumentava de altura e
largura. A cadeira caiu para trás. Ficara com o olhar distante e fixo."
30 - Leia o seguinte trecho
do conto "Amor", de Clarice Lispector.
“O mundo se tornara de novo um
mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus
próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se
mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão – e por um momento a
falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir.
Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da
frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser
revertidas com a mesma calma com que não o eram.”
(LISPECTOR,
Clarice. Laços de família. 11. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p.
21-2.)
Com base nesta leitura, é correto afirmar:
a) No trecho "a falta de sentido
deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir", emerge a força do
fantástico, traço tão significativo neste conto como em todos os demais contos
de Laços de família.
b) No
trecho "como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com
que não o eram", percebe-se uma referência à súbita paixão que invade a
protagonista, provocando o desequilíbrio familiar e o desejo de viver ao lado
do amante.
c) No trecho "Expulsa de seus
próprios dias", revela-se o conflito da protagonista ao se defrontar, no
espaço urbano, com uma cena comum que desencadeia uma reavaliação de sua vida
íntima e doméstica.
d) No trecho "parecia-lhe que as
pessoas da rua eram periclitantes", destaca-se a atmosfera de mistério que
provoca a aproximação entre esse conto e as histórias policiais com sua
ambientação urbana.
e) No trecho "Vários anos
ruíam", sobressai uma marca destacada dos contos da autora: apresentar
narrativas cuja ação se estende por uma longa duração de tempo.
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