domingo, 12 de setembro de 2021

NOTÍCIA: OS REFLEXOS DA VIOLÊNCIA URBANA NO COMPORTAMENTO DAS FAMÍLIAS - ELISA STEINHORST DAMASCENO - COM GABARITO

 Notícia: Os reflexos da violência urbana no comportamento das famílias


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        Não se pode mais sair sozinho à noite em segurança. Não se pode mais tirar dinheiro do banco e carregá-lo na carteira. Não se pode mais deixar o carro estacionado em local aberto sem alarme. Não se pode mais permitir que as crianças brinquem na rua sem medo de que algo aconteça.

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        O medo da violência é uma realidade que tem mudado vidas. O temor de ser assaltado, sequestrado ou agredido se tornou uma marca nas grandes cidades – ainda que nem nas menores haja paz. Na falta de atuação do poder público, as pessoas acabam se acostumando a buscar a proteção como for possível: evitando lugares vazios, guardando pertences com cadeados, vivendo vigiadas por câmeras, rodeadas de muros, entre grades.

        – Infelizmente, não há como negar que a sensação coletiva de medo tem bases concretas hoje em dia. Ela não é fruto de uma ficção. A criminalidade cotidiana assusta – explica a socióloga Letícia Maria Schabbach, integrante do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

        Quem está crescendo sob o espectro da violência, ainda que nunca tenha sido vítima de algum ataque, acaba tendo de se adaptar a uma vida em que tudo o que não está sob o próprio controle ou dos familiares mais próximos pode ser temido. Não sem razão.

        – Desde as eras antigas o ser humano vive em estado de medo. A grande questão é que, na modernidade, o medo se tornou totalitário. A perpetuação desse estado de medo, quando se considera que nada é digno de confiança, que o mal está espalhado por toda parte e que as ameaças estão nos espreitando mesmo nas situações mais sutis, é preocupante – acredita o doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Renato Nunes Bittencourt.

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        Conviver sob constante medo tornou-se padrão – uma adaptação necessária para preservar a vida diante da escalada da violência. Passou a ser comum ter que trancar portas e janelas, optar por locais movimentados, andar sem carregar objetos que possam motivar um assalto. Não é assim que deveria ser, mas tamanhas precauções são hoje tão "normais" que sequer parecem um ponto fora da curva no comportamento humano.

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        É nessa tentativa de fugir da insegurança que as crianças têm sido criadas em um estado de eterna vigilância. Psicólogos e psiquiatras explicam que a constante preocupação com a sobrevivência, evidenciada pelo medo, não é peculiar à atualidade, mas há pelo menos uma característica que diferencia a sociedade contemporânea de outras: esse sentimento está sempre presente, já condicionado em hábitos destinados a proteger os pequenos e evitar a exposição ao perigo.

        – Buscamos proteções para nos sentirmos mais seguros, para vivermos com mais qualidade de vida. O risco, porém, é que elas tenham um efeito oposto, de nos enjaular, contribuindo para o próprio aumento do medo – pondera Denise Regina Quaresma da Silva, professora de Psicologia na Universidade Feevale.

        Famílias têm medo de se expor

        Com medo de serem identificadas, diversas famílias contatadas pela reportagem optaram por não terem imagens suas e dos locais onde moram divulgadas. Temem ser reconhecidos, mostrar os filhos, abrir margem para assaltos. Tamanha é a preocupação com a segurança que qualquer possível brecha, para elas, torna-se um problema.

        Mãe de uma criança de um ano e cinco meses, uma jovem de Porto Alegre relata que passou a temer ainda mais pela segurança da família quando foi vítima de um assalto a banco. Passando por terapia, ela prefere não comentar o caso com pessoas de fora de seu convívio social, mas conta que teve sua rotina alterada na tentativa de se expor menos à violência.

        – Passei a ter muito mais cautela, principalmente por causa do meu filho. Hoje em dia, não temos mais certeza, ao sairmos de casa, se poderemos voltar em segurança. Estou muito mais cautelosa, e penso em como será para ele crescer em um mundo assim – diz a bancária, que prefere não ser identificada.

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        Como possíveis efeitos, a psicóloga clínica Elisa Steinhorst Damasceno aponta uma maior propensão a doenças decorrentes do estresse e da ansiedade, por exemplo, além do desenvolvimento de transtornos psíquicos. Mas a principal consequência, segundo ela, seria a criação de uma geração mais temerosa, menos disposta a tomar riscos, menos aberta ao convívio com pessoas e em locais diferentes – uma geração confinada.

