terça-feira, 21 de setembro de 2021

CRÔNICA: O LEÃO, A FEITICEIRA E O GUARDA-ROUPA - C.S.LEWIS - COM GABARITO

 Crônica: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa 

         [...] 

        Aslam bateu as patas e pediu silêncio. 

        — A nossa tarefa do dia ainda não acabou, e quisermos derrotar para sempre a feiticeira antes de anoitecer, teremos de encontrar já, já, o campo da batalha. 

        — E espero poder travá-la, senhor! — falou o centauro-maior. 

        — Evidente! – concordou Aslam. — Avante! Os que não podem acompanhar a marcha (crianças, anões e bichos menores) vão as costas dos outros (leões, centauros, unicórnios, cavalos, gigantes e águias). Nós, os leões, vamos na vanguarda, e os que têm o faro apurado vão conosco, ajudando a localizar o campo de batalha. Depressa, todos a postos! [...] 

        Quando estavam todos prontos (foi um grande cão de guarda que ajudou o Rei a colocá-los em forma), saíram pela abertura feita na muralha. 

        A princípio, os leões e os cães iam farejando em todas as direções, até que de repente um cão encontrou um rasto e soltou um latido. Não perderam mais tempo. Cães, leões, lobos e outros animais partiram a toda a velocidade, de nariz no chão, enquanto os outros, coitados, em fila quilométrica, iam seguindo como podiam. 

        O barulho lembrava uma caça à raposa, só que era muito maior. Rugia o leão e, mais aterrador, rugia Aslam. A velocidade aumentava à medida que o rasto se acentuava. Ao chegarem à última curva, num vale estreito e sinuoso, Lúcia ouviu um ruído que dominava todos os outros: um ruído que a fez estremecer por dentro. Eram gritos e uivos e o choque de metal contra metal. 

        Ao saírem do vale, viu logo do que se tratava. Pedro, Edmundo e todo o resto do exército de Aslam lutavam desesperadamente contra uma imundície de gente, seres hediondos como os da véspera. À luz do dia, eram ainda mais estranhos, mais malignos e monstruosos. E pareciam mais numerosos. 

        O exército de Pedro – de costas para ela – parecia uma brincadeira. E havia estátuas espalhadas por todo o campo de batalha: a feiticeira certamente usara sua varinha [que transformara as pessoas em estátuas de pedra]. Mas agora ela lutava com o grande facão de pedra. E era com Pedro que lutava, os dois com tal fúria que Lúcia mal conseguia ver o que se passava. Só via o facão e à espada cruzarem-se com grande rapidez como se fossem três facões e três espadas. Os dois estavam no meio exato do campo de batalha. De um lado e outro, as fileiras dos combatentes. Não havia lugar onde os olhos não vissem coisas de arrepiar. 

        — Desçam do "cavalo", meninas! — gritou Aslam. 

        Com um rugido que fez tremer a terra de Nárnia, do lampião às praias do Mar Oriental, o gigantesco bicho atirou-se à feiticeira. Lúcia viu, por um instante, a feiticeira fitando o Leão, cheia de medo. E logo a seguir os dois rolaram pelo chão. Ao mesmo tempo, os animais guerreiros (libertados por Aslam) caíram como loucos sobre o inimigo. Os anões lutavam com machados; os cães, com os dentes; Rumbacatamau, com o seu enorme cajado (sem falar nos pés, que esmagavam dezenas de inimigos); os unicórnios, com os chifres; os centauros, com as espadas e os cascos. O exausto exército de Pedro exultou com o reforço. Os inimigos guincharam. E foi um estrépito no bosque. 

        [...] 

        Alguns minutos depois, a batalha terminava. A maior parte do inimigo fora destroçada por Aslam e seus companheiros. Os outros, vendo a feiticeira morta, renderam-se ou fugiram em debandada. Lúcia viu, então, Pedro e Aslam apertarem-se as mãos. Inacreditável o ar que Pedro tinha agora: face pálida e grave, um ar muito mais velho. 

        — Foi tudo obra de Edmundo, Aslam! — disse Pedro. Se não fosse ele, estávamos derrotados. A feiticeira ia petrificando as nossas tropas. Nada havia que a detivesse. [...] Ele teve o bom senso de arrebentar a vara mágica com a espada, em vez de atacar diretamente a feiticeira [...]. Edmundo está muito ferido. Vamos procurá-lo. 

        Encontraram Edmundo num lugar um pouco afastado da linha de combate, entregue aos cuidados da Sra. Castor. Estava coberto de sangue, de boca aberta, e verde, verde. 

        — Depressa, Lúcia! — gritou Aslam. 

