TEXTO:O HOMEM
QUE SABIA SER LIVRE
Fausto Wolff
Leitores
gentis têm escrito dizendo que gostariam de ser livres como eu. Sinto
decepcioná-los, mas não sou um homem livre e não conheço nenhum homem livre.
Venho, isso sim, tentando ser um homem livre desde minha mais remota lembrança.
Aliás, se tivesse de adivinhar – pois a minha ignorância é de bom tamanho e
posso afirmar apenas alguns axiomas que se sustentam por si mesmos –, diria que
nossa função na Terra é a de tentarmos ser livres a cada milésimo de segundo,
acordados e até mesmo quando adormecidos. A liberdade, porém, não é algo que se
peça, não é algo que se compre, pela qual se implore, pois se existe alguém que
pode dar liberdade este alguém também tem condições de tirá-la. Liberdade é
algo que se conquista de dentro para fora e vice-versa.
Para se conquistar certas liberdades,
porém, precisa-se quebrar uma lei feita por alguém que não quer ver você livre.
Estou há horas esperando por um telefonema sem poder sair do lugar: tenho de
mudar de apartamento pois, de um tempo para cá, passei a ganhar menos dinheiro.
E o proprietário do apartamento mais barato só espera até o fim da tarde. Veem?
Não me pertenço e não tenho culpa de não me pertencer. É claro que poderia
jogar todo para o alto e ir morar no mato. Nenhum homem é uma ilha. Ele é ele
mais suas circunstâncias. No meu caso, eu e os compromissos que assumi, e se
outros falharam comigo não é motivo para eu falhar com os que de mim dependem.
Caso contrário, teríamos a barbárie vestindo Gucci e Armani.
(...)
A liberdade gera responsabilidade e
com ela culpa. A liberdade está ligada indissoluvelmente ao caráter do homem e
este é determinado biológica e socialmente. Erich Fromm (o grande pensador do
século 20 e por isso desprezado por seus pares, uma vez que não se escondia
atrás do palavrório acadêmico) achava que a psicanálise de Freud e a sociologia
de Marx tinham a chave do futuro. Os dois grandes pensadores estão em aberto
para a evolução humanística. Se eu pudesse, gostaria de promover um encontro
num bar entre Marx, Freud e Fromm.
Fromm talvez conseguisse explicar a Marx
que o homem só pode ser feliz se parir a si mesmo, à sua personalidade; e a
Freud que o homem, mesmo conhecendo a si mesmo, para ser feliz precisa ver uma
sociedade que o respeite mais do que ao lucro, que respeite mais o ser que o
ter. Depois disso só precisamos convencer aquela parte mínima da população
mundial que nos escraviza e para a qual a liberdade é o próprio diabo. Isso
porque a liberdade leva ao pensamento e o pensamento à descoberta da
escravidão.
(...)
(JB, 18/12/2005. Caderno B, p.4).
01) Segundo o texto, o homem
que sabia ser livre era:
a) Erich Fromm;
b)
Marx;
c)
Freud;
d)
Stockman.
e) O
próprio autor.
02) Para o autor, a
liberdade é algo:
a) eterno;
b) efêmero;
c) real;
d) ideal.
e) necessário.
03) “Ele é ele mais suas
circunstâncias.” Esta passagem é esclarecida no segmento:
a) “Isso porque a liberdade leva ao
pensamento e o pensamento à descoberta da escravidão.”;
b) “Liberdade é algo que se conquista de
dentro para fora e vice-versa.”
c) “A liberdade gera responsabilidade e
com ela culpa.”;
d) “Os dois grandes pensadores estão em
aberto para a evolução humanística.”;
e) “Estou há horas esperando por um
telefonema sem poder sair do lugar”.
04) Em “palavrório
acadêmico”, o uso da expressão sublinhada:
a) enaltece o discurso acadêmico;
b) ressalta a menos valia do discurso
acadêmico;
c) revela a ineficácia do discurso
acadêmico;
d) indica a incoerência dos que se
julgam sábios;
e) critica o
academicismo estéril.