        – Penso que uma das consequências do medo é uma atitude conservadora em relação à sociedade em geral e à mudança. Nos tornamos medrosos, intimidados, por causa do medo – completa Ben Highmore, professor do centro de estudos culturais na Universidade de Sussex, no Reino Unido, que tem como principal linha de pesquisa a relação entre medo e segurança.

        Há também quem cogite que conviver com a insegurança pode ser um processo adaptativo. Se, nos primórdios, a humanidade escolhia entre lutar ou correr quando diante de um predador, pode ser que a violência seja hoje esse predador. O risco talvez esteja em não ter mais escolha além de se esconder.

 Fonte: Elisa Steinhorst Damasceno, da Wainer Psicologia Cognitiva

JUSTINO, Guilherme. Os reflexos da violência urbana no comportamento das famílias. GaúchaZH, Porto Alegre, 21 jul. 2016. Disponível em: https://bit.ly/2MjrkWo. Acesso em: 25 set. 2018.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 140-2.

Entendendo a notícia:

01 – Qual a principal ideia desenvolvida nesse texto?

      O texto fala sobre a mudança no comportamento das famílias em decorrência do medo, da violência e da falta de segurança nos centros urbanos.

02 – Você se vê como parte de “uma geração mais temerosa, menos disposta a tomar riscos, menos aberta ao convívio com pessoas e em locais diferentes – uma geração confinada”? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Copie as conjunções coordenativas que nos trechos a seguir introduzem orações e indique a relação que estabelecem entre essas orações.

a)   Não se pode mais tirar dinheiro do banco e carrega-lo na carteira.

E: relação de adição, acréscimo.

b)   Psicólogos e psiquiatras explicam que a constante preocupação com a sobrevivência, evidenciada pelo medo, não é peculiar à atualidade, mas há pelo menos uma característica que diferencia a sociedade contemporânea de outras: esse sentimento está sempre presente, já condicionado em hábitos destinados a proteger os pequenos e evitar a exposição ao perigo.

Mas: relação de oposição.

c)   Passando por terapia, ela prefere não comentar o caso com pessoas de fora de seu convívio social, mas conta que teve sua rotina alterada na tentativa de se expor menos à violência.

Mas: relação de oposição.

d)   Estou muito mais cautelosa, e penso em como será para ele crescer em um mundo assim [...].

E: relação de adição, acréscimo.

04 – A seguir, foram colocados alguns pares de orações. Reescreva essas orações formando um único período e estabelecendo entre elas a relação de sentido indicada nos parênteses. Na reescrita, empregue a conjunção e a pontuação adequadas.

a)   A sensação coletiva de medo tem bases concretas hoje em dia. / A sensação coletiva de medo não é fruto de uma ficção. (Relação de conclusão).

A sensação coletiva de medo tem bases concretas hoje em dia, portanto não é fruto de uma ficção.

b)   Desde as eras antigas o ser humano vive em estado de medo. / Na modernidade, o medo se tornou totalitário. (Relação de adversidade).

Desde as eras antigas o ser humano vive em estado de medo, mas/contudo/porém/todavia, na modernidade, o medo se tornou totalitário.

c)   Trancamos portas e janelas. / Corremos o risco de sermos roubados. (Relação de alternância).

Ou trancamos portas e janelas ou corremos o risco de sermos roubados.

d)   Mãe de uma criança de um ano e cinco meses passou a temer ainda mais pela segurança da família. / Mãe de uma criança de um ano e cinco meses foi vítima de um assalto a banco. (Relação de explicação).

Mãe de uma criança de um ano e cinco meses passou a temer ainda mais pela segurança da família, porque foi vítima de um assalto a banco.

e)   Famílias têm medo de se expor. / Famílias têm medo de serem identificadas. (Relação de explicação).

Famílias têm medo de se expor, porque têm medo de serem identificados.

05 – Releia este trecho:

        – Buscamos proteções para nos sentirmos mais seguros, para vivermos com mais qualidade de vida. O risco, porém, é que elas tenham um efeito oposto, de nos enjaular, [...]”. Tanto as conjunções coordenativas quanto as subordinativas contribuem para que as partes e as informações do texto possam ser articuladas e relacionadas, além de permitir que o texto avance e novas informações sobre o tema sejam acrescentadas. De que forma a conjunção porém contribui para a coesão sequencial no trecho acima?

      A conjunção porém introduz uma ideia que se contrapõe ao que foi mencionado anteriormente e possibilita a introdução de uma nova informação no período.

 

 

 

 

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