        Só então, pela primeira vez, Lúcia se lembrou do licor precioso que recebera de presente de Natal. Suas mãos tremiam tanto que mal conseguiu abrir o vidrinho. Tirou a rolha e deixou cair umas gotas nos lábios do irmão. 

        — Há outros feridos - disse Aslam, enquanto ela continuava com os olhos ansiosamente cravados no rosto pálido de Edmundo, muito desconfiada do efeito do licor. 

        — Sei disso – respondeu Lúcia, impaciente. —   Daqui a um pouquinho eu vou. 

        — Filha de Eva – disse Aslam, a voz mais severa. — Tem gente morrendo. Quer que morram por causa de Edmundo?! 

        — Desculpe, Aslam. 

        Durante meia hora, os dois não tiveram mãos a medir; ela tratava dos feridos, ele restituía a vida aos mortos, isto é, às estátuas. 

        Edmundo, quando Lúcia pôde voltar até ele, estava de pé, não só curado dos ferimentos, mas com uma aparência muito melhor do que antes. Com uma aparência melhor até do que no tempo em que entrou para a escola e começou a seguir pelo mau caminho. Agora, não. Já podia olhar as pessoas de frente. Por isso mesmo, foi armado cavaleiro, em pleno campo de batalha. 

        [...] 

           LEWIS, C. S. O leão, a feiticeira e o guarda-roupa. As crônicas de Nárnia. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 163-5.

Entendendo a crônica:

01 – Qual era o desafio que o grupo de Aslam deveria enfrentar? 

      Derrotar a feiticeira para sempre.

02 – Para conseguir esse objetivo, era necessário antes de tudo vencer um primeiro obstáculo. Qual era ele? E por que ele era tão importante? O que era imediatamente necessário para que se conseguisse isso? 

      Encontrar o campo onde se travava a batalha entre o exército de Aslam e a feiticeira e destruir sua varinha. 

03 – Releia o trecho a seguir, prestando atenção às expressões em destaque: 

        “Aslam bateu as patas e pediu silêncio. 

        — A nossa tarefa do dia ainda não acabou. Se quisermos derrotar para sempre a feiticeira antes de anoitecer, teremos de encontrar já, já, o campo da batalha.”

·        Observe a presença de alguns marcadores temporais no texto. Qual é a importância deles na fala de Aslam e para a continuidade dos acontecimentos da história? 

      Eles servem para dar a ideia de urgência ao que Aslam quer comunicar. Além disso, indicam que a narrativa continua, pois, para derrotar definitivamente a feiticeira, é preciso encontrar rapidamente e no mesmo dia o campo de batalha, o que indica para o leitor que as personagens praticarão outras ações, em sequência. 

04 – Qual foi a primeira imagem que Lúcia viu no campo de batalha? 

      Pedro, Edmundo e todo o resto do exército de Aslam, que lutavam desesperadamente contra uma imundície de gente, seres hediondos, como os da véspera.

05 – Qual era a situação do exército antes da chegada de Aslam? 

      Estava em desvantagem, com vários combatentes petrificados, e exausto de tanto lutar. 

06 – O que significou a chegada de Aslam e do grupo que o acompanhava para seu exército? 

      O reforço de que eles precisavam para vencer a batalha. 

07 – Qual era a arma mais importante do exército inimigo? Reescreva um trecho do texto que comprove sua resposta. 

      A vara mágica da feiticeira. "A feiticeira ia petrificando as nossas tropas. Nada havia que a detivesse. [...] Ele teve o bom senso de arrebentar a vara mágica [...]". 

08 – Quem foi astuto e perspicaz para neutralizar a principal vantagem do inimigo? De que forma fez isso? 

      Edmundo. Ele quebrou a vara mágica em vez de atacar a feiticeira diretamente como faziam os outros, inutilmente. 

09 – Edmundo conseguiu um feito característico de um herói? Por quê? 

      Sim. Porque conseguiu, com bom senso e astúcia, o que ninguém conseguira: destruir a arma que dava imensa vantagem ao inimigo, dando chance aos seus companheiros de ganhar a batalha. Emundo salvou seu exército de uma inevitável derrota. 

10 – Transcreva do texto o trecho em que Edmundo é premiado pelo feito heroico. 

      "Por isso mesmo, foi armado cavaleiro, em pleno campo de batalha.”

11. No texto, há a presença de dois elementos mágicos. Identifique-os e comente sua importância para o desfecho da história. 

      A vara mágica era o elemento mágico que tornava a feiticeira invulnerável e sua destruição significou a derrota do mal; já o licor precioso que Lúcia recebera de presente de Natal é o elemento mágico do bem, pois salvou a vida de Edmundo. 

 

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