05) “Venho, isso sim,
tentando ser um homem livre desde minha mais remota lembrança.” A expressão
sublinhada:
a) reafirma as convicções atuais do
autor;
b) retoma e reafirma as convicções do
autor;
c) antecipa, de forma positiva, as
convicções do autor;
d) reforça
afirmativamente as convicções do autor;
e) contraria as expectativas dos que
escrevem ao autor.
06) “...o homem, mesmo
conhecendo a si mesmo...” Neste segmento, as palavras sublinhadas são
respectivamente:
a) advérbio e pronome;
b) conjunção e
pronome;
c) conjunção e advérbio,
d) conjunção e pronome.
e) advérbio e conjunção.
07) “Caso contrário,
teríamos a barbárie vestindo Gucci e Armani.” O trecho é um exemplo de:
a) metonímia;
b) metáfora;
c) personificação;
d) catacrese
e) antítese.
08) Na passagem “Fromm
talvez conseguisse explicar a Marx que o homem só pode ser feliz se parir a si
mesmo, à sua personalidade...”, o sinal de crase:
a) é obrigatório por estar seguido de
expressão feminina;
b) é facultativo por seguir-se de
pronome possessivo.
c) torna-se
obrigatório em função da clareza do texto;
d) é facultativo por se tratar de um
objeto direto preposicionado;
e)
é facultativo porque o pronome possessivo está no feminino.
09) “A liberdade, porém, não
é algo que se peça, não é algo que se compre, pela qual se implore, pois se
existe alguém que pode dar liberdade este alguém também tem condições de
tirá-la. Liberdade é algo que se conquista de dentro para fora e vice-versa.”
Marque a alternativa que indica corretamente o número de ocorrências dos
valores morfossintáticos da palavra “se”, no trecho em destaque:
pronome apassivador pronome indeterminador conjunção
a) 1 2 2
a) 1 2 2
b) 1 3 1
c 2 2 1
d) 3 1 1
e) 2 1 2
AS QUESTÕES 10, 11 E 12 SE
REFEREM AO TRECHO SEGUINTE:
“Para se conquistar certas liberdades,
porém, precisa-se quebrar uma lei feita por alguém que não quer ver você
livre.”
10) O verbo quebrar é
empregado com o mesmo significado que o do trecho em:
a) Desobedeça-me e quebre a cara;
b) Vá até a praça, quebre à direita e
encontrará o endereço;
c) Não quebre o
que ficou acordado entre nós;
d) O vidro da janela se quebrou;
e) O time quebrou a sequência de
vitórias do adversário;
11) Segundo a norma culta, o
verbo conquistar:
a) deveria estar flexionado no plural;
b) poderia estar flexionado no plural;
c) tem de ficar no singular, pois a
partícula se é apassivadora;
d)
tem de ficar no singular, pois a partícula se é indeterminadora do sujeito;
e) tem de ficar no singular, pois seu
sujeito é oracional.
12) Na passagem, há:
a) seis orações;
b) cinco orações;
c) quatro
orações;
d) três orações.
e) duas orações.
13) “Nenhum homem é uma
ilha”. Das alterações feitas na frase do texto, marque a que apresenta erro de
concordância:
a) Nenhum de nós é uma ilha;
b) Cada um de nós não é uma ilha;
c) Todos somos dependentes uns dos
outros;
d) Quais de nós são uma ilha?
e) Qual de nós
somos uma ilha?
14) Marque o par que não segue integralmente a relação
estabelecida entre livre/liberdade:
a) próprio/propriedade;
b) pena/
penalidade
c) contrário/contrariedade;
d) capaz/capacidade.
e) boçal/boçalidade.
TEXTO II:
15) Dentre as prováveis
causas da certeza da “conclusão estúpida” não se afigura:
a) preconceito;
b) arrogância;
c) ignorância;
d) vergonha.
e) intolerância.
16) A relação de sentido
entre a imagem da menina e o seu nome se estabelece através de um processo:
a) antitético;
b) irônico;
c) metafórico;
d) hiperbólico.
e) metonímico.
17) A palavra “como” indica:
a) modo;
b) causa;
c) intensidade;
d) dúvida.
e) certeza.
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